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CAPÍTULO 5

DANTE SALAZAR

Desestabilizado. Completamente desestabilizado. Esse é o estado em que eu havia ficado antes da grande reunião com um importantíssimo cliente, tudo por culpa a loira desajuizada que tem tentado tirar minha sanidade ultimamente.

Ah, Cami! Ah, Cami... O que você ainda pretende fazer comigo? Eu estou perdido com uma garota como você em minha vida. Louca, linda e determinada... uma mistura altamente perigosa para qualquer ser humano que seja o alvo dessa... tentação em forma de pessoa.

-Cara, qual é o seu problema?

Desperto de meus devaneios quando sinto um tapa ardido na nuca e me viro com o semblante amarrado para o autor da brincadeira, dando de cara com Bernardo Ferraz, meu melhor amigo e parceiro, que estava me acompanhando na reunião que acabamos de sair, juntamente com Bianca, sua irmã, ambos filhos de Isadora Bertotti e Maurício Ferraz, sócio de papai no escritório em que trabalhamos.

Nenhum de nós três chegou ao lugar onde estamos atualmente, apenas por sermos filhos de quem somos. Nada disso, todos nós alcançamos a posição que hoje ocupamos somente depois de ralarmos muito, estagiarmos feito loucos, e quase pirarmos com a pressão exercida pelos outros advogados da empresa, e até mesmo de nossos pais, que sempre exigiram o melhor.

Itan e Maurício nunca misturaram suas vidas pessoais com a profissional, o que foi um excelente exemplo para nós como seus filhos, diga-se de passagem. Aprendemos na marra durante o dia a dia de trabalho, que da porta para dentro do escritório éramos como qualquer outro funcionário comum, não seus filhos. E que para merecermos um lugar na Ferraz e Salazar, nós teríamos que oferecer o nosso melhor, teríamos que ir além da média, tínhamos que ser extraordinários, pois só os extraordinários trabalhavam ali.

E foi isso o que fizemos, pouco a pouco fomos conquistando nosso espaço e agora estamos aqui, trabalhando independentemente com nossos próprios clientes como advogados, apesar da pouca idade, porém sendo reconhecidos pelo bom desempenho e resultados que estamos apresentando. Cada vez mais temos adquirido respeito e prestígio em nossa área, além do sobrenome que carregamos, mas pelo que fazemos.

-É verdade, Dante. Detesto ter que concordar com o Be, mas realmente você parece estar com algum problema sério. Onde estava com a cabeça durante toda a reunião?

Bianca questiona com os olhos estreitos e mãos na cintura, ao parar a minha frente em posição de interrogatório, certamente começando a ficar nervosa com o comportamento um tanto incomum e inadequado que tive minutos atrás diante de nosso cliente.

Ela tem razão de estar brava comigo, não foi certo e isso poderia nos custar muito, até mesmo poderíamos perder o cliente, o que felizmente não aconteceu, uma vez que ela e Bernardo dominaram bem a situação, conduzindo a reunião de forma profissional e concisa. Entretanto Bianca não pode me condenar diretamente por isso sendo que culpa não é totalmente minha, é de Cami, apesar dela e das outras pessoas não saberem disso.

Ah, Cami! Você me paga, garota!

-Sinto muito, Bia. Eu tive alguns problemas pela manhã antes de vir para o escritório, e não consegui desligar minha mente depois disso. Prometo que isso não se repetirá novamente. Vocês me conhecem a anos, sabem que sempre levo a sério meus compromissos de trabalho.

Eu me desculpo com ambos, tendo ciência de que no lugar deles eu também ficaria chateado se o mesmo ocorresse comigo.

-Tudo bem, cara. Esquece isso. Vamos almoçar agora porque eu estou praticamente desmaiando de fome.

Bernardo abana a mão no alto deixando logo o assunto de lado, e joga um braço ao redor dos ombros de Bianca, enquanto nós três seguimos rumo a saída.

-Você comeria o pé da mesa da sala de reuniões se fosse comestível, Be.

Bianca revira os olhos para o drama exagerado do irmão, contudo o Casanova mal escuta a provocação da mesma, por estar concentrado demais na tarefa de flertar com piscadinhas bobas e sorrisos desavergonhados na direção de todas as mulheres presentes do recinto.

É um cara de pau mesmo, é o que penso com um menear de cabeça resignado e divertido.

-Quando é que você pretende tomar jeito, Be? Você sabe bem que se papai ou Itan pegar você no flagra de gracinha com as moças do escritório vai parar no olho da rua, né?

Bianca suspira exausta por ter que repetir pela centésima vez o mesmo conselho ao irmão, que parece nunca lhe dar a devida atenção, enquanto deixamos o prédio do escritório de advocacia Ferraz & Salazar, e atravessamos a rua, rumo ao restaurante que sempre realizamos nossas refeições durante a semana de trabalho.

-Ai larga do meu pé, Bia. Eu já disse que não estou fazendo nada demais, eu hein. Você que é paranoica e chata.

Bernardo desdenha de Bia com uma risadinha irônica que a deixa ainda mais brava, ao que eu prefiro fingir que não estou escutando a mesma discussão entre irmãos outra vez. Sento-me de um lado da mesa, no mesmo local que costumamos ocupar diariamente, e vejo Be no lado oposto, puxar a cadeira para que Bianca se sente ao seu lado.

-Depois não diga que eu não avisei, ok? Não vá chorar pelo leite derramado quando for tarde demais para consertar suas burradas.

-Bia tem razão, Bernardo.

Eu concordo apoiando-a, mesmo sabendo que Be não irá nos levar a sério e acatar nosso conselho.

-Ei, olhem quem está ali.

Bernardo finge que não nos ouve e desvia o olhar para um ponto atrás de mim, e logo começa a acenar efusivamente para algum conhecido seu.

-Emily! Emily, aqui! Venha, sente-se conosco!

Ele chama a tal pessoa e quando eu me viro para ver de quem se trata, imediatamente percebo seu equívoco. A garota a qual ele chama de Emily não é realmente Emily.

-Aquela é a...

Bianca se apressa para corrigir o erro do irmão, contudo a outra loira chega a nossa mesa e olha a cada um de nós emitindo uma gargalha divertida e contagiante, que reverbera pelo local como uma melodia agradável aos ouvidos.

-Desculpe desaponta-lo, Bernardo, mas acho que você confundiu de gêmea. Eu sou a Camile.

Ela brinca e lhe abraça quando ele se levanta para cumprimenta-la. Aperto as mãos em punhos fechados por baixo da mesa ao notar os dedos do espertinho se demorarem mais do que o necessário acima da lombar de Camile. Mas o pior é que ela não faz nada para afasta-lo.

Filho da... mãe!

-Eu ia dizer isso agora mesmo a esse imbecil. Seja bem-vinda, Camile. É bom vê-la novamente. Está incrível como sempre.

Bianca também se coloca de pé para abraça-la, e ambas trocam dois beijinhos antes de se separarem.

-Não mais do que você, menina. Também está maravilhosa essa manhã.

-Obrigada, querida. Agradeço a Deus todos os dias pela abençoada genética dos meus pais.

Elas riem, e então meu coração palpita mais rápido quando Camile segue para o meu lado para cumprimentar a última pessoa que falta da mesa, que no caso sou eu.

-Boa tarde, Dante. Como vai?

Camile diz inclinando-se em minha direção para também abraçar-me, não tenho outra alternativa a não ser aproximar-me mais dela e retribuir o gesto.

O abraço que tinha tudo para ser um ato simples e rápido, que foi o que pareceu aos olhos desatentos que viram a cena, na verdade foi uma ação precisamente calculada por Camile para mexer comigo e balançar minhas estruturas.

Tive de engolir a saliva com certa dificuldade no instante em que seu rosto se colou lado a lado com o meu, pele a pele, e seus lábios quase chegaram a tocar minha orelha, porém o ato não veio a se concretizar, apenas seu hálito num sopro veloz, fez com que os fios do meu corpo se arrepiassem no mesmo segundo.

Controle-se, Dante! Controle-se, homem! Pense em algo triste para desviar sua concentração da loira a sua frente.

-Hum...hum... Eu estou bem e você?

Eu pigarreio um tanto nervoso e corado, sentindo que a temperatura do local subiu uns vinte graus de temperatura. Abro o primeiro botão da camisa social e afrouxo um pouco a gravata na tentativa de respirar melhor, mas não adianta muita coisa. O ar ainda parece rarefeito onde estamos.

-Melhor agora... que encontrei vocês.

Camile ri com um quê de malícia e pisca um olho ao afastar-se de mim. Não satisfeita por provocar-me dessa forma na frente de outras pessoas, enquanto Bernardo e Bianca estão sentando-se novamente sem prestar atenção em nós, ela aproveita o momento para passar para a cadeira disponível ao meu lado, mas ao invés de seguir o caminho por trás do meu assento para ocupar o seu, Cami segue pela frente, esbarrando-se propositadamente em mim.

Garota louca! O que ela pensa que está fazendo? E se alguém perceber seus gestos descuidados? Eu estou ferrado!

Pelos céus, esse será um almoço terrivelmente difícil de sobreviver até o fim! É o que pondero ao fechar os olhos com força, sentindo a mão estreita de Camile se esgueirar sorrateiramente sobre minha perna quando todos estão assentados, e seus dedos agarrarem os meus, entrelaçando nossas mãos, unindo-as sob o esconderijo da mesa dos olhares alheios.

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