Capítulo 7
— N-nada disso, é a primeira vez que alguém senta ao meu lado — ele responde gaguejando e eu o deixo passar.
Não quero forçá-la a dizer nada, nem a conheço.
- Meu nome é Carmem! — Me apresento pensando nas palavras do meu primo.
Não costumo fazer amigos, já que normalmente as garotas que conheço são safadas e falsas, mas até ela me parece ingênua.
“Eu sou Summer”, ela responde com espanto.
—Eu já sabia seu nome, é muito estranho e você também é um Milton: Infelizmente, boatos se espalham nesta escola. Além disso, como podem olhos tão particulares passar despercebidos? — ele me pergunta e eu fico tensa.
— Não pense mal, não me importo em saber os segredos da sua família — ele diz rapidamente e evito seu olhar.
—George está de folga, Morgan está na festa de aniversário da sobrinha e o resto do pessoal desta casa é preguiçoso! -
— Polly, nós dois temos trabalho a fazer e você sabe disso — minha tia Christine responde lá embaixo.
—Você não pôde ir? -
- Ei? Sempre eu, hein! E claro: “Vamos mandar a Polly, ela não tem nada para fazer e está entediada”, critica o cozinheiro Jason.
— Nada acontece se não houver maçãs —
—Mestre Tyler, modere os termos! Como você pode fazer torta de maçã sem maçãs? Diga-me! Porque estou muito curioso.
Eu bufo pela milionésima vez durante esse dia chato e vou até o vestiário para vestir um short jeans e uma camiseta da Adidas.
Fecho bem a porta do meu quarto e desço os dois lances de escada com igual alegria.
—Que gritos foram esses? —murmuro, correndo em direção à cozinha no meio de uma discussão que já dura horas.
—Eles nem me pagam para ser servo—
—Nós nunca dissemos nada sobre isso—
—São só maçãs! -
- Apenas? E quem deve fazer o bolo desta noite, hein? -
Massageio minhas têmporas e sigo os conselhos de respiração que meu terapeuta me dá.
- Silêncio! - deixei escapar, irritado.
— É domingo de manhã, de quantas doenças você sofre exatamente? E não vou perguntar quais, senão terminaríamos na Páscoa.
“Polly está enlouquecendo com a estúpida torta de maçã”, diz Tyler, encolhendo os ombros com indiferença.
- Idiota? “Você não disse a mesma coisa na semana passada enquanto comia”, ele responde com uma concha na mão.
—Toda essa preocupação com maçãs? Tyler, venha comigo, pelo menos hoje todo mundo vai parar de me incomodar – ordeno, sentando à mesa e pegando um suco de frutas da mesa.
"Carmen, não se preocupe", ele bufa, mas um simples olhar meu é suficiente para silenciá-lo.
“O poder que você tem sobre as pessoas é desarmante”, tia Christine me parabeniza e eu encolho os ombros com indiferença.
—Por que você está tão preocupado com o bolo? —Pergunto a Polly, pensando em suas palavras.
— Porque temos convidados para jantar esta noite —
— Ah... e você quer fazer uma torta de maçã simples? —Pergunto, ainda confuso.
O pânico imediatamente toma conta de Polly e tia Christine é forçada a segurá-la para que ela não caia.
— A torta de maçã da Polly é especial, como todos os seus pratos — ele a tranquiliza, fazendo-a ganhar um pouco mais de cor.
— Perfeito, então hoje à noite vou comer em um restaurante fast food — digo me levantando da cadeira e forçando Tyler a fazer o mesmo.
— Não senhorita, você não vai a lugar nenhum. Você comerá conosco e se comportará educadamente. -
O silêncio que reina nesta casa é comparável ao que sinto cada vez que estou entre as pessoas, só que, como sempre, o silêncio é uma aparência.
Porque os gritos que ouço na minha cabeça são muitos.
—E por que eu faria isso? Por que somos "uma família"
? —Pergunto sarcasticamente, fazendo Tyler fazer beicinho.
— Somos uma família Carmen, você sabe muito bem disso. Podemos não ser perfeitos, somos idiotas, temos segredos infinitos, mas somos uma família. E mesmo que você tenha tido uma vida de merda e tenha ficado trancado nessa concha por anos, você ainda faz parte dela. —Meu tio Jason diz me pegando desprevenido.
— É sempre uma questão de fingir, certo? Quanto tempo esse drama terá que durar? -
—Você está tentando me dizer que prefere que todos os nossos segredos, inclusive toda a sua vida, sejam espalhados pela cidade? -
Odeio não ser o último a responder, mas não posso argumentar contra isso.
É assim que somos e definitivamente não vou mudar as coisas.
"Vamos, Tyler," eu mudo de assunto, empurrando meu primo em direção à saída.
“Eu não sou seu cachorro de estimação”, ele reclama, indo embora.
Vou até o carro dele e sento ao volante, fazendo sinal para que ele me entregue as chaves.
"Você nunca vai mudar", ele bufa, enfiando a mão no bolso do moletom e entregando-o para mim.
-Você não está resfriado? —ele me pergunta, me olhando de cima a baixo.
— Você sabe muito bem que não tenho nenhum, por que pergunta? — respondo retoricamente, girando os botões do mostrador e ouvindo o motor da Lamborghini com os olhos semicerrados.
“Tenho medo de mudanças”, ele sussurra, olhando para mim com tristeza.
— Vamos ao mercado perto do parque? — Proponho sem poder suportar essa expressão.
- Sim! — se alegra e aplaude como uma criança.
O parque era onde nós dois íamos quando éramos pequenos com nossos amigos.
Passamos lá quase todas as noites, era uma espécie de ponto de encontro de todos nós.
Mas então tudo mudou, começando por mim.
— Sabe, às vezes eu gostaria de ser criança de novo e viver pelo menos um desses momentos. Não tivemos problemas, ficamos felizes, você lembra como é? -
- Ser feliz? —pergunto a ele, parando no estacionamento do shopping, de frente para as câmeras para não perder o carro de vista.
- Sim -
—Não, o que é isso? —Pergunto rindo, mas apenas fazendo-o sorrir levemente.
—Você sabe do que estou falando, Sky—
— Vamos começar de novo com os apelidos? — Bufo enquanto me afasto com ele ao meu lado.
— Agradeça por não ter usado outro —
—Tyler, o que há de errado com você hoje? Por acaso você está sentindo nostalgia? Penso nessas coisas, mas você sabe que não gosto de falar sobre elas. Eu o repreendo pegando um carrinho de compras e vagando pelas prateleiras.
— Em vez disso deveríamos e você sabe, nos faria bem pensar em coisas bonitas —
—Não mudaria nada ruminar sobre o que nunca mais estará lá. Tudo mudou Ty, tudo. Nada será como antes. Você acha que vamos reunir o grupo novamente e sermos felizes novamente? —Pergunto a ele, olhando para a fruta na minha frente com água na boca.
“Ainda converso com algumas pessoas”, ele sussurra, mas finjo que não ouvi.
“Essas cerejas devem ser muito boas”, suspiro enquanto Tyler tira algumas maçãs da cesta.
— Na minha opinião são muito bons — continuo a fazê-lo rir.
-Pegue eles! — ele bufa e em um nano segundo estou no carrinho.
— Perfeito, como já estamos aqui podemos aproveitar para conseguir mais — sorrio, colocando os pés no carrinho e me empurrando.
-Carmem! -
Odeio admitir, mas estar perto dele traz de volta meu lado de menina e não sei o quão bom isso é.
Penso em todas as vezes que perambulei por esses corredores fugindo dos amigos para me divertir, ou quando me escondi nas prateleiras e minha mãe teve que pedir ajuda ao gerente.
Penso no rosto da minha mãe, nos seus olhos azuis e no seu cabelo castanho dourado.
Às suas palavras doces, ao seu riso.
E então eu vejo isso.
Eu vejo o tiro.
Vejo a primeira bala entrar em sua cabeça e a segunda em seu peito.
Eu vejo o sangue e as lágrimas.
Sem perceber, colido com alguém e caio no chão.
Olho em volta desorientado e mantenho os olhos focados no carrinho.
Minha mãe.
“Vocês são todos loucos”, ouço Tyler dizer, mas não presto atenção nele, porque meu cabelo preto e cacheado como o da minha mãe agora tem toda a minha atenção.
- Ei? Está bem? —Tyler me levanta do chão e me olha de forma estranha.
—O que há de errado com seu cabelo? - Pergunte-me.
"Oh, Tyler, muito obrigada, querido", ouço uma voz dizer atrás de mim enquanto Tyler passa por mim.
Eu preciso ir para casa.
"Tyler, vamos lá", eu digo com uma nota de incerteza na minha voz e me viro para ele.
“Isso é o que acontece quando você cresce e é criança”, murmuro, levantando o carrinho do chão.
- Carmem? -
Fico imóvel por alguns segundos, percebendo o quão diferente essa voz é da do meu primo.
Olho para a mulher de olhos verdes na minha frente e quase caio no chão novamente em estado de choque.
-Alis- _ _
— Carmen querida, é você mesmo? -
Alis se aproxima de mim com lágrimas nos olhos e eu olho para ela com os olhos arregalados.
—Como você ficou linda, onde você esteve esse tempo todo? Não tivemos notícias suas ou de seu pai novamente; Ele continua a chorar e depois me abraça com um abraço sufocante.
Fico imóvel, prendendo a respiração para não sentir o cheiro da mulher que há tanto tempo é minha segunda família.
— Axel ficará feliz em te ver, você também vai para o Norte? -
Ele enxuga as lágrimas e sorri docemente para mim, enquanto eu olho para seu rosto novamente, tentando entender se a queda agora está me pregando peças.
“Alis,” eu sussurro novamente como uma idiota.
- Sentes-te bem? Você quer que eu chame a segurança? —ela me pergunta imediatamente, me olhando preocupada.
Movo meu olhar de seus olhos para o chão sem querer observar seu carinho.
"Não, está tudo bem", murmuro, fixando meus olhos nos do meu primo.
— Se você gostar um dia desses pode vir em casa nos visitar, Axel volta hoje à tarde, imagino que ele ficaria feliz — ele repete novamente, olhando para mim... implorando?
"Não acho que seja uma boa ideia", Tyler e eu sussurramos juntos.
Eu franzo a testa para ele e dou alguns passos para longe.