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Capítulo 7

- E, nesse ritmo, não sairei de lá. - respondeu ela com veneno.

Havia tanta tensão no ar que seus corpos, em vez de se aproximarem como de costume, se afastaram um do outro por causa da força oposta de suas almas hostis. Eles se encaravam e o veneno era tão espesso em suas bocas que, por alguns momentos, ambos tiveram o bom senso de permanecer em silêncio, para não deixar escapar palavras das quais se arrependeriam mais tarde.

Marco se recusou obstinadamente a ceder; ele nunca teria sido capaz de fazer isso naquela ocasião. Ele entendeu imediatamente onde eu queria chegar, mas eu nunca lhe daria um desconto.

Estava escrito nos olhos, sedimentado na língua, estava até bem gravado entre o não dito, a acusação que pairava no ar e, talvez apenas por covardia, ainda não havia chegado aos seus ouvidos.

- Vá em frente, diga! Não se contenha! Você diz que a culpa é minha, você diz que sou eu quem o atrapalha em tudo! - ele gritou com raiva.

Alessandra não conseguiu conter as lágrimas. Ela levou a mão ao rosto e esfregou a pele com a palma, enquanto se rendia lentamente à inexorabilidade dos eventos que haviam trazido negatividade para sua vida.

- Gostaria de lhe dizer que esse não é o caso. - a garota arrastou as palavras com uma voz sufocada.

- Então pare de me culpar! A culpa não é minha! - gritou Marco, com toda a voz que tinha em seu corpo, esperando que ela chegasse em alto e bom som.

Alessandra olhou para ele com pesar, e em seus olhos verdes havia uma clara percepção de que dizer o contrário não seria verdade.

- Eu disse que gostaria - ela disse tão fria quanto gelo - Mas a verdade é que não importa o quanto eu tente me convencer do contrário, não consigo deixar de pensar que a culpa é sua - não consigo deixar de pensar que a culpa é sua.

Foi nesse momento que Marco sentiu claramente a dor. Tão aguda quanto uma punhalada no peito, tão fina quanto a picada de uma agulha, tão devastadora quanto um tiro no coração.

Ele deu um passo para trás e, embora sua expressão ainda estivesse rígida de orgulho, o azul de suas íris era um oceano de sofrimento.

Ele lhe deu um último olhar demorado, depois girou sobre os calcanhares e se dirigiu ao quarto, mas antes que ela desaparecesse de vista, o som de chaves chegou aos seus ouvidos.

Ele se virou atordoado e, quando viu Alessandra calçando os sapatos e pegando a bolsa, tremeu, inquieto.

- Para onde você está indo?

- Para a minha casa", respondeu ela, no tom mais suave, "desculpe, mas preciso ficar sozinha por um tempo.

Quando o som da porta se fechando ecoou pela sala, Marco sentiu o chão mudar sob seus pés.

Ele, sozinho naquela casa, envolto em um silêncio incomum.

E um primeiro sinal de medo no coração.

***

Quando Flaminia voltou para casa, ela não esperava encontrar Alessandra em sua cama.

Ela parou na porta do quarto, imóvel ao ver a amiga sentada de pernas cruzadas no colchão, com os olhos vermelhos de lágrimas e o travesseiro nos braços.

- Ale! - ele gritou de surpresa.

Alessandra olhou em seus olhos e então respirou fundo para conter os espasmos.

- Posso dormir com você? - ele murmurou docilmente.

Flaminia revirou os olhos e assentiu. Esse era um de seus rituais: dormir juntos quando um deles estava doente, quando a presença do outro era necessária para alegrar a tristeza.

Cabeça a cabeça, ombro a ombro, sem conversa.

O mais incrível é que ambos estavam tristes naquele momento.

Flaminia vestiu o pijama e foi para o lado dele.

- Quer me contar o que aconteceu? - ele murmurou com um sorriso encorajador.

Alessandra suspirou.

- Discuti mal com o Marco", respondeu ela sem voz, "fui má com ele.

Flaminia ergueu uma sobrancelha e a convidou a continuar, mas Alessandra, pensando novamente em sua exclusão da investigação e nas palavras de Castiello, sentiu o ar desmaiar novamente.

- Prefiro não falar sobre isso agora.

Flaminia assentiu com simpatia e encostou a cabeça no ombro dele.

- Como você está?

Flaminia sorriu amargamente e colocou a mão no coração.

- Eu conheci o Francesco.

Alessandra se enrijeceu instantaneamente e se virou rapidamente para olhar para ela.

- O que, aquele Francesco?! ela gritou em choque.

- Sim, Ale, meu ex-traidor, meu primeiro namorado, minha primeira vez, o único que amei antes de Luca", ela gemeu, colocando uma mão na testa.

Alessandra ficou surpresa, como isso era possível? Ela sabia que Francesco morava em outra cidade e nunca imaginou que um dia ouviria seu nome novamente.

- Mas como isso é possível?

- Ale, prefiro não falar sobre isso agora.

Alessandra olhou em seus olhos e viu como ela estava chateada.

Após o rompimento com Francesco, Flaminia se refugiou em Nápoles e cortou todos os laços com sua antiga vida. Ela havia começado tudo de novo, mas bastava vê-lo novamente para sentir as cicatrizes se reabrirem com um corte violento.

Alessandra atendeu ao pedido dele e se deitou ao seu lado novamente, enquanto ambos olhavam para o teto.

Houve dois desastres.

No entanto, em meio a toda essa imprevisibilidade e incerteza, havia a certeza de que sempre haveria dois.

- Senti muito a sua falta.

- Você também.

Eles permaneceram nessa posição a noite toda. Em silêncio, observando seus pensamentos, mas com a cabeça apoiada em um ombro amigo.

E Alessandra com a consciência em seu coração: ela nunca teria aceitado essa condição.

- Flaminia, querida, pelo menos uma vez, só uma vez, só uma vez, você pode me fazer fazer algo legal sem me fazer suar! Eu já levei um tapa na cara, não me faça aguentar as reclamações sobre as olheiras! - implorou ela, gemendo - Não se preocupe, vamos a um pub, nada formal! -

Flaminia murmurou uma espécie de reclamação, mas quando encontrou o olhar eloquente do namorado, foi forçada a desistir. Ela assentiu com a cabeça e somente quando Luca teve certeza de que ela não daria margem a mais brincadeiras, ela soltou a boca.

A garota ainda teria preferido ir para casa retocar a maquiagem, ou pelo menos enxaguá-la, mas Luca não parecia totalmente disposto a lhe dar essa oportunidade; ele disse que as mulheres não eram confiáveis quando tinham que se arrumar, que cinco minutos se transformavam em horas e que ele nem pensava em ser um idiota esperando no carro. Assim, ele galantemente a tirou da mochila e a levou até o Alfa Mito estacionado ali perto.

Flaminia se sentiu menos constrangida quando entraram no pub escolhido por Luca, pelo menos ele havia mantido a promessa de não fazê-la se sentir inadequada em um daqueles restaurantes chiques que ele preferia.

O lugar era no puro estilo de pub irlandês, com mesas e bancos de madeira e paredes com placas de Guinness, mas ele o achou muito aconchegante com aquela luz suave e o cheiro de carne fazendo cócegas em suas narinas.

Ela não era muito fã de comida, como Alessandra, que também devorava seu prato, mas adorava comer aqueles saborosos sanduíches de hambúrguer, do tipo tão grande e alto que você não sabia por onde começar. Ela certamente não podia dizer o mesmo de Luca, que, sem nenhum controle, já havia pedido metade do cardápio.

- Mas como você come todas essas coisas? - perguntou ela, incrédula.

- Tenho quase 1,80 m de altura e vou à academia todos os dias. Meu corpo precisa de calorias. - respondeu ele com um encolher de ombros.

- Sim, mas você tem quase trinta e três anos, não pode mais comer tanto! Seu colesterol aumentará e você correrá mais risco de sofrer doenças cardiovasculares ou, pior ainda, um ataque cardíaco. Só por uma coisa, ei! -

Luca, que nesse meio tempo estava colocando uma batata frita na boca, parou e olhou para Flaminia com irritação.

- Boneca, você sabe que eu a acho adorável quando se mostra apreensiva, mas não seja chata! -

Flaminia estava prestes a responder da mesma forma, quando uma voz que ela nunca imaginou que ouviria novamente se interpôs entre elas.

- Flaminia! -

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