Capítulo 8
“Eu entendo”, diz ele, olhando para baixo.
"Definitivamente nos veremos, Alis", digo, ansioso para sair daqui.
— Então eu te dou meu número — ela sorri após minhas palavras, procurando seu celular na bolsa.
— Não tenho telefone, vou usar o do Ty para ligar para você —
— Hum, tudo bem então. Eu realmente preciso ir para casa agora, mas estou esperando notícias suas novamente”, diz ele, olhando rapidamente para o relógio.
“A casa era a mesma”, diz ele, me abraçando novamente e depois se afastando de mim.
- Nesse tempo? Quando você vai falar comigo? — Tyler bufa ao entrar no carro.
"Você não me disse que ainda os via", eu digo, cruzando os braços sob os seios.
—Você não me perguntou—
—Você sabe perfeitamente que não quero ter nada a ver com isso. Não quero vê-los ou ouvi-los. — deixei escapar irritado.
— Não creio que você esteja se referindo ao grupo inteiro — ressalta, apertando as mãos no volante.
Ele decidiu dirigir, alegando que se estivesse com raiva era melhor não dirigir.
Se ao menos ele soubesse.
O silêncio retorna à cabana e eu, ainda em estado de choque, tento eliminar da minha mente todos os pensamentos ou lembranças.
— Eles estão na nossa escola, você ouviu a mãe deles, certo? Você os encontrará não só em casa, mas também lá – sussurra ele enquanto estaciona em frente à vila.
— Bom então pelo menos me faça o favor de me avisar antes de deixá-lo entrar em casa, pois farei o possível para não estar lá —
Sem pensar duas vezes saio do carro, pego o envelope e abro o portão.
Tyler começa a derrapar novamente e aproveito a oportunidade para parar no meio do caminho.
Observo o carro se afastar e sinto meu coração disparar.
Suspiro enquanto reflito sobre esse dia e caminho pelo pequeno caminho até chegar à porta da frente da casa.
—George, não era seu dia de folga? - pergunto após esbarrar no mordomo.
"Sim, senhorita, mas Polly não me deixa em paz nem por um momento", ele murmura, balançando a cabeça e desaparecendo no jardim.
Passo pela entrada e vou até a cozinha deixar o envelope sobre a mesa.
— Nossa, você voltou! Você realmente é um anjo, sabia disso? -
Polly corre até mim e me dá um abraço sufocante.
Três abraços em um dia, o que fiz de errado?
Melhor não responder a esta pergunta...
Fico petrificado com esse gesto e depois de alguns segundos evito-a.
—Onde está Tyler? —Jason pergunta entrando na cozinha.
"Ele está fora", eu sussurro.
Olho para baixo sob o olhar questionador dos dois e sigo em direção às escadas para escapar deles.
Não tenho vontade de conversar com ninguém, quero ficar sozinho.
Eu bufo quando subo os dois lances de escada e abro com força a porta do meu quarto.
"Nós realmente não precisávamos disso", ele sussurrou.
Suprimo a dor que sinto no peito e tento afastar os pensamentos.
*
— Carmen, vem aqui, preciso te contar uma coisa —
O cara gesticula para que eu me aproxime dele e eu franzo a testa.
- O que está acontecendo? - pergunto a ele, notando seu olhar preocupado.
— Agora algumas pessoas virão te procurar, mas você tem que manter a calma. Eles o levarão a uma casa enorme onde estarão muitas crianças e adolescentes como você. —ele explica colocando as mãos em meus ombros.
- NÃO! Eu grito, sentindo como se estivesse ficando sem ar.
- Eu não estou indo a lugar nenhum. Eu quero ficar aqui. Continuo gritando, afastando-o.
— Carmem você tem que fazer isso —
- Não Isso não é verdade. Eu quero viver aqui. Não posso ficar com você e minha tia? —Pergunto com o coração batendo forte no peito.
Tiraram minha mãe de mim, fiquei sem pai por causa do ocorrido, não posso perder o resto da minha família e meus amigos também.
Eu especialmente não posso perder.
“Não podemos ficar com você”, ele retruca com raiva.
Afasto-me alguns passos e olho para ele de forma estranha.
—O que você quer dizer com não pode ficar comigo? Você não me quer? - pergunto a ele, me afastando cada vez mais dele.
Com esse tom de voz ele me lembra muito meu pai, eles são idênticos e a raiva que vejo em seus olhos me preocupa.
— Depois de alguns meses, se você se comportar bem, vão te trazer aqui, mas agora você tem que ficar naquele lugar — finaliza, levantando-se do sofá e se aproximando da janela da sala.
- Já chegaram -
Percebo que a expressão dele relaxa após apertar a mão daquelas pessoas, noto a felicidade em seus olhos e entendo isso.
Ele não quer me ter por perto.
Não voltarei para casa por alguns meses.
Não adianta ser bom.
— Olá pequenino, você está pronto? - um senhor me pergunta, agachando-se até minha altura.
— Tenho um ano e meio, não sou pequeno. E não estou pronto. Você não vai me tirar daqui. —Respondo levantando a cabeça.
O senhor troca um rápido olhar com meu tio e seu colega.
—Você tem que vir conosco. Você não pode escolher. -
"Vou ficar com meu tio", respondo, batendo o pé no chão.
— Você não vai morar comigo Carmem, coloque isso na sua cabeça. Não vou deixar você entrar na minha casa. Eu não quero você na minha vida. Eles vão trancá-lo em um orfanato e você ficará lá. Você é apenas um erro e sabe disso muito bem. Você até deixou meu irmão louco e por sua causa ele agora está na prisão. Eles mataram sua mãe por sua causa. Você é um monstro. Você não deveria ter nascido. —Jason grita, puxando meu cabelo.
Permaneço impassível enquanto as duas assistentes sociais afastam Jason de mim. Ele não merece ser meu tio. Ele não me merece.
Bloqueio o fluxo dos meus pensamentos batendo na parede, e depois um segundo, um terceiro, até os nós dos dedos sangrarem.
Eu grito para desabafar minha raiva e continuo batendo na parede.
—Eu não deveria ter nascido! —Grito o mais alto que posso.
Afasto-me da parede olhando meu reflexo no espelho.
Eu sou um monstro, ele estava certo.
Meus olhos estão vermelhos, minha respiração é rápida e minhas mãos tremem.
Vou até minha mochila e jogo todo o conteúdo em cima da cama em busca das chaves de minha casa.
É impossível para mim me comportar de maneira respeitosa ou calma com ele.
Não se trata de ele fazer o que quer.
É o que penso com as chaves do carro de Jason na mão e um sorriso no rosto.
Vejo uma gota deslizar no vidro seguida de muitas outras: muitas aos meus olhos, parece impossível contá-las.
Sempre pensei que a chuva era feita de todas as lágrimas que derramamos.
Uma parte de nós está contida nessas lágrimas, estão contidos nossos maiores e mais profundos segredos.
Adoro o som da chuva batendo na janela; cada gota luta para alcançar a outra e criar uma coisa, ou simplesmente para chegar primeiro.
Adoro a chuva, adoro o cheiro que se pode sentir durante e depois destes dias que muitos chamam de “terríveis”, mas que aos meus olhos são fantásticos.
Prefiro passar dias assim sozinho, absorto em meus pensamentos, sonhos, esperanças, desejos. Adoro que pareça que o tempo para, que por um momento tudo fica bem, me sinto calma. Pode parecer estranho, mas é essa a sensação que tenho quando chove.
Ainda me lembro da minha mãe me repreendendo por não me encobrir o suficiente em dias como este, mas minha pergunta sempre foi: por quê?
Adoro quando as gotas caem no meu rosto, tanto que se misturam às minhas lágrimas.
Estou sentada dentro do carro de Jason tentando acalmar a respiração.
Olho para meu braço sangrando e amaldiçoo o quanto minha vida é uma droga.
Eu poderia ter levado meu carro, mas o que eu queria fazer não era apenas correr.
Ele queria bater em alguma coisa, queria destruir seu carro e sentir mais adrenalina. Queria sentir novamente aquela travessia entre a vida e a morte.
Abro a porta do carro e fecho com força, olhando para a frente do carro completamente destruída.
- Que diabos! Talvez você esteja louco? -
Um cara para e sai do carro para me ver.
“Deixe-me em paz”, digo, afastando-o, mas esquecendo o ferimento em seu braço.
— Você está ferido, entre no meu carro, vou te levar ao hospital —
— Não preciso da sua ajuda, nem te conheço —
— Você prefere que eu chame a polícia? – ele me desafia.
Eu bufo de aborrecimento e entro no carro dele, reprimindo uma careta de dor.
— Talvez você quisesse
cometer suicídio? — o estranho me repreende.
- Cuide de sua vida! Não é o meu dia – bufo, movendo o olhar para minha perna.
"Perfeito, esse aqui também está sangrando", reclamo, resistindo à vontade de bater na primeira coisa que aparece em meu caminho.
"Estou ofendido por você não se lembrar de mim", ele diz sarcasticamente e eu olho para ele com atenção.
Cabelo ruivo, olhos castanhos, algumas sardas... como o garoto que sempre destruía meus castelos de areia quando eu era criança.
“Connor,” eu deixei escapar, lembrando daquele garoto chato e melhor amigo de Axel.
Hoje tudo me conecta a ele, mas será que não consigo manter a calma nem por um momento?
“O único”, ele brinca.
—A chuva é a única coisa positiva neste dia de merda—observo, ainda estupefato.
—Ponha isso no seu braço, não quero que suje meu carro> ele diz me entregando seu moletom.
— Eu disse para você colocar no braço —
- Tenho frio! E de qualquer forma é no braço, viu? Esta é uma manga. Vamos repetir juntos: “Manica” – eu me imito como uma menininha fazendo ele rir.
— Você ainda é gentil —
— De jeito nenhum, como sempre — respondo, observando o hospital com horror.
Connor sai do carro e abre a porta para me ajudar.
—Eu posso fazer isso sozinho—
—Mas você não pode simplesmente calar a boca e aceitar minha ajuda? - ele me repreende, me olhando irritado.
- Não -
"Calma, tigre, estamos quase lá", ele zomba de mim, continuando imperturbável.
—Senhorita, como você fez isso? -
Uma enfermeira na casa dos quarenta se aproxima de nós e balança a cabeça repetidamente.
-Me siga-