Capítulo 6
Abro a porta da geladeira e seus olhos imediatamente focam em mim.
Ele me olha de cima a baixo, inspecionando meus chinelos de elefante cor de rosa e o que aparentemente parece ser um pijama.
A partir do momento em que ele me viu, a fúria habitual apareceu em seus olhos.
Evidentemente ele não esqueceu a merda que fez ontem.
Ele violou meu território e não vou esquecer, ele receberá minha vingança.
—Não é educado andar pela casa sem camisa. — digo batendo a porta da geladeira e tirando o cereal da prateleira.
Desde pequena comi sempre os mesmos cereais: barcos Coco Pops. Escusado será dizer que são os mesmos cereais que o Darío está a comer, e sabe-se lá porque são os mesmos cereais que ele também gosta e quando íamos acampar ele sempre se divertia muito terminando-os em dois dias, só para me irritar.
Dario olha para mim mastigando seu cereal como um animal abençoado.
Ele sempre teve o hábito de encher a boca de comida até explodir, e acredite quando digo que é uma visão horrível.
O fato de ele estar com raiva, então, o torna ainda mais parecido com uma fera furiosa. Basta puxar um pedaço de pano vermelho e ele se transforma em um touro pronto para atacar.
Pobre, penso enquanto o vejo gastar toda aquela energia só para ficar com raiva e despejo o leite na tigela enquanto observo Dario terminar de mastigar.
Meu olhar é desprovido de qualquer emoção, ao contrário do dele: ele pode ter crescido no abdômen, mas ainda é um idiota sem coração.
— Até dizer olá não é educado, mas você fez isso ontem. -
Reviro os olhos, pego uma colher e coloco na tigela.
Dario gosta de me desafiar.
Ele sempre gostou, desde pequenos e nossos insultos se limitavam aos dentes de leite.
Mas agora estou mostrando que sou maduro.
Ele está apenas mostrando que fica com raiva facilmente.
De vez em quando me arrependo de ser mais baixo que ele, só alguns centímetros, claro, pois já sou alto, mas até dois anos atrás, quando tínhamos a mesma altura, eu conseguia puxar seu cabelo sem problemas. , mas agora seus centímetros extras de altura permitem que ele bloqueie meus movimentos.
Então, como ideias ruins sempre me ocorrem nos piores momentos, decido que talvez seja hora de me vingar. Bingo.
Olho para a colher de pau ao meu lado e na velocidade da luz a pego e jogo no peito nu de Dario.
O que você ouve saindo de sua boca é um grito desumano que se espalha pela cozinha.
Subo as escadas correndo ouvindo os aplausos e aplausos dos meus chinelos misturados com os passos gigantescos de Darío que obviamente está me perseguindo.
Ouço minha avó olhar do seu quarto e nos olhar com seu olhar habitual: em seus olhos vejo a decepção que já estou acostumada a ver, mas não tenho intenção de parar minha corrida, até porque sei que Dario está muito mais rápido que eu.
Qualquer movimento que faço, porém, é interrompido por alguém agarrando meu braço e me obrigando a parar. Esse alguém é pai.
Não tenho tempo de tentar me livrar dele, pois Dario não consegue parar e acaba em cima de mim.
Caímos juntos desastrosamente no tapete persa da minha avó, enquanto tia Giuditta já recita umas Ave-Marias.
Rolamos alguns metros e sinto uma dor aguda nas costas cada vez que bate nos ladrilhos.
Dario não está tentando me proteger dos impactos e muito menos, se meu pai não estivesse lá provavelmente já teria me jogado escada abaixo.
Continuamos rolando e depois de alguns segundos Darío decide que já está farto, pois nos detém com um braço.
-Que diabos está fazendo? -
Abro os olhos de repente, encontrando Dario e seu lindo rosto na minha frente.
Ele sussurrou essa frase para mim, provavelmente porque estamos um em cima do outro (não nesse sentido), deitados no chão sobre um tapete que provavelmente vale mais que a minha própria vida.
—Eu tive que me vingar de ontem. -
Eu respondo na mesma moeda e acidentalmente coloco minhas mãos em seus bíceps para afastá-lo de mim.
Ah, puta merda.
Só percebo que estou tocando seus músculos quando vejo minha mão pálida em seu braço cor de caramelo.
Inés, a mãe de Darío, é portuguesa, por isso todos os Gori têm a pele cor de caramelo, algo que sempre invejei.
Tento afastá-lo, mas não consigo, porque os braços de Darío ainda estão no chão e seus olhos me olham com fúria.
Ele tem olhos castanhos.
Esse é o nome da cor indescritível, nome que também lhe dei.
Eu disse a ele que eles eram dessa cor quando tínhamos cinco anos e ficamos perdidos na floresta por duas horas. Como sempre estávamos discutindo e eu disse a ele que ele tinha olhos castanhos, ao contrário dos meus, cor de merda seca e escura (como Alberto já havia me apontado mais de uma vez). Desde então não consigo pensar em outra forma de descrever seus olhos, que agora são todos para mim e parecem querer me destruir a qualquer momento.
- Gori! — Nosso momento de troca de olhares furiosos é interrompido por um pé que empurra Dario para longe de mim. Eu olho para cima e vejo Alberto, com seu celular na mão e sua boxer Dragonball vestida. Eu não acho que meu irmão algum dia superará sua fase de anime e mangá.
—O que diabos você estava fazendo? Juro por Deus se você fosse...
— Eu bati nele com uma colher de pau e ele me perseguiu. Só isso, não tenha ideias estranhas, babuíno. -
Levanto a mão para Alberto, que a pega e me levanta, ainda olhando para Darío com olhos desafiadores.
Alberto leva os dedos indicador e médio aos olhos escuros como os meus, apontando para eles, e depois aponta para Dario com os mesmos dedos.
Ele definitivamente está fazendo muita lavagem cerebral.
— Estarei de olho em você, Dario. -
Dario simula ânsia de vômito.
—Sua irmã me deixa doente. -
Nossa, você é muito legal, maldito Darietto.
O quanto eu o odeio, você nem imagina.