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Capítulo 4

Alessandra olhou para baixo, depois apoiou os cotovelos no balcão e se encostou nele.

- O caso Malvani tem algum significado para você? -

Marco endireitou os ombros e a olhou com cautela.

- Sim, o advogado Costanzo e eu somos seus defensores.

A garota deu um sorriso indecifrável e finalmente o olhou nos olhos.

- Você sabia que as investigações estão nas mãos de Castiello? - ela o pressionou com um tom de acusação.

- Sim, eu sabia disso. O aviso de garantia chegou há três dias", respondeu Marco, na defensiva.

Alessandra levou a mão à testa e riu histericamente.

- Ah, que bom, então você sabia! Quer saber de algo que não sabe? A abaixo-assinada foi excluída das investigações por ser estagiária e namorada de um dos defensores! Fui proibida de acessar o processo, sob pena de exclusão do estágio - gritou ela, tremendo de raiva!

Marco ficou instantaneamente petrificado e não conseguiu dizer uma palavra. Sua voz ficou presa na garganta, engolida por várias camadas de perplexidade e amargura.

- Oh, desculpe", murmurou ele, pego de surpresa.

- Sim, eu também", respondeu Alessandra com frieza.

A garota deu as costas para suas tarefas e Marco sentiu seu coração bater mais forte.

Ela o estava excluindo. E nunca o fez.

- Ale, eu sei que você está com raiva, mas eu não -

- Não, Marco, você não tem", ela o atacou, apontando o dedo para ele, "Você não pode imaginar quantos! Problemas que tive desde que me formei e tudo por causa do nosso relacionamento!

Alessandra agora estava fora de si! Ela estava irreconhecível, com aquele ar frio e suas feições distorcidas pelo ódio. Ela, tão forte, tão positiva, tão boa e genuína, estava deixando que a adversidade a dominasse, transformando-a.

Ele levou a mão ao cabelo em sinal de irritação e, ciente de que havia chegado ao limite de toda resistência, foi para a sala de estar.

Marco levou um momento para entender o que estava acontecendo, mas depois acordou e a seguiu.

Ele queria entendê-la, queria mesmo, queria lhe dar todo o seu apoio, mas como poderia fazer isso se ela não o deixasse?

- Você pode parar e conversar? - ele ordenou por trás em um tom severo.

Alessandra se virou de repente e, com o rosto vermelho, ficou a centímetros de distância do rosto dele.

- Você quer conversar? - ele rosnou por entre os dentes - E qual seria o objetivo? No curso eles me dão uma recomendação porque estou transando com o assistente criminal mais babaca de Frederick II, no estágio eles me excluem de investigações importantes porque estou transando com um dos defensores dos réus e, enquanto isso, sou eu que levo uma surra! -

Foi nesse momento que Marco sentiu um clique dentro de si, e não foi nada positivo. Ele entendia a raiva, mas, no fundo, esperava, talvez ingenuamente, que Alessandra estivesse desabafando sua frustração com o mundo. Não era fácil encarar a vida real, aquela que não era marcada por livros e exames universitários, aquela que era cheia de malícia e injustiça. Marco sabia que Alessandra estava se sentindo desorientada, afinal de contas, ele havia sentido o mesmo. Mas esse era exatamente o momento em que você era chamado para mostrar suas qualidades de guerreiro, o vencedor.

Era um pouco como estar em um trecho de areia banhado pelo mar aberto em um dia de abril: seus pés na praia, uma onda que nasce e morre em um piscar de olhos e a água gelada batendo contra sua pele. com arrogância. Lá você escolhe quem quer ser. Aquele que foge em um tremor convulsivo ou aquele que corre e se joga no mar imenso.

Então, sim, ele sabia o que significava deixar a universidade e mergulhar em um mar de tubarões. O que ele não esperava era que ela, dentre todos os inimigos, tivesse escolhido fazer guerra contra ele.

- Quando você decidiu ficar comigo, sabia no que estava se metendo. Nós dois tivemos que arcar com os custos. - disse ele severamente, cruzando os braços sobre o peito.

- Eu sei, droga! E eu te amo do fundo do meu coração, mas eu estou doente, Marco! Você entende, eu estou doente! - disse Alessandra, abrindo os braços em sinal de frustração.

Ela se afundou no sofá e levou as mãos aos cabelos para torturá-los com o mesmo sofrimento que pesava em seu coração. As lágrimas começaram a se formar nos cantos de seus olhos e havia tantas coisas que ela queria cuspir que se misturaram com o nó de saliva que se alojou em sua garganta, sufocando-a.

Marco permaneceu impassível olhando para ela, dominado por uma miríade de sensações conflitantes. Por um lado, o desejo de abraçá-la e acariciá-la, nem que fosse para aliviar seu desconforto; por outro, a raiva de se sentir ridicularizado por algo que não era culpa dela.

- Você sabe o que Castiello me disse? - Alessandra murmurou baixinho, fungando.

Marco ergueu o queixo e esperou.

- Que provavelmente não será um caso isolado, que nosso relacionamento também pode criar problemas no futuro. Ele me aconselhou a mudar para o civil, onde esses problemas certamente não surgirão. -

- Bem, você sabe que ele está certo. Além disso, seria mais adequado para seus estudos, o estágio no escritório do promotor é muito exigente. - disse Marco telegraficamente.

Alessandra, naquele momento, sentiu como se um balde de água fria tivesse sido jogado em seu rosto. Como Marco não a entendia? Onde ele colocava suas aspirações, suas preferências, seu entusiasmo? Como ele podia pisotear tudo o que lhe era caro com uma simples e indiferente frase de conveniência?

- Como você pode dizer uma coisa dessas para mim? - ele sibilou, tremendo de raiva - Você sabe o quanto eu me importo com este estágio! -

- E eu não me importo com isso, mas no momento da aceitação você sabia dos riscos que enfrentaria, então agora só pode culpar a si mesmo. - Marco respondeu severamente.

- É fácil para você falar, não é você que fica de fora! Eu gostaria de vê-lo vermelho de vergonha, sendo excluído de uma grande investigação de corrupção que o culpa por um maldito roubo! - Alessandra gritou, levantando-se.

Marco estava no fim do seu limite, na verdade, talvez já o tivesse ultrapassado. Ele cerrou a mandíbula e, eliminando qualquer distância, posicionou-se na frente dela, elevando-se sobre ela com toda a sua altura.

- Alessandra, sou advogado. Trabalhei duro por dez anos para estar onde estou agora. Trabalhei duro sem dizer uma palavra, aceitando todas as dificuldades que surgiram. Não se atreva a me dar lições, você está apenas começando! - ele a acusou com desdém.

- E, nesse ritmo, não sairei de lá. - respondeu ela com veneno.

Havia tanta tensão no ar que seus corpos, em vez de se aproximarem como de costume, se afastaram um do outro por causa da força oposta de suas almas hostis. Eles se encaravam e o veneno era tão espesso em suas bocas que, por alguns momentos, ambos tiveram o bom senso de permanecer em silêncio, para não deixar escapar palavras das quais se arrependeriam mais tarde.

Marco se recusou obstinadamente a ceder; ele nunca teria sido capaz de fazer isso naquela ocasião. Ele entendeu imediatamente onde eu queria chegar, mas eu nunca lhe daria um desconto.

Estava escrito nos olhos, sedimentado na língua, até mesmo gravado no não dito, a acusação que pairava no ar e, talvez apenas por covardia, ainda não havia chegado aos seus ouvidos.

- Vá em frente, diga! Não se contenha! Você diz que a culpa é minha, você diz que sou eu quem o atrapalha em tudo! - ele disse com raiva.

Alessandra não conseguiu conter as lágrimas. Ela levou a mão ao rosto e esfregou a pele com a palma enquanto se rendia lentamente à inexorabilidade dos eventos que haviam trazido negatividade para sua vida.

- Gostaria de lhe dizer que esse não é o caso. - a garota arrastou as palavras com uma voz sufocada.

- Então pare de me culpar! A culpa não é minha! - gritou Marco, com toda a voz que tinha em seu corpo, esperando que ela chegasse em alto e bom som.

Alessandra olhou para ele com pesar, e em seus olhos verdes havia uma clara percepção de que dizer o contrário não seria verdade.

- Eu disse que gostaria", disse ela, fria como gelo, "mas a verdade é que, por mais que eu tente me convencer do contrário, não consigo deixar de pensar que a culpa é sua.

Foi nesse momento que Marco sentiu claramente a dor. Tão aguda quanto uma punhalada no peito, tão fina quanto a picada de uma agulha, tão devastadora quanto um tiro no coração.

Ele deu um passo para trás e, embora sua expressão ainda estivesse rígida de orgulho, o azul de suas íris era um oceano de sofrimento.

Ele lhe deu um último olhar demorado, depois girou sobre os calcanhares e se dirigiu ao quarto, mas antes que ela desaparecesse de vista, o som de chaves chegou aos seus ouvidos.

Ele se virou atordoado e, quando viu Alessandra calçando os sapatos e pegando a bolsa, tremeu, inquieto.

- Para onde você está indo?

- Sinto muito, mas preciso ficar sozinha por um tempo", respondeu ela, no tom mais dócil possível.

Quando o som da porta se fechando ecoou pela sala, Marco sentiu o chão mudar sob seus pés.

Ele, sozinho naquela casa, envolto em um silêncio incomum.

E um primeiro sinal de medo no coração.

***

Quando Flaminia voltou para casa, ela não esperava encontrar Alessandra em sua cama.

Ela parou na porta do quarto, imóvel ao ver a amiga sentada de pernas cruzadas no colchão, com os olhos vermelhos de lágrimas e o travesseiro nos braços.

- Ale! - ele gritou de surpresa.

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