Biblioteca
Português

Raptada no casamento

47.0K · Finalizado
Sra.Kaya
31
Capítulos
2.0K
Visualizações
9.0
Notas

Resumo

A inocente Tessa tem a sua vidinha medíocre virada totalmente do avesso, quando o seu caminho cruza com um gostoso diabo árabe, sexy, obstinado, possessivo e podre de rico. Leonard é poderoso e tem tudo e todos aos seus pés com um estalar de dedos. Porém, quando a bela enfermeira Tessa se recusa a cair em suas perigosas armadilhas sexuais e diabólicas ele decide agir imediatamente. Se Leonard quer algo, ele toma a força! Então, a única maneira que o diabo bilionário encontra de tomar para si a culpada por seu inferno íntimo é raptando-a no dia de seu casamento.

amorromance

1

Tinha um ar de serena alegria no rosto de Tessa quando ela ouviu a voz do outro lado do aparelho. Seu noivo nunca deixava de telefonar-lhe naquela mesma hora do dia, apenas para lembrá-la, ele brincava, que ela era somente dele e que levaria uma seríssima bronca se permitisse que seus pacientes lhe dirigissem brincadeiras ou a cortejassem.

— Como está a coisa hoje? — quis saber Davi.

— Estamos com dois novos pacientes que chegaram a altas horas, na noite passada. Sofreram um acidente de automóvel. Eu só os vi esta manhã, lógico, quando vim para o trabalho. Um é um árabe super presunçoso! Ainda não falei com ele, mal nos vimos. Mas Suelen está furiosa com o jeito dele, sabe? Ela diz que o tal parece um deus! — E Tessa caiu na risada enquanto falava, lembrando-se da furiosa expressão de Suelen ao chegar de sua ala de serviço, onde o árabe estava internado.

— Como é esse cara?

— Simpático, é o que Suelen diz. Deve ter uns trinta e dois anos, calculou ela; mas se recusa a revelar a idade!

Tessa riu novamente, antes de dizer ao noivo o que o árabe havia respondido a Suelen quando ela tinha lhe perguntado a idade. Olhando para ela com arrogância, apenas respondeu: "O que é que você tem com isso? Melhor continuar cuidando de seu trabalho, em vez de me perturbar com essas perguntas cretinas!"

— Dá para ver que nada de grave deve ter acontecido a ele — observou Davi.

— Dá. — Mas o médico de plantão insistiu em mandar tirar um raio-X porque foi um acidente feio. O carro que ele dirigia foi atingido por um veículo que vinha na contramão. Com isso, o motorista foi atirado longe. Ele se machucou um pouco; fez um corte profundo na cabeça.

Davi mudou de assunto:

— Amor, esqueci de dizer-lhe que fomos convidados para jantar em casa de Mary, sexta-feira. Depois de tanto tempo fora, afinal Joann está passando férias em casa.

— Ótimo! Quer dizer que ele vai ao nosso casamento, não vai?

— Creio que sim. Joann passou alguns anos fora, e eu espero que suas férias sejam bem longas desta vez.

Davi fez uma pausa.

— Faltam só nove dias para estarmos juntos, Tessa. Sabe que eu mal posso esperar?

Ela ficou tão feliz ao ouvir aquilo que não soube o que dizer. Houve uma pausa de silêncio, durante a qual tanto ela quanto ele rapidamente pensaram no futuro que, conforme Tessa imaginava, seria um mar de rosas. Ela estava contente pelo fato de o irmão de Davi ir ao casamento, uma vez que ela não possuía parentes; por conseguinte, os parentes próximos eram todos pelo lado de Davi. Como ele tinha muito poucos, apenas o irmão e duas tias idosas, era um fato agradável que Joann estivesse presente ao casamento.

— Preciso desligar agora — disse Tessa. — Está na hora de Suelen ir embora e eu tenho de tomar o lugar dela.

— Cuidado com aquele árabe hein? — advertiu ele, para mexer com ela. — Os árabes têm reputação de ser muito mulherengos!

— Bem, este tal não deve ser. Suelen acaba de chegar fazendo caretas e apontando em direção à ala onde o árabe está internado.

— Não é fácil alguém fazer Suelen perder a calma, não é?

— Geralmente, não. Ela é a criatura mais calma que já vi: perfeita para ser enfermeira!

— Igual a você, amor. Agora, tchau. A gente se encontra à noite. Desligou. Tessa olhou para Suelen e esta fez outra careta:

— Aquele animal presunçoso! — despejou Suelen e, por um momento, Tessa ficou olhando para ela. Afinal, nunca antes Suelen tinha dito tais coisas a respeito de pacientes, por mais que lhe aborrecessem a paciência!

— Vou substituir você — disse por fim Tessa — e não estou muito ansiosa para fazer isso!

— Ele quer ir embora, mas o doutor Jameson deixou ordens expressas de que o paciente deve continuar sob observação por mais algum tempo.

— Não podemos prendê-lo, se ele quer ir embora. O doutor Jameson sabe disso tão bem quanto nós.

— Parece que o doutor Jameson não está de todo seguro que não tenha havido algum traumatismo interno devido ao acidente.

Tessa concordou, mas nada disse. Poucos minutos depois, ela entrava na ala particular carregando uma bandeja com uma xícara de café e algumas bolachas. Ela parou um pouco diante da porta, admirada ao sentir que seu coração tinha disparado, sem motivo.

O árabe estava sentado junto à janela e olhava para fora. Por alguns momentos, Tessa ficou observando-o pelas costas. Como era alto! Tinha ombros largos, cintura fina. Não havia um pingo de gordura extra naquele corpo atlético, foi a conclusão instantânea de Tessa.

O árabe voltou-se devagar e, por poucos segundos, ela viu-lhe o perfil: linhas clássicas que faziam lembrar estátuas gregas esculpidas em pedra que Tessa, certa vez, tinha visto em museus. Ela também notou o queixo proeminente, a linha voluntariosa do maxilar, o nariz aquilino . . .

Ele olhava firme... e alguma coisa mexeu-lhe com os nervos. Aqueles olhos profundamente negros! Eles estavam cravados nos dela; depois, abriram-se mais, devagar, como se a examinassem por dentro. O homem parecia hipnotizado, como se estivesse vendo algo fora da realidade.

— Seu... seu café... — gaguejou Tessa sem mover-se para colocar a bandeja na mesa. Tessa sentiu as pernas amolecendo, e a confusão tomou conta de sua mente. Parecia haver uma corrente elétrica percorrendo todo o quarto, originada daquele homem de pé, a poucos passos, com aquele rosto sério olhando-a fixamente.

Tessa mal pôde notar que ele tinha pele morena escura, ossos proeminentes nas maçãs do rosto, a típica testa curta dos árabes, cabelos negros, espessos, anelados e penteados para trás como se ele tivesse tentado fazer desaparecer as ondas naturais. Com isso, Tessa pôs-se a pensar em tudo que Suelen havia dito sobre a simpatia daquele homem e balançou negativamente a cabeça, rejeitando a ideia. Havia arrogância demais naquele estranho que, certamente, devia possuir muitas qualidades, mas demonstrava certa rudeza e grande ar de superioridade.

Tessa concluiu que ela jamais havia visto um rosto tão marcante quanto aquele... nem mais impressionante! Não, ele não era simpático, pelo menos não era simpático conforme os padrões dela. Quanto a Davi. . . ele não era tão alto ou tão forte; seus traços eram delicados, suaves, tinha olhos sinceros e bem abertos. Os lábios de Davi eram cheios, denotando afeição — não era como os daquele homem de boca pequena, cruel. Contudo, aquela mesma boca revelava uma enorme sensualidade, que provocou um arrepio nas costas de Tessa.

O homem continuou observando-a em silêncio, notando detalhes que ela conhecia muito bem: a rara beleza de seus traços com contornos tão delicados, o nariz ligeiramente arrebitado, lábios cor-de-rosa e bem separados, como se convidando para um terno beijo de amor. Os olhos azuis continuavam muito abertos, devido à emoção que lhe ia na alma, e Tessa não podia compreender o que estava sentindo, mesmo que fizesse um esforço sobre-humano. Os longos cílios negros borboleteavam, enquanto ela tentava ocultar sua expressão, mas o rubor que lhe pintou as faces ela não conseguiu esconder? Tessa mordeu os lábios, desesperada, porque não tinha forças para falar e nem conseguia caminhar até a mesa para depositar a bandeja.

Afinal, o árabe falou, mas o alívio que causou a quebra do silêncio foi logo substituído por apreensão, quando ela ouviu a inflexão daquela voz de timbre forte, que carregava um quase imperceptível sotaque:

— Olá! Você deve ser a enfermeira do dia, presumo... — E olhou-a firmemente outra vez. — Qual é o seu nome?

Ela engoliu em seco, enquanto pensamentos de perplexidade varriam-lhe a alma. Por que ela ficava tão perturbada com o tom da voz daquele homem? Ele falava pouco; entretanto, havia alguma coisa a mais em suas palavras do que a formalidade de um papo comum. De repente, ela pegou-se dizendo-lhe o nome e certa de que suas faces haviam se tornado ainda mais vermelhas. Ela falou novamente, repetindo-lhe o nome com um tom de voz gentil, aveludado.

— Tessa... — Os misteriosos olhos negros pareciam ver como ela estava perturbada. No entanto, o homem disse apenas: — pode colocar a bandeja na mesa, enfermeira. Não, aí não. Aqui, nesta mesa menor. . .

Tessa hesitou porque a mesa que ele indicava estava muito próxima do lugar onde ele estava. Perto demais!

— Eu sempre a ponho aqui — disse, enquanto se deslocava para a mesa maior. E foi com surpresa que verificou que o árabe não se importou. Tessa, porém, sentiu que toda a atitude daquele homem era a de um dominador. Como se possuísse um feitiço hipnótico, capaz de convencê-la a obedecer-lhe. Se ele tivesse insistido, ela teria colo¬cado a bandeja no lugar determinado!

Pareceu-lhe um pesadelo, quando ela ouviu a voz dele, baixa e imperiosa. . . e quase sinistra:

— Venha cá!

Ela encarou-o. Sentindo, porém, um choque nas palmas das mãos, Tessa balançou negativamente a cabeça, confusa com a sua própria falta de resistência. Onde estavam as maneiras firmes que sempre usava com os pacientes? O que havia acontecido com aquela voz autoritária que ela usava especialmente no hospital?

— Eu preciso. . . preciso... — E a voz de Tessa morreu quando o viu fazendo um gesto, ao mesmo tempo que cerrava os olhos de um modo arrepiante.

— Venha cá, Tessa! — Era uma voz tão macia e ao mesmo tempo tão vibrante que a fez girar a cabeça e dar uns passos em direção à porta. Suelen não a havia prevenido daquilo!

— Eu disse para você vir aqui! — A voz ainda mantinha um tom calmo, e Tessa não compreendia o que a fazia mover-se pelo quarto, obedecendo à ordem como se fosse um autômato. Mas, de repente, Tessa parou, tentando resistir ao impulso magnético que a empurrava para aquele estranho homem.

— Já disse que eu preciso ir, senhor Peths. Creio que o médico virá vê-lo dentro de uma hora, mais ou menos.

Pelo que Suelen havia contado, Tessa esperou ouvir protestos, e acreditou que o homem fosse insistir em deixar imediatamente o hospital. Mas, para sua surpresa, ele apenas fez um movimento de confirmação, obviamente resignado em esperar pelo médico.

— Voltarei para buscar a bandeja dentro de meia hora.

— Eu já disse — continuou o árabe, enquanto ela caminhava até a porta — que é para você vir aqui!

Tessa deu meia-volta, o ódio brilhando-lhe nos olhos.

— Não sei quais são suas intenções, senhor Peths, mas seu pedido me irrita! Os pacientes nunca dão ordens às enfermeiras. . . — Novamente, a voz morreu-lhe na garganta, desta vez devido aos acenos que ele fazia. Era tarde demais para barrar-lhe as intenções, tarde demais para escapar, porque ele se postou frente a ela com os passos silenciosos de um tigre. Tessa foi agarrada pelos pulsos. Em um segundo, sentiu o calor daquele corpo, o toque másculo daquelas mãos erguendo-lhe o rosto, a voluptuosa sede com que os lábios dele beijaram os dela. Tessa reagiu furiosamente, tentando, em vão, escapar. A força do homem era incrível, abraçando-a com tal facilidade como se ela fosse uma boneca. O beijo apaixonado e quente durou por uma eternidade e, afinal, ela parou de reagir, ficou passiva, sem oferecer a menor resistência. . .

— Você se rendeu de uma maneira deliciosa! — disse. — Vamos nos dar muito bem!

— Não seja ridículo! — E Tessa contorceu-se para livrar-se daquelas mãos de aço. — Cafajeste! Vou imediatamente levar ao conhecimento da direção do hospital a sua conduta!

Ela estava vermelha de indignação e confusa, porque o árabe não havia mentido ao dizer que ela havia se rendido. Mesmo se houvesse sido uma rendição a contragosto, pelo fato de ele haver lhe tocado o ponto mais sensível, não fazia diferença. Ela havia se rendido e sentia, agora, uma horrível sensação de vergonha e remorso. Lógico, pensou em Davi, a quem acabava de trair, embora não intencionalmente. Também pensou em Suelen e tentou imaginar por que o árabe não teria demonstrado aquela paixão à outra enfermeira.

— Por quê? Por quê?

— Não acredito que você vá levar o caso ao conhecimento de ninguém. Afinal, foi só um delicioso espetáculo, Tessa — disse o homem, encantado por vê-la respirando com dificuldade. — Você gostou da coisa tanto quanto eu. Não! — E cortou a frase com um imperioso gesto da mão. — Não se atreva a negar! Se não tivesse gostado, você teria resistido até o fim!

— Seu grande presunçoso! Você deve se julgar o melhor de todos os amantes, não é? — protestou Tessa, sem entender por que havia pronunciado as palavras naquele tom. Ela estava furiosa e, se pudesse, o machucaria de verdade. Atônita, olhou para o curativo na testa dele. Teria sido superficial? Ou teria sido profundo, conforme supunha o médico, tendo o choque lhe provocado lesões no cérebro? Mas, rapidamente, Tessa abandonou a idéia daquela possibilidade. As faculdades mentais do árabe estavam tão perfeitas quanto as dela. Ele era um super conquistador, e que Deus tivesse dó da esposa dele. . . se fosse casado. A coitada deveria sofrer, vivendo subjugada mental e psicologicamente a um tipo como aquele.

— Claro que me julgo! — respondeu o árabe, deliciando-se com a expressão de Tessa. — Todas as mulheres, de fato, adoram a minha...atenção. E tenho certeza de que você também acabará admitindo que adorou a minha demonstração de...

— Você fala como um idiota! — apartou ela, dirigindo-lhe um olhar congelante. — Quanto ao fato de eu não comunicar o incidente à direção...bem. . . é a primeira coisa que vou fazer ao sair deste quarto!

E mais com rapidez do que com dignidade, abriu a porta furiosamente e saiu.

"Sujeitinho detestável! Uma pena que o acidente de carro não o tivesse mandado para o inferno!" ela pensou.

Tessa pediu à outra enfermeira que fosse buscar a bandeja, mas não lhe disse que aquele homem parecia um garanhão.

— Ele mexeu com você, não mexeu? — perguntou, desconfiada, a outra enfermeira. — Esse é um dos muitos riscos que a gente corre na ala dos homens. Mas se esse árabe me disser coisas atravessadas, ele vai levar um sopapo direto na boca!

Tessa ficou muito interessada em saber o que havia acontecido e aguardou, por alguns minutos, até que a enfermeira voltasse com a bandeja.

— Como é que foi? — perguntou ao ver a tranquila expressão da enfermeira.

— Ele nem piou. Muito desinteressado, apenas fez um movimento de cabeça indicando a bandeja e pegou um livro para ler.

Tessa ficou petrificada. — Impossível! — falou para si própria. — Ele também não mexeu com Suelen!

— Talvez ele tenha sentido amor à primeira vista por você — gracejou a enfermeira, afastando-se, enquanto Tessa continuava pensativa. . . encucada com o fato de haver mudado de idéia e não comunicar a ocorrência à administração.

Naquela tarde, ela encontrou-se com Davi e eles foram jantar no restaurante Royal Ok. Olhando para o noivo, através do candelabro sobre a mesa, de repente ela se surpreendeu comparando os modos cavalheirescos do rapaz com os do árabe. Então, franziu as sobrancelhas, envergonhada pelo fato de aquele rosto feiticeiro introduzir-se em suas visões. Percebendo sua expressão, Davi perguntou-lhe o que estava acontecendo.

— Muito trabalho no hospital? — perguntou, curioso. Tessa automaticamente fez que sim. — Como era o tal árabe de quem você me falou? Espero que ele não tenha sido tão atrevido com você como foi com Suelen. . .

Tessa engoliu em seco, imaginando qual seria a reação de Davi se ela contasse exatamente o que havia acontecido naquele quarto. O sentimento de culpa dominou-a e deixou-a furiosa, porque ela não havia sido responsável pelos fatos. Todavia, mesmo sendo assim, não podia livrar-se da terrível convicção de que ela não estava sendo sincera com o homem que amava. "Talvez", refletiu Tessa longamente, "eu devesse ter reagido com mais firmeza. Talvez eu devesse ter evitado que o árabe me beijasse." Fazendo uma retrospectiva, tudo parecia um pesadelo, principalmente o fato de ela haver se rendido daquele modo. Acima de tudo, ela deveria ter resistido muito mais. Pensando nisso, Tessa tinha de sentir-se culpada!

Davi continuava falando, repetindo que ela não havia respondido à pergunta dele. Tessa olhou para ele e, intimamente, desejou que a luz das velas não fosse suficiente para revelar o rubor que lhe subia ao rosto.

— Ele estava cansado — respondeu, sentindo que aquela era a palavra menos adequada que poderia ter usado para definir a conduta do árabe. — É um tipo muito desagradável. Já falei a você de tipos assim antes, não falei?