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Revelações

Marla saiu da banheira, secou-se e vestiu um hobby de seda que estava pendurado no banheiro. Quando sentiu o perfume almiscarado impregnado no tecido, quase flutuou de prazer, era bom demais. Ronronou igual um gatinho, mas ela está longe de ser uma gatinha.

Tirou o excesso de água dos cabelos com a toalha, e passou um pente neles para desembaraçar. Seus cabelos são longos, chegando à cintura, castanhos com mechas alouradas. Sempre mantém eles escondidos em um coque para não chamar atenção, pois com seus olhos azuis, sua boca grossa e nariz afilado, fazem dela uma figura para se olhar duas vezes.

Agora, de cara limpa, Marla não vai se esconder, vai mostrar o que tem, para tentar sair do buraco em que seu suposto pai a colocou. Saiu do quarto, só vestindo o hobby de seda amarrado a cintura.

– Pronto, estou aqui, pode falar. – Chamou a atenção dele, que se virou de supetão e não acreditou no que viu.

– Quem é você? Onde está a ratinha? – Perguntou Jansen indignado.

– Ah, não esculhamba, cara. Fala logo e me deixa em paz – reclamou Marla.

Ele ficou olhando para ela de cima a baixo. A voz e a petulância eram as mesmas, mas o resto...?! A primeira coisa que notou e trouxe um ronco ao seu peito, foi os seios empinados, marcando a seda do hobby, depois os cabelos lisos e compridos, aí vinham os olhos de um azul quase lilás, diferentes, e de onde surgiu aqueles lábios carnudos e vermelhos?

– Mas...mas…– Ele tentou falar mas não conseguiu. Algo dentro de si batia e arranhava, querendo sair.

– Pois é...era puro disfarce, para não dar brecha para os tarados deste lugar. – Ela esclareceu.

Ele balançou a cabeça assentindo.

Tô ferrado!!! Pensou.

– Falei com meu sócio e ele concordou, vamos fazer uma grande festa, o clube todo vai participar, você pode fazer uma performance no palco ou no pole dance e também vamos jogar na mídia, será um super evento, é isso. – Contou Jansen, mas parte de sua empolgação tinha sumido junto com a feiura da ratinha, que se transformou em uma gata e que gata.

– E quanto eu ganho nisso? – Perguntou ela, achando tudo aquilo uma palhaçada.

Ele se virou rápido para ela e olhou-a abismado por sua pergunta, não tinha pensado na possibilidade de dar nada a ela. Afinal, ela estaria pagando a dívida de seu pai e não tinha direito a nada.

– Nada, você estará pagando uma dívida – respondeu ele na maior cara de pau.

– Você realmente está com este seu senso de valor moral, deturpado. Em primeiro lugar, eu não tenho dívida nenhuma, em segundo, estou em cárcere privado e em terceiro, o corpo é meu, a virgindade é minha e se você vai ser meu cafetão, tem que saber que sou muito cara e exijo meus direitos – ela recitou, como um texto, andando até ele, com o dedo esticado em sua direção.

Ele estava estupefato com a fala dela, foi que nem o pai, ela nem sabia como era parecida com ele. O pior é que ambos tinham razão, ele perdeu completamente o senso moral. Como pensou em vender a coisa mais preciosa de uma mulher, a sua virgindade, pensando só no lucro?

Ficou imaginando, ela linda no palco e aqueles abutres, só porque são ricos, disputando um pedaço dela, como se fosse comida. E depois, ela sai com quem não conhece para se deixar desfrutar. Esta visão o fez correr para o banheiro e vomitar todo o whisky que bebeu.

Quando saiu do banheiro, lá estava ela, parada, de braços cruzados, fazendo aqueles peitos deliciosos saltarem para a frente. Precisou se esforçar para olhar para cima, mas aí seus olhos pararam nos lábios vermelhos e quis mordê-los como se fosse um morango…

– NÃO!!!! Que inferno!

Passou por ela feito um foguete e antes de sair pela porta, gritou:

– Vai dormir, garota! Amanhã conversamos – e saiu, batendo a porta.

Mesmo ele já tendo ido, ela gritou:

– Já é amanhã, IDIOTA!

Marla então resolveu aproveitar, ligou para uma pizzaria e pediu uma pizza metade rúcula com tomate e metade banana com canela. Informou que era para entregar no clube e falar para o porteiro que era com autorização do senhor Jansen. Foi ao frigobar e pegou uma garrafa d'água, indo até o quarto ligar a TV de tela plana, enoooorrrrme que tinha lá.

Não estava com sono, estava acostumada a dormir quando o sol saía e só acordar no final da tarde, por isso escolheu um filme de lobisomem e deitou na cama também enoooorrrrme, para assistir. Quarenta minutos depois, bateram na porta e abriram, ela correu para pegar sua pizza, estava com fome, agradeceu ao George, que saiu e voltou a fechar a porta.

É claro que ela já poderia ter saído dali, mas resolveu aproveitar a mordomia enquanto pudesse, pensava até em comprar umas roupas novas na conta do patrão e fingir que concordava em trabalhar de graça, só para desfrutar a mordomia que nunca teria condições de pagar. Talvez também não tivesse senso moral, mas foram eles que começaram.

Voltou ao quarto com a caixa de pizza e sentou na cama para saborear e ver o filme. A muito tempo não ficava tão feliz e tranquila, pois dentro daquele quarto que mais parecia um bunker, ninguém a encontraria e se encontrassem, não conseguiriam entrar para arrastá-la dali. Uma troca mais que justa, pensou.

**

Sentado no bar, xingando quem ousasse olhar para ele, Jansen reclamava da vida para Maicon.

– Então a diaba é bonita? – Perguntou Maicon, rindo da cara do amigo

– Aquilo tudo era disfarce, ela falou. Acredita que o cabelo dela vai até a cintura e a boca parece um morango maduro? Tô ferrado, cara, o que eu fiz pra merecer isso – resmungou Jansen.

– Você chutou o capeta, esqueceu? – Lembrou Maicon.

– Ah? Cê tá falando do "Principe" Albert, aquele nojento? – Perguntou ele, meio grogue.

– Hei, cara, já tá bom de parar de beber, vamos fechar o bar e você conseguiu ficar grogue – alertou Maicon.

– Tô ferrado cara, mil vezes ferrado – choramingou o grogue.

Maicon analisou seu amigo, pensativo, será? Então concordou com ele:

– Ih cara, acho que você tá ferrado mesmo!

– Pô cara, tá me zoando ao invés de me ajudar? – Resmungou Jansen.

– Não, só estou constatando um fato, dado a sua embriaguez. – Completou Maicon.

– Que fato? – soluçou – o de que tô ferrado? – Perguntou Jansen.

– O de que você encontrou sua companheira, só isso explica um felino conseguir se embriagar. – Foi na certeza, Maicon.

O clube estava fechando, mas antes que Jansen pudesse responder, uma barulhada e vento, foram ouvidos. Em um segundo o tal Príncipe Albert estava ao seu lado.

– Você tá péssimo, gatinho! Não se preocupe comigo, só vim buscar um dos meus e já tô indo. Tchau – saiu do mesmo jeito que entrou, rápido, muito rápido.

– Isso pareceu cena de cinema. Quem será que ele veio buscar? – comentou Maicon.

Um segurança chegou correndo e tentou falar:

– Che...feeee, oooos vam…

– Respira homem e fala devagar – mandou Jansen.

– Eles levaram o jogador que apostou a filha! – Contou o segurança, se aprumando

– Eu disse: tô ferrado! Mas como eles conseguiram abrir aquela porta? – Jansen falou, já ficando sóbrio.

– Indução, só pode, e de quebra, nem precisaram pedir licença, pois o lugar é público e já tinha um dele dentro… peraí, se eles vieram buscar um deles e levaram o pai...tamo ferrado cara – agora quem choramingou foi Maicon.

– Mas, nada nela, indica ser como eles e até pediu uma pizza, aliás, quem pede pizza de banana? Não, não deve ser não, ela diz que nem conhece o pai... não, não deve ser não - conjecturava Jansen.

– Toma aí, cara – disse Maicon, passando um copo com whisky para Janson e pegando um para si – até eu, vou beber, agora.

– É, amigo, isso que dá fazer negócios sem investigar primeiro, maldita ganância! – Exclamou Jansen.

– Vamos beber, já é outro dia e esta noite é nossa folga, precisamos correr – afirmou Maicon.

– Você tá certo, precisamos correr. GEORGE! – gritou, chamando o segurança.

– Sim, chefe! Chame o Serge, avise que vamos pra casa e arrume tudo e quando digo tudo, inclue a ratinha que está no meu quarto. Vamos correr, amigos, vamos correr.

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