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CAPÍTULO 6

CAMILE BERTOTTI

Fico um tanto surpresa por Dante não se esquivar do meu toque e permanecer com a mão entrelaçada a minha durante o restante do almoço com nossos amigos. Tudo dentro de mim se regozija com o pensamento de que ele está finalmente aceitando a ideia de que isso é possível, nós dois estarmos juntos como um casal no meio de outras pessoas sem nos escondermos mais.

Meu rosto fica um pouco dolorido pelo sorriso de orelha a orelha, que teima em permanecer nos meus lábios até nós despedirmos uns dos outros ao término da refeição.

Bianca e Bernardo começam a discutir acerca de algum assunto enquanto Dante apenas murmura algo em concordância com a loira, ao retomarem o caminho de volta para o escritório de advocacia, e eu continuo no mesmo lugar por mais alguns minutos, fitando embasbacada os ombros largos do homem que amo se moverem sensualmente sob o tecido do terno.

Meu celular vibra em minha bolsa tirando-me do mundo dos sonhos e me trazendo de volta a realidade. Hora de voltar para o trabalho. Suspiro resignada e me dirijo em direção ao banheiro feminino para conferir minha aparência em frente ao espelho antes de ir embora.

Realizo tudo o que preciso em questão de segundos e saio do banheiro guardando meus pertences de volta na bolsa sem prestar muita atenção no trajeto, dessa forma, levo um enorme susto, que quase paralisa meu coração, ao ser pega desprevenida pelos ombros em um movimento ágil e inesperado, e minhas costas colidirem contra a parede.

-Mas o que...

As palavras morrem no mesmo instante em minha boca e eu suspendo o grito de ajuda que estou prestes a pedir, ao ver o autor da abordagem inesperada.

-Achei que tinha voltado com aqueles dois para o trabalho. O que faz aqui, amor? Sentiu saudades?

Pergunto com uma risadinha divertida e mãos na cintura, olhando-o de cima a baixo, louca de vontade de beija-lo, contudo contenho o desejo, por mais forte que seja, dentro de mim. É a vez de Dante dar um passo e tomar a atitude agora.

-Eu fui somente até a entrada do prédio, mas voltei porque precisava falar com você antes que fosse embora.

Ele responde ao soltar lentamente meus ombros e puxar uma grande lufada de ar, como se estivesse em uma luta interna para me dizer algo, e eu espero pacientemente pelo que virá a seguir.

-Isso significa que você não aguenta ficar muito tempo longe de mim, é claro.

Eu brinco mordendo o lábio inferior fitando-o intensamente. Eu o quero e sei que ele também me quer, pois não para de encarar a pressão que meus dentes exercem em minha boca. Não há como negar, Dante quer me beijar, entretanto algo parece estar travando-o. Mas o que? Eu me pergunto como ele pode ser tão esperto e idiota as vezes.

Beija, é só beijar, meu amor. Ninguém irá nos impedir.

-Aliás, eu fiquei muito feliz que você não tenha soltado a minha mão hoje no almoço, Dante. Quero que saiba que esse gesto foi muito importante para mim. Sei que você ainda necessita de tempo para se acostumar a essas coisas, mas não vejo a hora de em breve estarmos andando assim, de mãos dadas pela rua como um casal normal e...

-Olha Cami,

Dante me interrompe com o cenho franzido.

-Eu... eu... você precisa entender, por favor, eu não quero te magoar nunca, jamais, você é tudo para mim, mas tem que parar com esses sonhos loucos.

-Ah, então você chama tudo isso de loucura, certo? O meu amor por você se tornou loucura, é o que você diz.

Rio sem um pingo de humor e estufo o peito de repente cheia de raiva e ressentimento.

-Tudo bem, Dante. Tudo bem, se é assim que você pensa. Quer saber, já estou ficando farta disso, sabia? Estou farta. Se você não quer ficar comigo, ótimo. Mas vê se me esquece a partir de agora, ok? Eu nunca exigi que fosse recíproco aos meus sentimentos, ou que me correspondesse nem que seja minimamente. Mas desdenhar do que sinto, chamar de loucura, como se eu fosse algum tipo de lunática e aceitar isso calada, aí já é demais até para alguém que diz amar muito. Então para mim já chega...

Digo tudo o que está entalado em minha garganta a tempos, e viro-lhe as costas para sair de perto dele o mais rápido possível. Não lhe darei o gostinho de me ver com os olhos vermelhos e saber o quanto me magoou. Sou uma mulher crescida e inteligente que ainda sabe manter seu orgulho intacto.

-Camile, espere por favor! Eu não quis dizer nada disso. Você me entendeu errado. Cami... Cami, pare!

Dante insiste em me chamar, porém não lhe dou ouvidos e continuo batendo os saltos com raiva no chão, enquanto sigo rumo ao estacionamento do restaurante para pegar meu carro e ir embora dali.

Todavia como as pernas de Dante são maiores e mais rápidas que as minhas, ele consegue me alcançar a tempo quando destravo a porta do motorista, e me encurrala contra o veículo, pressionando-me com seu corpo avantajado.

Minha pele imediatamente corresponde ao contato entre nossos corpos esquentando-se como brasas de um incêndio. Meus dedos coçam de vontade de tocar os músculos de seu abdômen e o ar fica suspenso em meus pulmões, dificultando o processo de respiração. Todavia eu não faço nada. Não demonstro uma única reação de como sua proximidade me afeta dolorosamente, por estar bastante chateada com ele.

Olho com certo despeito para seus dois braços ao redor da minha cabeça que me cercam, e ergo o rosto com o nariz empinado em desafio. Seus olhos escuros como a noite, brilham perigosamente ao me fitarem tão próximos dos meus, porém eu não temo, também sei ser perigosa quando preciso.

-O que eu entendi errado, Dante? Explique-me. Você...

-Por que você é sempre tão teimosa e cabeça dura, garota?

Ele murmura fechando os olhos e encosta sua testa na minha.

-Se vai me ofender é melhor nem começar, porque eu já estou...

-Ah, Cami... Eu nunca desdenhei dos seus sentimentos em nenhum momento. O que eu... O que eu não soube expressar corretamente, é o que realmente acho loucura, não é o que você sente, mas por quem sente. Logo eu? Por que?

Ele questiona em um tom de voz tão baixo que mal consigo ouvir, o nariz colado ao meu, e nossas respirações se misturando uma a outra.

-Por que meu coração escolheu você, Dante.

Eu o respondo sinceramente, sem motivos para esconder a verdade. Fecho as mãos com força ao lado do corpo para conter o ímpeto de acariciar seu rosto com a ponta dos dedos como adoro fazer.

-Mas por que, Cami?

Dante insiste em saber uma resposta que não existe. Simplesmente é assim.

-Não existe uma razão para isso, Dante. O coração é um órgão irracional que faz escolhas que não podemos mudar, apenas aceitamos.

-Então acho que pode me chamar de irracional também pelo que irei fazer agora. Me perdoe Cami, mas eu tenho muito que fazer isso ou irei enlouquecer...

Dante sequer chega a concluir a frase e sua boca cai sobre a minha em um ataque furioso. Mesmo surpresa, entreabro os lábios receptiva ao seu beijo enquanto sinto suas mãos serpentearem sinuosamente o caminho da minha cintura, puxando-me para mais perto, moldando corpo a corpo.

Finalmente tudo o que desejo está acontecendo, Dante está se rendendo. Está amando e se permitindo ser amado por mim.

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