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Capítulo 8

A garota congelou instantaneamente e um arrepio de total desconforto percorreu sua espinha, deixando-a gelada. Ela se virou hesitante e, quando encontrou aquelas íris claras que a haviam assombrado por tanto tempo, temeu sufocar.

- F-Francisco! -

Luca olhou para cima e, quando viu os dois rapazes e, em particular, o rosto pálido de sua namorada, ele se sobressaltou e ficou cauteloso.

Flaminia ficou petrificada. Naquele momento, a jovem de 18 anos sentiu-se traída novamente por seu primeiro e único namorado, aquele que ela tanto amara, aquele que lhe tirara tudo, até mesmo sua virgindade; ela sentiu a garota de temperamento curto voltar, aquela cujas pernas tremiam ao vê-lo, apesar da raiva e da humilhação que sofrera.

Francesco não tirou os olhos dela por um momento e Flaminia quase sentiu a necessidade de se cobrir. Ela não conseguia acreditar que, depois de todo o tempo que se passou desde a traição, a presença dele ainda pudesse fazê-la se sentir tão inadequada. Ela o odiava por isso, mas, acima de tudo, odiava a si mesma por permitir que ele fizesse isso novamente.

O garoto de cabelos castanhos arrojados e olhos claros, aquele que a fez descobrir que tinha um coração e depois o arrancou de seu peito, estava ali na frente dela e a olhava com a arrogância de quem, sabendo que tinha estado ali no passado, estava convencido de que ainda era importante.

- Você está linda. - ele comentou com admiração, olhando-a de cima a baixo.

Luca observou o intruso com irritação e, especialmente, notou com consternação a mudança repentina em sua namorada. Flaminia era doce e gentil, mas ele nunca a tinha visto tão dócil e indefesa.

- Eu sou Luca, o noivo. - ele interveio corajosamente, estendendo a mão.

O rapaz acenou sem medo e, depois de um último olhar de soslaio para Flaminia, que, nesse meio tempo, tinha mudado seus olhos para o prato, ele deu a Luca um sorriso forçado.

- Foi um prazer. - disse ele, antes de desaparecer.

Luca o seguiu com os olhos até ele desaparecer de vista, depois voltou para a namorada e ficou sério.

- Quem é esse? -

- Meu ex-namorado, aquele que me traiu. -

Luca enrijeceu, mas não sabia o que responder e Flaminia, angustiada, levantou-se e foi ao banheiro para fugir das perguntas dele e, com elas, também do peso desagradável das lembranças.

A noite foi terrível. Flaminia não disse mais nenhuma palavra e Luca, que era novo nessas situações, tentou várias vezes iniciar uma conversa, mas sem sucesso. Ele não sabia o que fazer: por um lado, queria entendê-la, pois sabia o quanto aquele rapaz a havia magoado e o quanto poderia tê-la incomodado ao vê-lo novamente; por outro lado, sentia-se magoado com a reação dela, afinal, ele ainda era seu namorado, não seu melhor amigo.

Quando estavam no carro, Luca mantinha o maxilar cerrado e os olhos fixos na estrada, enquanto Flaminia observava apaticamente as casas passarem diante de seus olhos.

- Desculpe-me, eu não queria que fosse assim. -

Luca não disse nada, mas Flaminia podia ver pela maneira como ele segurava o volante o quanto estava ressentido e sentiu a necessidade de explicar.

- Foi estranho vê-lo novamente depois de todo esse tempo. - ele admitiu honestamente.

Luca se virou para olhá-la aterrorizado.

- De que forma isso o tornou estranho? - perguntou ele, alarmado.

- Ah, não, Luca, você entendeu! Não desse jeito! - exclamou ele, com um sorriso tranquilizador - É que ao encontrá-lo na minha frente novamente, foi como voltar anos atrás, quando eu era a garota tímida e covarde que se deixava manipular pelo babaca do momento. -

Havia tanta amargura em sua voz, uma amargura que atingia picos tão agudos de dor que fazia seus olhos lacrimejarem. Tinha sido horrível, mesmo que apenas por um momento, usar as roupas velhas daquela garota novamente.

Luca estacionou o carro em frente à sua casa e, quando puxou o freio de mão, passou a mão pelo cabelo, nervoso.

- Você nunca me contou sobre isso. - murmurou ele, um pouco desapontado.

Ele sabia que um rapaz a havia traído, não era coincidência que Flaminia tivesse levado muito tempo para confiar nele, mas o fato de ela não ter se aberto com ele o fez ter algumas dúvidas sobre se ela realmente o havia esquecido. Ele não era especialista em relacionamentos, mas duas pessoas que se amam não deveriam compartilhar todos os detalhes de suas vidas?

- Nunca mais falei sobre isso desde que decidi parar de pensar no assunto. Francesco estava morto para mim. - disse ela com desdém.

- Aparentemente, ele está vivo e bem! - ele comentou sarcasticamente.

Flaminia sorriu e colocou uma mão em seu rosto para acariciá-lo.

- Você está com ciúmes, Luca? -

- É claro que estou com ciúmes, embora deva ser dito que sou muito mais fascinante do que aquela vassoura com olhos de peixe! - exclamou ele com raiva.

A garota se aproximou do rosto dele e, rindo para sua boca, envolveu-o em um beijo doce, daqueles de tranquilidade, de demonstração. Um daqueles que escondem uma necessidade de certeza que deve ser selada com um ato de amor.

Os olhos de Flaminia se arregalaram quando uma garota que acabara de sair da sala do professor Maione a avisou que era sua vez. Ela se levantou e estava tão atordoada naquele dia que não prestou atenção na conversa das garotas à sua frente; juntou suas coisas, pegou sua pasta com anotações e foi para o escritório.

Em retrospecto, ela teria feito bem em escutar as conversas deles, pois teria uma surpresa desagradável.

Francesco estava sentado atrás da escrivaninha que deveria estar ocupada pelo professor Maione e sua mandíbula se estendia até os pés.

- Que diabos você está fazendo aqui? - ele gritou histericamente.

Francesco ergueu as sobrancelhas e, ao se ver inesperadamente diante da bela morena, sorriu maliciosamente.

- Não me diga! Não sabia que você tinha escolhido engenharia biomédica! -

A garota colocou a mão na testa e rosnou de frustração.

- E agora você quer que eu acredite que você não sabia? - ele corou: "E nós sabemos que porra você está fazendo atrás da mesa do professor? -

O garoto inclinou a cabeça para um lado para vê-la melhor e, então, com uma luz estranha iluminando seu olhar, ele se levantou com todo o seu físico. Ele também era muito alto, tendo sido um ex-jogador de basquete, mas, ao contrário de Luca, era muito mais magro.

Ele não havia mudado nem um pouco fisicamente; sempre teve o mesmo rosto de um sedutor inveterado e um rosto bonito e limpo que ocultava habilmente sua natureza de manipulador maligno.

- Como você pode ver, sou um estudante de doutorado", disse ele, indicando o traje mais formal, "obtive meu doutorado imediatamente após me formar em engenharia elétrica. -

De todas as notícias que ele poderia lhe dar, essa era, sem dúvida, a pior. O fato de ela ser uma aluna de doutorado implicava sua presença permanente ali, e suas tentativas bem-sucedidas de evitá-la foram brutalmente varridas por essa notícia sombria e trágica.

Francesco permaneceu em silêncio, mas sem o olhar atento de Luca em sua pele, ele finalmente pôde observar sua mudança livremente.

Ela havia se tornado uma mulher, Flaminia. Não havia mais nenhum vestígio da garota tímida e insegura de alguns anos atrás. Ela sempre foi bonita, com seu corpo curvilíneo e rosto doce, mas com aquela postura orgulhosa e movimentos graciosos, ela se tornou ainda mais bela.

- Você está ainda mais bonita. - ele comentou, dando voz a seus pensamentos.

Flaminia estremeceu e, instintivamente, deu um passo para trás. Ela não permitiria que o sorriso alegre dele a levasse de volta no tempo mais uma vez, não permitiria que ele assumisse o papel daquela garota que era tão ingênua a ponto de não entender como ela havia se tornado uma súcubo. .

Ela levantou o queixo e deu uma boa olhada nele.

- Estou indo embora. - disse ele com desdém.

- Espere! Você tinha que perguntar alguma coisa? - ele a bloqueou, dando um salto para frente.

- Não, não é o senhor. Vou pedir esclarecimentos diretamente ao professor. - especificou ele, sem se virar.

Ele caminhou rapidamente até a porta, literalmente fugindo da presença que sentia à espreita em seus ombros. Ele agarrou a maçaneta e, quando estava prestes a abri-la, as palavras penetraram em seu coração.

- Pelo que vale agora, sinto muito pelo que fiz a você. -

Flaminia prendeu a respiração e, quando, inflamada por um ódio há muito sedimentado em sua alma, virou-se para olhá-lo e encontrou aqueles olhos lindos e maliciosamente enganadores, teve vontade de chutá-lo nas gengivas.

Ela olhou para ele por um longo tempo e mostrou-lhe todo o pesar que sentia em seu corpo, depois, com um pé já fora da porta, fixou os olhos nos dele e o fitou com o mesmo temperamento de quem está olhando para o menor dos seres.

- Você deveria ter me contado anos atrás, agora suas desculpas são inúteis. -

***

Eram seis e meia da manhã quando Alessandra voltou para a casa onde morava com Marco. O sol estava apenas começando a subir no céu e havia apenas uma luz tímida para quebrar a escuridão fria e misteriosa que dominava as noites de inverno.

A garota foi até a porta para não fazer barulho e entrou na ponta dos pés no quarto, esperando não acordar seu homem de seu sono leve e terrível.

Depois de uma noite sem dormir na cama de Flaminia, onde ela havia fixado seus pensamentos por horas com o olhar fixo no teto, Alessandra foi atormentada por um sentimento de culpa e o perfume de Marco grudado em suas narinas a castigava a cada respiração com o peso de sua culpa.

Ela não conseguia ficar longe dele e, com a consciência de ter sido tão má com ele, a distância se tornou um sofrimento insuportável. Ela não conseguiu esperar o amanhecer para voltar para Marco, então saiu da cama e, juntando as roupas da noite anterior, chamou um táxi.

No entanto, ela não podia dizer que o tempo passado sozinha em sua própria companhia não havia sido proveitoso. Ela havia feito um balanço de sua vida nos últimos meses e percebeu que não poderia continuar assim.

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