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CAPÍTULO 3
DANTE SALAZAR
EU AMO VOCÊ.
Três palavras que me assustam para caramba e que fazem todas as minhas entranhas gelarem completamente dentro de mim. Essa não... essa não... essa não! Pelos céus, eu estou muito, muito ferrado mesmo. Essa é a primeira coisa que vem a mim mente em milésimos de segundos.
O que eu mais temia aconteceu: Camile se apaixonou por mim, e o pior de tudo é que ela disse isso com todas as letras, olhando dentro dos meus olhos, deixando-me sem palavras e sem ar, mais do que o beijo anterior havia me deixado. Ela confessou sem vacilar. O que foi um erro e culpa exclusivamente minha, eu nunca deveria ter deixado isso ocorrer. Nunca mesmo! Agora tudo parece ter ido longe demais para que possa ser consertado de um modo que não haja danos ou resquícios de mágoa para algum de nós dois nessa situação.
Droga, mil vezes droga!
Isso não pode estar acontecendo, ela não deveria ter esse tipo de sentimento por alguém como eu, ela sabe... é muito errado. E isso faz com que um peso esmagador de culpa encontre abrigo em meus ombros permanentemente.
Meu Deus, Camile sequer deveria pensar em mim de outra forma, além do parentesco que possuímos como primos. Mesmo que a gente não tenha o mesmo sangue correndo em nossas veias, ainda assim não parece certo.
Não mesmo.
Meu pai do coração é seu tio, irmão de sua mãe. Então como posso cogitar um absurdo como o que se passa por sua cabecinha de vento extremamente teimosa? Eu jamais poderia fazer isso. Minha consciência não permitiria nem em um milhão de anos.
Minha cabeça fica até dolorida só de imaginar a cara de decepção de todos os membros de nossa família, se soubessem de um escândalo como este envolvendo nosso meio familiar. E causar tamanha confusão e tristeza partiria meu coração de uma forma que eu não sei descrever.
Eu amo minha família, meus pais, meus irmãos, meus tios e avós de tal forma, que faria qualquer coisa por qualquer um deles, inclusive, coisas que não me deixam muito satisfeito, porém que é o melhor para todos.
Dessa forma, tenho que agir como o homem adulto e responsável que meu pai me criou para ser, e resolver essa situação com o mínimo de estrago possível. Tenho que colocar algum juízo na cabeça de Cami e fazê-la voltar a razão antes que alguém acabe se machucando no final dessa história.
Contudo uma coisa é certa, farei isso de modo que o coração dessa linda garota a minha frente não seja ferido. Eu sou incapaz de machucar Camile de qualquer forma que seja, ela é uma menina que tem um lugar especial em meu coração e em minha vida, ela só precisa... crescer, amadurecer um pouco mais com o passar do tempo, e entender que nem sempre o que desejamos em um momento de impulsividade, é o melhor para nós.
-Cami, você não pode dizer essas coisas para mim.
Digo depositando minhas mãos em seus ombros para impor alguns centímetros de distância entre nós. Hora de colocar as coisas em ordem, Dante! É o que digo a mim mesmo.
-Eu... eu... bom, você é uma garota bonita e sabe que tenho um apreço especial por você, certo?
Indago sem desviar o foco de seu olhar azulado que me fita com um brilho perigoso que me deixa um tanto receoso.
O que deve estar se passando por sua mente neste instante? Será que Camile pretende me matar apenas com a força do olhar, e esconder meu corpo no quintal de casa? A última coisa que pretendo é despertar a fúria que existe dentro desse pequeno ser, entretanto não posso deixar esse tópico aberto do jeito que está.
Camile já não é mais uma criança há muito tempo, por mais que algumas de suas atitudes deixem margem para dúvidas. Ainda assim, ela precisa compreender a diferença entre o certo e o errado.
-Gosto muito de você, mas como alguém da família, uma amiga. Isso que disse sentir por mim, não faz o menor sentido e você sabe que tenho razão, não sabe? Você e eu...
-Não, eu não sei, Dante, e sabe por que? Porque não concordo com nada do que acabou de dizer.
Camile me corta com o semblante se fechando como uma grande tempestade prestes a desabar nos próximos segundos.
-E nem adianta vir para o meu lado com o papo de que "você não sabe o que está falando, não sabe o que sente. Em breve isso vai passar...", pois eu digo que não vai. Sei muito bem o que estou fazendo, e tenho plena certeza dos meus sentimentos. Assim como também sei que você sentiu algo quando eu o beijei. Não tente me enganar e nem a si mesmo, Dante. Eu senti quando fui correspondida. Você também quer isso, você me deseja assim como eu também o desejo. Amigos de verdade não se beijam como estávamos nos beijando minutos atrás, não negue!
Camile me pressiona contra a parede, deixando-me sem saída, pois não tenho resposta alguma para contra-argumentar tais fatos apresentados. E se ela estiver mesmo certa? E se ela tiver razão?
Não, não, não... meneio a cabeça em negativa. Essa garota não vai me fazer perder o rumo. Eu não posso perder o controle e muito menos o juízo apenas por causa de algumas poucas palavras.
-Você me conhece Dante, mas parece que não o bastante para saber o quão determinada posso ser quando tenho um objetivo em mente.
Ela promete batendo a ponta do indicador em meu peito, ao que eu estremeço com o que essa maluca poderá vir a aprontar mediante as palavras não ditas nessa frase um tanto misteriosa.
-Mas não se preocupe, eu terei prazer em lhe mostrar que, impossível é uma palavra que...
-...não existe no vocabulário de um Salazar.
Pulo de susto ao ouvir a voz de Cristine, a gêmea número um, as nossas costas, completar a frase da loira que está parada a minha frente feito uma muralha de forma impertinente.
Oh, não, não... Por favor, não!
-Ei vocês dois, o que está rolando aqui, hein? Por que estão aí parados desse jeito? Tem alguma coisa estranha no ar, eu sinto desde que coloquei meus pés nessa cozinha...
Minha irmã investiga semicerrando os olhos ao largar molho de chaves que tem nas mãos sobre a mesa, e caminha em nossa direção com passos atentos e os braços cruzados sobre o peito em uma postura desafiadora.
-Vamos, me digam. Não fiquem aí me olhando com essas caras de paspalhos!