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CAPÍTULO 4

CAMILE BERTOTTI

-E aí, estou esperando por uma resposta! -Cristine bate o pé de forma inquisitiva e irritada por nenhum de nós dois ter respondido a sua pergunta.

-Quer saber, Cris...

Eu começo, dando as costas para Dante e me virando para ela, disposta a dizer toda a verdade para minha amiga, pois não tenho nada a esconder dela e nem de ninguém. Contudo, antes que eu consiga dizer mais uma palavra, o idiota e gostoso do seu irmão, me impede de prosseguir.

-O que você está fazendo? Me solt...

Meu protesto é silenciado na mesma hora pela grande mão de Dante, que cobre minha boca rapidamente, fazendo com que dessa forma, eu não possa falar nada.

-Tá doido, garoto? O que deu em você? Acordou do lado errado da cama essa manhã ou bateu esse cabeção na quina do balcão?

Cristine pergunta para o irmão com o cenho franzido, sem entender bulhufas do porquê dele estar agindo assim

-Solta a Cami, Dante! Você tá parecendo um homem das cavernas, completamente louco, agindo assim. Tá assustando até a garota, olha...

Ela aponta para o meu rosto, com uma pitada de diversão escondida nos lábios, no instante em que ele me agarra pela cintura e me tira do chão com apenas a força de um braço, após eu ter pisar com bastante vontade em seus dois pés, na tentativa de me livrar de suas mãos que mais parecem tentáculos de polvo, querendo me conter.

Engraçado que para outras coisas, bem mais interessantes do meu ponto de vista, Dante não tem todo esse desprendimento e vontade de me agarrar. Somente para me deter é que ele fica todo espertinho, penso comigo mesma.

Dante é um homem muito tolo e nem sabe disso... coitado.

-A última coisa nessa vida que Cami está é assustada comigo, Cris.

Dante meneia a cabeça em negação enquanto caminha comigo presa em seus braços para fora da cozinha, na intenção de me retirar de perto de sua irmã o mais rápido possível, possivelmente temendo que eu revele algo que ele não vá aprovar.

-Outra hora eu te explico, ok? Mas agora eu e a senhorita Camile temos que ir, porque estamos extremamente atrasados.

Dante se despede de Cris já na sala de casa, a passos apressados, sem sequer olhar para trás, levando-me junto no processo, por ser mais ágil e forte do que eu.

-E vocês estão atrasados para o que especificamente? Eu não sabia que tinham um compromisso juntos hoje.

-Talvez porque nem tudo o que fazemos seja da sua conta, irmãzinha.

Ele ri provocando-a, e eu aproveito a distração para lhe beliscar na altura das costelas.

- Ai, Cami! Isso dói, sua... sua maluca!

É para doer mesmo, mané! É o que o respondo mentalmente com um estreitar de olhos severo, uma vez que minha boca está impedida por seus dedos de falar.

-Beijos irmã. Fui...

Ele diz por fim, ao sairmos pela porta da casa feito dois loucos desvairados e seguirmos rumo ao estacionamento, a alguns metros de distância, onde ficam os carros da família.

-Acho que agora que estamos seguros de que você cometa alguma bobagem, eu posso solta-la, certo?

Dante questiona quando estamos a uma distância consideravelmente afastada, após certificar-se que Cristine já não tem mais interesse na confusão que está acontecendo entre nós, ao ignorar nossa existência depois de bater a porta da sala e sumir no interior da casa.

Balanço a cabeça para cima e para baixo em uma afirmação muda, como se concordasse com sua atitude estúpida, apenas para que ele finalmente me liberte e assim eu possa descontar minha raiva em cima dele. E é o que faço no momento em Dante tira a mão da minha boca e seu braço abandona a posse de minha cintura.

Em um movimento friamente calculado, giro o corpo em noventa graus e lhe aplico um golpe certeiro com o punho na região do estômago, fazendo-o arfar de dor e surpresa.

Dou um passo para trás para fugir de seu alcance caso ele queira me imobilizar novamente, o observo de braços cruzados, sustentando um olhar orgulhoso na face, e pensando em como foi bom ter feito aquelas aulas de autodefesa que papai insistiu tanto para que eu, Emily e mamãe fizéssemos.

Nicolas Bertotti é um gênio visionário, além de ser o melhor pai do mundo. E é por isso que eu o amo tanto!

-Qual é o seu problema, Camile? Por que fez isso? Por acaso está tentando me matar?

Dante indaga exasperado enquanto se recompõe ao recuperar o fôlego e arrumar a postura ereta outra vez.

-Talvez você mereça mesmo, seu idiota. -respondo nervosa, mas respiro fundo, buscando me acalmar para não perder a cabeça. -Nunca mais me prenda contra minha vontade ou então eu irei fazer algo muito pior do que isso da próxima vez, está me ouvindo?

-É claro que estou, Cami. Não precisa repetir e nem ser tão agressiva, eu hein, raio de garota brava! Você quase...

-Por que, Dante? Por que você não deixou que eu contasse a verdade para Cris? -eu o interrompo e vou direto ao assunto que importa.

-Olha, Cami, eu não deixei que você falasse nada para Cristine porque sei que se ela souber, esse assunto logo cairá nos ouvidos de toda a nossa família e a coisa sairá do controle.

-Sair de controle, Dante? Não tem nada demais nisso. Eu te amo, isso é simples e óbvio. Você é quem está criando caso por uma coisa sem necessidade.

-Não é assim que as coisas funcionam, Cami. Meu Deus, como posso te explicar?

-Com a boca, oras!

-O que? Pelos céus, eu estou falando sério, Camile! Você não tem um pingo de bom sens... -ele revira os olhos com impaciência ao que eu seguro a vontade de rir de sua cara de desespero.

-Eu também, Dante! Eu também! Estou me referindo a palavras, homem! A palavras! Ao dizer para usar a boca, foi no sentido de que você use as palavras para se explicar. Agora...

Eu me aproximo com a voz mais mansa e o olhar suave, porém determinado, ao que minhas mãos logo vão de encontro ao seu peito, onde sinto seu coração descompassado batendo sob o toque dos meus dedos.

-Se sua mente maliciosa pensou em outras alternativas, aí a culpa já não é mais minha, meu bem. É apenas seu subconsciente alertando todo o desejo que queima como fogo em seu cérebro e corpo... por mim, mas que você tenta camuflar com essa falsa postura de bom moço que não me convence nenhum pouco.