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O café-da-manhã com meus pais foi um evento silencioso

O café-da-manhã com meus pais foi um evento silencioso, não conversávamos à mesa por causa das tradições.

Crescer em uma família libanesa é diferente, mas não tão diferente de outros grupos étnicos. Não faltam costumes e referências próprias. Temos expressões típicas curiosas, amigáveis.

Ah! E diálogos em família que mais parecem brigas. Mas não são! A gente se ama muito!

Temos muitos pratos típicos, bebidas e doces, muitos doces.

Kibe cru ou assado são nossos pratos favoritos.

Alho e cebola crus, comemos direto misturado a comida e isso é considerado normal.

Toda refeição nos finais de semana tem uma travessa de vegetais crus como aperitivo. É... Acho que a gente gosta muito de comidas crua.

Ahh! E hortelã? Não pode faltar!

Nossas comidas são: Shawarma, homus, Falafel. E toda uma variedade de receitas com grão-de-bico. Isso sem mencionar os doces... E não podemos esquecer do nosso "talher", o pão pita.

Chá de ervas e canela...

E se rolar briga, nada que um golinho de Arak não resolva! Ou que tal café árabe? Ele é bem forte, encorpado.

Jallab não pode faltar para as crianças.

Vai cumprimentar alguém?

Marhaba, que é o nosso oi, olá.

Ah, e não esqueça dos três beijos nas bochechas. Principalmente se você for homem! Além dos presentes, claro!

Ah! Não precisa ser aniversário de ninguém para dar presentes. Aliás, nem temos isso. Não comemoramos aniversários.

As conversas de família parecem brigas...ah, isso já falei.

Fez algo de errado?

HaraBiChueba!

Que significa "Tem bosta no seu bigode".

Temos nossos próprios "Ídolos Pop" como: Rabih Gemayel- Ahlik ma badoun yani e "Divas" como a cantora Fairuz.

Quando crianças temos muitas histórias infantis contadas antes de dormir.

Acima de tudo: Nunca! NUNCA! NUNCA! Chame um libanês de "Turco".

Fitei minha adorada família.

Zenaide, minha mamãe, com seus cinquenta anos, lindos olhos verdes, cabelos castanhos com alguns fios brancos.

Omar, meu pai, cinquenta e sete anos, cabelos grisalhos, alto e tem cor de escritório, bem branco. Ele é Controller na Alphacon.

Yasmin, minha irmãzinha de nove anos, com seu lindo uniforme da escola libanesa que ela frequenta.

Meu pai adoraria ter tido um filho. Um homem na família. Está na nossa cultura o desejo do sobrenome perpetuar as gerações seguintes. Mas infelizmente para papai e felizmente para mim, mamãe não pôde ter mais filhos por complicações no parto.

Ele acabou se conformando, já que seu irmão mais velho, tio Amir, teve um filho. Meu adorado primo Hassan. E assim, garantindo perpetuação do nosso sobrenome nas gerações seguintes, não extinguindo nosso clã.

Meu pai olha o relógio e se levanta da almofada.

—Vamos, Yasmin. Está na nossa hora. —Ele fala, sério.

Ele a leva todos os dias para a escola. Mamãe não dirigi.

Minha irmã, com expressão animada, sai correndo da sala em direção a garagem. Papai me beija na testa e depois as faces de mamãe. Pega sua pasta e sai.

Ele não me parece bem. Tenho o observado com o semblante carregado há uma semana.

Ele está triste?

Preocupado?

A cena se repete. Papai distribuindo beijos carinhosos. E Yasmin afobada, correndo em direção ao carro, sem se despedir. Parece aqueles cachorros que ficam felizes quando veem a coleira pois sabem que irão passear.

O que não se encaixa é essa carranca que papai tem exibido no rosto ultimamente.

Deve ser preocupações com seu novo trabalho.

Suspiro.

Eu, graças a Allah, tenho meu próprio automóvel. Isso é um milagre depois de ter quebrado sua confiança.

Na minha cultura é difícil uma filha ter essa liberdade. Pais mais rigorosos não permitiriam. Mas isso tem uma explicação. Tirando nossa liberdade de ir e vir, eles conseguem controlar seus filhos com mais facilidade.

Graças a Allah meu pai não colocou grandes empecilhos quando eu pedi para dirigir. Claro que ele concordou mediante a promessa de eu cumprir o horário e não sair do meu itinerário.

Bem, não posso reclamar. Nossa cultura é milenar, difícil ir contra isso. Minhas primas, por exemplo, só fizeram até o colegial e já estão sendo preparadas para se casar. Seguindo os passos de minhas tias, avós, tataravós.

Mas mesmo com a liberação para estudar e dirigir, sou diferente das mulheres que circulam no campus da universidade, onde faço esse curso. Eu me visto diferente da maioria delas. Não uso nada justo. Tudo muito recatado. Calças, só com batas ou algo que cubra meu bumbum.

Hoje, por exemplo, estou vestida com um jeans claro e um camisão preto de mangas compridas. Embora eu prefira meus vestidos e Kaftans. Mas usá-los significa me destacar entre minhas colegas. E uma coisa que não gosto é chamar a atenção.

Se bem que eu tenho observado as mulheres no campus da Universidade Arizona, a qual faço o curso. Algumas se vestem como eu. Pela primeira vez na minha vida universitária não me sinto uma estranha no ninho.

O que explicaria esse comportamento?

Talvez isso se dê ao fato de eu estar vivendo numa cidade do interior e não na Flórida. Onde as garotas cultuam mais o corpo do que o intelecto e adoram andar seminuas para atrair os garotões sarados.

Já fui por muito tempo alvo de fofocas. Garotos mexendo comigo o tempo todo. Na minha vida acadêmica, os olhares curiosos, tanto de homens como mulheres, sempre me perseguiram. Mas isso até eles se acostumarem comigo. Eu era tida como a esquisitona. Muitas vezes me senti como uma verdadeira ET.

Pensando bem, acho que por isso me apeguei tanto a Liam, ele sempre me olhou de igual para igual.

Tomo um gole de café, ainda pensativa.

Quase desisti de estudar por causa das perseguições. Mas graças a Allah, insisti. Hoje sou formada em Letras e faço há trinta dias esse curso de escrita criativa.

E... sete que vigio meu professor! Meu coração se agita no peito ao pensar nisso.

Quase engasgo com o quibe. Lanço um olhar para o meu relógio de ouro e me levanto apressada.

Allah! Não quero chegar tarde!

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