4
E, de fato, apareceu.
Tessa, cuja única preocupação era chegar à igreja a tempo, não precisou que a aconselhassem a saltar de um táxi para outro. Quanto ao motorista, naturalmente conhecedor da urgência, permaneceu sentado no carro, permitindo que o outro motorista abrisse a porta para Tessa. Ela entrou, esperando ver Jake entrar pela outra porta. Contudo, sem nenhum aviso, sentiu um arranco que a atirou sentada. A porta fechou e o carro disparou, ganhando velocidade cada vez maior.
Estupefata, Tessa não podia imaginar o que estava acontecendo. O único pensamento em sua cabeça é que iria haver outra demora, que o homem teria de parar e voltar para apanhar Jake.
— O senhor deixou o meu padrinho para trás!
— Sente-se e fique tranquila, Tessa — recomendou a voz, que fez-lhe o coração disparar tão violentamente que ela sentiu-se mal. — Temos um longo caminho a percorrer!
— Eu quero sair deste carro! — gritou ela, esmurrando instintivamente as costas do assento do carro. — Pare imediatamente!
Leonard Peths retirou o boné que usava e colocou-o no assento a seu lado. Tessa, então, viu-o passar as mãos pelos cabelos, como se ele se sentisse aliviado por livrar-se daquela peça.
— Eu já lhe disse para sentar-se e ficar quieta! — repetiu a voz imperiosa, embora gentil. — Continuarei dirigindo em alta velocidade, portanto, é melhor você não abrir a porta!
— Eu vou abri-la! — teimou Tessa, olhando para fora. O carro
estava a cento e vinte por hora. — Eu vou abrir o vidro e gritar! — prometeu ela, com os pensamentos trabalhando à toda, na tentativa de encontrar um modo de se livrar daquela horrível situação.
Boba ela em pensar que aquela ameaça teria assustado o árabe! Tessa jamais teria imaginado, mesmo se pensasse nos maiores absurdos, que ele pudesse cometer uma loucura daquelas.
— Você não pode levar a sério um negócio desses! — gritou, desesperada. — A polícia já deve ter sido avisada, o seu cúmplice já deve ter aberto o bico e. . .
— Querida — interrompeu Leonard Peths cortesmente —, você está apenas falando alto as coisas que desejaria que acontecessem. O sujeito que me ajudou é meu empregado, que eu mandei buscar há poucos dias, quando, percebendo que você iria quebrar a promessa que me havia feito, resolvi raptá-la para levá-la até a Galácia. Nessa altura, ele já deve ter sumido, antes que seu amigo suspeitasse de todo o nosso complô. Meu empregado já estará em meu barco quando chegarmos a Bridport. . .
— Barco? — murmurou ela, quase sem forças. — Você está me levando para um barco?
Tessa olhou para o buquê que segurava e não conseguiu mais conter as lágrimas.
— Por favor, quero ir embora! — disse ela. — Eu não sei o que espera ganhar levando-me para a Galácia! Você será descoberto e preso! Será que não tem medo?
— Eu tenho cara de ser um tipo medroso? — perguntou ele, divertindo-se e, ignorando tudo o mais que ela dizia, respondeu: — Você me perguntou o que eu ganharei com isso. Ganharei uma esposa, Tessa, aquela que prometeu casar-se comigo, mas que, em vez disso, voltou para o trabalho!
Ele falava macio, mas atrás daquele tom havia um primitivismo determinado e feroz. Tessa, então, começou a tremer, sentindo o corpo inteiro gelado.
— Jamais me casarei com você! — gritou ela. — Nunca! Eu vou me casar com Davi e ninguém vai me impedir! — insistiu, furiosa, levada pelo medo.
Entretanto, o estrangeiro era fleumático, tinha grande autoconfiança e parecia não ligar a mínima ao fato de estar cometendo um delito grave.
— Você é um louco! — prosseguiu Tessa, de tal modo frustrada que mal conseguia articular sons. — Você não pode me levar para a Galácia contra a minha vontade! Como é que você vai me levar para lá? — acrescentou, tentando demonstrar uma segurança que estava longe de sentir. — Não existe um modo!
— Já lhe disse que vamos de barco — interrompeu ele, procurando segurar um bocejo com a mão. — Só espero que, uma vez a bordo, você se acostume com a idéia e se tranquilize. Contudo, se você não se comportar, vou trancá-la em uma cabina e não permitirei que você saia antes de terminar a viagem!
Assim dizendo, imprimiu maior velocidade ao veículo, passando acima do cento e quarenta por hora.
— O destino nos uniu e nós não devemos lutar contra ele, Tessa. Tudo isso foi escrito para nós muito antes de nascermos.
— Você fala como um tolo!
— E você fala sem conhecimento de causa — respondeu o árabe.
— Eu não estou acostumado a que se dirijam desrespeitosamente a mim. Você precisa aprender rápido, se não quiser ser punida.
Tessa sentiu, por um momento, a fúria subir-lhe ao rosto.
— Se você pensa, por um segundo que seja, que eu vou tratá-lo com respeito, então você é um completo tolo, um idiota, para ser mais exata! Quem respeitaria um criminoso, um raptor?
— Minha esposa me respeitará — anunciou ele, serenamente,
— Da mesma forma que me respeitam outras pessoas com as quais mantive contato.
— Afinal... quem é você? — murmurou ela, também curiosa.
— Seu marido... e seu senhor!
Tessa certamente o teria agredido, se seu gesto não pusesse em risco sua própria vida. "Deveria haver um jeito de acabar com tudo aquilo", pensou, desesperada. Então, de repente, seu coração deu um salto, quando ela vislumbrou uma saída:
— Meu passaporte! — gritou, triunfante. — Você não conseguirá me levar longe sem ele!
A voz de Tessa ainda ecoava no ar, quando ele tirou alguma coisa do bolso e colocou-a diante dos olhos incrédulos dela.
— Você. . . roubou o meu passaporte! Mas... como?
— Foi o meu empregado, o motorista. Ele fez uma visita ao seu quarto. Foi muito simples, ele me disse.
Leonard recolocou o passaporte no bolso e concentrou-se em dirigir.
As árvores passavam voando pela estrada à medida que ele se dirigia para a costa, para Bridport.
Lá, ele tinha um barco. No entanto, Tessa ainda pensava em fugir. Pois como poderia ele forçá-la a entrar na embarcação, havendo tanta gente por perto?