Jhuan
Consegui me livrar de seu agarre e me virei, dando-lhe um tapa na cara.
— Seu ordinário! Você convidou homens de fora para assistirem meu show de Natal, que era só para os funcionários. Quanto cobrou, heim?
— Calma, gatinha. — Se aproximou, querendo me tocar e dei-lhe outro tapa na cara. — Sua mão parece gostar muito do meu rosto. — Falou, passando a mão no lugar do tapa.
O desgraçado nem se incomodou com o meu tapa, sorrindo olhou para mim e ainda teve coragem de se dizer meu namorado.
— Eu sei que você me bate por que gosta de mim, sou seu namorado, aceito tudo o que você me der.
— Para com isso, Jhuan, não sou nada sua e você ainda não respondeu a pergunta que fiz. — Falei séria e aborrecida com ele.
— Tá bom, tá bom. Vendi alguns convites sim e você fez juz ao preço que cobrei, mas o pessoal reclamou de você não ter mostrado tudo e até queriam o dinheiro de volta.
— Então é isso, seu safado! Por isso os homens estão atrás de mim na rua?
— Sério? Me diz quem são que dou um jeito nisso. — Falou ele, finalmente levando o assunto a sério.
— Não interessa mais, cadê minha parte do dinheiro? — Estendi a mão pra receber.
— Poxa, gata, eu precisava do dinheiro para pagar o Pascoal, já que você não quis dar pra ele. — Nem terminou de falar e dei mais um tapa, só que do outro lado.
— Virou meu cafetão, foi?
Ele não esperou mais me agarrou pelos braços e com sua boca, quase engoliu a minha com um beijo devorador, cheio de paixão e necessidade que me deixou toda arrepiada. Comprimindo seu peitoral em meus mamilos, eles arrepiaram e todo o meu corpo tremeu.
Sem me dar conta, comecei a corresponder, sempre gostei de um homem bruto, que me jogue na parede e me chame de largaticha, no final, toda essa confusão está me tirando o atraso. O beijo estava muito bom, as mãos dele em meu corpo também, mas quando ele começou a tirar a minha roupa, despertei do transe e o empurrei.
— Safado, sai daqui, Jhuan.
— Puxa, gata. A gente tem uma pegada tão boa, fica comigo, vai. — Até parecia um docinho de namorado, só que não, agiu como cafetão, empresário do meu corpo, sem nem me falar.
— Fora, Jhuan! Você me tratou como mercadoria e agora quer saborear o produto. Vai pro caralho que te parta! Fora da minha casa. — Terminei quase gritando e finalmente ele saiu, mas antes, olhou em volta e depois para mim, com um olhar pensativo e saiu.
Tenho certeza que alguma coisa esse idiota irá aprontar. Ele nunca fica satisfeito quando a última palavra não é a dele e provavelmente irá tentar me subornar ou chantagear ou comprar, de alguma forma. Vou prestar atenção, daqui pra frente para não cair nas armadilhas dele.
Termino de guardar tudo e finalmente consigo tomar um banho e comer alguma coisa. Abro a página da internet e calculo tudo que faturei no dia. Tirando os que pagaram com dinheiro vivo, a conta no banco está bem gorda e depositando o que ainda tenho em mãos, já dá para fazer as compras do material pela internet.
O proprietário do imóvel tinha ficado com a cópia da chave para fazer a reforma e logo pela manhã me informou que já havia começado e que levaria uns dois dias para terminar. Também me informou que com a obra completa eu poderia pedir a liberação dos bombeiros para funcionamento, pois eles fariam uma fiscalização no local e só então liberariam a loja para funcionamento.
Essa notícia foi mais uma bomba do que uma ajuda, pois eu não fazia ideia de que precisaria de fiscalização dos bombeiros para liberar o local. Isso me fez lembrar também do alvará de funcionamento. Entrei novamente na internet e busquei informações e descobri que depois de registrar e conseguir o alvará de funcionamento, com a documentação em ordem, consigo a liberação para funcionar.
Preciso de um contador e terei mais gastos com a documentação. Lembrei do contador do Jhuan e liguei para o Jorge, perguntando o número dele. Com o número, liguei para ele e marquei um horário para o dia seguinte. Reuni tudo o que tinha e coloquei em uma pasta do meu office, em nome da acadêmia, claro que ela levaria o meu nome, pois era meu carro chefe.
Meu projeto incluía uma vitrine com todos os meus troféus e medalhas, com algumas fotos também, logo na entrada. Com tudo planejado para o dia seguinte, vou finalmente me deitar, faço uma oração breve, como minha mãe me ensinou a sempre agradecer a Deus as bênçãos recebidas e durmo feliz.
**
Acordei me sentindo muito bem e fui tomar o meu café, depois de fazer a minha higiene e me vestir. A surpresa foi quando abri a porta e confirmei que realmente Jhuan havia aprontado alguma coisa. Lá estava ele parado, acompanhado de algumas pessoas, esperando.
Todos vieram comprar o que sobrara de ontem e assim, completei a venda de tudo que queria. Jhuan aproveitou para se insinuar novamente.
— Viu como sou bom para você, Lumi? Que tal um beijinho de bom dia, gatinha? — Veio todo se chegando.
— Não lhe pedi nada, não lhe devo nada e larga de ser FDP, seu safado do caralho! Vá embora, que tenho muito que fazer. — Ele me olhou irritado, mas não desistiu.
Me agarrou de surpresa, como no dia de ontem e me beijou a força, só que dessa vez, encontrou meus lábios bem serrados e meu punho fechado, direto no seu pingolim. Se afastou, agachado e segurando suas partes, gemendo de dor. Só então ele saiu.
Algumas pessoas vieram buscar o que compraram pela internet e logo em seguida saí para encontrar com o contador. Ele me passou seu preço, que paguei e dei-lhe os documentos necessários. Saí fali e fui ao banco, fiz o depósito e verifiquei que o dinheiro prometido pelo gerente, já estava na conta.
Fui até ele que me recebeu com um sorriso glorioso e me deu um contrato para assinar, li rapidamente e percebi que era bem simples e estava tudo certo, assinei e fui embora.
Andei um pouco pela cidade e fui até o local da loja, procurando algum local para morar. Haviam vários imóveis, mas eram maiores do que eu queria. Não procurei nenhuma imobiliária, pois pretendia que fosse algo mais informal, do tipo, pagou/morou, sem contrato com fiador ou depósito.
Fui conversando e perguntando e alguem me indicou uma vila de quitinetes onde acabara de vagar uma, não era tão perto da academia, mas passava ônibus próximo, que me levaria até lá em cinco minutos.
Aluguei.
Não era novinho, nem muito bonito, mas a vizinhança era tranquila, tinha comércio próximo e cabia no meu orçamento, fiquei satisfeita. Ali mesmo contratei uma kombi de frete e seguimos para a casa onde morei durante muitos anos com a minha mãe. Rapidamente arrumei tudo e o motorista com o ajudante, colocaram tudo na carroceria.
Verifiquei se estava tudo em ordem, fechei a casa e fui para meu novo endereço, sem dar satisfação a ninguém. Quem sabe assim, pararia de receber visitas indesejadas.
Foi bem cansativo, já era noite quando finalmente terminei de arrumar tudo e sentei. Como era só uma kitinete, havia minha cama de solteira, o guarda roupas e uma escrivaninha com meus papéis da academia, o computador e uma impressora.
Na cozinha tinham o fogão e a geladeira, que eram essenciais. Um armário de parede com os utensílios e alguns mantimentos. O bom é que já havia um armário sob a pia que ajudou a guardar o restante que não coube no armário. Graças a Deus, coube também uma mesinha de parede, flexível e o meu banquinho de madeira.
Pronto! Nova casa, novo trabalho, nova vida.