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VIII - Limites - Parte 1

Louise e Ken finalmente haviam entrado no clube, seguindo as dicas da própria mulher.

De acordo com o que ela dissera aquele era o tipo de lugar onde você não causava o mesmo impacto tentando forçar uma entrada, mas pelo contrário, uma boa impressão era marcada se você fosse convidado. Ela tinha certeza que as joias que usava chamariam atenção. Além disso, após ficarem por alguns minutos ao lado do Mercedes CLS Coupé estacionado bem em frente, mais de um olhar caíra sobre eles. Na portaria, dois homens, um negro e um branquelo careca, desses que tem mais de dois metros de altura e duzentos quilos de músculos, guardavam a passagem. Os dois usavam terno e gravata e óculos escuros no meio da noite!

Ken e ela haviam ficado por cerca de vinte minutos próximos do veículo observando ao redor enquanto ele explicava sobre coisas minuciosas que ela normalmente não entenderia. Depois atravessaram a rua e pararam alguns metros longe da corda com capa vermelha que delimitava a entrada, guardada por aqueles dois gigantescos leões de chácara. Não haviam ficado dez minutos em pé observando o movimento de aspirantes a rappers e garotas vestidas como prostitutas tentando convencer alguém a conseguir sua entrada quando um outro homem negro surgira na porta. Era alto e forte como os seguranças da portaria, usava cabelo bem curto, raspado quase rente à cabeça e um bigode e cavanhaque quase desenhados de tão perfeitos naquele rosto quadrado e sério. Era o tipo de homem com quem Louise dormiria, apenas uma noite – pensara ela enquanto o observava abrir o cordão e caminhar até eles.

—Vocês vieram no Mercedes? – perguntou indicando o veículo com o olhar, sem rodeios.

—Sim. Acabamos de chegar – ela respondeu.

—Por que não pediram para entrar? Lhes garanto que é mais quente do lado de dentro.

—Não temos um convite e me parece um clube privado – respondeu Ken calmamente – Esperava encontrar alguém com quem pudesse falar sobre isso.

O sujeito negro fitou o rapaz de cima a baixo.

—Entendo que esteja aqui por sua garota – disse referindo-se à Louise – Mas você está claramente no lado errado da cidade. Os “seus” – continuou referindo-se aos japoneses – têm negócios em outro lugar e não costumam aparecer por aqui. Admito que muitos de meus clientes poderiam ficar incomodados, não gostamos de espiões de olhos em nossos negócios.

—Não estou aqui para espionar ninguém e não tenho negócios com os “meus” – respondeu o rapaz enfatizando o “meus” na frase de forma a parecer que tinha ficado ofendido, embora não estivesse – no outro lado. Cuido de um hotel no centro e quando não estou trabalhando gosto de ver minha garota feliz. E ela queria ouvir a música que gosta e ouvimos dizer que aqui é o melhor lugar desse tipo de música na cidade, se me entende. Mas se for um incômodo podemos procurar outro lugar para ir. Não viemos lhe trazer problemas.

Ele disse minha garota? – pensou Louise enquanto o ouvia. Ken enfiou a mão em um bolso dentro da jaqueta e retirou um cartão de apresentação do Venatores et Luna e entregou ao sujeito diante deles.

—Realmente – respondeu o grande homem negro – A reputação desse hotel não é em nada menor que meu humilde clube. Eu sou Lucius Fox e peço que perdoe minha grosseria. Você entende que precisamos cuidar dos negócios com cautela. Por favor, entrem – emendou fazendo sinal com a cabeça para que um dos leões de chácara abrisse espaço para eles – Irei pedir que uma das atendentes lhes envie uma garrafa de vinho por conta da casa como pedido de desculpas e o que precisarem, por favor, podem se dirigir direto a mim.

Enquanto entravam Louise pode ouvir o sujeito falando com aquele homem branco careca na portaria: Diga para algum dos garotos ficar de olho naquele carro – disse Lucius referindo-se ao Mercedes CLS Coupé – Se houver um arranhão nele quando eles saírem eu pessoalmente irei arrancar a cabeça de quem tiver ficado cuidando da vigia.

Dentro do Black Night Hip Hop Club Louise suspirou e parou pouco antes do salão principal, tinha os olhos fechados como antes na rua. Havia um sorriso sincero em seus lábios, como uma criança que ganha a sonhada bicicleta no aniversário. Quando abrira os olhos fitara Ken ao seu lado. O rapaz apenas a observava com aquele olhar de quem aprecia um animal no zoológico.

—É incrível. Eu já ouvi essa música muitas vezes – comentou ela referindo-se à My Humps que inundava o ar daquele ambiente – Mas agora é como se nunca tivesse realmente prestado atenção. É como se houvesse tantas fontes diferentes no som, como se o som viesse de todas as partes. Estou tão excitada…

O rapaz ao seu lado apenas a observava e então ela logo se deu conta que ele não a ouvia com todo o barulho no local. Além da música haviam dezenas de pessoas dançando e andando para lá e para cá passando ao lado deles.

—Oh, eu disse excitada? – perguntou ela corando – Espero que você tenha entendido o que eu quis dizer. Não foi no sentido… você me entende, certo? – e então percebendo que o mesmo não respondia – E… claro, você não está ouvindo nada.

Ken esboçou um sorriso e apontou um sofá vazio em um canto. Quando ele falou quase como um sussurro ela pode ouvir as palavras como se ele lhe falasse ao ouvido.

—Não consigo ouvi-la claramente nesse lugar, nem todos têm a audição apurada como a sua, mas posso ler facilmente seus lábios enquanto fala. Vamos encontrar um lugar mais calmo, logo aquela garrafa de vinho deve chegar e podemos apreciar enquanto conversamos.

Alguns minutos depois os dois estavam sentados naquele mesmo sofá que o rapaz havia indicado. Ken observava o rótulo na garrafa “Domaine de la Romanee – Conti Grands Echezeaux Grand Cru, Cote de Nuits, France”. Louise já o saboreava.

—Não é um vinho barato – disse o sujeito girando o líquido na taça – Vamos apenas dizer que causamos uma boa impressão. Por enquanto.

A mulher parecia em transe, embora houvesse escutado o companheiro. Ainda que tivesse experimentado outro ótimo vinho no hotel, a sensação que tinha ao degustar aquele diante de si naquele momento era completamente diferente.

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