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Capítulo 6

Era quase hora do jantar quando Marco voltou para casa e finalmente pôde desfrutar de um pouco de relaxamento sacrossanto. Ele tirou o paletó e afrouxou o nó da gravata, suspirando de alívio enquanto corria para a cozinha.

Um sorriso divertido se formou em seu rosto quando ele se viu diante da figura de Alessandra tentando preparar o jantar, seguindo passo a passo as instruções do folheto de receitas.

Ele se aproximou dela por trás com um passo suave e, quando estava atrás dela, correu até seu pescoço para apimentá-lo com beijos.

- Oi, bebê! -

Alessandra se levantou e, com uma torção do pescoço, afastou os lábios de Marco de sua pele. A moça murmurou um cumprimento calmo e frio e, evitando o olhar do homem, voltou a preparar as vieiras.

Ela não era boa em fingir, nem mesmo tentava, mas depois do que havia acontecido naquele dia, ela não podia aceitar de bom grado a presença de Marco ao seu lado.

Talvez, em seu coração, ela soubesse que estava fazendo algo errado, que o estava punindo por algo que não era culpa dele, mas a raiva e a frustração eram tão vívidas que obscureceram até o último resquício de racionalidade nela.

Ferraro franziu a testa e, confuso com a atitude tímida dela, procurou seu olhar, mas não o encontrou.

O advogado percebeu imediatamente que havia algo errado, mas foi a expressão dela que o perturbou mais do que o necessário. Nem mesmo nos piores dias, nem mesmo durante seu ciclo menstrual, durante o qual ela assumiu, com razão, o título de vítima favorita das explosões histéricas dele, ela o afastou daquela maneira.

Somente em um caso ela se comportou dessa maneira: quando estava com raiva dele. E ela deve ter feito muita coisa para receber esse tipo de tratamento.

- Alessandra, você está bem? -

A garota nem mesmo se virou para olhá-lo e deu de ombros.

- No entanto. -

- Acho que não. -

Alessandra não respondeu; ela tirou os pratos do armário e os bateu no mármore com mais força do que o necessário.

- Ele está quase pronto. -

Marco revirou os olhos e gradualmente sentiu sua irritação aumentar. Ele estava cansado a essa hora da noite e, embora estivesse motivado pela necessidade de entender o que estava acontecendo, simplesmente não tinha forças para se entregar a esses jogos infantis.

- Quer parar de me ignorar e me dizer o que há de errado com você? - ele se irritou.

- Estou preparando o jantar. - respondeu ela laconicamente.

- Não quero saber de jantar. Vire-se e fale comigo.

Alessandra se virou com relutância e, quando Marco finalmente vislumbrou suas íris verdes, ficou petrificado.

Seus olhos estavam vermelhos por causa do choro e o verde opaco do ressentimento o destruía.

Os dias em que ele sentiu aquele olhar de raiva e desprezo direcionado a ele agora são coisa do passado e a lembrança, embora distante, daqueles momentos o assombrou e, ao mesmo tempo, o deixou confuso.

Não houve um único momento em que ele a tenha desrespeitado, depois de todo o sofrimento que lhe causou. Quando ele se entregou à vontade do coração dela, além da redenção, ele fez uma promessa a si mesmo: Alessandra nunca mais sofreria por causa dele.

- Alessandra...- ele tentou novamente, dessa vez mais suave -...por favor, diga-me o que está errado!

Alessandra olhou para baixo, depois apoiou os cotovelos no balcão e se encostou nele.

- O caso Malvani tem algum significado para você? -

Marco endireitou os ombros e a olhou com cautela.

- Sim, o advogado Costanzo e eu somos seus defensores.

A garota deu um sorriso indecifrável e finalmente o olhou nos olhos.

- Você sabia que as investigações estão nas mãos de Castiello? - ela o pressionou com um tom de acusação.

- Sim, eu sabia disso. O aviso de garantia chegou há três dias", respondeu Marco, na defensiva.

Alessandra levou a mão à testa e riu histericamente.

- Ah, que bom, então você sabia! Quer saber de algo que não sabe? A abaixo-assinada foi excluída das investigações por ser estagiária e namorada de um dos defensores! Fui proibida de acessar o processo, sob pena de exclusão do estágio - gritou ela, tremendo de raiva!

Marco ficou instantaneamente petrificado e não conseguiu dizer uma palavra. Sua voz ficou presa na garganta, engolida por várias camadas de perplexidade e amargura.

- Oh, desculpe", murmurou ele, pego de surpresa.

- Sim, eu também", respondeu Alessandra com frieza.

A garota deu as costas para suas tarefas e Marco sentiu seu coração bater mais forte.

Ela o estava excluindo. E nunca o fez.

- Ale, eu sei que você está com raiva, mas eu não -

- Não, Marco, você não tem", ela o atacou, apontando o dedo para ele, "Você não pode imaginar quantos! Problemas que tive desde que me formei e tudo por causa do nosso relacionamento!

Alessandra agora estava fora de si! Ela estava irreconhecível, com aquele ar frio e suas feições distorcidas pelo ódio. Ela, tão forte, tão positiva, tão boa e genuína, estava deixando que a adversidade a dominasse, transformando-a.

Ele levou a mão ao cabelo em sinal de irritação e, ciente de que havia chegado ao limite de toda resistência, foi para a sala de estar.

Marco levou um momento para entender o que estava acontecendo, mas depois acordou e a seguiu.

Ele queria entendê-la, realmente queria, queria apoiá-la, mas como poderia fazer isso se ela não o deixava?

- Você pode parar e conversar? - ele ordenou por trás em um tom severo.

Alessandra se virou de repente e, com o rosto vermelho, ficou a centímetros de distância do rosto dele.

- Você quer conversar? - ele rosnou por entre os dentes - E qual seria o objetivo? No curso eles me dão uma recomendação porque estou transando com o assistente criminal mais babaca de Frederick II, no estágio eles me excluem de investigações importantes porque estou transando com um dos defensores dos réus e, enquanto isso, sou eu que levo uma surra! -

Foi nesse momento que Marco sentiu um clique dentro de si, e não foi nada positivo. Ele entendia a raiva, mas, no fundo, esperava, talvez ingenuamente, que Alessandra estivesse desabafando sua frustração com o mundo. Não era fácil encarar a vida real, aquela que não era marcada por livros e exames universitários, aquela que era cheia de malícia e injustiça. Marco sabia que Alessandra estava se sentindo desorientada, afinal de contas, ele havia sentido o mesmo. Mas esse era exatamente o momento em que você era chamado para mostrar suas qualidades de guerreiro, o vencedor.

Era um pouco como estar em um trecho de areia banhado pelo mar aberto em um dia de abril: seus pés na praia, uma onda que nasce e morre em um piscar de olhos e a água gelada batendo contra sua pele. com arrogância. Lá você escolhe quem quer ser. Aquele que foge em um tremor convulsivo ou aquele que corre e se joga no mar imenso.

Então, sim, ele sabia o que significava deixar a universidade e mergulhar em um mar de tubarões. O que ele não esperava era que ela, dentre todos os inimigos, tivesse escolhido fazer guerra contra ele.

- Quando você decidiu ficar comigo, sabia no que estava se metendo. Nós dois tivemos que arcar com os custos. - disse ele severamente, cruzando os braços sobre o peito.

- Eu sei, droga! E eu te amo do fundo do meu coração, mas eu estou doente, Marco! Você entende, eu estou doente! - disse Alessandra, abrindo os braços em sinal de frustração.

Ela se afundou no sofá e levou as mãos aos cabelos para torturá-los com o mesmo sofrimento que pesava em seu coração. As lágrimas começaram a se formar nos cantos de seus olhos e havia tantas coisas que ela queria cuspir que se misturaram com o nó de saliva que se alojou em sua garganta, sufocando-a.

Marco permaneceu impassível olhando para ela, dominado por uma miríade de sensações conflitantes. Por um lado, o desejo de abraçá-la e acariciá-la, nem que fosse para aliviar seu desconforto; por outro, a raiva de se sentir ridicularizado por algo que não era culpa dela.

- Você sabe o que Castiello me disse? - Alessandra murmurou baixinho, fungando.

Marco levantou o queixo e esperou.

- Que provavelmente não será um caso isolado, que nosso relacionamento também pode criar problemas no futuro. Ele me aconselhou a mudar para o civil, onde esses problemas certamente não surgirão. -

- Bem, você sabe que ele está certo. Além disso, seria mais adequado para seus estudos, o estágio no escritório do promotor é muito exigente. - disse Marco telegraficamente.

Alessandra, naquele momento, sentiu como se um balde de água fria tivesse sido jogado em seu rosto. Como Marco não a entendia? Onde ele colocava suas aspirações, suas preferências, seu entusiasmo? Como ele podia pisotear tudo o que lhe era caro com uma simples e indiferente frase de conveniência?

- Como você pode dizer uma coisa dessas para mim? - ele sibilou, tremendo de raiva - Você sabe o quanto eu me importo com este estágio! -

- E eu não me importo com isso, mas no momento da aceitação você sabia dos riscos que enfrentaria, então agora só pode culpar a si mesmo. - Marco respondeu severamente.

- É fácil para você falar, não foi você que ficou de fora! Eu gostaria de ver você com o rosto vermelho de vergonha, sendo excluído de uma enorme investigação de corrupção que o culpa por um maldito roubo! - Alessandra gritou, levantando-se.

Marco estava no fim do seu limite, na verdade, talvez já o tivesse ultrapassado. Ele cerrou a mandíbula e, eliminando qualquer distância, posicionou-se na frente dela, elevando-se sobre ela com toda a sua altura.

- Alessandra, sou advogado. Trabalhei duro por dez anos para estar onde estou agora. Trabalhei duro sem dizer uma palavra, aceitando todas as dificuldades que surgiram. Não se atreva a me dar lições, você está apenas começando! - ele a acusou com desdém.

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