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CAPÍTULO 3

Capítulo 3

CLOE SMITH

-Cloe!

-Sim, vovó.

-Quando terminar de arrumar a cozinha do almoço, lembre-se de cuidar das plantas no quintal, está me ouvindo? Outro dia ouvi uma vizinha da nossa rua dizendo que a entrada da nossa casa está parecendo um lugar abandonado do jeito que as plantas estão amareladas e quase morrendo.

-Está bem, vovó. Eu farei isso mais tarde, depois que terminar os serviços da casa.

-É bom mesmo, porque já faz muito tempo que você está negligenciando o seu serviço com a jardinagem, menina. Não rega as flores, nem o gramado e muito menos aduba nada que tem lá fora, e é por isso que as pessoas estão dizendo que o nosso jardim está uma verdadeira porcaria.

-Eu sinto muito, vovó. Prometo que tentarei ser mais cuidadosa com as plantas de agora em diante.

-Não adianta dizer que sente muito se não faz nada para mudar, Cloe. Porque palavras não mudam nada, você é quem tem que mudar de atitude e aprender a ser mais responsável em respeito à sua avó que está doente e não tem forças para sequer cuidar do próprio jardim. Você sabe muito bem que se pudesse eu mesma faria isso sozinha sem depender da ajuda de ninguém, mas já não tenho mais saúde ou enxergo bem para mexer com ferramentas de jardinagem, que são muito perigosas nas minhas condições.

Vovó Marie começa o seu discurso lá da sala, após termos acabado de almoçar, enquanto eu estou na cozinha limpando a sujeira que a refeição do meio dia causou no local. São várias louças e utensílios para lavar, tirar poeira e remover a gordura, ou seja, são diversas tarefas para que eu faça sozinha, o que irá demorar um bom tempo, e ainda terei mais um afazer mais tarde que é cuidar do jardim na frente da nossa casa, e que vovó nunca fica satisfeita com a maneira como cuido dele. Apesar de não enxergar direito e mal visitar o jardim, por causa da cadeira de rodas, ela sempre prefere dar ouvidos as velhas fofoqueiras da nossa rua que não tem mais nada para fazer, do que acreditar no bom serviço que tento fazer no lugar.

-Eu gastei toda as minhas energias a vida inteira para criar você de forma saudável e nos bons caminhos, e agora já não tenho mais saúde por causa disso. Então o mínimo que deve fazer Cloe, é se esforçar mais e ser boa para a sua avó que não está pedindo muita coisa além de cuidar de algumas poucas tarefas domésticas. Isso por acaso é pedir demais depois de todos os sacrifícios que fiz por você até hoje?

-Não, não é vovó.

Eu murmuro cabisbaixa, ensaboando o restante da louça antes de enxaguá-la.

-Pois então, se você sabe muito bem disso não seja ingrata com essa mulher idosa que cuidou de você desde que nasceu e foi deixada por aqueles dois imprestáveis dos seus pais que te coloram no mundo.

-Eu irei melhorar, vovó. Eu juro.

Respondo em um tom de voz baixo com a garganta dolorida do choro que ameaça sair. Ainda bem que felizmente estou de costas para vovó e também que estamos bastante longe uma da outra para que ela perceba que está me magoando ao dizer essas palavras, mesmo que não seja intencionalmente.

-Eu sei que sempre estou falando e repetindo as mesmas coisas e que você pode pensar que estou sendo chata, minha filha, mas a verdade é que eu falo isso apenas para o seu bem, sabe disso, né?

-É claro que sei, vovó.

-Eu não cobro tanto de você apenas por uma questão de mera vaidade ou por causa do que as pessoas na vizinhança falam. Eu te ensino isso todos os dias porque você precisa se preparar para ser uma mulher com boas qualidades para se tornar uma esposa decente. Tem que investir mais em aprender a como fazer as tarefas de uma dona de casa com excelência, pois infelizmente você não pode depender da sua aparência simples. Não adianta. Existem muitas outras garotas mais novas e mais bonitas do que você lá fora no mundo, então a saída é você ser recatada e uma ótima servidora, para poder encontrar um marido que te aceite com tão poucas características úteis.

-Tudo bem, vovó. Eu já terminei de arrumar a cozinha. Se a senhora me permite, eu irei agora cuidar do jardim e regar as plantas.

Eu digo ao acabar o serviço na cozinha com a maior rapidez possível, com a intenção de me afastar do falatório incessante que só sabe me deixar triste e desanimada, por jogar todos os meus defeitos na minha cara. É óbvio que eu sei que não sou lá uma garota bonita, esperta ou que chama a atenção dos outros. Sei também que nenhum homem nunca olharia para mim duas vezes com a minha aparência comum e sem atrativos. É da minha natureza ser apagada e ignorada pelos outros sempre, mas poxa vida, por que vovó adora apontar isso toda vez? É como se ela quisesse me ferir de propósito ao repetir isso sem nenhum pingo de vergonha ou pudor.

-Eu permito. Pode ir, mas vê se faz as coisas certas dessa vez, pelo amor de Deus.

Eu não espero nem mais um minuto para cair fora e respirar um pouco de ar quando corro para o jardim. Meus olhos estão ardendo pela vontade de chorar, porém eu seguro todas as lágrimas dentro de mim e começo a trabalhar cuidadosamente no jardim, para que não haja reclamações no futuro. Faço tudo em silêncio, somente mergulhada em dezena de pensamentos que deixam minha cabeça um tanto dolorida. Eu rego as plantas, retiro as ervas daninhas dos vasos de flores, ligo o cortador de grama e quando inicio o processo de aparar o gramado, vejo o novo morador estacionar o carro na garagem do casarão ao chegar da rua. Enquanto empurro a máquina pesada e barulhenta, de um lado para o outro no jardim, observo o vizinho misterioso de longe e noto que ele é um homem muito bonito.

Ele é uma visão nova e muita bonita de se olhar. E é por isso que eu o olho por longos minutos, analisando-o de alto a baixo. Vejo como ele se parece com um ator ou talvez uma dessas celebridades famosas, devido ao charme que exala enquanto percorre o caminho da garagem para a entrada de casa, com seus quase dois metros de altura, ombros largos, cabelos castanhos escuros perfeitamente penteados, grandes olhos verdes escuros, e pernas compridas moldadas num jeans de marca.

Pisco olhos por alguns segundos ao notar que o estou encarando há vários minutos, feito uma louca, e balanço a cabeça de um lado para o outro para volta a racionalidade. Fico feliz ao vê-lo entrar dentro de casa sem olhar uma única vez em minha direção e não ter me pegado com a boca na botija o observando de longe. Desse modo, assim que ele desaparece eu me apresso em finalizar o serviço no jardim e subo para meu quarto para me limpar depois de um longo dia de tarefas.

A sensação da água fria lavando o meu corpo suado e sujo de terra, é muito recompensadora e me faz suspirar profundamente satisfeita com o simples ato. Então eu demoro o máximo de tempo ensaboando o meu corpo e depois o enxaguando, para prolongar a tarefa tão prazerosa e que me traz paz ao final da noite. Então, quando se passa muitos minutos e sei que não posso mais enrolar debaixo dos jatos de água, senão vovó irá puxar minha orelha quando receber a conta de energia, eu enfim desligo o registro, visto o roupão felpudo e enrolo uma toalha nos meus cabelos encharcados.

Como ainda saio do banheiro bastante molhada por causa do banho, deixo o interior do banheiro que fica dentro do quarto, e paro diante do espelho pendurado na parede, ao lado da cama e de frente para a janela. Com a mesma tranquilidade de sempre, retiro o roupão jogando-o sobre o colchão, e pego a tolha que prende os meus cabelos para poder me secar melhor. Uma brisa fresca e serena entra pela janela aberta e todos os fios do meu corpo se arrepiam imediatamente. É como se algo estivesse acontecendo nesse exato instante, mas eu não ligo. O que poderia acontecer fora do comum a essa hora da noite e em um bairro tranquilo como este?

Nada de mais, é a resposta para isso.

As cortinas balançam preguiçosamente entreabertas com o ar soturno e suave, enquanto eu coloco a perna esquerda sobre a cama e passo lentamente a toalha de algodão para enxugar o excesso de água. Em seguida faço o mesmo processo com a perna oposta ao apoiá-la sobre o colchão, e terminar de secar o restante do meu corpo. Depois disso, ainda nua, sento-me na beira da cama e com uma toalha menor nas mãos, eu começo a secar meus cabelos que estão pingando. Eu retiro o máximo de excesso de água, seco meu pescoço e nuca com calma e só depois que termino a tarefa é que eu finalmente visto minhas roupas íntimas e meu pijama.

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