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Capítulo 3 - Agnes

— Fale, Agnes. Sobre o que eu não posso saber? — Pergunta minha mãe mais séria do que de costume. Não sei como reagir, além de achar que posso desmaiar nesse exato segundo. Fernanda consegue me auxiliar nesse exato segundo:

— Ag disse que se Sofia piorar, ela não volta mais. — Ela voltou os olhos na minha direção e eu só fiz de concordar com a cabeça, fazendo os olhos de minha mãe voltarem a encherem-se de lágrimas. Ótimo, agora minha mãe vai chorar novamente.

Para minha surpresa, minha mãe me abraça e eu a abraço com força, pois sinto falta desse abraço terno, desse amor de mãe. Sinto falta de quando Sofia fazia parte desse abraço e aparenta não estar mais aqui para fazer parte. Sinto falta da vida que eu tinha aqui.

— Agora vá tomar um banho e comer alguma coisa. — Minha mãe me entrega a chave do nosso apartamento quase me enxotando para fora do hospital. Volto meus olhos para Fernanda. Não sei mais o que fazer ou como reagir. Estou paralisada diante das últimas notícias. É tanta coisa que só penso em como me livrar de uma coisa de cada vez.

Ao menos Seth não sabe onde moro. E não temos muitos parentes em São Paulo Capital. Acredito que isso tornará o trabalho dele mais difícil. Até lá, acho que consigo preparar minha mãe para a terrível notícia que ela não esperava. Além de tentar convencer Seth a voltar para Omã com sua noiva de verdade, já que eu não podia fazer parte desse mundo! E esperava que ele entendesse já que, hã, eu não era da mesma religião que ele.

Consegui sair do hospital me arrastando e peguei metrô. A linha estava cheia como sempre e eu quase passei da parada dormindo no banco. Estava tão cansada que talvez Fernanda estivesse certa, eu precisava dormir mesmo!

Abri a porta do apartamento, logo fechando. Era um apartamento simples, de dois quartos apenas. Eu dividia o quarto com a minha irmã. Não era nada luxuoso, como a Mansão do Sheikh e, certamente, ele não entenderia o meu mundo sem luxos. Éramos de anos luz de diferença! Tudo diferente! Não havia um A que pudesse se dizer que era igual! Não mesmo!

Desisti de pensar nisso por ora. Tinha minha irmã. Se tudo isso fosse verdade, eu queria muito que Sofia conhecesse Seth. Eu nunca aceitaria ele como nada da minha vida sem o consentimento de minha mãe, claro, mas de minha irmã, principalmente. Minha mãe era facilmente comprada com cavalheirismo — o que Seth tinha de sobra — mas minha irmã olhava os detalhes. E ela gostava muito de livros, certamente eles conversariam sobre coisas inteligentes e eu ficaria orgulhosa dela.

A água estava morna e rapidamente me relaxou encostando na minha pele como um anestésico poderoso. Eu estava sozinha naquele único momento e me permiti, por conseguinte, chorar. As lágrimas que começaram deram luz a um choro excessivo e quando eu vi eu já não conseguia enxergar mais nada na minha frente, pois só havia a dor e a sensação vazia que se tinha no meu peito.

Doía estar no meio desse redemoinho. Doía não saber que dia ou que horas Sofia acordaria. Doía perceber que ela poderia morrer e não havia nada, absolutamente nada, que eu pudesse fazer para tentar fazê-la ficar. Pois eu não era nada. A morte levava quem ela quisesse. E eu só podia assistir com o rosto cheio de lágrimas.

Enrolei-me no roupão prestes a seguir para o meu quarto para trocar de roupa. Passei a mão pelo rosto vermelho de tanto chorar e respirei fundo. Estava um caco. Cheia de olheiras, digna de duas noites sem dormir. Parecia um indivíduo em frangalhos. Não me admiraria que eu tivesse perdido peso. Também não me lembrava quando tinha sido minha última refeição decente. Que não envolvesse gelatina de limão do hospital. Talvez a janta no avião tivesse sido a última comida decente enfiada dentro de mim. Talvez não. Eu não sabia dizer exatamente.

— Você sabia que qualquer pessoa, mas qualquer mesmo, consegue invadir o seu apartamento e te matar? — Ouvi e gritei no exato momento que percebi a figura de Seth no meu apartamento, ali, na sala, casualmente me esperando terminar de tomar banho. O grito não foi suficiente, ainda dei alguns passos para trás, pegando um guarda-chuva que estava jogado de qualquer jeito no chão da sala, tendo-o como arma para caso houvesse necessidade de bater nele.

— Calma ae, ursinho. Eu não vim te sequestrar. Ainda que fosse uma ótima opção. — Eu não estava nem aí para o que ele dizia. Gritei:

— O que Você está fazendo na sala do meu apartamento? — Balancei a cabeça negando, não era essa exatamente a pergunta que eu queria fazer. — Como Você achou o meu...? Você? Por que? Como Você abriu? Por que.... Sai daqui! — Consegui exasperar por fim, ainda sem acreditar no que eu via com meus próprios olhos! Eu só podia estar enlouquecendo! Como ele tinha conseguido? Como ele fez isso? Porque?

— Uma pergunta de cada vez, okay? Vamos começar por Você se vestindo por que eu não estou conseguindo manter o foco assim. — Ele disse e eu voltei meus olhos para a situação cômica ali instalada. Eu de roupão! Na frente de Seth! Praticamente nua! Senti minhas bochechas arderem até se tornarem um vermelho tomate, o que fez Seth rir gravemente enquanto continuava: — Mas que droga, Ag. Eu que o diga! Sai! Eu não posso me aproximar de Você! Não se formos ficar sérios. — E ele parecia dizer de verdade, já que suas mãos tremiam enquanto ele andava em círculos pelo tapete da sala. Acho que ele realmente não estava na situação ideal.

— Ta. — Consegui dizer ainda tonta, porque eu não conseguia pensar direito no que estava ali, na minha frente. — Eu vou trocar de roupa e Você vai me explicar o que está fazendo no meu apartamento! Fechado? — Perguntei ainda com a voz uma tonalidade mais fina e alta do que devia.

— Fechado. — Terminou Seth enquanto ria com as lindas covinhas aparecendo. Que saudades que eu sentia delas. Por fim ele colocou as mãos no bolso e eu me obriguei a seguir para o meu quarto, pois realmente precisava me trocar.

Ainda que eu quisesse muito entender como ele tinha aparecido ali de repente.

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