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Capítulo 6

Ela olhou para ele com profundo desagrado. Será que ele havia escutado o que ela havia dito? Será que ele havia acreditado em suas palavras? Será que ele havia falado apenas para ter ar na boca? Será que ele estava se divertindo pelas costas dela? Ela não sabia dizer se suas palavras tinham tido algum efeito emocional sobre ele.... O rosto de Jonas Brantley era impenetrável.

"Faça um pouco maior", disse Louste e tomou um gole do café morno que ele achava nojento. - Que ele pudesse entender isso... -

- Muito atencioso da sua parte. -

Que tal se eu jogasse café na sua cara para fazer esse olhar arrogante desaparecer?

- Por que você me disse que estava disposto a ouvir o que eu tinha a dizer, Sr. Brantley? Ela não vai me ouvir! É óbvio... Estou aqui na frente dela, dizendo-lhe a verdade, e ela está zombando de mim. -

- O que exatamente sua irmã disse a você? -

- Ela tinha razão - admitiu Louste, envergonhado. - Roxie estava realmente... animada demais quando vocês se conheceram em Maiorca. Eu percebi que ele não estava em si. Lembro-me vagamente de que ela era muito infeliz, mas nunca confiou em ninguém, nem mesmo em mim, que era sua irmã. Acho que ela estava tão acostumada a me proteger que se convenceu de que tinha de me proteger até mesmo de sua própria infelicidade. Aconteceu que... -

Ela suspirou e passou os dedos nervosamente pelo cabelo, que ainda estava um pouco bagunçado.

- Ela e Michael queriam começar uma família. Na semana anterior à sua partida, ela foi ao médico para obter os resultados dos exames e descobriu que havia um problema. Michael nunca poderia ter filhos. Roxie ficou chocada com isso. Ter um bebê significava TUDO para ela. -

- Você está me dizendo que saiu de férias com a intenção específica de encontrar... você está me dizendo que saiu de férias com a intenção específica de encontrar um garanhão para engravidar! -

Ele torceu os lábios em uma careta cruel e ela estreitou os olhos impotente.

- Você está me ouvindo? Ela estava literalmente desesperada quando saiu de férias naquela semana. Ela precisava se afastar de Michael... para pensar. Mas quanto mais ela fazia isso, mais deprimida se sentia.... E assim, pela primeira vez em sua vida, ela fez algo absolutamente inconcebível para ele: teve um caso de uma noite. -

Ela fez uma pausa e lutou para manter o controle.

- Quando descobriu que estava grávida, decidiu manter o bebê, considerando-o um verdadeiro milagre. Ela me disse que ela e Michael haviam conversado sobre isso por muito tempo. Eles estavam a um passo de um rompimento definitivo, mas ele a amava tanto que, no final, ela decidiu aceitar a situação. Ele amava a menina com todo o seu coração.... Para ele, Mira era SUA filha. -

Ele respirou fundo.

- Ouça, lamento muito que o homem com quem minha irmã teve um pequeno caso seja você. Sinto muito por ter jogado tudo isso em cima dela.... Acho que é um pesadelo para ela. Mas a vida é assim, é assim que foi e... -

- Por que você acha que eu deveria acreditar em uma palavra dessa história? -

Ele olhou para ela com o mesmo olhar impenetrável de antes, sem demonstrar nenhuma emoção.

- Porque é a verdade. -

- E agora você vai me explicar por que teve o impulso irresistível de me fazer participar de tudo isso? -

Loucura temporária", pensou Louste, brincando com sua xícara de café frio. Um momento de pura loucura.

- Porque as circunstâncias mudaram, Sr. Brantley", respondeu ela, visivelmente constrangida.

- Estou vendo... Em outras palavras, você não tem dinheiro.... Bem, eu me perguntava quando chegaríamos ao lado financeiro da questão. Que se danem as suas boas intenções de me fazer saber da existência da minha filha misteriosa apenas por um senso de justiça ou algo assim.... -

Ele fez um gesto imperceptível em direção à porta e George entrou na sala para pegar a bandeja de café. O homem que estava dormindo na poltrona começou a se mexer. Louste percebeu que Brantley estava prestes a dispensá-la e foi tomada por um súbito e profundo ataque de desespero.

Você tem razão, no final das contas é apenas uma questão de dinheiro!", disse a si mesma, desanimada.

-Quer você goste ou não, Sr. Brantley, você tem uma filha. Você é livre para pensar em mim como uma ladra de dinheiro, em sua riqueza, e pode ir embora como se nada tivesse acontecido, mas isso não mudará nem um pouco o fato de que você é o pai de uma menina de sete anos.... Espero que isso pese na sua consciência para o resto da vida. -

Ela não ia deixar que ele deixasse isso para lá com um encolher de ombros. O mundo estava desmoronando ao seu redor. Ela teve que se humilhar para conhecê-lo e queria ter certeza de que ele sabia disso.

- Oh, por favor, Srta. Hart, não me dê sermão. -

- Eu faço e digo o que eu gosto e digo o que eu gosto e digo, Sr. Brantley. -

Ela se inclinou na direção dele e o medo de vê-lo desaparecer lhe deu uma espécie de coragem desesperada.

- Michael e Roxie deixaram para trás uma montanha de dívidas.... Nos últimos meses, passei todas as noites sem dormir, preocupado em como e onde conseguiria o dinheiro de que precisava. Eu me adaptei a um trabalho que odeio profundamente e que também é mal pago. Esse dinheiro é como um band-aid em uma ferida que está sangrando. Estou frustrada, com raiva, desesperada, mas não posso mostrar tudo o que tenho dentro de mim porque também sou o único apoio material e emocional para minha sobrinha? Mas, sinceramente, estou cansada de lutar.... Não tenho mais forças, não tenho mais ideias, não tenho mais saídas... -

Ela parou e desviou o olhar por um momento.

- Sim, é verdade, estou quase arruinada! Vim pedir ajuda a ela porque não tenho mais ninguém a quem recorrer. Logo o banco vai tomar nossa casa. Não me preocupo comigo, mas tenho de pensar na Mira. Ela é uma criança. É o bebê DELE! -

Ele estava tremendo como uma folha e, naquele momento, estava em seu ponto de ruptura. Ela não se importava mais com a impressão que poderia causar a esse homem. Se ela tivesse que se arrastar de quatro, ela o faria.... Só para garantir que Mira tivesse um vislumbre de esperança para o futuro.

- Eu não queria levantar minha voz... - disse ela mais suavemente dessa vez, olhando em volta envergonhada.

"Não se preocupe", Jonas a tranquilizou com uma voz menos hostil. - Essa é a beleza deste lugar. Ninguém presta a menor atenção à conversa dos outros. Você poderia gritar e eu lhe garanto que tudo ficaria dentro dessas quatro paredes. -

Ele fez uma pausa.

- Além disso, não dou a mínima para o que o resto do mundo pensa de mim. -

- Isso deve dar a você uma grande sensação de liberdade... - Louste comentou, distraído com essa estranha e repentina mudança de atitude.

Agora ele a olhava com curiosidade, como se a estivesse avaliando pela enésima vez.

- Você entende que eu terei que solicitar um exame de sangue para estabelecer a paternidade. -

- Então você admite que é possível que ele tenha lhe dito a verdade... Que talvez ele não seja apenas um oportunista que apareceu na sua porta para ver se havia algo para extorquir de você! -

"Tudo é possível", admitiu ele com um encolher de ombros.

- Sr. Brantley, você pode fazer todos os testes que quiser.... - respondeu Louste com um sorriso discreto.

- Mas...? -

- Mas nada... -

"Você não precisará de nenhuma prova quando a vir", pensou ele consigo mesmo.

Mira se assemelhava a ele como uma gota d'água, tanto que era impressionante.

- Você quer ao menos conhecê-la, Sr. Brantley? Se você decidir lavar as mãos de todo o caso, prometo que não insistirei mais e superarei isso. -

Ela ficou mortificada e quase enojada com a nota de súplica que ouviu em sua própria voz.

"Tudo bem, eu vou encontrar... a criança", disse ela em um tom sério.

- Quando? -

- Assim que possível... - respondeu ele, levantando-se.

Ela seguiu o exemplo dele e, quando estava perto dele, Louste percebeu sua estatura e força física, a maneira como ele se elevava sobre ela, fazendo-a se sentir pequena e frágil.

- O mais rápido possível está mais do que bom para mim? Na verdade, eu ficaria muito grata", disse ela, seguindo-o para fora do prédio, para o frio intenso. - Se você puder... -

- Não deixar que a pequena entenda quem eu sou? -

Louste assentiu e se enrolou em seu casaco. O vento envolveu a saia dela em suas pernas. Ela teria se sentido mais confortável com o velho e querido jeans que costumava usar depois do trabalho.

- Eu concordo com você. Acho que devemos esperar para ver", respondeu ele, olhando para ela.

Eu queria ensaiar primeiro, certo!

- Quando você quer que eu o apresente a você? -

- Que tal no fim de semana? Domingo? Podemos nos encontrar em algum lugar para almoçar? Onde você leva crianças dessa idade para almoçar? -

Parecia que as crianças eram uma raça desconhecida para ele.

- Em todas as cadeias de fast food possíveis... - ela o informou rapidamente, antes que ele pudesse mudar de ideia.

Jonas fez uma careta como se estivesse tentando lembrar o nome de alguma rede de fast food.

- Conversar seria um pouco difícil em um desses lugares. No entanto, conheço um restaurante perto de Covent Garden onde servem pizzas, hambúrgueres, batatas fritas, milkshakes, sorvetes e todas as coisas que as crianças gostam. Você come essas... coisas, não é? -

- Ela é absolutamente louca por isso! - Chispa sorriu.

- E como devo me apresentar? Quem devo dizer a ela que sou? Um velho amigo da família? - perguntou ela, fazendo uma careta. - Um parente distante? -

- Direi apenas que você é um amigo. -

"Graças a Deus", pensou Louste, "ele tem apenas sete anos de idade".

Se ele fosse um pouco mais velho, saberia imediatamente que Jonas Brantley era seu parente. Olhar para seu rosto teria sido como olhar para um espelho.

"Muito bem", continuou ele. - E não se esqueça do que eu disse a você", ele murmurou com um tom ameaçador na voz, inclinando-se para olhá-la nos olhos. - Eu não sou um idiota! Com criança ou sem criança, não vou me deixar enganar. -

- Eu nem sequer sonho com isso, Sr. Brantley. -

"Jonas a corrigiu rapidamente.

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