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6

— Não! — insistiu ela, desafiadora. — Eu não quero seus presentes, ou como você os chame! Dê a qualquer outra de suas amiguinhas!

Os olhos dele estreitaram-se, ameaçadores:

— Obedeça! — disse, asperamente. — Se você me conhecesse melhor, não me obrigaria a falar duas vezes!

— Ordenar, você quer dizer!

— Não estou para argumentos bobos, Tessa! Faça o que eu disse, imediatamente!

Ela balançou negativamente a cabeça, um pouco amedrontada devido ao modo com que ele havia terminado aquela ameaça.

— Não quero seus presentes — começou ela, sendo interrompida pela dor nos pulsos, porque ele a agarrou fortemente.

— Faça o que estou lhe mandando! — repetiu. — Eu hei de dobrar você, por isso é melhor se render antes que receba algo que vai humilhá-la e fazê-la sofrer!

Não havia mentira na sua inflexão de voz e, depois de alguns momentos de imobilidade, Tessa caminhou até a cama, desfez o laço, e retirou a tampa de uma das caixas.

— Tire a roupa daí de dentro! — ordenou-lhe o raptor com autoridade. — Você vai gostar!

Tessa obedeceu, erguendo uma camisola transparente do embrulho de papel. Depois atirou a roupa sobre o leito e as lágrima; brotaram.

— Eu quero ir embora! — soluçou com voz quase apagada. Eu não lhe fiz mal algum, por favor, deixe-me ir embora!

Antes de ela terminar de dizer aquelas palavras, ele já estava movendo negativamente a cabeça. Um sentimento da maior desesperança aniquilou Tessa. Ela pôs as mãos no rosto, mas, antes de começar a chorar, sentiu que ele a puxava ternamente contra seu próprio corpo.

— Não guarde ressentimentos no coração, garota — pediu. — coisa parece mais assustadora do que realmente é, asseguro a você Neste momento, você pode apenas estar pensando no casamento que perdeu e no rapaz com o qual teria se casado. Mas todas essas recordações logo desaparecerão quando formos marido e mulher, Você sabe que sou eu que devo ser seu esposo e amante!

Em seguida, ele forçou-lhe o queixo e tocou-lhe o rosto possessivamente.

— Agora, ânimo! Nada me irrita mais do que ver uma mulher chorando. Abra a outra caixa. . . Não, há outras coisas naquela mais adiante. Tire tudo para fora primeiro.

Tessa olhou para ele e sentiu que seria conveniente obedecer-lhe, Assim, retirou sutiãs e calcinhas, outra camisola e uma anágua de renda. Ele ordenou que ela abrisse a caixa seguinte e, por fim, a última. Ela colocou todas as peças sobre o leito: dois vestidos e duas saias, três blusas e várias peças para uso na praia, ou para tomai sol no iate. Todas as roupas tinham etiquetas das lojas mais famosas de Paris. Erguendo os olhos, Tessa disse:

— Você deve ser mesmo um homem riquíssimo!

— Tenho o bastante — respondeu ele, sem dar muita importância,

— Muito mais que o bastante para o seu próprio conforto! — ela rebateu, novamente vendo-lhe os olhos semicerrados, ameaçadores.

— Cuidado! — ele preveniu com voz macia. —- Você apenas viu o meu lado bom...

— Lado bom? — exclamou ela, mal contendo o riso quê escapava — Deus, se esse é o seu lado bom, então eu rezo para nunca conhecer-lhe o lado ruim!

Ele caminhou até ela. Tessa deu um passo para trás, até que as pernas encostaram-se à cama.

Você é quem quis assim, garota! Vamos por bem... ou terei de ensiná-la de um modo diferente?

Sem que desse tempo de ela responder, Leonard puxou-a com um gesto brusco, selvagem, e forçando-lhe a cabeça para trás atirou-se contra seus lábios. Tessa debateu-se, apesar de saber que seria inútil. As mãos dele corriam-lhe pelo corpo, mas desta vez sem nenhuma ternura. Ele tinha uma boca cruel, faminta, e movimentava o corpo de um modo erótico, persuasivo. Tessa lutou tanto física quanto mentalmente, mas em questão de minutos seus esforços cessaram. Ele era excessivamente dominador, possuía uma incrível confiança em si próprio e sabia o que queria; ele a forçaria a render-se enquanto murmurava coisas, os lábios acariciando-lhe as orelhas. Ela tentou afastá-lo, mas sentiu que ele empurrava-lhe as mãos para as costas, de um modo silencioso e autoritário. Leonard, então, mandou que ela pusesse as mãos ao redor do pescoço dele. Tessa obedeceu. E quando ele ordenou que o beijasse novamente, ela também obedeceu. Ele riu. Tessa odiou aquele som. O árabe a segurou um pouco distante de seu corpo, e ela detestou aquele ar de triunfo que brilhou nos olhos dele, e o riso cínico.

De repente, a revolta tomou conta de Tessa e, sem pensar nas consequências, mordeu o dedo que lhe acariciava a boca. O árabe estremeceu, o corpo tomado por um espasmo de dor. Tessa viu-lhe a expressão de incredulidade e tentou fugir. Mas era tarde demais, ela já havia provocado a fúria do inferno: agarrando-a pelo cabelo, ele empurrou-lhe a cabeça para trás, rudemente, provocando-lhe um grito de dor.

— Sua... miserável! Eu devia pagar-lhe na mesma moeda! Suas mãos agarraram-na pelo pescoço, fechando-se devagar e aumentando a pressão. Os olhos de Tessa se arregalaram, e o medo que ele percebeu nela pareceu satisfazê-lo. Ele soltou as mãos de seu pescoço.

— Isto é apenas um aviso! — disse com voz mansa. — Se você repetir essa bobagem. . .

— Eu odeio você! — retrucou ela, pálida e chocada. — Eu hei de matar você assim que tiver uma oportunidade!

Ele deu uns passos adiante, esfregando negligentemente as mãos.

— Experimente uma destas roupas para ver se serve — mandou, e sentou-se no banquinho ao lado do toucador.

— Se devo fazer isso — retrucou ela, ríspida —, que seja privadamente!

— Para que essa timidez? Nós vamos nos casar dentro de alguns dias!

— NÃO! — E Tessa fez um violento movimento negativo com a cabeça. — Você não pode fazer isso! Nenhum padre correrá o risco de celebrar um casamento desses!

— Nós nos casaremos em poucos dias — repetiu ele, ainda esfregando as mãos. — O azul... deixe que eu o veja em você.

Ela se manteve imóvel, fuzilando-o com os olhos.

— Que satisfação sente você em dar-me ordens desse jeito? Você me raptou, destruiu a minha vida. . . — Interrompendo o desabafo, começou a chorar. — Eu gostaria que você morresse! — gritou. — Deixe-me ir embora! Não é possível que você deseje uma mulher cujo ódio é tão grande que ela desejaria vê-lo morto no chão!

— Já lhe disse que você não se sentirá assim para sempre —. insistiu ele, esticando as pernas para colocar-se em uma posição mais confortável. — Chega de remoer o passado! Trate de olhar para o futuro!

Ela deu-lhe as costas, erguendo o vestido enquanto caminhava.

— Não existe futuro para mim — murmurou quase sem voz. — Não vejo luz alguma em meu futuro desde que você me mantenha prisioneira!

Ele levantou-se.

— Voltarei dentro de alguns minutos. Espero que, ao voltar, a encontre de roupa azul.

Tessa observou-o afastar-se, fechando a porta e girando a chave em seguida. Poucos momentos depois, ouviu vozes. Ela pensou que ele deveria estar dando ordens à tripulação, porque o iate começou a mover-se. Olhando através da portinhola, viu as luzes. dos hotéis ficando para trás. O barco estava deixando o porto, o que significava que todas as formalidades deveriam ter sido preenchidas. O coração de Tessa quase parou de bater por alguns segundos. Como ela poderia fugir? Talvez um dia... mas até lá muita coisa ainda iria acontecer!

Tessa recomeçou a chorar, mas, fazendo força para controlar-se, apertou os lábios. Lágrimas não resolveriam o problema, mas uma boa resolução poderia ajudar a lutar contra ele nas bases do jogo que ele mesmo jogava. E, no fim, ele haveria de amaldiçoar o dia em que tinha caído na besteira de raptá-la!

Tessa tirou o vestido de noiva e deixou-o aos pés da cama. Que diferença de sentimentos quando, poucas horas antes, ela o havia vestido... A vida tinha-lhe sido boa, um constante mar de rosas. Parecia impossível que, agora, ela estivesse ali, prisioneira no iate de um estrangeiro, enquanto seu noivo devia estar transtornado, procurando imaginar o que teria acontecido a ela. Ele certamente, deveria estar insistindo com a polícia, culpando Jake por, talvez, não ter tomado conta dela direito. E todos os convidados. . .

Não adiantava pensar naquilo. Tessa tentou pensar em um modo de fugir, o que seria muito mais aproveitável.

Ela estava vestindo a roupa, quando Leonard voltou. Os olhos dele brilharam, fixando-se em cada curva e linha do corpo dela. Depois, aprovou.

— Muito atraente! A cor vai bem porque combina com seus olhos.

Tire o vestido de noiva da cama! — ordenou, de repente, ao vê-lo. — Pode atirá-lo ao mar — concluiu com pouco caso.

— Atirá-lo ao mar? — Tessa balançou negativamente a cabeça, os olhos brilhando. — Eu nunca farei isso!

— Então, faço eu! — A passos largos, ele atravessou o camarote, pegou o lindo vestido branco, amassou-o, jogou-o dentro de uma das caixas de papelão e fechou a tampa. Com a caixa debaixo do braço, caminhou até a porta. — Jantaremos no refeitório, mas se você tentar aprontar alguma confusão, fique sabendo que a minha tripulação, formada de árabes, tem instruções para não ouvir quaisquer propostas que você queira fazer a eles. Além disso, se pensa que existe algum modo de fugir, devo desiludi-la aqui e agora. Vou sair, se apronte para o jantar.

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