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E o pior! Amanhã, eu terei que enfrentá-lo.

Zafir então, se levanta num ímpeto e o vejo rasgá-la no meio, e depois olha apenas aquele pedaço em suas mãos. Depois de um tempo, amassa a foto com força, o rosto carregado de raiva.

Sim. Ele sofria. Na presença de todos ele colocava sua máscara, se mostrando frio e inabalável. Mas ele não está feliz. Agora vejo. Não era apenas uma impressão que eu lia em seus olhos.

Luzes acesas do quarto.

Susto.

Os olhos do professor em mim.

Allah! Naaaaaaaaaaaaaaaaaaão!

Eu engulo em seco quando nossos olhos se encontram. Sem quebrar o contato visual ele se aproxima da janela.

Num ímpeto fecho as cortinas.

— Você perdeu um filme lindo! —Yasmin grita estridente nas minhas costas.

Abalada por ter sido flagrada caminho com as pernas bambas até a minha cama e me sento nela.

—Você ouviu o que eu disse?

Encaro Yasmin furiosa.

—Quantas vezes preciso dizer para não entrar no meu quarto sem bater? Não pode ir entrando assim. —Eu grito. Ah, se meus pais não proibissem a porta trancada!

—Eu esqueci! —Ela diz, birrenta.

Eu suspirei.

—Nunca mais faça isso! E eu conheço a história. Linda mesmo. Agora saia. Amanhã eu me levanto cedo e preciso dormir.

—Eu também me levanto cedo e por que está tão brava? Eu esqueci, já falei. E você estava acordada.

Não adiantava explicar nada para Yasmim, ela era impulsiva, sempre foi. E eu não tinha cabeça para sermão ou conversas agora.

Eu respiro fundo e digo dura para ela:

—Tudo bem. Mas agora saia!

Ela olha para mim por uns instantes. Sai pisando duro. Bate à porta. Tremendo, fecho os olhos para me acalmar.

Allah! E agora?

Ele me reconheceu?

Uma semana o observando na surdina e agora sou surpreendida!

Mais tarde insônia, e eu me preocupando com isso.

E justo amanhã eu terei que enfrentá-lo.

Desistir do curso? Ficar enfiada ajudando minha mãe na arrumação da casa?

Nunca!

Meus pensamentos rebobinam imagens da minha vida, e levam-me a pensar como, com duras penas, eu conquistei essa liberdade de poder estudar.

A minha infância foi feliz porque as barreiras sempre foram claras como água. A assimilação de nossa cultura e saber vivê-la é importante para a felicidade da família.

Sempre fui muito obediente aos meus pais. Uma vida reclusa, de idas e vindas ao colégio, atividades domésticas, refúgios em livros. Eu nunca me irava e nada contradizia, apenas limitava-me a resignar-me e chorar nas pregas do Kaftan de minha mãe.

Conquistar a liberdade de estudar a partir do ensino médio, foi com muita conversa, bons argumentos, sem rebeldia. Mostrando a eles todo o benefício de eu dar continuidade aos estudos.

Fiz Letras com esse voto de confiança. Contudo, um dia eu a quebrei quando me envolvi com um garoto em Miami. Ele não pertencia a nossa cultura. Meu pai descobriu por causa das mensagens no celular.

Allah! Eu vivi um inferno na terra.

Ele tirou meu celular e trancou-me dentro de casa. Seus sermões me perseguem desde então, me lembrando sempre como a mescla com outras culturas interfere em nossos valores espirituais e morais.

Para conseguir fazer esse curso, Allah! Tive que usar de muitos argumentos. Promessas de bom comportamento e justificativas sem fim. Mas o melhor argumento que usei, foi mostrar a eles que eu poderia trabalhar em casa como escritora, revisora de texto ou para algum site. Pois sei que trabalhar fora, não é algo que meu pai permitiria. A função dos pais libaneses é criar suas filhas para se casarem e não para sermos bem-sucedidas profissionalmente. Esse direito só seria dado por nossos maridos, caso no futuro eles concordassem com isso.

Embora meu pai seja tido como liberal por meus tios e tias, que são extremamente rígidos, eu bem sei que ele está longe disso.

Por causa da descoberta do meu namorico com Liam, eu não tenho mais celular. Vou de casa para o curso e do curso para casa. Só saio acompanhada por eles.

Minhas amigas não tinham ideia das imposições que garotas libanesas respeitam. Uma delas é de não se envolver com os homens de outra cultura. Contestar isso. Fazer ao contrário. É o mesmo que ir contra a Allah.

Casar-me com os de fora significa assimilar sua cultura e isso meus pais não admitiriam. Isso significa errar o alvo que Allah estabeleceu para as nossas vidas. Em outras palavras, é pecado.

Acredito até que foi por minha causa que papai pediu transferência. Saiu de um lugar cheio de tentações, com suas belas praias e surfistas sarados e veio para Arizona, uma cidade quase no meio do nada. Ela fica a oeste do país, na Região dos Estados das Montanhas Rochosas.

Lugar que predomina a agricultura e pequenos comércios. Ou seja, uma cidade inofensiva.

De vez em quando eu observava meu pai e minha mãe cochichando pelos cantos. Isso me preocupava. Eu sempre me perguntava se eles já estavam armando um casamento para mim.

A expressão dura de Zafir quando me viu em frente à janela o espionando, surge na minha frente.

Com certeza eu dormirei mal essa noite, preocupada com isso.

E o pior! Amanhã, eu terei que enfrentá-lo.

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