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É a primeira vez que o vejo tão vulnerável.

Ele me inibia tanto, que eu me fechava. Passava até uma imagem de pessoa desligada. Mas só impressão, pois eu estava muito ligada. De olhos fechados eu podia sentir onde todos os seus movimentos na sala.

Bem, voltando ao meu raciocínio anterior. Todo aquele ânimo da mulherada, as conversas paralelas dos homens findavam-se quando Zafir se posicionar em frente à sala de aula.

Era assim, ele os encarava e o silêncio reinava.

As aulas são ótimas. Cheias de humor, pausas súbitas para provocar um efeito de suspense, bem teatral. A sala se diverte muito com suas tiradas de efeito. Sua postura, no entanto, não é relaxada. Ninguém tira onda com ele. Sua linguagem corporal impõe respeito.

Ah, quando ele dá aquele sorriso frio, é a mesma coisa que um cão rosnar ou uma cascavel acenar com o rabo. Quem estivesse conversando, mexendo no celular ou, de alguma forma, perturbando a aula, quando via aqueles lábios se moverem sem tocar os olhos, parava na hora.

Apago a luz do abajur e dou uma afastada de leve nas cortinas. Quando o vejo em sua janela pensativo me assusto e dou um passo para trás, me escondendo mais nas sombras.

Idiota!

Você está no escuro, ele não consegue te ver. Ri. Respirei fundo, o olhei novamente. Ele está tão distraído, como se aproveitasse a noite. Ele fica lá. Seus olhos passeiam pela minha casa, depois para a rua, para o céu e minutos depois, ele entra.

Cheia de tensão, suspirei. Só então percebi que apertava as minhas mãos com tanta força até quase me ferir com as unhas.

Lembrei-me dos olhos de Zafir quando ele estava na sala de aula, assim, pensativo. Ele não me parece uma pessoa feliz. Havia amargura ali no fundo deles. Até no seu ato de sorrir parece haver dor, talvez ressentimento.

Não sei.

Talvez isso fosse apenas frutos da minha imaginação fértil ou uma falsa impressão.

Paro de pensar nisso e volto a acender a luz do abajur. Pego o caderno e olho o título.

Oficina de Escrita Criativa.

Dou um suspiro quando me vem um poema que eu li esses dias:

“Palavras não são apenas um amontoado de letras que se juntam em concordância formando significados e significantes. Palavras são sentimentos em forma física de expressão que podem servir tanto como uma ponte quanto como um abismo.”

Afasto os pensamentos que a romântica incurável desperta em mim e começo a ler o livro.

Eu estava estudando ainda, quando ouvi meus pais chegarem. Antes de Yasmin me importunar com sua presença no meu quarto, por causa da luz acesa, aperto o interruptor do abajur e fico no escuro.

Claro! Não me deito de imediato, levanto-me para dar uma olhadinha no meu vizinho lindo. Como ele está sentado distraído, afasto bem as cortinas para observá-lo melhor, mas fico com o corpo para trás, tendo o cuidado para manter-me oculta nas sombras.

Seu quarto está pouco iluminado, a única luz provém do abajur. Eu o avisto. Ele está sentado em sua cama, a cabeça baixa, segurando algo nas mãos, acho que é uma foto. Eu sei que é que era algo que lhe traz angústia pela expressão carregada dele. Ele então passa a mão nos olhos com raiva.

Ele está chorando? Eu me pergunto.

Meu coração se aperta no peito. Fico estática na janela, como que em choque. É a primeira vez que o vejo tão vulnerável.

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