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CAPÍTULO 1

DANTE SALAZAR

É um belo dia para se usar terno e gravata, hein, senhor Dante? Um calor da peste, com um sol de quase quarenta graus queimando do lado de fora e você ainda tem uma reunião em menos de duas horas, com um dos clientes mais importantes do escritório, o qual teve a sorte de trabalhar, mesmo com pouco tempo de experiência que tem no ramo. É o que digo a mim mesmo apenas dentro da minha própria cabeça cheia de pensamentos conflituosos.

É... parece que o dia hoje já não começou muito bem, mas não é nada que eu não possa superar, não é mesmo? Tento me incentivar com uma boa dose de otimismo.

O que é uma simples gravata perdida, a qual não consigo achar em nenhuma gaveta do closet, ou minhas mãos errantes que sequer conseguem colocar os botões da camisa em suas respetivas casas?

Puff... Isso não é nada se for observado por uma perspectiva positiva, eu relembro. Tudo vai dar certo. As coisas se encaminharão para seu devido rumo, assim como minha mãe sempre disse para mim e meus irmãos a vida toda.

O rio segue o fluxo que tem que seguir naturalmente, assim como deve ser.

Esse é o pensamento que mantenho em mente na tentativa de acalmar meus nervos que estão quase entrando em colapso devido a pressão eminente sobre meus ombros, enquanto desço as escadas para o primeiro andar da casa, com a gravata, encontrada depois de um século, parcialmente pendurada no pescoço, abotoando os irritantes botões que não me obedecem por nada nessa vida.

Sigo em direção a cozinha na intenção de comer algum lanche rápido e logo em seguida me dirigir para o escritório Ferraz & Salazar, ainda compenetrado na tarefa que executo, e não percebo a presença de outra pessoa no local.

-Meu Deus do céu, pai, como você consegue fazer isso todos os dias sem conseguir se enforcar com essa coisa? -eu brinco ao arrancar a gravata do pescoço e o olhar distraído, com a cabeça longe, pensando nos diversos compromissos que tenho ao longo do dia.

-O segredo é dar apenas uma volta, ajustar bem ao pescoço, mas sem apertar demais na hora de fazer o nó. Assim você não sufoca e nem morre estrangulado. -a resposta bem humorada me surpreende, e me faz erguer os olhos para o alto, deparando-me com uma linda imagem.

Camile Bertotti.

A garota mais bonita que conheço. A menina que possui um belo rosto de anjo, mas que pode se tornar a verdadeira encarnação do mal quando contrariada. Todavia, no fundo, no fundo, sei que ela tem um bom coração, doce e sincero, que é o motivo de todos da nossa família ama-la.

-Camile?

-Dante, bom dia.

Ela diz com um pequeno sorriso nos lábios ao aproximar-se no mesmo instante de onde estou, parado na entrada da cozinha, pegando-me de surpresa com tamanha rapidez.

-Posso ajudar?

Camile pergunta já tomando a iniciativa ao tomar a gravata de minhas mãos, e passa-la por meu pescoço com maestria.

-Não é necessário. Eu...

-Primeiro temos que terminar de fechar essa camisa, né, bonitão? Você não pretende desfilar pelo seu local de trabalho com esse peitoral de fora, não é mesmo?

Minha frase é cortada pela sua, e as palavras ficam travadas em minha garganta no momento em que seus dedos migram num segundo para os botões da camisa social que visto. Engulo em seco e desvio o olhar para longe, para qualquer lugar que não seja Camile, para que ela não perceba o estremecimento que me atinge no momento em que as pontas de suas unhas resvalam minha pele.

Droga, Dante! Aquieta esse teu facho, cara! Parece que nunca viu mulher na vida, homem. Você ao menos tem noção de quem é a pessoa que está a sua frente? Essa garota é Camile Bertotti! Sua prima. Então vê se para de ser louco!

-Sabe, eu ficaria morta de ciúmes só de imaginar aquelas piriguetes que também trabalham lá, olhando para você desse jeito com segundas intenções.

Ela continua falando normalmente, ao que eu volto o olhar espantado sua face, e noto que seus olhos estão fixos nos meus como dois raios lasers. Intensos e firmes, sem se desviarem por um segundo sequer.

Azuis contra castanhos.

Eu respiro fundo para acalmar as batidas frenéticas do meu coração, contudo, só percebo o erro que cometi ao sentir seu perfume marcante invadindo meus sentidos e tomando conta de todo o meu cérebro.

-Mas eu não posso condena-las, é claro. Afinal de contas a culpa é totalmente sua por ser um homem tão bonito e atraente assim.

Camile diz finalmente terminando a tarefa de abotoar minha camisa corretamente, e suas mãos deslizam vagarosamente de meus ombros até a altura do pescoço, onde ela começa a ajeitar a gravata.

-Qualquer pessoa em sã consciência gostaria de passar o dia inteiro olhando para uma bela paisagem como você, Dante. É agradável às vistas. Até eu teria uma imensa vontade de...

Pelos céus, o que essa garota pensa que está fazendo? Por acaso ela pretende me enlouquecer dizendo essas coisas de sentido dúbio, que servem apenas para me deixar ainda mais confuso? Aonde ela quer chegar com isso tudo? Será que seu objetivo é provocar alguma reação em mim? Ela só pode ser doida se essa for sua intenção. Camile deve estar fora de si, é isso. É o que concluo por fim.

-Camile... -digo com um tom de advertência na voz, para que ela tome cuidado em suas palavras e não venha dizer coisas das quais poderá se arrepender futuramente.

Camile é somente uma jovem garota confusa que ainda não sabe o que quer da vida.

-Eu teria... na verdade eu tenho, uma grande e louca vontade de beija-lo, Dante. Você não tem ideia de como eu desejo isso. De quanto tempo eu venho esperando a oportunidade para fazer isso...

E sem que eu possa prever, num instante Camile me puxa pela gravata, e cola sua boca na minha em um beijo totalmente inesperado que me rouba o chão por completo.

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