Resumo
Cloe Smith é uma linda e doce jovem criada pela avó rigorosa que a sufoca com muitas regras. Mas, sua vida está prestes a virar de pernas para o ar quando o novo vizinho se muda para a casa da frente. Derek Miler é um homem solitário de que imediatamente desperta a atenção da loira com seu charme e jeito misterioso. Eles nunca se falam, porém, numa noite tudo muda quando Cloe pega em flagrante os olhos verdes de Derek a espiando em seu quarto. Então, essa é a oportunidade perfeita para que seu mundo entre em choque com o do seu vizinho espião. Intrigas, mentiras e sedução fazem parte do novo jogo entre dois amantes tão diferentes e tão apaixonados, numa história quase impossível, mas cheia de reviravoltas e surpresas.
CAPÍTULO 1
Capítulo 1
CLOE SMITH
Mais um dia... e aqui estou eu novamente, a simples e pacata Cloe Smith já acostumada a tudo. Mas oras, eu não sei viver outra vida além desta que vivo todos os dias, a mesma coisa de sempre, vivendo repetidamente uma rotina que não muda nunca. Não melhora, não piora, não transforma, não acrescenta nada de diferente ou alguma novidade que possa me fazer vibrar em mais uma semana chata e monótona que se segue uma após a outra.
É importante também dizer, que não conheço muitas outras coisas das quais as garotas que possuem a mesma idade do que eu, com dezenove anos nas costas, em tempo de se tornar uma verdadeira mulher adulta e inteligente, deveria saber já nessa etapa da vida. E isso faz com que eu me ache uma menina um pouco tola e infantil, por não poder acompanhar as pessoas da minha geração. Não gosto de dizer essas coisas, porque parece até de certo modo ingratidão da minha parte, entretanto, eu preciso confessar a verdade que venho escondendo em meu coração por bastante tempo: às vezes isso me deixa muito para baixo, triste e bem desanimada, sendo sincera apenas comigo mesma, pois eu nunca diria tal tipo de reclamação em voz alta para alguém ouvir.
Mas... ainda assim eu continuo me questionando internamente, dia após dia, em silêncio dentro da minha própria mente a grande pergunta que me perturba demais: Por quê? Por que eu não posso ser ou agir como uma garota normal e alegre que se diverte como todo mundo que vejo ao meu redor? Por que, meu Deus?
Isso é o que eu me pergunto e logo o velho ditado que ouço diariamente, como uma severa reprimenda para me corrigir contra os pensamentos possivelmente rebeldes que tentam invadir minha cabeça, logo salta em meu cérebro: "Mas você não é todo mundo, Cloe Smith! Se uma pessoa pular em um buraco ou assassinar uma vida, você também irá fazer isso? Pois eu acho muito bom que não faça isso ou terei que te dar uns bons corretivos, com um cinto de couro ou uma vara de goiabeira acertando sua bunda, para te colocar de volta no caminho correto como deve ser. Então seja uma boa menina e me obedeça sempre sem questionar, está bem? E lembre-se, somente meninas santas e obedientes é que vão para o céu no fim da vida".
Sim, essa é uma frase que eu escuto pelo menos uma vez por dia, toda santa semana e ai de mim se eu for contra essas ordens e correções que recebo! O castigo como é prometido para me disciplinar vem na mesma hora. Mesmo que a pessoa que o aplica em mim não enxergue muito bem, pois suas vistas já estão velhas e desgastadas pelo passar do tempo, mais especificamente nos seus oitenta e dois anos de idade, e também por sua teimosia em não querer ter recebido o tratamento profissional necessário na época em que ainda havia solução para o seu problema de catarata. Tudo isso por ela não acreditar na eficiência e na sua segurança pessoal ao passar pelas mãos dos médicos.
Então, onde o cinto ou a vara de goiabeira conseguisse acertar em minha pele, ela me batia para me punir por alguma má atitude ou resposta grosseira que eu tinha tido no dia. E além desses dois objetos de correção que são usados em mim quando ela acha necessário, ainda há outros tipos de punição como me fazer ficar ajoelhada em caroços de milho ou de feijão por uma hora pensado no que fiz, e também rezar por mais uma hora em meu quarto de frente para a janela olhando para o céu e pedindo perdão a Deus pelos pecados que cometi, jurando nunca mais fazer de novo.
Não é um tipo de vida fácil ou legal de se gabar para uma melhor amiga. É rígido, inflexível e severo. Tenho sempre que me manter na linha e tentar não errar quando é possível, mantendo o tom de voz baixo, sendo obediente e não andando com más companhias. Ou seja, eu não tenho amigas ou colegas mais próximos do sexo masculino, pois ninguém nunca é bom ou honesto o suficiente, e sempre estará querendo me desviar da boa conduta, segundo os conselhos dela.
Contudo, ainda assim eu a respeito demais, a obedeço cegamente e faço de tudo para agradá-la, pois devo muito da minha a essa pessoa. Então, é claro que o que ela disser para mim é lei e ponto final. Entretanto, essa forma como venho vivendo, como ela se impõe sobre o que devo pensar ou sentir, acredito que seja muito limitadora, me impede de aprender e de experimentar coisas novas e boas que o mundo tem para oferecer a uma garota tão jovem e cheia de energia como eu.
Dessa forma, sinto como se estivesse um tanto presa com diversas cordas invisíveis que me amarram e impedem minha vida de seguir em frente para um futuro diferente. Eu estou apenas como uma mera espectadora observando as coisas acontecerem com as pessoas a minha volta, na minha vizinhança, com os meus ex colegas de escola e conhecidos de vista, e eu apenas continuo aqui parada, sem avançar ou descobrir algo realmente incrível que valha a pena ser descoberto.
Eu parei no tempo, apenas me formei no ensino médio e não pude entrar na faculdade, pois segundo o pensamento da pessoa que me cria, eu não preciso de um diploma e nem de ir para a faculdade para correr o risco de me desviar dos bons costumes que aprendi com ela desde a infância, por causa da companhia dos "fumadores de maconha e militantes contra os valores da sociedade saudável". Essas são as palavras finais dela e o seu pensamento definitivo sobre esse assunto. Não tem discussão ou negociação quanto a isso. Ela disse não, então é não para mim e a faculdade, mesmo que esse seja um sonho secreto que tenho guardado comigo desde que deixei a escola após o ensino médio.
De acordo com ela, eu deveria somente me formar no ensino médio para não me tornar uma pessoa burra, analfabeta e inútil, e foi o que fiz. Depois disso eu precisava somente me concentrar em me casar com um homem decente, honrado, que me desse um lar, e desempenhar o papel de boa dona de casa recatada e exemplar, ter quatro filhos e nenhum animal de estimação, pois são bichos imundos. E mantendo tais pensamentos em mente eu teria que me comportar sempre com simplicidade, ser quieta, respeitosa, submissa e nunca contrariar a vontade de um homem sério, se quisesse arranjar um marido, se tivesse sorte na vida.
E isso tem que acontecer muito em breve, porque a idade já está passando para mim, pois a cada dia que passa não estou ficando mais nova para a nossa sociedade. E, para complicar ainda mais a minha situação, não sou considerada uma moça bonita, não tenho de longe um "corpo atraente" como uma esposa deve ter, e nem como minhas antepassadas tiveram em nossa família. Eu sou apenas uma moleca magrela, de longos cabelos loiros e olhos cor de mel, sem nenhum atrativo, charme ou curvas, como sempre me foi dito e apontado todas as falhas de características essenciais que me faltam, para conseguir conquistar um homem que aceite se casar comigo e me dar um "futuro sólido e digno", o qual uma garota na minha posição, sem privilégios ou beleza, necessita de ter hoje em dia no mundo louco e corrompido no qual vivemos.
Sim, parece um pouco exagerado e até mesmo irreal escutar isso e até mesmo acreditar fielmente em cada uma dessas coisas a vida inteira, mas é verdade... É assim que me sinto, um pouco frustrada e sem esperanças diante da maneira como foi moldada por tantos anos. E tudo isso se deve por causa da minha querida avó Marie Smith, uma mulher religiosa e bastante severa, porém que me ama bastante. É claro que eu sei que vovó tem bons sentimentos por mim e por esse mesmo motivo é que ela me trata dessa forma, apenas para o meu bem, pois tem medo de que eu me torne uma vergonha como sua filha, a mulher que me deu à luz, e cometa os mesmos terríveis erros que ela.
Vovó é a única pessoa que cuidou de mim e me criou desde que nasci, logo após minha mãe e meu pai me abandonarem em seus braços na porta do hospital em que vim ao mundo há dezenove anos atrás. Sem ela eu estaria sozinha e perdida no mundo, sem um lugar para viver ou comida para comer. E eu sou muito grata a tudo o que ela fez por mim até hoje, por ter me acolhido em sua casa, mesmo sem ser sua filha, e tolerado minhas birras quando criança. Sem ela eu não existiria atualmente.
Mas... por que às vezes eu sinto que somente isso não basta? Por que sinto que preciso de um pouquinho mais? Por que quero descobrir um novo mundo lá fora? Fora das quatro paredes da casa que vivemos só eu e vovó? Por que eu quero mais? E o que eu quero na verdade? Será que algum dia eu ainda irei descobrir o que é?
-Cloe!
-Sim, vovó.
-Vá para o seu quarto imediatamente. Está na hora de rezar pelos seus pecados ocultos, menina.
-Está bem vovó, eu irei fazer isso agora.
-Não demore, está me ouvindo?
-Sim, senhora. Juro que não vou.