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Capítulo 03

Aquela noite infeliz é deixada para trás e as atitudes de André mudam da noite para o dia, ele está cumprindo as promessas dele de que será um bom marido.

Os últimos dias estão parecendo um sonho, André está se comportando, quase não sai e me trata super bem, me ajuda em casa e com as crianças.

Essa semana sai da massagem, a barriga já está aparecendo então atrapalha no procedimento, e também alguns clientes não se sentem confortáveis.

Como agora passo o dia em casa, a convivência com a família do André também é mais frequente, não sei se é por causa da gestação, mas ultimamente eles andam me irritando mais que o comum.

Meus sogros todos os dias dão algum pitaco em nossas vidas, isso me estressa, porém estou lutando para ignorar, André até tenta cortar as vezes, mas não adianta, preferimos abstrair e fingir demência.

— Oi meu amor, como está nossa bebezinha? — André pergunta beijando minha barriga e me dando um beijo na testa.

— Estamos ótimas! — Retribuo o beijo dando um selinho nele— Leva Maria lá no seu pai, ela quer brincar com o vovô.

Ele pega nossa filha e sai com ela nos braços, meu sogros moram aqui ao lado de casa. Quando ele está saindo, ouço seu telefone tocar e vejo que é mais uma das ligações estranhas que ele vem recebendo.

Fico encafifada, quero saber do que se trata, porém tenho que escolher a forma de tocar no assunto sem causar a quinta guerra mundial.

Espero que ele retorne, sirvo o almoço, alimento Joaquim e como. Minha mãe liga avisando que vai buscar as crianças para ficar com ela durante o dia, então deixo tudo arrumado antes de dormir meu sono sagrado da tarde.

Mamãe chega, conversa um pouco, pega Joaquim e Maria levando-os, peço André para preparar um Tereré enquanto estouro pipoca para assistir um filme na TV, nossa sincronia está tão leve que meu coração palpita só de pensar.

Nos sentamos confortáveis no sofá e escolhemos um filme, André passa o braço em meu pescoço e me dá um beijo na cabeça depois me solta e serve uma cuia do mate.

— Amor, tem algo que queira me contar? — Pergunto com a voz doce.

— Não minha princesa, já disse que não estou fazendo feio com você! — André se defende.

— Não é disso que estou falando! — Explico e me aconchego em seus braços deixando esse assunto de lado.

— Não há nada com o que se preocupar! — Ele me conforta.

Assistimos quase metade do filme sorrindo e comentando as cenas, dois apaixonados em uma programação sutil de casal, até que o telefone dele começa a tocar inúmeras vezes.

André ignora algumas vezes, outras recusa, até que decide desligar o aparelho. Observo tudo em silêncio, embora a curiosidade e a preocupação estejam me corroendo por dentro eu decidi não perguntar nada sobre isso a ele.

De repente meu telefone toca, um número restrito no visor, André diz que é melhor eu não atender mas eu digo que pode ser algo urgente e atendo colocando no viva-voz.

— Bia fala para seu marido atender o telefone ou arcar com as consequências. — Um homem fala e a ligação é encerrada.

Meu corpo treme de terror e agonia, olho para André esperando algum tipo de explicação, como assim consequências? Quem era esse homem? Do que ele está falando? Corro algum risco? E meus filhos? São tantas as perguntas que rondam minha mente.

— Eu vou te contar, mas ainda acho que quanto menos você souber, melhor será para você e nossos filhos. — Ele fala se virando e ficando de frente a mim.

— Eu quero saber tudo! Não me deixe no escuro, por favor! — Falo em tom de apelo.

Nos sentamos frente a frente, tava bom demais para ser verdade, André segura minhas duas mãos, me lança um olhar triste o que me faz ter certeza que vem coisa muito séria pela frente.

— Bia eu fiz merda, acabei colocando todos nós em perigo,— Ele fala com a voz embargada. — Eu…

— O que você fez? A gente dá um jeito! — Interrompo com o coração acelerado. - Nós somos um e não importa quão difícil seja, não deve ser impossível.

— Eu estou juntando um dinheiro e a gente vai sair da cidade, não vou deixar que façam nenhum mal a você ou aos nossos filhos— ele fala se ajoelhando em minha frente, rente ao sofá.

Engulo seco e sinceramente não sei o que esperar dessa situação, me lembro da última vez que ele foi conversar com "os manos" dele e de todas as vezes que pedi para ele abandonar isso que o destino não seria bom.

— O que está de fato acontecendo? — Pergunto firme, preciso saber a verdade para saber como agir.

— Eu cooperei com a polícia, algumas pessoas foram presas e a facção está conseguindo provas, se conseguir eu morro, mas vamos sair daqui antes disso— ele fala e acaricia minha barriga, em meus olhos nascem lágrimas que não consigo conter.

— Você não tem juízo? Até eu que não sou do crime sei que isso é suicídio! André você destruiu nossa vida, se conseguirmos sair daqui passaremos a vida toda fugindo— repreendo.

— Já está feito, agora é só sair daqui para longe, tem alguns irmãos que estão intercedendo por mim e tentando uma oportunidade… é uma esperança — Ele fala em um desabafo.

— E essas ligações, faz dias que você vem recebendo, quem é? — Enfim pergunto.

— O policial, ele quer mais pessoas, disse que se eu não entregar eles é quem vão me matar, estou entre a cuz e a espada. Sei que não posso te forçar a ficar comigo depois disso, então se quiser ir embora eu vou entender— André fala e lágrimas correm sua face.

Minha respiração fica falha e até sinto contrações na barriga, precisamos encontrar uma solução. Abraço meu marido e reforço minha promessa de que não importa o que aconteça eu sempre estarei aqui por ele.

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