♥ cinco ♥
HELENA
Embora não quisesse levar a sério a “solução” de minha amiga, me vi repassando nossa conversa seriamente, porque eu não havia nada além daquela opção para levar a sério, e não havia como negar um fato, o vizinho ao lado realmente tinha condições o suficiente para me ajudar, ajudar as terras de minha família… claro, caso ele quisesse, o que sua fama antissocial, me dizia que não era o caso.
No entanto, qual opção eu tinha além dessa? Por mais que tentasse pensar em algo palpável, não havia o que ser feito, considerado. Gael me ligou mais cedo, questionando se eu havia falado com o meu pai, e no calor do momento, respondi que não, mas que havia encontrado uma solução mais viável, qual a colocaria em prática, e assim que desse ligaria para ele… conversa fiada, embora estivesse na minha cara, as opções, eu ainda não havia pensado nos pormenores, algo atrativo o suficiente para meu vizinho ceder o empréstimo generoso, suspiro profundamente, massageio minha têmpora e bufo.
Céus, o que faço? Murmuro internamente, e nesse instante pondero algo, algo muito bom… Só preciso saber que é possível judicialmente, apanho meu celular, retorno a ligação de Gael, ele não tarda a aceitá-la.
— Helena, tudo bem? — Questiona assim que aceita a ligação, eu sorrio e assinto, ainda que ele não possa me ver.
— Claro, só pensei em algo e gostaria de saber se é possível. — Resmungo, ele pede que eu prossiga, e assim o faço. Explico o acordo que gostaria de propor a um conhecido, o prazo de tal acordo, e as vantagens que o conhecido teria, ele argumenta que isso reduziria os lucros da Alpes Garcia, eu rebato, dizendo que mesmo pouco, nós ainda teríamos as terras, e não só isso, poderíamos cumprir com nossas dívidas e mais… assim que o acordo fosse encerrado, teríamos a possibilidade de voltarmos ao que um dia fomos, ele pondera o que falo, e no fim acaba dizendo que o proponho é bom.
— Essa pessoa, você acredita que aceitaria? Seu pai já tentou muitos conhecidos, a propósito, quem tem em mente? — Investiga, mordo o lábio, encolho os ombros.
— Não tenho certeza, mas preciso tentar. — Algo me faz não revelar a identidade do vizinho, eu na verdade, embora soubesse ser meu vizinho, não sei seu nome, talvez o tenha ouvido a um tempo, mas hoje é uma informação que me foge o conhecimento.
— Quem seria essa pessoa? — Gael volta a questionar.
— Me deixa tentar fazer contato primeiro, caso aceite, retorno a ligação para trabalharmos nos papéis — Resmungo indiferente, Gael suspira, então resmunga um ok — Bom, em breve nos falamos novamente, muito obrigada, Gael! — Sorrio agradecida.
— Helena… — Me chama antes que eu encerre a ligação.
— Sim?
— Talvez pudéssemos… — Meus olhos arregalam, minha mente trabalha em várias suposições que aquelas duas palavras me levam a crer que seguiria.
— Gael tenho que desligar, papai está me chamando, e você sabe… não quero que ele desconfie de algo… — Minto, sentindo-me ansiosa — Já vou… — Grito dissimuladamente — Tenha uma boa tarde, Gael! — Murmuro, e sem esperar retorno, encerro a ligação.
Um suspiro profundo me esvai, e eu acabo rindo de minha imaturidade.
Céus, como faria um homem me levar a sério agindo tão… imatura?
♥♥♥
— Instalações Sol Nascente, no que posso ajudar? — Uma voz feminina, lenta, enjoativa, soou do outro lado da linha, engoli seco.
— Olá, boa tarde, poderia falar com o… seu chefe, por favor? — Peço educadamente, um suspiro soa, mas a mulher do outro lado nada diz — Olá? — Tento chamar sua atenção, a ligação chia.
— E quem gostaria? — Sinto seu tom tornar-se impaciente, suspiro.
— Helena, Helena Alpes Garcia, creio que ele saberá de quem se trata… — Murmuro com segurança, embora eu não saiba ao certo o nome por trás do homem sério que vês e outra vejo passar na divisa que separa nossas terras, todos me conhecem… não que eu seja alguém a ser notado, na verdade evito o máximo, mas não faço mistério de quem sou, ao contrário dele. E bem, as pessoas gostam da minha família e tudo que nosso nome representa.
— Hum, Helena… — Ela faz um suspense que me faz querer revirar os olhos, mas permaneço quieta, considerando que eu possa estar sendo injusta — E do que se trata? — Questiona, eu suspiro.
— Negócios… — Resmungo sentindo algo estranho a falar isso — Hum, gostaria de falar sobre negócios com o seu chefe, poderia encaminhar minha ligação para ele? — Ajeito minha postura como se isso me deixasse mais séria, mais segura ou quem sabe… adulta, tenho vontade de rir, quando poderia supor que estaria deixando minha escrita de lado para falar sobre negócios relacionados as terras da minha família? Sorrio, massageando minha testa, quase sem acreditar — Fale a ele que não tomarei muito do seu tempo que…
— Minha senhora, não é assim que as coisas por aqui funcionam — Ela me corta com um tom quase esnobe — Dito isso, peço que me diga com mais precisão do que se trata, assim, ponderarei se realmente é importante para passar diretamente para ele, e assim, lhe passar quando será possível um retorno da parte dele… — Franzo o senho.
— Como disse, é sobre negócios, negócios esse, que gostaria de discutir detalhadamente com ele. — Me levanto de minha cadeira e passo a andar por meu quarto, impaciente com a mulher que soa como se fosse superior, sei que faz o seu trabalho, mas há algo em sua postura que não me agrada.
— Como disse, preciso de mais do que diz… que negócio é esse, em nome de quem que fala? — Reviro os olhos.
— Falo em meu nome, em nome de minha propriedade, a Alpes Garcia… — Falo orgulhosamente, mesmo que estejamos passando por um momento estranho.
— Certo, anotarei o seu recado, dentro de alguns dias ele retorna sua ligação, tenha uma boa tarde.
— Alguns dias? — Questiono, mas logo noto que a linha foi encerrada. Praguejo quem quer que seja a mulher que me atendeu. Alguns dias… não tenho dias, bufo… tento refazer a ligação, mas antes de chamar a mesma cai, tento por mais um tempo… e quando sinto meu orgulho muito ferido pela forma em que fui tratada, faço algo impensado, me dirijo para a Sol Nascente, trabalhada apenas na cara e coragem.
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