

Capítulo 3 _ Seguir ou desistir
Eu devia ter ido para o meu quarto.
Devia ter tomado um banho frio, colocado meu notebook no colo e começado a escrever a matéria. Mas, em vez disso, fiquei sentada no bar, girando o copo de vodka na mão, sentindo o calor da bebida misturar-se ao fogo lento que Damian Cavendish tinha acendido em mim.
Ele não era apenas um CEO. Não era só um homem misterioso que herdou um império. Ele era um jogo. Um enigma. E eu nunca gostei de coisas que não se revelavam.
Levantei-me e saí do bar, atravessando o saguão do hotel. O salto dos meus sapatos ecoava no mármore enquanto eu tentava decidir se o que sentia era adrenalina ou pura teimosia.
Foi quando vi a porta do elevador se fechando. E, dentro dela, Damian.
Nossos olhares se cruzaram por um instante antes que o painel de metal espelhado se fechasse completamente.
Meu coração disparou.
Eu não era de recuar. E definitivamente não era de fugir de uma boa história.
Com passos firmes, caminhei até o próximo elevador e apertei o botão do último andar.
O corredor era silencioso. Luxuoso.
O tipo de andar reservado para pessoas como Damian Cavendish — homens que não apenas possuíam riqueza, mas que tinham poder o suficiente para fazer qualquer coisa parecer possível.
Eu não sabia exatamente o que estava fazendo ali. Parte de mim queria acreditar que ainda era pela matéria, pela curiosidade jornalística, pelo mistério em torno dele.
Mas a outra parte?
A outra parte estava lembrando da forma como ele me olhou no bar. Como se já soubesse que eu subiria.
Meus dedos tocaram a madeira escura da porta da suíte presidencial antes que eu pudesse pensar duas vezes. Dei duas batidas.
Silêncio.
Por um momento, achei que estava sendo ridícula. Que talvez ele tivesse simplesmente subido para dormir, sem nenhuma intenção oculta, e que eu era apenas uma jornalista interpretando sinais errados porque… bom, porque ele era lindo de uma forma absurda.
Mas então, a porta se abriu.
Lá estava ele.
Sem paletó, sem gravata. Apenas a camisa branca, com os primeiros botões soltos e as mangas dobradas até os cotovelos. Ele me olhou como se já estivesse esperando.
Eu engoli em seco.
— Você é insistente — disse ele, com um traço de diversão na voz.
— Você é intrigante — devolvi, mantendo a coluna reta.
Damian encostou o ombro no batente da porta, cruzando os braços.
— E o que exatamente te intriga em mim, Alex?
O jeito que ele dizia meu nome me fazia sentir coisas que eu não devia sentir.
Cruzei os braços também, tentando me equilibrar naquela linha tênue entre profissionalismo e algo muito mais perigoso.
— Você é um fantasma. Anos sem aparecer, sem dar um único sinal de vida, e agora surge como o herdeiro inevitável de um império. Não acha que as pessoas merecem saber quem você é de verdade?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— As pessoas?
— Eu. — Dei um passo à frente. — Eu quero saber.
Os olhos dele brilharam.
Por um segundo, um silêncio elétrico se formou entre nós. Como se estivéssemos dançando em um limite que, uma vez cruzado, não teria volta.
Então, Damian abriu um meio sorriso e deu um passo para o lado.
— Entre.
Meus pés se moveram antes que minha mente pudesse decidir.
Eu estava entrando no território dele.
No fundo, eu sabia que não sairia da mesma forma que entrei.
A porta se fechou atrás de mim com um leve clique, e o som fez meu coração acelerar ainda mais. Eu estava ali, no território dele, e a energia entre nós era palpável, como uma linha invisível prestes a se romper.
Damian estava mais perto do que eu imaginava, mas a distância entre nós parecia continuar aumentando, à medida que ele me observava com aquela calma desconcertante. Ele se afastou da porta e me fez um gesto, indicando a sala de estar ampla, com uma vista deslumbrante da cidade lá fora.
— Não sabia que você estava tão interessada no que há por trás das portas fechadas.
Eu não precisava de muito para perceber que ele estava me testando. Damian Cavendish sabia como manipular o ambiente, como fazer com que as pessoas jogassem suas cartas sem sequer perceberem que estavam sendo desafiadas. Eu não ia deixar que ele me dominasse tão fácil.
— Eu sou uma jornalista, senhor Cavendish. Estou sempre interessada no que se esconde atrás das portas fechadas.
A resposta saiu sem pensar. Mas, ao olhar para ele, percebi que era mais do que isso. Eu estava ali, em frente a ele, para descobrir os segredos mais obscuros do homem que ninguém conhecia de verdade. E não seria só por profissão. Era algo visceral, algo que não poderia ser ignorado.
Ele se aproximou um passo, e a distância entre nós diminuiu o suficiente para eu sentir sua presença de forma quase palpável. Meu peito se apertou, e eu mantive os olhos fixos nele, tentando não deixar transparecer o turbilhão dentro de mim.
— O que quer saber, Alex? — A voz dele estava mais baixa agora, mais íntima. Eu podia sentir o peso de cada palavra.
Olhei para ele e, por um momento, pensei em falar sobre a empresa, sobre as especulações, sobre o que aconteceria com a Cavendish Industries sob sua liderança. Mas a verdade é que eu já sabia que ele não responderia a isso. Não da forma que eu esperava.
Em vez disso, deixei a pergunta que realmente estava na minha mente sair.
— Por que você não apareceu, Damian? Por que se escondeu?
Ele ficou em silêncio por um segundo, e eu vi a sombra de algo mais profundo passar por seus olhos. Talvez tivesse sido uma faísca de raiva. Talvez uma dor que ele não queria deixar transparecer. Mas, como tudo que ele fazia, desapareceu tão rápido quanto apareceu.
— Eu não me escondi, Alex. Eu sou simplesmente… seletivo sobre onde e como apareço.
Era uma resposta vaga, uma resposta calculada. Mas a maneira como ele disse "Alex" novamente — aquele tom possessivo, como se já me tivesse sob controle — fez algo dentro de mim se revirar.
Aquele jogo estava me consumindo.
Eu me afastei um pouco, tentando dar um passo atrás, mas ele estava logo ali, tão perto que eu podia sentir a tensão no ar. Eu podia sentir que ele estava esperando algo de mim.
— Você é bom nisso. — Minha voz saiu mais baixa, quase como se fosse uma confissão. — De fazer as pessoas se sentirem pequenas.
Damian sorriu, mas não era um sorriso agradável. Era algo mais… selvagem.
— Eu não faço as pessoas se sentirem pequenas, Alex. Eu faço com que elas sintam o poder da escolha. A escolha de seguir ou resistir. E você… — Ele deu um passo ainda mais perto, a voz dele suave, mas carregada de uma autoridade que não podia ser ignorada. — Você vai seguir ou vai resistir?
Ele estava tão perto que eu podia ouvir o som da respiração dele misturado com o meu próprio. Era impossível não perceber o magnetismo que emanava dele, como se cada movimento fosse calculado para me atrair. Eu podia me afastar. Podia virar e sair dali, manter minha compostura profissional. Mas, merda, eu não queria.
Eu queria mais.
Eu queria saber até onde ele iria. Queria saber o que ele estava disposto a fazer para me manter ali.
— Eu não sou fácil de ser controlada, Damian. — Falei, a voz mais firme agora, tentando me agarrar à única coisa que ainda me dava algum senso de controle.
Ele sorriu de novo, mas desta vez, havia algo de divertido nos olhos dele.
— Eu sei disso, Alex. Isso é o que torna tudo ainda mais interessante.
E, em um movimento rápido, ele se aproximou ainda mais, quase encostando seu corpo no meu. Eu senti o calor dele, o cheiro dele, e meu corpo respondeu sem pedir permissão.
Damian Cavendish estava no controle, mas eu não estava pronta para ser apenas mais uma peça em seu jogo.
O problema era que eu já sabia que, de algum jeito, ele tinha me marcado. E agora… agora não havia mais volta.
— O que quer de mim, Alex? — ele sussurrou, os lábios tão próximos dos meus que pude sentir a vibração das palavras.
Eu queria gritar, dizer que eu só queria escrever a maldita matéria e sair de lá. Mas tudo o que consegui fazer foi olhar em seus olhos, tão profundos, tão impenetráveis.
— Eu quero tudo.

