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CAP. 4 - CONFLITOS DE REINTEGRAÇÃO

Não esperava um encontro pessoal com Étienne e Filipi, depois da videoconferência. Esperava menos ainda, que eles me buscassem no aeroporto. Ambos são bem cordiais, me perguntando se tive um bom voo e depois me levam ao alfaiate. Assim que ele toma as minhas medidas, vamos para um restaurante, enquanto o alfaiate ajusta alguns ternos para mim, além de separar sapatos, cintos e coletes.

Então eles me perguntam se eu preciso de mais alguma coisa, e dizem que haverá uma recepção de boas-vindas.

— Eu prefiro começar a trabalhar, se estiver tudo bem para vocês. Organizem a recepção para o próximo final de semana, pode ser? Assim terei tempo de avisar meus parents, para que compareçam. E, me perdoem se eu estiver sendo desrespeitoso. - emendo quando os vejo erguendo as sobrancelhas em minha direção.

— Estamos apenas admirados, meu jovem! - Filipe coloca a mão em meu ombro. - Eu nunca vi um rapaz tão jovem dispensar uma festa. É em respeito à namorada, imagino. Um casamento iminente.

— Ela não virá, Fil. Disse apenas que não quer sair da Alemanha. Meu propósito é apenas saber quem está por trás de disso tudo e resolver a situação. Meus parents têm orgulho de mim e quero deixá-los ainda mais orgulhosos.

— Pelo que vejo, nos deixará muito orgulhosos, também. - Étienne também coloca a mão em meu ombro. - Temos alguns homens para você. Íamos te fornecer uma equipe grande, mas com os últimos acontecimentos, tivemos que agir a toque de caixa. Então, por ora, você terá apenas alguns dos nossos homens ao seu lado, e destacamos os melhores para você começar.

— Eu agradeço. Preciso apenas que eles saibam cumprir ordens e sejam ágeis, independente da quantidade. Uma boa estratégia bem executada por três, é muito melhor que uma boa estratégia mal executada por cinquenta. E pior ainda, é não ter uma boa estratégia.

— Isso é verdade, filho. - Filipi se admira.

— Quero começar ainda hoje. Por qual cidade vocês querem que eu comece?

— Escolha por qual cidade começar, na região de Normandie. - Étienne responde. - Ainda temos alguns aliados naquela região, acredito que isso vai facilitar seu trabalho.

— Tudo bem. Então vou para Rouen.

— A capital? - Filipi se espanta.

— Não seria melhor começar por uma cidade menor? - Étienne complementa a pergunta.

— Se eu conquistar a capital, todas as outras cidades se curvarão. Se eu começar por uma cidade pequena, sempre haverá uma que vai se armar ainda mais contra mim. É uma tendência natural, quando o predador se aproxima, as presas saem correndo para buscar ajuda. Se eu começar de baixo, a capital pode conseguir escapar pelos vão dos meus dedos.

— Seguindo esse raciocínio, não seria melhor ir direto ao presidente? - Filipe pergunta, tomando um gole do seu vinho.

— Ele e o primeiro ministro virão até nós. - tomo meu vinho calmamente, enquanto eles se entreolham. - Só preciso de um pouco de tempo. - falo quando eles olham de volta para mim.

— Nós já dissemos que não vamos impor um prazo, pode trabalhar à vontade.

— E, se o plano não der certo, pode recomeçar à vontade… traçar novos planos e medidas, você sabe. - Filipi parece não acreditar que o plano dará certo. Os dois parecem não acreditar.

— Sim, Filipi. Compreendo o que quer dizer. Mas só precisarei recomeçar se os homens que me acompanharem não souberem agir.

O telefone de Étienne recebe uma mensagem. Conversamos tanto que já se passaram duas horas, e os meus quatro primeiros ternos já foram ajustados às minhas medidas. Claro que não foi um passe de mágica. O alfaiate tem ternos simples e elegantes semi-prontos e vários ajudantes ágeis.

Visto um terno azul marinho de corte moderno, uma camisa azul clara que realça meus olhos, que estão bem azuis hoje, acompanhando meu bom humor e o céu limpo e ensolarado. Sapatos e cintos pretos de vinil. Nada de gravata, a França é muito quente no verão, mas não dispenso o lenço de seda, no bolso ao lado da lapela, no mesmo tom da camisa. Por fim, fecho os punhos da camisa com as abotoaduras que Evelyn me presenteou.

— Como estou? - pergunto aos dois maiores regentes, dando uma voltinha à frente deles, quando saio do provador, pronto para iniciar minhas tarefas.

— Imponente, apesar da pouca idade. - Filipi sorri para mim.

— Filho, se suas ações forem tão potentes quanto a sua voz, sua vitória será rápida e impetuosa! - Étie também sorri. - Arthur é irmão do segurança e assistente pessoal de Filipi. É tão bom quanto ele, ou até melhor. Enquanto você não quiser substituí-lo, ele tomará conta de você e fará os seus relatórios, você só precisará ler e assinar.

— Seus homens estão te esperando no heliponto deste prédio.

Eu agradeço aos dois, que me presenteiam com uma pistola automática cromada, ainda na caixa, depois se despedem de mim, me abraçando e beijando os dois lados do meu rosto. Agradeço, retribuo e vou para o helicóptero. Durante o voo, dou as instruções a Arthur e os nove homens que ficarão sob meu comando. Peço para Arthur repassar o plano, para ter certeza de que eles entenderam as ordens.

Chegamos em Rouen ainda sob a luz do sol. Não nos escondemos. Nos aproximamos do prédio do Seine-Maritime, onde trabalha o Presidente do Conselho Regional, em muitos países chamado de Governador de Estado.

Arthur abre um programa de plantas prediais em um celular, o entrega a um dos homens, abre um programa de reconhecimento de área em outro celular, e começa a operá-lo. Esse segundo programa, tem a capacidade de captar as imagens de todas as câmeras do circuito interno do prédio que for selecionado, em até dois quilômetros de distância, o que concede maior precisão de imagens. Claro que o prédio em questão, tem um circuito fechado de vigilância, com alguns protocolos que devem ser quebrados, se quisermos acessar suas imagens. Arthur consegue quebrá-los em cinco minutos.

Coordenando as imagens ao vivo, com a planta do prédio, conseguimos observar quais e quantos seguranças permanecerão lá dentro, depois do expediente, assim como a saída de cada funcionário.

Às dezenove horas e trinta, estão somente o Presidente Regional, dois homens que o acompanham, que presumo ser um secretário e um segurança pessoal, além de seis seguranças espalhados pelo prédio, fazendo suas rondas de inspeção.

Menos de uma hora depois, os seguranças se reúnem numa sala no subsolo, aparentemente, jogando cartas.

Entramos pela porta da frente. Cantarolo baixinho a frase “I’ve Got The Power”, que significa “Eu Tenho o Poder” da música The Power, do grupo Snap, formado na Alemanha, em mil novecentos e oitenta e nove. Cantarolando a frase e assobiando outras partes da música, sigo com as mãos no bolso até o elevador.

Arthur continua acompanhando as movimentações no prédio, através de seus programas, até o elevador parar no subsolo. Localiza a sala, guarda o celular no bolso, depois de travar a tela e empunha a sua arma, dando sinal para os homens o acompanharem e toma a dianteira. Eles se espalham dos dois lados da porta, e Arthur a quebra com um único chute.

Os seguranças do prédio são rendidos em menos de um minuto, e têm as mãos e os pés algemados. Nós os deixamos presos num banheiro próximo, sem suas armas, então seguimos para o gabinete do Presidente Regional, no penúltimo andar. Mais uma vez, Arthur chuta a porta.

— O que está acontecendo? - um dos homens que acompanham o “Regional”, modo mais fácil de ser tratado, pergunta.

— Quem é você? - pergunto a ele, parando em sua frente, minhas mãos ainda nos bolsos.

— Eu sou o Presidente R… - seguro seu pescoço com minha mão esquerda, o interrompendo e o trago para mais perto de mim.

— Não gosto de mentiras. - falo calmamente, perto de seu ouvido, mantendo a outra mão no bolso. - Quem é você?

— Quem é você, e o que quer? - pergunta o verdadeiro Regional. Sua voz treme levemente, e  denuncia que sua calma aparente é falsa.

— Olá, Regional. - falo calmamente. - Meu nome é Markus Richter, sou seu novo comandante. Quem é esse homem?

— Você não é porra nenhuma! - ele se levanta e eleva um pouco a voz, me fazendo sorrir. - Saia da minha sala, moleque!

Saco minha arma rapidamente, e atiro no pé do homem que ainda seguro pelo pescoço. Ele, o Regional e o outro gritam.

— Nunca chame um homem de moleque, independente de sua aparência. - continuo calmo. - Agora me responda quem é ele, Regional.

— Olha aqui…! - ele começa a falar, já suando, mas eu engatilho a arma e encosto o cano dela na barriga do homem que seguro. - MEU SEGURANÇA! - o Regional grita, entrando em pânico.

— Por que vocês tinham que dificultar? - desengatilho e guardo a arma na minha cintura. - Você prestou atenção ao meu nome?

— Markus “Richteur”.

— Richter. - eu o corrijo sem me alterar. - É alemão, não francês. - me viro para os meus homens. - Um de vocês pode, por favor, levar o segurança para o hospital? - um deles, Reno, apoia o homem para levá-lo.

— Pode deixar comigo, monsieur.

— Obrigado, Reno. - me viro de volta para o Regional. - Agora podemos conversar. - me sento na poltrona em frente à mesa. - Vou passar para você como vai proceder daqui em diante… você não vai se sentar?

— Desculpe. - ele se senta e se vira para o seu secretário. - Acredito que você deva fazer as devidas anotações.

— Muito bem, Regional. - movo levemente os lábios num pequeno esboço de sorriso. - A primeira coisa que você vai fazer, é marcar uma reunião com os conselheiros regionais, prefeitos, chefes de polícia… bem, com todas as autoridades sob o seu comando, e no comando junto com você. Nessa reunião, você vai me apresentar e dizer que vocês estão todos subordinados a mim.

— Mas e se eles não aceitarem?

— Ninguém é insubstituível, não é mesmo? - abro um sorriso largo. - Até uma família pode ser totalmente substituída, meu caro.

— Acredito que sua primícia se aplica a você também. - ele estreita os olhos para mim.

— Você pode tentar! - falo assim que meus homens apontam suas armas, as engatilhando, em sua direção, mantendo um sorriso no rosto. - Você… gostaria de tentar? - falo inclinando o corpo para a frente, apoiando um braço curvado em sua mesa.

— Não, monsieur! - ele responde rapidamente. - Só estava alertando que alguém pode querer fazê-lo.

— Mas não você, não é? - estreito os olhos para ele também, mas mantenho o sorriso. Ele engole seco assentindo, e eu me recosto na poltrona. - Continuando… você deverá se comunicar com os outros Regionais que conhece, e falar de mim para eles, colocá-los a par de que se submeterão a mim também, e mande que marquem as reuniões de suas regiões.

— Sim, monsieur. O que o senhor pretende?

— Reintegrar o domínio da Communionem sobre a França. Falaremos sobre os detalhes na reunião. Anote o meu número e meu e-mail, quero um relatório completo sobre a situação de cada metro quadrado da sua região, antes da reunião acontecer.

— Sim, monsieur. Enviarei o relatório completo em até trinta e seis horas, já com a data da reunião marcada.

— Que será em no máximo três dias. - imponho. - Diga a todos que compareçam, sem exceção! - pego no meu bolso, as chaves das algemas que prendemos os seguranças, no banheiro do subsolo, e as entrego ao secretário. - Solte seus seguranças.

Saímos calmamente, voltando para o helicóptero e voltamos para Paris, indo direto para o hotel onde Filipi e Étienne estão hospedados. Envio dois homens de volta a Rouen, para acompanhar Reno no hospital, e trazê-lo de volta, quando o segurança do Regional tiver alta.

Eu e Arthur, reportamos os acontecimentos da noite para Fil e Étie.

— Não são nem são dez horas da noite! - Fil se admira.

— Vamos esperar os três dias. - falo sorrindo. - Só então teremos certeza.

— E além de tudo é modesto! - Étie sorri me abraçando de lado. - Há quase dez horas, você estava saindo de sua casa na Alemanha, e agora já está com a Normandie praticamente sob suas rédeas! Vamos comemorar!

Enquanto eles pedem o champagne, ligo para mama, avisando sobre a recepção que acontecerá no próximo final de semana. Se as orientações forem seguidas, dois dias depois da reunião em Rouen.

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