Bygan, o Manipulador de Chi
No dia seguinte, Kirima, a garçonete do restaurante onde estavam nossos heróis, estava de folga hoje. Estava usando um quimono rosa, com os cabelos presos e usava chinelas sem meia. Parecia mais à vontade do que quando estava trabalhando no restaurante.
O dia estava claro e com um sol fraco. Fazia frio naquele momento, mas em uma temperatura de mais ou menos dezesseis graus. Kirima estava se dirigindo até uma casa feita de madeira. Tinha uma porta de correr na entrada e algumas partes da casa eram pintadas de azul.
Kirima bate na porta e escuta uma voz feminina gritar:
— Pode entrar!
Logo, Kirima empurra a porta para o lado e adentra a casa, que tinha as paredes de madeira e alguns quadros com desenhos de pessoas. Eram sempre as mesmas. Um homem, uma mulher e uma criança. Às vezes alternava entre dois e às vezes alternava entre uma. Tinha uma estante no canto da sala com alguns livros e pergaminhos. Tinha uma porta de correr ao lado oposto de onde Kirima entrou.
— Oi, Kirima. — Uma mulher de cabelos loiros, com um rabo de cavalo posto à frente, pele branca e quimono marrom estava sentada à mesa de chão que tinha no meio da sala.
— Oi, Makira. — Disse a garçonete. — Posso lhe contar uma novidade? Você vai gostar. — Ela fecha a porta.
— O que aconteceu? — Makira Akihime era seu nome. Ela estava bebendo chá.
— Ontem no restaurante estavam o Guardião da Paz e a Defensora da Justiça. — Kirima falava aquilo com entusiasmo.
— Mesmo? — Makira fica impressionada.
— Sim e agora eles estão em busca do Manipulador de Chi.
De repente, a loira fica triste. Kirima nota isso e coloca a mão em seu ombro.
— Você não quer que aquela criança se separe de você, não é?
— Sim. — Makira responde com uma entonação triste. — Parece que era ontem que tinha o encontrado no mato. Quando eu finalmente pensei que não ficaria mais sozinha, acontece mais essa. Fiquei sozinha da última vez quando o imperador precisou dos Heróis de Shogun e agora mais uma vez vou ficar assim.
Kirima se senta com Makira e fala:
— Olha, eu sei que não fui uma amiga muito presente, mas se quiser, eu posso falar com o meu chefe para lhe contratar. Assim poderíamos trabalhar juntas e você ainda conheceria mais pessoas.
Makira pareceu feliz, como se tudo dependesse de que sua amiga falasse com o seu chefe para contratá-la. Makira desde criança já perdeu muitas pessoas. Os primeiros foram seus pais, depois seus avós e por último, seus tios. Isso tudo aconteceu até ela fazer dez anos. A partir dessa idade, ela teve que amadurecer depressa se quisesse se virar sozinha na vida. No entanto, ela conhece Kirima que lhe dá todo o apoio, aos onze anos. E agora, com vinte e três anos, ela tem a vida que tem no momento. Enquanto estava colhendo algumas frutas fora de Quioto, ela encontra um menino selvagem. A princípio, eles se estranharam, mas algo em Makira disse que era para ela cuidar dele e foi o que aconteceu. Esse evento aconteceu há dois anos atrás. Desde então, ela vem cuidando desse menino até hoje, como se fosse um irmão caçula para ela.
Entretanto, na época, o imperador estava fazendo uma triagem no país para reunir algumas pessoas para treinar e poder defendê-lo, foi quando esse menino foi visto com as suas habilidades de manipulação de chi. Depois daquilo, Makira voltou a se sentir sozinha, mas essa solidão só passou depois de um ano. Kirima estava ocupada demais trabalhando no restaurante, não podia fazer companhia à Makira. Mas agora, as coisas poderiam mudar de novo, para melhor ou pior.
Enquanto ambas conversavam, um menino de cabelos compridos, pele pálida e usando um abrigo azul, acompanhado de calças da mesma cor e meias (normalmente ele usa botas) abre a porta de correr oposta à entrada.
— Bom dia, Senhora Makira. — Disse o menino, fazendo reverência.
A loira dá uma risadinha e fala:
— Não precisa dessa formalidade toda, já disse.
— Bom dia, Senhora Kirima.
— Você não ouviu o que ela disse, moleque? — Kirima se zanga.
Mesmo que ela implique com o menino, ela admirava a alta maturidade que ele tinha, só com treze anos.
— Desculpem. — O menino olha para Makira. — Aconteceu algo, Senhora Makira?
A loira pede para ele se sentar perto dela e olha em seus olhos.
— Eles chegaram.
O menino parecia saber do que se tratava.
Enquanto isso, Mokuro, Katana e Kasira estavam caminhando pelas ruas de Quioto em busca do Manipulador de Chi.
— Onde será que ele pode estar? — Indaga Mokuro.
— Não sei, mas temos de encontrá-lo logo. — Responde Katana.
Eis que nesse meio tempo, uma pessoa de capuz aparece logo à frente deles. Os três pareciam um pouco preocupados, com as roupas que a pessoa estava usando.
— Ei, você sabe onde está o…
A pessoa começa a rir.
— Desculpe, não posso deixá-los passar. — Disse a pessoa.
— Quem é você? — Katana altera o tom de voz.
A pessoa tira o capuz e apresentava um homem de cabelos curtos negros e pele bronzeada. Seus olhos eram da mesma cor. Ele saca uma espada e aponta para eles.
— Meu nome é Kondo Isumi, integrante de Chou.
— O quê? — Mokuro se surpreende.
— Isso mesmo e não vou deixá-los passar daqui! Eu tenho ordens de meu mestre para não deixar que vocês encontrem os Heróis de Shogun.
Mokuro assume a linha de frente e saca sua espada.
— Katana, Kasira, procurem pelo Manipulador de Chi. Deixem esse cara comigo. — Disse Mokuro.
Enquanto isso, o menino fala:
— Como é meu destino encontrá-los, tenho de cumprir com a missão.
Makira fica triste quando ele disse isso, mas escuta o menino falar:
— No entanto, eu irei me esforçar para vir mais vezes para visitar a senhora.
A loira olha para o menino e sorri para ele. Ambos se abraçam e ela fala:
— Você promete que vai me visitar?
— Sim. Eu dou minha palavra. Mas antes de sair, tenho que conhecê-los primeiro. Depois passo aqui para pegar meus pertences.
— Claro, Bygan, claro. Como quiser. — Makira beija a cabeça de Bygan e deixa ele ir procurar pelo Guardião da Paz e a Defensora da Justiça.
Antes que ele fosse procurar por quem tinha que procurar, ele olha para Kirima e fala:
— Senhora Kirima, antes que eu saia, eu preciso falar com a senhoria e também com a Senhora Yunma.
— Ahn? Por quê?
— Porque eu sei que o que eu pedir para as senhorias, irão me atender.
Aquilo deixou Kirima confusa, mas não perguntou mais nada. Apenas viu ele sair da casa de Makira e assim, as duas ficaram sem a presença do menino.
— Ele é bem maduro, não é? — Indaga Kirima.
— Sim. Este é o Bygan. Uma pessoa humilde, cortês e madura. Ele também é muito inteligente, sabe das coisas que fala e não tem medo de questionar nada, nem ninguém. — Complementa Makira.
Bygan estava na frente da casa de Makira e pensava em algo:
— "Se eu quero me encontrar com o Guardião da Paz e a Defensora da Justiça o mais rápido possível, preciso sentir a aura deles."
O garoto fecha os olhos e sente a energia de todo mundo que está em Quioto. Depois de alguns segundos, ele encontra duas auras em alteração. Deduziu que fosse de quem ele queria encontrar. Ele abre os olhos rapidamente e projeta duas asas de anjo feitas de chi em suas costas. Logo, ele sai voando e acaba chamando atenção de algumas pessoas. Diziam que era Bygan quem estava lá. Todos o conheciam. Era impossível não saber quem eram os Heróis de Shogun.
Enquanto isso, na luta, Mokuro crava sua espada no peito de Kondo, mas este aparenta não ter sentido nada. Isso deixou o espadachim com dúvida, foi quando ele penetrou ainda mais sua espada no peito de seu adversário.
— Mokuro, não está adiantando! Ele parece ser feito de alguma coisa! — Disse Kasira, que estava preocupada. Katana estava fazendo sua guarda, para caso Kondo venha a atacar a garota de cabelos rosados.
Mokuro tira sua espada do peito de Kondo e este fala:
— Eu não sinto dor e também sou conhecido por ser um dos integrantes mais resistentes de Chou. Eu não sinto dor, tão pouco morro fácil. Eu aguento tudo que me atinge, sem contar que sou resistente o suficiente para suportar qualquer tipo de dor.
Mokuro aperta os olhos de raiva. Não sabia que os integrantes de Chou eram tão fortes assim. Sabia do nível de força deles, mas não a esse ponto.
— "Se eu usar o Sen No Ken, vou acabar destruindo metade da cidade. Então eu não sei para o que terei que apelar". — Pensa Mokuro.
De repente, aparece Bygan voando nos céus. Ele estava observando o que estava acontecendo em terra firme, foi quando ele vê Mokuro e Kondo brigando. Ele decide pousar e fica bem na frente de Mokuro.
— O quê? Mas… Quem é você? — Indaga Kondo.
As asas de Bygan somem e Mokuro achou impressionante as habilidades dele.
— Eu sou um dos integrantes dos Heróis de Shogun, o Manipulador de Chi, Bygan Yoshibaki.
Os três se impressionam. Parece que em vez deles irem até Bygan, foi Bygan até eles. Mas como ele sabia a localização deles?
— Estava sentindo o chi de todo mundo, quando notei duas alterações e decidi vir aqui para tentar a sorte de encontrar o Guardião da Paz e a Defensora da Justiça. — O menino olha para os três. — São as senhorias?
— Sim, eu sou Mokuro Otsubaki, o Guardião da Paz.
— Muitos me chamam de Katana e sou a Defensora da Justiça.
— Bem, mais tarde falarei com os senhores. Seria uma honra se me deixassem enfrentar esse integrante do Chou para mostrar aos senhores do que sou capaz.
— "Vem cá, esse menino tem um problema que acha que todo mundo é velho?" — Pensa Mokuro, não tendo gostado do termo "senhor". Mas deixou que ele enfrentasse Kondo. Queria saber se ele era mesmo bom de briga.
Kondo estava sorrindo. Parecia satisfeito, já que enfrentaria um integrante dos Heróis de Shogun. Não aparentava ter medo de Bygan nem um pouco e assim, uma nova luta de inicia.
As pessoas ao redor apareciam aos poucos para apreciar aquela luta que ia acontecer. Iriam de fato, presenciar Bygan lutar e pareciam mais empolgadas. Alguns chegaram até a dizer que ele vai vencer, porque sempre foi assim quando ele defendia Quioto de vez em quando.
O trio observava Bygan. Queriam ver se ele era realmente forte ou não, como diziam. Como viviam isolados do Japão, não tinham como ter noção do nível de força dos Heróis de Shogun.
Kondo parte para cima. Ele era veloz, mas Bygan consegue se esquivar, onde deu até tempo de projetar uma espada de chi para conseguir se defender melhor, já que seus reflexos não eram muito bons. Bygan some e reaparece atrás dele, projetando agora várias kunais. Ele as lança na direção de seu adversário, onde o mesmo recebe o ataque, mas não tinha sentido nada.
— Impossível. — Disse Bygan.
— Para mim, não. — Afirma Kondo.
As kunais tinham sumido e ele afirma:
— Esperava mais de um Herói de Shogun. Patético. — Começou a rir.
— Não se preocupe. Só estou me aquecendo. — Bygan parecia tranquilo.
— Então vamos lutar mais a sério!
Nesse momento, Kondo estava liberando uma aura nunca sentida antes, muito menos por Bygan. Essa aura teria coberto o integrante de Chou de metal. Seu corpo todo estava feito desse material, desde a cabeça aos pés. Ele teria tirado sua roupa de cima e ficado sem camisa.
Kasira e Katana ficam constrangidas e pensam que ele não devia ter feito isso. Mokuro era o único que mantinha a postura. Queria saber se Bygan era forte ou não.
— Agora é a sua vez. — Disse Kondo, que estava com os braços cruzados e sorrindo.
— Não precisarei fazer isso. — Responde Bygan. — Estou confiante na minha vitória.
— Ah é? — Kondo usa sua velocidade, o que impressiona a todos. De repente, ele fica mais rápido do que antes e Bygan, notando isso, teve que pular o mais alto que podia para não ser atingido por um soco de Kondo.
Ele para no chão e se cobre com um escudo de chi que lhe rodeia. Kondo nota isso e faz uma expressão de ter achado patético. Ele transforma uma de suas mãos em lâmina e parte para cima. Tentava perfurar o escudo, mas pouco adiantava. Nem um arranhão conseguia fazer.
— Será que ele só vai ficar ali protegido? Não vai fazer nada? — Falava Mokuro para si.
Kondo ainda estava na tentativa de perfurar o escudo de Bygan, mas não obteve êxito. O menino faz espinhos rodearem o escudo e Kondo se vê obrigado a sair de perto. Em seguida, o menino desfaz o escudo e fala:
— Bem, acho que eu me enganei em tê-lo subestimado. Mas antes de continuar a luta, quero que saiba uma coisa sobre mim.
Kondo achou estranho Bygan ter dito uma coisa dessas.
— Eu posso fazer qualquer coisa relacionado a chi. Eu consigo manipular o meu chi, projetando armas, coisas e até animais, posso aumentar e diminuir o meu chi quando eu quiser, posso absorver o chi dos outros e até mesmo controlá-los por intermédio do mesmo.
— O quê? Mas o que significa isso? — Kondo ficou impressionado com as habilidades de Bygan.
O menino olha para Mokuro e pisca para ele. Em seguida, ele fala:
— Hora de acabar com essa luta.
Kondo entra no ritmo do que Bygan disse e parte para cima, mas o menino usa seus poderes para absorver a energia de seu adversário.
O integrante de Chou tinha sentido isso e aos poucos ele foi sentindo sua força diminuir.
— Não! O que está acontecendo? — Indaga Kondo, que não estava entendendo mais nada.
O corpo metálico de antes agora voltou ao seu normal e quando se vê, Kondo estava com as mãos e joelhos no chão. Tinha sentido uma fraqueza em seu corpo e uma inaptidão de continuar a luta.
— Não se preocupe, não absorvi os seus poderes e seu chi deve voltar ao normal com um pouco de descanso. — Disse Bygan.
Kondo ergue a cabeça, antes baixa, e apresenta uma expressão de que iria se vingar dele um dia. Com dificuldade, ele se levanta e vai pegar sua roupa de cima.
— Eu hei de me vingar de você, Bygan. Grave minhas palavras! Isso ainda não acabou! — Disse Kondo, que sai correndo de Quioto.
As pessoas ao redor gritam de alegria e aplaudem Bygan. Mokuro e as meninas estavam impressionados com a facilidade que o menino teve de lutar contra Kondo. Nem teve muita dificuldade, o que antes Mokuro apresentava. Isso era sinal de que ele tinha que aprimorar mais suas habilidades, se quisesse defender o imperador.
Depois de comemorar com as pessoas, Bygan vai até os três e fala:
— Estou pronto para ir com os senhores para a próxima cidade, mas antes, eu queria pedir um favor.
— "Esse moleque deve achar que somos muito velhos."— Pensa Katana.
— Claro. O que seria? — Indaga Mokuro.
— Queria voltar para a casa e me despedir da Senhora Makira.
— Makira? Bem, ela é uma parente sua?
— Não, mas foi ela quem me criou.
Mokuro fica pensativo e olha para as meninas. Elas parecem concordar, então, Mokuro fala:
— Vamos lá falar com ela.
Bygan sorri e faz uma reverência para eles.
— Obrigado. — Dizia o menino.
Estando perto do meio-dia, Bygan, Mokuro, Kasira e Katana estavam na frente da casa de Makira, onde a mesma se encontrava com Yunma e Kirima.
— Bem, agora é a hora de sair de Quioto. — Disse Bygan.
— Espere, Bygan. O que você queria dizer para mim e para a Senhora Uchida? — Indaga Kirima.
— Oh sim. Bem, eu queria pedir para as senhoras se poderiam cuidar da Senhora Makira, enquanto eu estiver fora. Não quero que ela sofra mais por solidão, isso já basta. Se eu pudesse, eu ficaria, mas não posso contrariar a vontade do imperador.
Todos olharam para Bygan com admiração em suas palavras.
Yunma responde:
— Claro. Ficaremos com aquela que tomou conta de você.
Bygan sorri e faz uma reverência para as duas, mas vê Kirima se aproximando.
— Dá um abraço, pirralho. Não precisa ser formal comigo. — Kirima o abraça, deixando-o sem jeito. — Cuide bem do imperador que vamos cuidar bem de Makira.
— Está bem. — Responde Bygan.
Makira agora abraça Bygan. Estava triste porque ele iria partir, mas feliz porque agora não ficaria mais sozinha.
— Cuide-se, Bygan e venha me visitar quando quiser. Sempre estarei aqui lhe esperando. — Disse Makira, que beija sua testa.
Mokuro e as meninas olham para a cena com um sorriso no rosto. De fato, todos de Quioto adoravam Bygan. Era uma criança prodígio. Era um garoto talentoso, inteligente, experiente, calculista e sabia lidar com as coisas de uma forma madura e responsável. Mokuro admirou isso em Bygan, enquanto Katana (mesmo não gostando da cortesia dele) respeitou a criança por ser assim. Kasira adorou a forma como Bygan fala e disso não se queixou nem um pouco.
— Bem, hora de partir. — Disse Mokuro. — Vamos cuidar bem desse rapazinho.
— Deixo ele em suas mãos, Guardião da Paz. — Disse Makira.
Mokuro acena para todas e assim, o quarteto começa sua jornada rumo à próxima cidade.
Eles foram conversando, enquanto saíam de Quioto e a próxima parada agora era Osaka. Segundo o que dizem, há dois Heróis de Shogun naquela cidade, o que já era bom, pois a missão seria concluída de uma forma mais rápida.