

Capítulo 2 _ Caçada
A coletiva seguiu, mas para mim, o jogo já tinha mudado.
Eu tentava me concentrar nas perguntas dos outros jornalistas, mas cada vez que Damian respondia, eu sentia o peso do olhar dele voltando para mim, como se estivesse me medindo. Ele jogava com palavras como quem já estava acostumado a manipular situações — nunca dizia demais, nunca dizia de menos. Um homem treinado para ser intocável.
Isso só me deixava mais curiosa.
Depois de quase uma hora, o porta-voz da empresa anunciou que a coletiva tinha terminado. Alguns jornalistas se apressaram para enviar matérias, outros tentaram se aproximar de Damian, mas ele não deu espaço. Saiu do palco com a mesma calma ensaiada, sumindo por uma porta lateral antes que alguém conseguisse cercá-lo.
Eu me levantei devagar, absorvendo tudo.
— Você foi corajosa. — A voz de Andrew, meu colega do The Insider, soou ao meu lado. — Ninguém mais teria cutucado o rei logo no primeiro dia.
— Eu não cutuquei, só perguntei.
Ele riu.
— Será que ele vai te dar uma entrevista exclusiva?
— Acho que ele adoraria brincar um pouco antes de decidir se me destrói ou não.
Andrew assobiou.
— Boa sorte com isso.
Revirei os olhos e guardei meu bloco de notas na bolsa.
Eu não ia perder tempo esperando respostas.
O prédio da Cavendish Industries era um monstro de vidro e aço, dominando a paisagem da cidade como um lembrete do império que o nome carregava. Consegui um crachá de visitante com o pretexto de pegar informações adicionais com o setor de imprensa, mas meu objetivo era outro.
Eu queria vê-lo de perto. Sem holofotes. Sem discurso ensaiado.
O elevador me levou ao andar indicado, e fui recebida por uma secretária impecável, do tipo que parece que já nasce sabendo controlar crises milionárias sem piscar.
— Alexandra Thompson, The Insider. Gostaria de solicitar uma entrevista exclusiva com o senhor Cavendish.
Ela me avaliou com um olhar profissional e educado antes de responder.
— O senhor Cavendish não está disponível no momento.
Claro que não.
— Alguma previsão de quando estará?
— Ele é um homem muito ocupado.
Óbvio.
Agradeci com um sorriso falso e me afastei. Eu já esperava que não fosse tão fácil.
Mas eu também não era do tipo que desistia.
A noite chegou rápida. Depois de um dia inteiro revisando a coletiva e costurando minha matéria, decidi que merecia um tempo para respirar. O bar do hotel onde eu estava hospedada parecia um bom lugar para processar o dia, então pedi um drink e me sentei em uma mesa no canto.
Foi quando eu o vi.
Damian Cavendish estava ali.
Não cercado de seguranças. Não atrás de um púlpito. Apenas sentado no bar, com um copo de uísque na mão e a mesma postura controlada que exibia em público. Mas ali, sob a luz amarelada e longe das câmeras, ele parecia mais real.
Ele não olhava ao redor, como se já soubesse que o mundo girava ao redor dele, quer quisesse ou não.
E então, como se sentisse minha presença, ele ergueu os olhos.
Eu devia ter desviado o olhar. Devia ter fingido que não vi.
Mas não desviei.
Damian sustentou meu olhar por um segundo. Dois. Então, num gesto lento e calculado, ergueu o copo num brinde silencioso.
Merda.
Meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse decidir. Me levantei e caminhei até ele.
O jogo tinha começado.
— Senhor Cavendish.
Minha voz soou calma, apesar da tempestade na minha cabeça. Ele pousou o copo no balcão e inclinou a cabeça levemente, me avaliando como se já estivesse esperando por isso.
— Senhorita Thompson.
Ele disse meu nome daquele jeito outra vez. Como se já soubesse que isso mexia comigo.
— Parece que não consegue evitar estar no centro das atenções — provoquei, apoiando a mão no balcão.
— E parece que você não consegue evitar me seguir.
Ele não sorriu, mas havia um brilho divertido nos olhos dele.
— Coincidência.
— Não acredito em coincidências, senhorita Thompson.
A voz dele tinha um tom baixo, quase perigoso.
O bartender parou ao meu lado, esperando meu pedido.
— Vodka. Pura. — Não tirei os olhos de Damian enquanto dizia isso.
Ele observou, parecendo entretido.
— Direta ao ponto.
— Eu não gosto de perder tempo.
— Então estamos em sintonia.
Minha bebida chegou. Peguei o copo, sentindo a ardência da vodka descer, e me forcei a manter a expressão neutra.
— Me diga, senhor Cavendish, por que passou anos fugindo dos holofotes?
— Quem disse que eu fugi?
— Bom, ninguém nunca conseguiu te encontrar. Eu tentei. Muito.
Ele se inclinou levemente para mim, e o cheiro amadeirado do perfume dele me atingiu.
— Isso significa que sempre me quis?
Eu engasguei com a vodka.
Damian riu baixo. Filho da mãe.
— Eu queria uma história. — Apoiei o copo no balcão, recuperando a compostura. — Você é uma história.
— Ah, srta. Thompson… — Ele balançou a cabeça, quase como se estivesse se divertindo. — Você acha que está caçando, mas nem percebeu que já foi caçada.
Um arrepio percorreu minha espinha.
Eu devia ir embora.
Eu não fui.
— Então me diga, Damian… — Joguei o nome dele de propósito, vendo como a informalidade causava um leve arqueamento de sobrancelha. — Qual é a sua história?
Ele olhou para mim por um momento longo demais.
— Cuidado com o que deseja.
— Eu não desejo nada.
Ele sorriu.
— Você mente muito mal.
Pegou o copo e tomou o último gole de uísque, depois se levantou, alto, dominante. Se inclinou levemente para mim, e sua voz veio baixa, quase íntima.
— Eu te vejo em breve, Alex.
E então, ele saiu.
Eu só percebi que estava segurando a respiração quando meu peito queimou.
O jogo estava só começando.
E, droga, eu não sabia mais se queria ganhar ou perder.

