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5

Anne

— Por que estamos aqui, Vladimir? — pergunto quando percebo que estamos nos aproximando de uma marina.

— Eu já disse, quero te levar para um lugar especial. Você já passeou de lancha antes?

— É... já. O Athos nos levou uma vez. — O meu comentário o faz fechar a cara e o seu silêncio dura cerca de alguns segundos.

— Bom, hoje você fará isso comigo. — Ele diz parando o carro, saindo dele logo em seguida e antes que eu faça o mesmo, Vlad me estende a sua mão para me ajudar a sair. Sem dizer qualquer palavra ele segura na minha mão, cruza os nossos dedos e caminha na direção do píer.

— Vlad, eu só tenho uma hora de...

— Não se preocupe, você chegará a tempo.

Não digo nada, apenas o deixo me guiar para dentro de uma lancha enorme e por alguns segundos me pego apreciando o lindo homem de óculos escuros tomando o comando do barco que corre com certa velocidade para o alto mar. Os músculos que sobressaem o tecido branco da camisa de mangas longas não passam despercebidos aos meus olhos, e logo eles estão passeando pelas suas costas largas.

Respiro fundo e decido focar nas águas que o motor insiste em agitar.

— Um beijo pelos seus pensamentos. — Vladmir sibila de repente e logo sou surpreendida pelo seu abraço atrás do meu corpo. O seu calor corporal junto ao meu me faz prender a respiração. No entanto, um beijo casto é depositado na minha bochecha.

— Eu não estava pensando em nada especial.

— Ah não?

— Quem está pilotando o barco, Vladimir? — Procuro mudar o rumo da nossa conversa.

— O piloto automático.

— Ah, entendi. Falta muito para chegarmos? — Vlad ergue uma mão e aponta para uma direção. — Aquilo é um vilarejo?

— É e é o meu lugar preferido no mundo. — Arqueio as sobrancelhas em surpresa. — É aqui que venho quando quero me esquecer de algumas coisas que me machucam. — Olho de lado para encontrar os seus olhos e droga, logo fico presa neles.

É assustadora a forma como ele consegue me envolver.

— Você é um homem surpreendente, Vladimir Mazza! — sibilo baixo porque é a mais pura verdade. Quem imaginaria que esse homem que adora esbanjar a sua riqueza gosta de estar no meio de pessoas tão simples?

— Eu sou? — Seu questionamento me faz sorrir timidamente e no mesmo instante desvio os meus olhos para o mar.

— Me pergunto o que você teria para esquecer, Vladmir? — sussurro. Em resposta ele apenas respira fundo e se aproxima ainda mais para passar a ponta do seu nariz entre pelos meus cabelos, até alcançar a minha nuca. O seu gesto me faz arrepiar e os seus braços me apertam ainda mais contra o seu corpo.

— Chegamos, Senhorita Summer. — Vlad avisa à medida que o barco vai perdendo velocidade e eu sei que é uma maneira de escapar da minha pergunta.

Não demora e logo estamos caminhando pela pequena vila de pescadores, e algumas vezes me pego sorrindo quando percebo que as pessoas desse lugar o conhecem tão bem e apreciam a sua presença. Até as crianças não se inibem em correr ao seu encontro e o meu sorriso cresce para esse homem que ele insiste em se esconder dentro de si. Sinto que as minhas barreiras começaram a ruir e tenho certeza de que é tudo por causa desse novo, e encantador Vladimir Mazza.

— Que lugar é esse?

— Eu o chamo de faz tudo.

— Por quê?

— Porque ele faz tudo! — O seu tom divertido me faz rir sonoramente.

— Tudo o que?

— O que você quiser. Dos frutos do mar as massas e o melhor, — Essa parte ele sussurra chegando mais perto de mim. — Você vai amar cada sabor. — Ele fala chegando perto demais e chego a engolir em seco quando Vlad se afasta só um pouco, pois os meus olhos fitam a sua boca no mesmo instante. — Vamos? — Ele pede atraindo os meus olhos para os seus.

— Vamos. — E de mãos dadas subimos alguns degraus de madeira gasta para entrar em um pequeno salão com poucas mesas.

O restaurante é bem simples, porém, é muito aconchegante. Devo dizer que foge bastante da realidade do primeiro onde me levou. Contudo, Vladmir não me leva para uma das mesas. Nós atravessamos o salão para adentrar uma cozinha onde uma senhora corpulenta usando um lenço na cabeça está mexendo em uma panela grande no fogão.

— Diná? — Vlad a chama com ínfima intimidade.

— Oh, Vlad querido! — A mulher sorri para ele, porém, ela me olha com curiosidade.

— Quero que conheça uma pessoa muito especial para mim.

Especial?

Céus, as minhas bochechas chegam a queimar agora.

— O nome dela é Anne Summer.

— Oh, é um prazer, minha querida!

— O prazer é todo meu, Diná! — A doce Senhora me abraça demoradamente e quando ela se afasta o olha com ternura.

— Faz tempo que você não aparece por aqui, querido.

— Eu andei bem ocupado.

— Eu imagino. Agora vão ocupar uma daquelas mesas, que eu levarei algo especial para vocês.

— Obrigado, Diná! — O observo beijar carinhosamente o rosto da mulher.

— Vlad, por que me trouxe aqui? — questiono assim que nos acomodarmos. Ele dá de ombros, porém, fita o mar, mas não consigo desviar os meus olhos de cima dele e observar os seus traços rígidos.

— Acredite, eu estou me perguntando a mesma coisa. — Então ele me lança um olhar sério demais.

— A propósito, meus parabéns! — Sorrio, mas ele parece confuso.

— Pelo que?

— Eu vi sobre o caso de assassinato nos jornais. — O observo se ajeitar em cima da sua cadeira. — Você conseguiu provar a inocência daquele homem quando ninguém acreditava nele.

— Está me acompanhando pelos jornais, Senhorita Summer? — Ele brinca e sorri. E Deus, é impossível não retribuir esse seu sorriso.

— Era um caso grande repercussão, Senhor Mazza e muitas pessoas o estavam acompanhando. Você foi perfeito, Vladmir! — Vlad fica sério e me lança um olhar que eu não consigo decifrar.

— Queria que outra pessoa percebesse isso. — O tom magoado na sua voz não passa despercebido.

— Outra pessoa, quem?

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