Resumo
Eu sabia que estava perdido quando aquele par de olhos azuis se fixaram em mim, como se quisesse invadir a minha alma, pela primeira vez, de modo diferente. Talvez a culpa seja minha no final das contas. Eu deveria ter me afastado de seus sorrisos dóceis e fáceis. Deveria ter cortado as asinhas de sua imaginação e lhe despertado para a realidade. Mas eu fui incapaz de dizer não àquela garota e veja o que aconteceu? Estou sem saída. Eu deveria tê-la parado quando ainda havia tempo, mas agora é tarde demais para consertar isso. Porque uma coisa é certa: tudo o que Camile quer, ela consegue. E o pior de tudo, a loira cismou que me quer, mesmo sabendo que nada entre nós pode rolar. Seria muito errado. Por Deus, ela é minha prima! Mas como meu pai sempre diz: "impossível é uma palavra que não existe no vocabulário de um Salazar". O problema? Camile é uma Salazar terrivelmente sagaz e linda. Uma mistura muito perigosa, da qual tenho medo.
PRÓLOGO
CAMILE BERTOTTI
Abro os olhos determinada assim que o dia clareia. É hoje! Penso obstinada. Se Dante se fez de sonso até o presente momento, hoje eu irei mostrá-lo que não estou para brincadeiras. Ele vai enxergar a mim e as minhas intenções com total clareza, ou eu não me chamo Camile Salazar Bertotti!
Já faz algum tempo que venho lhe dando pistas, das mais simples e discretas, até as mais óbvias, sobre os sentimentos que tenho em relação a ele, mas aquele idiota, terrivelmente gostoso, se faz de cego feito uma toupeira, ignorando todos os benditos sinais!
Ah, mas dessa vez ele não irá escapar de mim assim tão facilmente... Eu o pegarei nem que seja no laço, como os peões fazem na fazenda, ou amarrarei seus pulsos com cordas na cabeceira da cama, como vovó Eliza havia brincado certa vez, até que ele escute tudo o que tenho a dizer. Palavra por palavra. Nos mínimos detalhes.
Eu o vejo. Eu o quero. Eu o desejo. Ardentemente. Com o mais profundo do meu íntimo, não como uma paixonite adolescente e passageira. Afinal de contas nenhum de nós dois é criança. Dante tem seus vinte oito anos de idade, e eu os meus vinte e um, sei muito bem o que quero. Ele. O homem a quem amo com todo o meu coração desde os meus dezoito anos.
Pode chamar de sexto sentido ou intuição feminina, todavia sei que de alguma forma os sentimentos são recíprocos. Eu mexo com a cabeça de Dante e balanço suas estruturas. Eu só preciso dar um empurrãozinho para que ele saia da zona de comodismo, e assuma verbalmente, em doces palavras que serão como música para meus ouvidos, o que sente por mim.
-Bom dia, pai. Bom dia, mãe! -beijo o rosto de ambos ao pescar uma maçã na fruteira, logo após beber um copo de água quando entro na cozinha, e os encontro namorando como dois jovenzinhos no balcão.
Que inveja, penso comigo mesma. Poderia ser Dante e eu da mesma forma, trocando beijos e sussurros ao pé do ouvido um do outro, mas ele não colabora, poxa!
-Bom dia, querida. Caiu cedo da cama essa manhã? -mamãe ri fitando-me com um olhar irônico no rosto.
-Meu anjo, essa parte preguiçosa que adora acordar tarde ela não puxou de você não. Nisso a Emy e você é que são iguais. -papai a alfineta.
-Fica quieto, Nic. -ela resmunga contrariada ao que meu pai lhe dá um beijo de desentupir pia, fazendo-me chegar a conclusão de que já basta por hora.
Não sou obrigada a ficar assistindo a cena protagonizada por meus pais, quando na verdade queria estar no lugar deles com outra pessoa.
-Eu já estou indo. Tentem não se atrasarem para seus respectivos trabalhos por causa desse agarra agarra que nunca tem fim. -faço piada ao jogar um beijinho no ar para ambos, e caminho rumo a saída.
-Inveja é feio, hein minha filha? -ouço o tom provocativo nas palavras de mamãe enquanto me afasto. -Só porque você não tem um boy para te pegar de jeito...
-E nem vai ter, Sofia! -meu pai a interrompe irritado e eu maneio a cabeça em negativa gargalhando ao entrar no carro.
Papai às vezes é tão ciumento!
* * *
-Camile... porque eu não estou surpreso em vê-la novamente?
A pergunta sarcástica não me pega desprevenida ao ser recepcionada na porta, alguns segundos depois de ter tocado a campainha da residência a minha frente.
-Pois é, eu não poderia deixá-lo começar o dia sem antes ver uma boa influência primeiro. Coitada das outras pessoas se tiverem que lidar com você sem sua dose de civilidade diária.
Rebato afiada e beijo sua bochecha ao entrar na casa sem esperar por um convite. Ele nunca faz, e eu nunca espero. Nossa convivência sempre foi assim ao longo dos anos, e certamente permanecerá do mesmo modo com o passar do tempo.
-Sua benção, tio.
-Deus te abençoe, pirralha. -ele bagunça meus cabelos como se eu fosse um cachorro, e eu me afasto dando um passo para longe de seus dedos implicantes.
-Pirralha é...
-Olha a boca... Você é tão ogrinha quanto a sua mãe, menina. Por que não tenta ser um pouquinho mais parecida com sua irmã Emy, que é uma princesinha? -tio Itan me provoca e eu rolo os olhos já acostumada com seus comentários ridículos.
-Porque aí você não teria o prazer de amar a sobrinha mais legal do mundo, é claro. -respondo com ironia. -Não me confunda com a gêmea errada, tio. Eu sou a versão mais velha e mais divertida de nós duas. -pisco um olho e nós dois rimos.
Nós sempre nos provocamos e trocamos farpas toda vez que nos encontramos, porém apenas como forma de brincadeira saudável, nunca para ofender ou magoar um ao outro. Eu amo muito tio Itan e adoro irrita-lo porque nossas personalidades são bastante semelhantes. Ambos somos teimosos, sarcásticos e bem humorados. E acho que é por essa razão, que dentre todos os meus parentes, é com ele que tenho uma ligação mais forte.
Isso, e também porque sou perdidamente apaixonada por seu filho mais velho, é claro.
-Cadê a tia Lê e as garotas? -pergunto seguindo-o logo atrás para o interior do imóvel, enquanto ele recolhe alguns itens pelo caminho de forma apressada.
-Letícia teve que sair mais cedo para acompanhar as meninas em uma consulta médica... essas coisas de mulheres, você sabe.
Ele me olha de forma estranha, talvez constrangido, antes de voltar a falar.
-Cadmiel está no treino, e Kilian na faculdade, eu acho.
Tio Itan pega as chaves do carro, a maleta de serviço e para na porta da sala.
-Infelizmente não vou poder ficar para acompanhá-la no café da manhã, ogrinha. Espero que não se importe. Mas você pode ir até a cozinha e se servir do que quiser. Já é de casa.
Ele oferece conferindo o horário na tela do celular.
-Estou realmente atrasado para uma reunião bem importante com meu sócio Maurício, senão sabe que eu ficaria somente para embelezar seu dia, pirralha.
-Tudo bem, tio Itan. Sem problemas. -dou de ombros sem me importar.
-Ah... mas Dante ainda está em casa, já já ele deve estar descendo. -ele avisa e meu coração salta de alegria com essa pequena informação.
Perfeito, perfeito... perfeito!
Esse é meu dia de sorte, comemoro internamente, mas sem demonstrar nenhuma reação por fora. Dante e eu estaremos a sós em casa, então finalmente poderei colocar em prática o plano que tenho em mente.
-Vocês podem tomar café juntos.
-É claro, tio. -sorrio docemente vendo-o entrar no carro, e me despeço com um tchauzinho mais do que contente, ao vê-lo ir embora.