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Capítulo 5

Alessandra olhou em seus olhos e então respirou fundo para conter os espasmos.

- Posso dormir com você? - ele murmurou docilmente.

Flaminia revirou os olhos e assentiu com a cabeça. Esse era um de seus rituais: dormir juntos quando um deles estava doente, quando a presença do outro era necessária para alegrar a tristeza.

Cabeça a cabeça, ombro a ombro, sem conversa.

O mais incrível é que ambos estavam tristes naquele momento.

Flaminia vestiu o pijama e foi para o lado dele.

- Quer me contar o que aconteceu? - ele murmurou com um sorriso encorajador.

Alessandra suspirou.

- Discuti mal com o Marco", respondeu ela sem voz, "fui má com ele.

Flaminia ergueu uma sobrancelha e a convidou a continuar, mas Alessandra, pensando novamente em sua exclusão da investigação e nas palavras de Castiello, sentiu o ar desmaiar novamente.

- Prefiro não falar sobre isso agora.

Flaminia assentiu com simpatia e encostou a cabeça no ombro dele.

- Como você está?

Flaminia sorriu amargamente e colocou a mão no coração.

- Eu conheci o Francesco.

Alessandra se enrijeceu instantaneamente e se virou rapidamente para olhar para ela.

- O que, aquele Francesco?! ela gritou em choque.

- Sim, Ale, meu ex-traidor, meu primeiro namorado, minha primeira vez, o único que amei antes de Luca", ela gemeu, colocando uma mão na testa.

Alessandra ficou surpresa, como isso era possível? Ela sabia que Francesco morava em outra cidade e nunca imaginou que um dia ouviria seu nome novamente.

- Mas como isso é possível?

- Ale, prefiro não falar sobre isso agora.

Alessandra olhou em seus olhos e viu como ela estava chateada.

Após o rompimento com Francesco, Flaminia se refugiou em Nápoles e interrompeu sua antiga vida. Ela havia começado tudo de novo, mas bastou vê-lo novamente para sentir as cicatrizes reabrirem com um corte violento.

Alessandra atendeu ao pedido dele e se deitou ao seu lado novamente, enquanto ambos olhavam para o teto.

Houve dois desastres.

No entanto, em meio a toda essa imprevisibilidade e incerteza, havia a certeza de que sempre haveria dois.

- Senti muito a sua falta.

- Você também.

Eles permaneceram nessa posição a noite toda. Em silêncio, observando seus pensamentos, mas com a cabeça apoiada em um ombro amigo.

E Alessandra com a consciência em seu coração: ela nunca teria aceitado essa condição.

Eram nove e meia quando Alessandra entrou no escritório do promotor e, embora já tivessem se passado quase dois meses desde que ela entrou como estagiária, ela ainda estava cheia do mesmo entusiasmo.

Não era difícil para alguém como ela, não era preciso muito para ficar animada, mas saborear a profissão que sempre foi seu sonho era uma fonte inesgotável de incentivo.

Quanto mais ela frequentava esses escritórios, mais se apaixonava por eles, mais vivenciava o papel do promotor e mais ficava impaciente para um dia se tornar um de seus representantes.

Quando entrou na sala do promotor Castiello, ele tinha um largo sorriso no rosto. Cumprimentou calorosamente sua colega estagiária Roberta e sentou-se em seu posto, diante de quilômetros de arquivos, quando, pouco depois, a figura esboçada de seu magistrado designado entrou.

O promotor adjunto Vincenzo Castiello entrou em seu escritório em um ritmo acelerado e, ao encarar suas estagiárias, exibiu um sorriso ensaiado. As feições levemente delineadas e a força excessiva com que ele segurava a grande pasta debaixo do braço revelavam uma preocupação que não escapou ao olhar atento das duas moças.

- Bom dia! -

Seu rosto estava encoberto por olheiras e a expressão cansada de alguém que havia passado a noite trabalhando deu a ambas a sensação de que o caso que ela tinha em mãos era um dos mais quentes. Alessandra e Roberta baixaram a cabeça e se debruçaram sobre a pasta que a magistrada segurava possessivamente pelo braço, em uma tentativa vã de entender do que se tratava.

Vincenzo Castiello, um homem de quarenta e poucos anos com a tenacidade de qualquer promotor, sentiu-se pressionado por seus estagiários e, ao se deparar com os olhares curiosos das duas moças, caiu na gargalhada.

- Mas como estamos impacientes esta manhã! - brincou ele, colocando a pasta sobre a mesa - Aqui, antes que você morda meu braço! -

Alessandra e Roberta riram e olharam uma para a outra com cumplicidade.

- Do que se trata? -

O promotor Castiello tomou um gole de seu café rigorosamente amargo e olhou para as meninas com um sorriso malicioso.

- Oh, grande coisa. - ele murmurou, fibrilando - Uma rede de corrupção por trás da concessão de grandes contratos de obras públicas. -

- Então, subornos. - Alessandra levantou a hipótese, seus olhos se encheram de entusiasmo.

- Exatamente. Uma verdadeira associação criminosa. - Castiello afirmou, caindo como um peso morto em sua poltrona. "No momento, há vinte pessoas sob investigação e são nomes muito importantes no meio napolitano. -

O magistrado colocou os óculos e começou a folhear o arquivo que continha os documentos das investigações realizadas até então, e Alessandra teve que se ajustar várias vezes ao assento para lidar com a batida louca de seu coração que a deixava inquieta.

- Enviamos os avisos de mandado e, em meia hora, devemos estar conduzindo os primeiros interrogatórios. - disse o homem, concentrando-se em sua leitura.

As meninas se entreolharam surpresas e imediatamente se levantaram.

Alessandra ainda não conseguia acreditar que presenciaria seu primeiro interrogatório, e em um caso tão importante como esse! Nos dois primeiros meses de treinamento, o promotor a ensinara a estudar o processo, redigir documentos e formular acusações, mas até então ele nunca a envolvera na fase dinâmica da investigação.

Alessandra não podia esperar mais e, no momento em que estava vestindo o casaco e se dirigindo para a porta, a voz do magistrado veio por trás dela, impedindo-a.

- Espere, Alejandro. -

A garota se virou lentamente. O tom sério do magistrado a tocou como um alarme e, quando seus olhos caíram sobre a figura de Vincenzo Castiello, que, com uma mão na testa, olhava pesarosamente para um maço de papéis, ela sentiu todo o seu entusiasmo anterior se esvair.

- Por favor, venha aqui. -

Alessandra prendeu a respiração e uma forte sensação de desconforto se instalou em seu estômago. Ela deu passos incertos em direção ao promotor e, com as pupilas enlouquecidas pela confusão, procurou os olhos castanhos do homem. Ela fez uma careta ao reconhecer a aura de desagrado que suavizou seu olhar.

O Dr. Castiello suspirou desanimado e lhe entregou o maço de papéis com o selo da chancelaria, pedindo que ela lesse.

Alessandra sentiu uma sensação ruim pairando sobre sua cabeça como uma espada de Dâmocles e, depois de um olhar incerto para o magistrado, pegou os papéis com uma mão trêmula e os examinou.

E ele entendeu imediatamente.

Imediatamente, o nome de Marco Ferraro se destacou claramente entre os defensores dos suspeitos e aquelas letras grandes sancionando sua exclusão do caso queimaram o jornal, queimando-o.

Alessandra foi atacada por um sentimento de desânimo e teve que reunir todas as suas forças para manter o profissionalismo no local que o exigia.

Ele engoliu um bocado de saliva amarga e, com a boca apertada, olhou para Vincenzo Castiello.

- Alessandra... - ele começou com um suspiro -.... Eu realmente gostaria de não ter que fazer isso, mas não tenho outra escolha. Marco Ferraro é seu dominus, além de seu namorado, e como ele é um dos defensores dos suspeitos, surge a incompatibilidade, pois sua presença comprometeria as investigações. Além disso, devo lhe dizer, mesmo que já saiba, que está proibida de acessar o arquivo e que não pode relatar qualquer informação fora deste escritório, sob pena de exclusão do estágio. -

Alessandra abaixou a cabeça e assentiu com a cabeça em sinal de derrota.

Ela tirou o casaco e, com os olhos fixos nos pés, voltou a se sentar em seu posto. Ela não conseguia olhar seu magistrado adotivo, nem seu colega, nos olhos, pois tinha certeza de que a mistura de constrangimento e decepção era evidente demais em suas íris verdes.

O promotor Castiello soltou um suspiro pesado e, com um aceno de cabeça, ordenou que a outra estagiária, Roberta, se preparasse.

- Alessandra, não quero desanimá-la, mas quero avisá-la de que coisas como essa podem acontecer com frequência. -

Os olhos de Alessandra se arregalaram e seu rosto se distorceu de terror.

- A firma Contieri é uma grande firma, uma das mais importantes de Nápoles, e muitas vezes encontramos a equipe de advogados deles como contrapartes, especialmente nessas grandes investigações - disse ele seriamente - Sinto muito em lhe dizer, porque você é bom e motivado, mas talvez devesse ter feito outro estágio, talvez no tribunal civil. Essa coisa de namorado e advogado criminalista dominador, especialmente em um escritório desse calibre, não facilitará sua vida aqui. -

- Desculpe-me", Alessandra murmurou, sem saber exatamente pelo que estava se desculpando. - Alessandra murmurou, sem nem mesmo saber exatamente pelo que estava se desculpando.

O promotor Castiello olhou para ela com pesar. Ele odiava ter que diminuir o entusiasmo de jovens tão apaixonados e motivados.

- Sinto muito mais. - Por outro lado, você escreverá o pedido de acusação para esse caso de roubo. -

Alessandra assentiu e seguiu as figuras que partiam, enquanto Roberta, com uma expressão doce e compassiva, se virou para olhá-la.

- Juro que odeio ir lá sem você. Sinto muito por terem deixado você de fora. -

Alessandra sorriu amargamente e a observou fechar a porta com resignação.

Ele não sabia dizer o que estava sentindo naquele momento: raiva, decepção, frustração.

Sua visão ficou embaçada e uma lágrima rolou pelo seu rosto e acabou como uma gota na tinta do arquivo.

Então, um sussurro fraco, quase inaudível, escapou de seus lábios quando ela ficou sozinha na sala.

- Já me acostumei com isso.

***

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