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3

O vestido de noiva era lindo!

Suelen, a madrinha, deu um passo para trás, depois que Tessa acabou de se vestir, e exclamou:

— Você está ma-ra-vi-lho-sa! Nunca pensei que fosse ficar uma noiva tão linda!

Embora ruborizando com aquele elogio, Tessa sentiu-se feliz por se apresentar tão perfeita quanto possível para o homem que ela amava. A essa altura, ele a estaria esperando para chamá-la de "minha querida para sempre, minha esposa de verdade".

— Puxa, nunca me senti tão feliz assim! — disse, olhando-se no espelho e suspirando. — Dentro de uma hora, talvez uma hora e quinze, serei a senhora Davi Hoth...

Ela se interrompeu, abruptamente, na última palavra, como se houvesse sentido um medo repentino, pois um rosto muito moreno apareceu-lhe diante dos olhos. Em seus ouvidos, o nome Leonard Peths parecia uma campainha repetindo: "senhora Leonard Peths". . . Poderia ela escolher esse nome?

— Tessa, o que está acontecendo com você, pelo amor de Deus? — perguntou Suelen com voz autoritária, conseguindo desligar-lhe aquela campainha dos sentidos. — Você parece desolada! — acrescentou, balançando a cabeça como se tentasse renegar tudo o que a própria Tessa tinha acabado de dizer. — Você parece ter ficado preocupada de um momento para o outro.

__ Que bobagem! — E a voz de Tessa pareceu falsa até para seus próprios ouvidos. — Sou a mulher mais feliz do mundo! — Mas, naquele momento, já estava outra vez pensando no árabe que a havia perturbado naquela tarde, há alguns dias quando Tessa tinha precisado sair correndo. Depois, ela havia se encontrado com Davi, ele a havia levado para casa, deixando-a na entrada do pavilhão das enfermeiras. Tessa ficara na escada acenando-lhe adeus e não dera uni passo até que o carro do noivo tivesse desaparecido. Em seguida, antes mesmo de ela ter tido tempo de gritar, fora apanhada pelos braços do árabe e, pela segunda vez, fora beijada à força.

À força... Tessa ruborizou ao perceber sua confusão mental. Ela poderia ter gritado por socorro, considerando-se que, passado o impacto da surpresa, Leonardard Peths a tinha segurado de frente, permitindo que seu rosto ficasse iluminado pela claridade da lâmpada mais próxima. Ele também rira de manso, triunfante. Em seguida, ambos haviam mergulhado nas sombras do jardim do hospital. Lá ele a havia outra vez abraçado com fúria, comprimindo seus lábios contra os ouvidos dela, e dobrado a sua última tentativa de resistência, beijando-lhe as palmas das mãos e acariciando-as de um modo terno e possessivo. Tessa havia lutado mentalmente, mas tinha se rendido fisicamente de um modo que ela jamais pensaria render-se nem mesmo a Davi!

No entanto, de certa forma, Davi nunca a havia tentado do modo que o árabe tinha feito. Teria sido preciso ser uma mulher de pedra para resistir. . . e Tessa, de modo algum, era feita de pedra. Com isso, ela aprendera coisas a seu próprio respeito que jamais pensaria que pudessem existir. Tessa experimentara a mais vertiginosa sensação do êxtase, deixando-se levar ao fundo pelo ardor feiticeiro daquele homem. Seu modo de amar era sutil, caracterizado por tal ternura que todos os nervos do corpo de Tessa foram afetados, até que ela havia atingido o ato final. Nada parecia importar, senão sentir-se nos braços dele. Naquele momento, a figura de Davi tornara-se nebulosa, pois ela não conseguia manter na mente ou no coração ninguém ou nada a não ser aquele instante de enlevo. Leonard Peths ordenara que ela lhe dissesse o nome, e ela imediatamente obedecera. Ele também dissera que o destino os havia ligado, e Tessa igualmente concordara. Ele ordenara que ela terminasse o noivado, e ela respondera que faria exatamente tudo o que ele estava mandando. Nas mãos dele ela não tinha vontade própria; tornava-se um mortal comum diante de um deus árabe e pagão.

A lua saíra de trás das nuvens e iluminara a face de Tessa, quando ela vira novamente aquele sorriso triunfante:

— Sou o seu senhor! — declarara ele, baixinho. — Sou o dono de seu corpo e de sua alma; você ficará comigo, será minha esposa, e viveremos felizes para sempre! Você vai adorar minha ilha, Tessa! Sabe que lá não existe nem estrada, nem tráfego? Existem apenas montes e vales, o calmo mar azul à toda volta, que você vê quando olha do pátio para apreciar a paisagem. Você terá flores para seu cabelo, joias para seu corpo... — assim dizendo, os lábios dele aproximaram-se com ternura, envolvendo os dela. Tessa oferecera os lábios com alegria, abraçara e fora abraçada. E quando, finalmente, ela suplicara que ele a deixasse ir, o árabe jurara que Tessa haveria de ser sua esposa. E ela jurou que seria esposa dele!

Contudo, à luz do sol e diante da realidade do trabalho de todos os dias, Tessa voltou ao senso comum. Uma amarga sensação de vergonha bateu-se sobre ela, fazendo-a sentir vontade de gritar bem alto o seu remorso. Agora, ela havia perdido aquela inocência que tinha sido motivo de encantamento para seu noivo. Ela não era mais a tímida garota inexperiente que Davi costumava chamar de bebezinha. Tessa havia provado do vinho do amor feiticeiro, mas, mesmo assim, nutria amarga e profunda aversão pelo árabe. Por que tinha ele aparecido em sua vida, afinal? Ele havia culpado o destino e agora Tessa maldizia o destino por havê-lo colocado em seu caminho. Até ali a vida de Tessa vinha sendo normal. Amava com ternura; talvez não fosse lá um amor tão excitante, entretanto, era bom curtir aquele relacionamento que lhe proporcionava uma prazer físico calmo e amoroso. Já com o árabe, ao contrário, era um inferno, uma paixão cega, uma tempestade desenfreada que lhe provocava descargas elétricas no coração, varrendo-lhe todas as lembranças da mente, deixando-lhe consciência apenas para sentir o prazer do momento.

Tessa havia afastado o árabe da lembrança, tinha se prometido que ele jamais voltaria a perturbar-lhe os sentimentos de novo. Para conseguir isso, tinha pedido a Davi que lhe telefonasse todas as noites ,e, quando fosse muito tarde, que ele a levasse até sua casa. Tessa corria para o pavilhão, rumo ao seu apartamento. Leonard a tinha feito prometer um encontro num hotel; Tessa, naturalmente, não compareceu. Ele havia telefonado várias vezes para o hospital, mas ela havia ordenado ao PBX que não completasse as chamadas.

— Diga a ele que estou ocupada... ou que saí... invente uma desculpa! Esse cara está me enchendo!

Dessa forma, o dia do casamento havia chegado sem nenhum outro encontro, e Tessa sentia-se salva. Conforme ela havia acabado de dizer a Suelen, dentro de uma hora e quinze minutos ela seria a esposa de Davi.

— Tessa, o táxi chegou! — A voz de Suelen cortou-lhe os pensamentos. A noiva apanhou o buquê de cravos brancos que estava na cadeira onde Suelen o havia colocado ao chegar. O irmão de um amigo a acompanharia, e ele se mostrou todo sorridente quando Tessa entrou, sentando ao seu lado.

— Puxa, você está radiante! — exclamou Jake. — Que sorte tem Davi! Por que eu não fisguei você antes?

Ele estava brincando, claro, e Tessa riu com ele. Afinal, ela estava feliz, tinha eliminado Leonard de suas lembranças e procurava pensar naquele alegre dia, na lua de mel que ocorreria após a recepção no Golden Lion, onde o bufe havia preparado tudo.

O carro andava muito devagar, Tessa percebeu depois de alguns momentos e comentou o fato com o amigo.

— De fato — concordou ele. — O motorista me disse que havia um problema no motor. Mesmo assim, acredito que chegaremos a tempo. — E ele deu uma olhada no relógio.

Todavia, quando estavam percorrendo um trecho solitário do caminho, o carro deu alguns engasgos e parou. Jake estava irritadíssimo e Tessa ficou atrapalhada quando o motorista desceu, aproximou-se da porta e abriu-a:

— Desculpem! — disse ele. — Não dá mais. Tenho de dar uma olhada no motor. . .

Estranhando o sotaque do homem, Tessa olhou-o firmemente. O inglês dele era ótimo, mas não perfeito. Ele tinha olhos negros e pele bronzeada. Qual seria sua nacionalidade? Tantos estrangeiros trabalhavam na Inglaterra que não se podia adivinhar de que país eles provinham.

— Não se desespere — aconselhou Jake, consolador, ao perceber a angústia de Tessa. — Se ele não conseguir fazer essa droga funcionar em pouco tempo, logo mais aparecerá outro táxi por aí.

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