Capítulo 02
Apesar de ninguém acreditar na nossa relação, eu me desdobrei em mil para que déssemos certo, nós dois juntos é como uma ligação de alma.
Os primeiros dias do André na rua mais parecia um sonho, carinhoso, dedicado, um excelente pai, marido e filho.
— Estou orgulhoso de você meu filho! Agora é arrumar um serviço e afastar daquelas amizades— Seu João fala e pela cara de André sei que é só questão de tempo até que ele volte para o crime.
— Vamos ver pai! Essa semana vou atrás de um trampo— André fala e eu baixo meu olhar para esconder a tristeza que caiu sobre mim.
— Sinceramente meu filho, já dobrei o meu joelho e fiz a minha prece… se não for para você mudar é melhor que Deus te leve— Seu João fala com muita naturalidade.
— Sogro! — Falo alterada sem esconder minha indignação.
André olha impaciente para o pai, com razão, e sai sem falar onde vai. Fico irritada, mas não falo nada para não virar uma briga sem fim.
Batata! Desde que seu João fez aquele infeliz comentário a minha vida virou de pernas para o ar. André sai sem falar onde vai, quando volta e nem o que está fazendo da vida.
Sei que ele anda aprontando e que até a irmã dele está ajudando eu vejo as coisas nas redes sociais, não sou boba. O que me irrita é que toda vez que tento confrontá-lo vira uma briga dos infernos e não chegamos em lugar nenhum.
Eu não quero abrir mão da minha família, há dias estou vivendo na luta para salvar meu casamento, meu amor, minha família… eu acredito na salvação e na transformação de André, ele é a minha alma gêmea.
Como em outras noites deito sem saber onde meu marido está, sinceramente esse fardo está pesado. Coloco as Joaquim para dormir, Maria está com o meu sogro, fico deitada mexendo no celular, ouço a porta sendo aberta e me sento na cama.
Mais um dia que meu marido chega em casa alterado e com cheiro de mulheres, vi em um story da irmã dele que estava de rolê, ao que tudo indica ele está de caso com uma amiga dela.
— André ! Eu não aguento mais isso, de verdade… Você estava ficando com a amiga da sua irmã? — Pergunto irritada com o telefone na mão.
— Não, Bia, eu não estou ficando com ninguém, só tenho olhos para você! — André fala dando um beijo na testa e indo para o banheiro.
— Qualquer hora eu vou esquecer esse amor e vou sumir da sua vida, pode acreditar.
Soube recentemente que estou grávida e ainda nem consegui contar a ele que vamos ser pais novamente, André não está respeitando nossos anos juntos, eu e os filhos, já não sei o que fazer.
Trabalho em uma casa de massagem, mas sairei assim que a barriga começar a aparecer, André é do "corre" e fica mais tempo fora de casa do que junto de nós.
— Amor, eu vou ali na casa de um mano e já volto! — André fala saindo do banho.
— Amanhã de manhã você chega, como sempre! — Falo irritada.
— Não viaja meu amor e pode ficar tranquila que eu não vou fazer feio com você. Te amo minha pequena! — André me dá um beijo na testa e sai.
Os dias são sempre as mesmas coisas, meus sogros tentam conversar com ele, contudo nada o faz mudar de atitudes e isso me destrói.
Conforme prometido, André dessa vez realmente não demora, entra e me abraça, fica alisando meu rosto, olha em meus olhos e fala.
— Amor, eu prometo que de hoje em diante eu serei o homem que você sempre quis, me perdoa por todo sofrimento que lhe causei.
— O que você aprontou? — Pergunto desconfiada.
— Nada meu amor, senti no peito que deveria te respeitar como você merece e eu vou— André me beija e aqui no sofá mesmo fazemos amor.
— Vamos ser papais, estou grávida! — falo me ajeitando em seu braço— faz dias que era para te contar, mas não tivemos paz desde que eu soube.
André demonstra muita felicidade e começa a acariciar minha barriga e conversar com o neném, em meio a tantas expressões ele nos faz várias promessas.
Após toda euforia nos levantamos e vamos para a cama, deito no braço dele e as palavras se repetem em minha cabeça, é muito bom para ser verdade, melhor eu não me iludir.
André acaricia meu cabelo fazendo cafuné e me dá beijinhos na face, esqueço de tudo que me magoou e aproveito o momento que é raro.
Como tudo que é bom dura pouco, o telefone dele toca nos Interrompendo, reviro os olhos irritada pois a tormenta já começou, ele atende dizendo que está a caminho.
— Princesa, vamos comigo? — ele me convida se levantando e me ajudando.
— Sei não, que tipo de ambiente é? — Pergunto desconfiada.
— Na mãe de um mano, podemos ir de boa.
— Posso levar a Maria? Seu pai deve está quase chegando com ela.
— Pode sim, lá é de boa.
Quando estou terminando de me arrumar meu sogro chega trazendo a Maria, peço que dê uma olhadinha em Joaquim de vez em quando e saímos.
— André , não estou me sentindo bem… o que vamos fazer lá? — Pergunto ansiosa.
— Relaxa meu amor, os mano só quer conversar, não é nada— Ele me tranquiliza e coloca uma mão na minha perna enquanto dirige.
Ele desce e eu escolho por esperar no carro, não senti uma boa energia quando vi as pessoas que estavam nos aguardando.
Muitos minutos se passam e eu começo a ficar preocupada, Maria dorme em meu braço e nada do André voltar. Um pouco mais de tempo e aparece uma senhora de meia idade, ela para ao lado da janela do carro.
— Bia, o André pediu para você entrar que lá ainda vai demorar um pouco— ela fala reclinada à altura do vidro.
— Ai meu Deus, Maria já até dormiu! — Reclamo mas desço com o auxílio da senhora.
Entro na casa com Maria no colo e me assusto ao ver André rodeado por vários irmãos, ele está sendo interrogado pelo tribunal do crime, o que será que ele aprontou.
Vendo que estou grávida a senhora se assusta e pede para eu ficar calma, me oferece uma cadeira para me sentar e eu dispenso, tento me aproximar e sou barrada.
— Dona fica aí, a conversa é com ele— um dos irmãos diz parando na minha frente e indicando que eu volte.
— André , o que está acontecendo aqui? — Grito e ele abaixa a cabeça.
Observo cada movimento e ouço falas confusas, alguns sugerem disciplina outros óbito e eu me desespero cada vez mais.
Meu desespero se torna incontrolável quando um dos rapazes atinge André com um soco, levanto me desvencilhando da senhora e entro no meio deles entrando na frente de André .
— Chega! Vocês pediram a casa para conversar, não vão fazer nada aqui, principalmente na frente da criança e da esposa grávida, deixa eles irem embora— A senhora intervém e eles nos liberaram.
A roda se abre e saímos os três em silêncio, André sai cabisbaixo e eu agradeço a senhora quando passo por ela.
Entramos no carro e fizemos o percurso de volta para casa em silêncio, André não quis falar sobre o ocorrido e eu não o pressionei.