05
ALESSA AMATTO
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Nervosa e com dores, tive que andar bem devagar. O espartilho estava muito apertado que mal consigo andar de tanta dor!
Fui aconselhada a não chorar, algumas meninas disseram que os homens batem nas mulheres que fazem isso.
— Espere aqui que será a próxima. — me escorei na parede pedindo aos céus para não desmaiar no meio do evento.
Permaneci ali contendo minha ansiedade tentando não chorar, os minutos passavam se arrastando me deixando ainda mais impaciente.
Será que meu noivo sabe que fui sequestrada ou meu pai tem me procurado? Meu Deus! Ele já me vendeu uma vez e até hoje não entendo seus motivos. Nunca fui uma filha ruim. Suspirei sabendo que ele não deve te tentado me procurar.
Meus olhos lacrimejam, tentei não chorar para não estragar a maquiagem, mas foi em vão e elas rolaram rosto abaixo.
— Vem! — ele voltou e me olhou com espanto — O que aconteceu com sua maquiagem? — impaciente retirando seu lenço para secar meu rosto — Sua sorte é que entrará com uma máscara cobrindo o rosto. Seque logo essas lágrimas e coloque isso imediatamente.
Fiz o que pediu e fiquei com a face parcialmente coberta, com meus cabelos molhados e penteados para trás com as laterais presas em grampos, foi fácil colocar a peça sem estragar o penteado.
— Estou. — respirei com dificuldade — sentindo falta de ar!
— Isso é problema seu e se não achar o ar que lhe falta e me fizer passar vexame, morrerá filha da puta! Anda, quero meus milhões na conta.
Segurou meu braço com força e me ajudou a caminhar até à frente de um pequeno palco diante de vários homens e muitos aqui já são bem velhos.
Que os céus me protejam.
— Essa aqui é a nossa joia rara, e um grande pontapé inicial para muitas mulheres puras como ela para agradar a vocês, meus amigos. — me senti tonta e fui amparada por ele — Por favor, uma cadeira para nosso passarinho.
Ele sentiu que cairia se ficasse de pé e logo me colocou sentada. Agora, sim, consigo ver perfeitamente o lugar com paredes verdes escuras e detalhes dourados em estilo arabescos. Um lustre glamouroso pende ao fundo, e mesmo desligado é perceptível.
Olhei com calma todos à minha frente, porém só os da primeira fila eram de fácil visibilidade. Um homem me deixou intrigada, pois olhava em meus olhos e não meus seios ou minhas pernas e isso me deixa nervosa.
Após todo falatório, os lances foram dados um atrás do outro e os valores são absurdos. A disputa ficou entre um homem grande e alto, com barba preta e cabelo curto. E seu adversário com mais idade e sotaque irlandês sempre que podia o chamava filho da puta. Sei porque domino muito bem o idioma. Já tive um professor de arte que é da Irlanda no norte e me ensinou a falar escocês, assim como o inglês.
— Mais alguém? — perguntou me tirando dos meus devaneios.
Quando chegou a 37 milhões, meu estômago se revirou com a hipótese de que o senhor de mais idade me levasse com ele, porém o mais jovem gritou 40 milhões arrancando vários assobios.
Cheguei à conclusão que ninguém ali daria um valor mais alto e muito em breve escutarei os famosos "dou-lhe" de um leilão de peças humanas vendidas a contragosto.
Já estava conformada que meu novo dono seria um russo e desviei meu olhar dele para o homem de terno preto na mesa ao lado que mantinham os olhos fixos nos meus.
— Mais alguém? — perguntou novamente — Dou-lhe uma, dou-lhe duas.
— Dobro a oferta do senhor aqui ao meu lado! — o homem de preto deixou a todos de boca aberta.
O admirei, preocupada, pois para que gastaria tanto assim se não fosse para me tornar seu animal de estimação!
Meu suposto dono olhou diretamente para o russo que se levantou e saiu a passos firmes. — Meu Deus, o que esse homem fará comigo?
Comecei a tremer pensando no pior.
— Vendida para o senhor todo de preto aqui na primeira fileira! — o estalo alto do martelo me assustou e meu coração começou a bombear mais sangue que o normal — Venha buscar seu passarinho.
Com um charme desumano, pois duvido que haja alguém mais elegante do que ele neste lugar, veio tranquilamente com um sorriso no rosto de quem conseguiu mais um brinquedo novo
— Aqui está a primeira prova de que é virgem, e podemos ir até uma suíte para ser observado a olho nu.
Sua mão quente tocou meu rosto, o que me fez tremer. Seu sorriso sumiu rapidamente dando lugar a lábios juntos em uma linha fina e reta.
— Você é virgem? — me perguntou.
— Sim. — balbuciei.
— Andrea! — chamou por um homem branco com o dobro do seu tamanho tanto em estatura quanto de largura por ter um porte bem definido e julgo que seja feito só de músculo.
— Aqui, chefe. — um telefone lhe foi dado.
— Ângelo, por obséquio, traga o pagamento que o senhor merece. — ficou mudo e voltou a entregar o celular — Farei diferente, o pagamento será feito hoje, e mais uma coisa, como foi tratada por eles? — perguntou olhando para mim — Alguém te bateu?
— Sim! — sem titubear disse a verdade — Diariamente.
— Ouviu né, Andrea? — o homem concordou — Acabamos aqui.
Ofereceu sua mão para me pôr de pé, mas voltei a ficar tonta e fui surpreendida quando meus pés saíram do chão ao me pegou no colo.
— Bom proveito, senhor. — O leiloeiro disse e saímos em silêncio pela saída da frente.
No colo do meu novo dono, pude retirar a máscara e foi impossível não chorar.
Como se não bastasse ter sido vendida uma vez, novamente me encontro na mesma situação, contudo, nessa não nutro nenhum sentimento por meu comprador e com certeza fugirei. Meu casamento tem data marcada para daqui a dois meses e não medirei esforços para fugir do domínio desse homem.
Assim que saí do local fui direto para uma limusine branca e com cuidado fui repousada no assento. Até agora tem sido totalmente o oposto do que a madame e as meninas me afirmaram.
Agora de perto posso notar o homem branco de olhos azuis bem marcantes, por conta dos cílios longos e negros assim como sua barba e cabelo é muito bonito, mas não é meu noivo!
O carro começou a se mover e fiquei aliviada por se manter distante, porém com um sorriso no rosto, não é um riso aberto, é leve e de lábios fechados como se estivesse satisfeito.
— Serei uma boa escrava se prometer não me bater, senhor — comuniquei e fiquei sem reação quando virou seu rosto tão abruptamente — por favor, não falei por mal, é que eu.
As lágrimas começaram a cair e senti uma mão sobre a minha que repousa no assento vazio entre nós e fiquei com medo de recuar. Não quero apanhar de novo.
— Primeiro, não sou seu dono! Pare com isso de senhor, porque serei seu marido! Não me rotule como se fosse seu proprietário, jamais serei essa porra! — exigiu, me levando a ficar ainda mais encolhida no assento — Por gentileza, só pare com isso, ok? — pediu e não ousou dizer mais nada.
A limusine diminui a velocidade e fiquei boquiaberta quando paramos em um dos hotéis mais lindos de Paris, o Theo Península.
Sempre quis pintar à vista de umas das suítes desse lugar que mesmo de fachada antiquada é o hotel mais caro do país.
Presa em meus pensamentos sou interrompida por sua voz.
— Chegamos!
Novamente me pegou em seus braços e seguimos para o interior do lugar que é ainda mais bonito que por fora.