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5

Já havia escurecido quando eles chegaram ao porto. Tessa mal teve tempo de olhar para os lados, quando sentiu a mão que lhe mantinha a boca fechada, e ela foi levada para um barco a motor e, dali, transportada até um iate. Tudo parecia haver acontecido em um piscar de olhos, e tudo que ela havia desejado que acontecesse no final, após centenas de quilômetros de uma viagem de carro, acabava em nada. Sem a menor cerimônia, Tessa foi empurrada para uma cabina forrada com lambri de madeira, de onde se podia ouvir a ritmada cadência do motor funcionando. O barco tinha sete cabinas e tripulação, assim havia dito seu raptor, e mais a cabina do proprietário, tão luxuosa quanto apartamentos de hotéis de primeiríssima classe. Tessa não foi alojada nessa cabina de luxo, mas para ela havia um grande quarto com guarda-roupa e um bonito toucador conjugado lateralmente. A cama era macia e recoberta com uma colcha de renda azul sobre branco. Tessa sentou-se nela enquanto as lágrimas rolavam-lhe pelo rosto, pensando em tudo que poderia ter acontecido, não fosse o criminoso ato daquele árabe selvagem que a mantinha presa. Ela já se teria casado e seria uma noiva feliz viajando, em lua de mel.

Tessa interrompeu os pensamentos quando novo acesso de lágrimas a dominou. Mas, dali a pouco, os mesmos pensamentos voltavam à carga, agora imaginando o que estaria acontecendo como resultado de seu desaparecimento. Naturalmente, a primeira providência de Jake seria correr ao telefone mais próximo e entrar em contato com a polícia. Contudo, ninguém a havia visto e, agora, eles jamais a encontrariam! E como poderiam? Não havia a menor pista que a ligasse

Tessa olhou para ele. Tinha os lábios descorados, mas, recomposta, compreendeu que com dignidade podia atingi-lo mais do que a fúria.

— Perfeitamente, claro. Porém, eu não sou sua esposa e as tradições galácias não me afetam!

Novamente, ele riu e puxou-a para si. Tessa sentiu-se outra vez encostada naquele corpo másculo, perturbando-se quando ele lhe tocou o queixo de maneira a forçá-la a olhar no fundo de seus olhos negros. Os lábios dele abaixaram-se devagar, como se ele saboreasse a repulsa que ela estampava no rosto. As palavras dele confirmaram sua dedução.

— Você pode ficar deste jeito agora, como se me odiasse — ele disse —, mas, em poucos momentos, você estará seduzida por meus beijos!

— Seduzida! — ela gritou. Tinha os olhos vermelhos de indignação.

— Que bela opinião você tem a seu próprio respeito!

— Nossas relações anteriores — lembrou ele —, foram mais do que suficientes para eu saber que você é uma excelente parceira de cama. . .

— Pare com isso! — Novamente Tessa cortou-lhe a fala, esquecendo-se da dignidade. A fúria a descontrolava, principalmente por ter consciência de que ele falava a verdade ao dizer que ela havia gostado de fazer amor. — Quero ir embora, saiba disso, porque nunca hei de ser sua esposa, nunca!

— Então, você será minha amante — foi a tranquila resposta dele.

— Saiba que eu desejo você, Tessa; por isso, será mais fácil se você aceitar o inevitável.

Assim dizendo, seus braços a envolveram apaixonadamente e seus lábios novamente se aproximaram dos dela, forçando-os a abrir-se, ainda que ela tentasse mantê-los fechados. O ardor de sua paixão encontrou resistência por alguns momentos. Contudo, tornou-se difícil resistir aos movimentos sensuais daquele corpo musculoso, ao domínio mágico daqueles lábios, à maneira rude de acariciar-lhe as mãos e os seios delicados. O movimento de seus dedos eram irresistivelmente persuasivos e, repentinamente, Tessa começou a entregar-se. Exatamente como havia acontecido na noite em que havia prometido casar-se com ele. Aturdida, quando ele finalmente a soltou, Tessa permaneceu imóvel, vacilante, insegura, extasiada e perdida, incapaz de pensar direito ou de dizer coisas. Os olhos dele continuavam fixos no rosto de Tessa, e uma das mãos agarrou as pregas do vestido de noiva.

— Sim... — disse ele, com um ligeiro suspiro que ela percebeu ser afetado. — É uma pena que nós não tenhamos um padre a bordo!

— Pelo que vejo, um padre não faria a menor diferença — disse Tessa por fim. — Eu me recuso a casar com você!

— Essa é uma recusa que não lhe vai fazer bem, minha querida!

Ela olhou para ele. Leonard havia deixado cair as dobras do vestido e agora, Tessa estava recomposta, capaz de sair de perto dele, se quisesse.

— Esse padre teria de ser tão cafajeste quanto você! — respondeu, ansiosa por ver-lhe a expressão.

— Tenho amigos — rebateu ele, em voz baixa. — E nós nos casaremos, isso eu lhe garanto!

— Você vai me forçar a subir ao altar? — Os olhos dela não se desviaram do rosto moreno. Todavia, como já vinha acontecendo, ela não conseguiu decifrar aquele olhar fixo com o qual ele a analisava. — Você terá um revólver apontado contra mim, por acaso?

Ele caiu na risada.

— Não será tão melodramática assim — afirmou.

— Que espécie de coerção você espera usar?

Tessa fez aquela pergunta por fazer. Tinha a mente voltada para outro local, tentando imaginar o que estaria acontecendo em casa. Davi deveria estar com o coração partido e, da mesma forma, estariam os que a amavam, principalmente Mary, a quem ela tanto queria bem. Também pensou na confusão que deveria ter acontecido na igreja quando a noiva não apareceu. Como teria Jake chegado com a incrível notícia que ela havia sido raptada? Novamente, Tessa se maldisse por nada haver contado a ninguém a respeito do árabe que a vinha perseguindo.

— Se você recusar o honrado estado de mulher casada — disse ele, irônico —, então você será minha companheira de cama, como eu já lhe disse.

Tessa não respondeu. Uma ideia, porém, lhe veio à mente. Poderia não dar resultado, mas ela precisava tentar.

— Acredito — prosseguiu o árabe — que você vai preferir o casamento, já que você é dessas garotas que morrem de medo dessas coisas chamadas de... desonráveis!

— Não serei nem sua esposa, nem sua amante!

— Belas palavras! — aplaudiu ele com cinismo. — Mas são intelectuais demais para estas circunstâncias. Eu a tenho em meu poder, e você sabe disso!

Os olhos negros analisaram-lhe o corpo como se a despissem. —- Posso possuí-la neste momento, se eu quiser! Tessa ruborizou com aquelas palavras e com seu modo de olhar. Por um espaço de tempo, hesitou, antes de dizer tudo o que tinha em mente. Daria certo? Bem, logo ela saberia. Então, olhou-o no fundo dos olhos e disse:

— Você tem tanta certeza assim de que vai sair-se tão bem me raptando? Está seguro de que eu não falei com ninguém do modo como você vinha me perseguindo? — E, nessa altura, ela riu para mostrar-se mais convincente. — Pois eu falei com muita gente! Meu noivo sabe a seu respeito, e muitas enfermeiras do hospital também. A polícia só terá de ajuntar algumas peças do quebra-cabeças para descobrir tudo! Então, você será apanhado no momento em que pusermos os pés na Galácia. Depois, você será julgado e mandado para a prisão, onde permanecerá por muitos anos. . .

Sua voz começou a perder autoridade à medida que ela começou a notar o ar de pouco-caso no rosto dele. Suas palavras nem mais ecoaram quando a risada escapou-lhe por um canto dos lábios. Ela começou a soluçar, percebendo que ele deveria estar enxergando-a por dentro.

— Minha criança — disse ele com um toque de humor —, você é transparente como o vidro! Você acaba de pensar nessas mentiras não faz nem um minuto!

— Não é verdade! — insistiu Tessa, lutando por manter-se firme. — Juro que é verdade! Você vai se arrepender se não der ouvidos à minha advertência!

— Vale a pena correr o risco — respondeu ele, de cima de sua altura, olhando-a imperturbável. — Em todo caso, parece que se esqueceu de que, agora mesmo, você prometeu que não me entregaria à polícia. E essa promessa não teria valor algum se a polícia já estivesse em minha pista. Esse não foi seu único erro, querida! Se você tivesse tanta certeza de ser resgatada e de que eu seria preso, não teria feito o barulho que fez!

Os olhos dele mostraram-se brilhantes, cheios de admiração.

— Afinal, você não é o tipo de garota que implora do jeito que você implorou. . .

— Eu não estava implorando! — retrucou Tessa, enfrentando-o com a sensação de que poderia matá-lo com aquela negativa.

— Entendeu o que eu quero dizer? Você tem brios, e eu sei como deve ser difícil humilhar-se dessa maneira. Pois você não se teria dobrado se, em algum canto secreto de sua mente, tivesse certeza de ser logo resgatada pelas forças da lei!

— Eu odeio você! — gritou ela. — Eu queria poder matar você!

— Talvez agora — concordou ele. — Mas, mais tarde, você estará sentindo diferente. Eu posso mudar-lhe a vontade muito facilmente.

Com os dentes rangendo, ela deu meia-volta e o árabe saiu, voltando poucos minutos depois, trazendo três caixas de papelão que ele atirou sobre a cama.

— Melhor você trocar de roupa — sugeriu. — Não pode ficar vestida de noiva o tempo todo. Fez uma pausa, um sorriso cínico curvou-lhe os lábios ao olhar para ela. — Sim, eu lhe trouxe roupas — disse. — São modernas e espero que você goste. Quanto às roupas de baixo, sei que seu gosto há de bater com o meu, uma vez que eu mesmo as escolhi.

Revoltada, ela o encarou.

— Você entrou em uma loja para comprar... roupa de baixo?

O árabe caiu na risada e assegurou-lhe que ele estava acostumado a fazer tal tipo de compra.

— Minhas muitas amigas de cama sempre esperavam receber presentes dessa natureza...os mais caros, quero dizer!

O ódio estampou-se mais forte nos olhos dela diante daquele fato.

— Você, naturalmente, deve ter tido muitas mulheres... Ele inclinou a cabeça:

— Muitas... — E deu uma olhada para a cama. — Você não vai abrir as caixas?

— Não!

Ele apertou os lábios e apontou, imperioso:

— Abra as caixas! — mandou.

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