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Desconhecido

Marla estava sentada, com as pernas juntas e as mãos pousadas sobre as coxas cobertas pela grossa saia jeans. Olhou para ele sem entender o que ele queria dizer, pois desde que se lembra, não tem pai. Sua mãe a criou até os dez anos, sempre reclamando do traste do pai dela, que não valia nada e nunca nem quis conhecê-la.

Já fazia doze anos desde a morte da mãe e muitas coisas aconteceram com Marla, coisas que mudaram sua vida por completo e com as quais precisou aprender a viver. Trocou o dia pela noite, pois se sentia mais segura, não era tão notada e podia se esconder nas sombras. Morava num cubículo. Apenas um quarto com banheiro, num motel barato de beira de estrada.

Quando atingiu a maioridade, conseguiu fugir das pessoas que a pegaram para criar e desde então trabalhava no clube Pantera Negra. E agora lhe aparecia um pai ao qual nunca vira e a apostara no jogo e perdeu, o que era pior. Franziu as sobrancelhas analisando o homem à sua frente, seu chefe, o que ele iria querer com ela?

Jansen também observava a garota miúda, a ratinha, sem saber o que fazer com ela. Ela era baixa demais, magra demais, enxergava de menos e por isso usava óculos. Seus cabelos, não davam nem uma ideia de como seriam, pois estavam grudados e apertados em um coque pavoroso. Com os óculos, seus olhos ficavam gigantes e apesar de seu nariz ser afilado e bonito, a boca era apagada e fina.

Por que não desistiu da aposta? Ele se questionava, olhando a coisinha feia a sua frente. Ela também o olhava com a testa franzida, devia estar analisando ele da mesma forma que ele estava fazendo com ela.

– O que pretende fazer com a pessoa que ganhou no jogo? – Ela perguntou.

Ele passou a mão pelos cabelos e se afastou um pouco, bebendo um gole de seu whisky. O que faria com ela, excelente pergunta. Inspirou fundo, tentando se acalmar, mas foi pior, o aroma adocicado dela, encheu suas narinas e fizeram sua líbido acelerar. Isso não estava certo, não de jeito nenhum, ela era apenas uma humana sem graça.

– Me diz você, como pode me pagar duzentos mil dólares? – Perguntou ele, olhando de forma cínica, para ela.

– Não posso! – Respondeu ela com firmeza.

Ele sorriu de lado e tomou mais um gole de seu whisky.

– Ah, você vai dar um jeito, isso vai. – Confirmou ele.

– Não tenho que lhe pagar coisa alguma, não tenho pai! – Falou, se esticando na poltrona, tentando parecer mais alta que seus 1,60 centimetros.

– Não é isso que diz a certidão de nascimento que ele me deu – olho para ela, meio de lado, com a cabeça inclinada e um sorrisinho besta no rosto.

– Como assim? Quero ver a certidão – a garota é decidida.

Ele foi até a cadeira onde estava pendurado o blazer com o qual jogara e tirou do bolso interno, um papel dobrado. Levou até ela e o entregou. Quando ela abriu e leu, não pode crer que era de verdade. Até os dados da identificação do hospital estavam cotados na certidão. Seus olhos se arregalaram e ficou chocada com a petulância do homem que se diz ser seu pai.

– Bem que minha mãe sempre dizia que ele era um traste e não prestava para nada! – Exclamou ela.

– Pelo que vejo, você concorda que o traste é seu pai mesmo. – Ele confirmou.

– Parece que sim, mas isso não é justo, ele não pode dispor da minha vida a seu bel prazer, eu sou maior de idade, independente e ele não tem mais jurisdição sobre mim. – Falou Marla, revoltada.

– Isso não interessa, ganhei você no jogo e pronto, agora você é minha e já sei o que vou fazer. Você passará a morar aqui e te darei casa, comida e uniforme de trabalho e você pagará com seu salário integral, durante o tempo que for necessário, até que toda a dívida seja quitada. – Concluiu.

– Isso é cárcere privado, quase uma escravidão. Você não pode fazer isso comigo. – Desta vez Marla se exaltou e ficou de pé, erguendo a voz.

– Olha aqui ratinha, é isso ou uma semana na minha cama me satisfazendo sexualmente, o que prefere? – Ele já estava face a face com ela, uma distância de um palmo.

Ela engasgou e sua mente começou a pensar matematicamente. Analisou os números, lembrou de estatísticas e valores de mercados, parecia um computador humano, até que se afastando um pouco dele falou:

– Que tal fazermos um leilão? – Perguntou.

– E qual seria o produto a ser leiloado, você? – Replicou ele.

– Não, ninguém iria me querer, mas eu tenho algo que os homens ricos adoram…

– Que seria? – Quis saber ele.

– A minha virgindade! – Ela pronunciou as palavras devagar, fazendo suspense.

– Acaso a sua virgindade não é você? E com essa idade, continua virgem, quer dizer, com essa cara, é de se acreditar que ninguém a quisesse…– uma pontada em seu coração e um ronco em sua cabeça, o fizeram parar.

– E daí se você me acha feia? Já diz o ditado: não existe mulher feia, só existe mulher mal cuidada. Então é só eu dar um tapa no visual – falou Marla, confiante.

– Vários tapas, né? Até arrebentar tudo e um cirurgião plástico consertar – a gargalhada veio fácil com a própria piada.

– Sem graça! Então, porque você ofereceu sua cama por uma semana, se não gosta da minha cara? – Ela jogou em sua cara.

– Porque estou sem sexo a um tempo e no escuro, se come qualquer coisa! – Novamente gargalhou da própria piada.

– Seu ridículo! Pois saiba que minha virgindade é muito mais valiosa do que qualquer divida que me imputaram. – Rebateu ela.

– Então você prefere ser leiloada? Ok. Vou pensar no assunto. Enquanto isso, você fica por aqui mesmo, use o banheiro, a geladeira ou peça comida, fique a vontade. Vou falar com meu sócio sobre sua proposta.

Depois que Jansen falou, vestiu uma camisa e desceu pela escada privativa, entrando na sala privada, atrás do bar, e chamou Maicon.

– O que é pela-saco, tem gente que trabalha aqui viu? – Disse Maicon, entrando na sala.

– Ah vai…você bem que gosta de uma folga e da minha presença? – Falou o convencido.

– Eu gosto é de fêmea, macho escroto! Fala logo o que tu qué e vaza…– mandou Maicon.

– Aconteceu um lance estranho no pocker, hoje…

– É, tô sabendo e daí? – Cortou a fala do outro e perguntou.

– Daí que ela nunca viu o pai e nem sabia quem era, mas reconheceu a certidão de nascimento – explicou Jansen.

– Que cara mais bisarro, meu! Manda matar logo esse golpista. Vender a própria filha que nem conhece, ô loco! – Quem é a garota? É bonita pelo menos?

– É a nossa caixa da bilheteria da entrada, aquela ratinha quatro olhos...lembrou? – Jansen, abaixou a cabeça, passando as mãos no cabelo envergonhado, enquanto seu amigo e sócio deu uma "enorme" gargalhada.

– Tu se ferrô, cara! - e gargalhou novamente - o que tu vai fazer com ela? – Perguntou Maicon, mais calmo.

– Ela me deu a ideia de fazer um leilão…

– E quem vai querer comprar ela, cara? – Voltou a dar risada.

– Aí que está: não é ela que vamos leiloar, é sua virgindade – explicou Jansen, sério.

– Ó! Ela é virgem! Mas continua sendo feia – redarguiu ele.

– Mas como ela disse, com uma boa produção, ela pode ficar passável. O que acha? Faremos um grande espetáculo e ganharemos muito mais do que a dívida do pai dela – concluiu a explanação do negócio.

– É, você tem razão, daria um espetáculo. Usaremos também a internet e a ratinha vai ficar famosa. Tá aí, eu topo. Pra quando? – Concordou Maicon.

– Amanhã faço as contas, verificarei a agenda e te passo. Os três andares devem participar. Vou comunicar ao Jordan amanhã. Então tá, pode ir trabalhar, vou dar a notícia a ratinha.

– Valeu sócio, essa realmente foi Á, cartada, parabéns. – Maicon saiu rindo.

Jansen subiu e entrou em sua suíte procurando a garota, foi até o quarto e ouviu ela cantarolar no banheiro e pelo som, estava na banheira. Ele bateu na porta e falou: – já tenho a resposta, sai logo daí. – Ordenou.

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