Amizade de vocalista
Dia 3 de outubro de 2015
22h30
Daisuke Etsuko (Der)
Olá, leitor, sou eu de novo: Der. Tenho vinte e quatro anos e sou o vocalista da banda Metal and Fire, tendo a Luza como segunda voz, sendo que ela também é a guitarrista.
Bem, a minha vida não tem muita coisa de interessante, só que eu cortei os laços com os meus pais por questões judiciais. Eles me obrigavam a fazer o que eles queriam. Tinham a ambição de me fazer ser um pianista, sendo que eu mal sei tocar piano. Mas o que isso tem de mais? As agressões físicas e psicológicas que eu sofria. Meu pai me batia, minha mãe me batia e eu sofria com isso. Já não aguentava mais. Depois que eu fiz quinze anos, uma pessoa me encorajou de que eu deveria fazer com que eles não chegassem perto de mim. Essa pessoa era Aika Subarashi. Está com vinte e três anos agora, na época tinha quatorze. Tivemos nossa amizade por intermédio dos trabalhos em dupla que fazíamos. Ela viu uma marca que eu tinha no braço e quis saber o que era, mas como eu não queria dizer em público, decidi revelar. Tinha que contar para alguém. Isso não poderia continuar mais. Eu subo em um palanque todo roxo e ainda querem que eu goste disso? Nem pensar.
Por causa dela, acabei ganhando o processo e um bom dinheiro. Usei desse dinheiro para seguir meus sonhos. Fundei a banda Metal and Fire que existe desde a época da escola, recrutei um baterista, uma guitarrista e um tecladista e quem diria que chegaríamos longe? Olhe para onde estamos agora. Todo mundo grita e aplaude por nossas músicas. Foi quando eu descobri que Aiko também tinha uma vocação na área da música, mas diferente de mim que usa da voz para impressionar o mundo do rock, ela usa desse mesmo recurso para algo mais chique. O mundo erudito.
Aiko é cantora de ópera e encanta a todos que gostam desse ritmo musical. Aqui no Japão é bem popular a música clássica. Claro, não desconsiderando o pop, o rock, o rap e as músicas de animações japonesas.
Nesse momento, estou sentado no camarote, Aiko fez de tudo para que eu ficasse onde estou nesse momento. O local onde ela se apresentava, o teatro. Era escuro o ambiente, como podem gostar disso? As cadeiras eram confortáveis, pareciam ser poltronas de cinema. A cor era vinho, assim como a que estou sentado. Haviam muitas pessoas bem vestidas, com os seus ternos ou vestidos. As pessoas eram mais ou menos de trinta a setenta anos. Tinha até alguns com oitenta. Eu me sentia meio envergonhado, porque eu não gosto de usar terno, sou mais de usar uma jaqueta de couro, que é o que eu usava no momento. As pessoas olhavam torto para mim, mas eu não ligava muito. Com os meus dois braceletes de rock com espinhos e os meus coturnos, apreciava a música que Aiko cantava.
Lá estava ela. Loira, pele bronzeada, olhos azuis, usava um vestido preto e atrás dela tinha um cenário de uma cidade que estava com o período da noite na ativa. Tinha também uma figura representando a lua e a luz do holofote iluminava a minha amiga.
— Senhoras e senhores, eu encerro este show com a minha música mais popular, que faz todos se sentirem hipnotizados pela minha voz. É o que dizem, pelo menos. — Disse Aiko e as pessoas deram uma risada abafada.
Nesse momento, um som de piano lento era ouvido por todos. Aiko fazia uma expressão dramática. Típico de cantores de ópera. Eu me impressiono com a delicadeza da minha amiga. Nunca foi vulgar, sempre agiu como alguém da alta classe, apesar que ela é que nem nós da Metal and Fire. Não gosta de ostentação, tão pouco de luxúria.
Aiko começou a cantar, depois de alguns segundos.
Watashi wa maiban sono utsukushi-sa o mitsukemasu
Mainichi watashi wa kanojo o mitsukemasu
Yoru wo negau koto wa arimasen
Kanojo wa itsumo 6 shāpu de araware masu
Sono utsukushi-sa to kagayaki ga miryō sa remasu
Kono yami no jidai ni arawareta toki
Anata no kagayaki de watashi wa anata o shōsan shimasu
Shikashi, kanojo ga kyūsen o ataeru toki ga kimasu
Conforme ela cantava, caminhava devagar com o microfone na mão. Mantinha uma expressão de sono e de delicadeza. Era como se estivesse hipnotizando a todos que estavam presentes.
— Daisuke. Você está por aqui? — Aparece um homem de pele bronzeada, bigode de xerife e usando um terno. Era o Policial Sato. Ele muito me ajudou, dando proteção a mim, no tocante aos meus pais. Ele tem quarenta e nove anos.
— Boa noite, Policial. — Respondi.
— Corta essa. Fora dos palcos você é o Daisuke. Eu, você pode me chamar de Sato mesmo, que é como sou conhecido por boa parte das pessoas. — Disse o policial, que volta sua atenção para o show. — Parece que estou no final. Acabei me atrasando.
— Não tem problema, a minha amiga vai se apresentar de novo.
— Soube que você vai fazer um show na Coreia do Sul.
— Sim, na segunda-feira. Iremos viajar cedo para lá.
— Se não nos vermos de novo, desejo um ótimo show a vocês. — Sato sorri. Ele tinha uma filha que era muito fã nossa. Adorava todos e acredito que isso acabou despertando uma amizade forte minha com o policial.
Aiko continuava a cantar, depois de uma pausa para todos ouvirem o piano:
Kanashimi no naka de watashi wa jibun jishin o mitsukemasu
Kurayami to samu-sa no jidai koi ni ochita
Ikutsu ka no monogatari o umidashita kare no sonzai no tame ni
Sonzai shite kurete arigatō, watashi no yūjin wa itsumo anata o shōsan shite kimashita
Hoshi ga sora de pātī ni yatte kuru
Sono chīsana kagayaki de, shikashi fushigi ni michite imasu
Tabun watashi wa tengoku ni noboru deshou
Anata ni kanjō-tekina hōyō o ataeru tame ni
O piano para de tocar e Aiko grita, com aquela tonalidade de voz clássica das músicas de ópera:
TSUUUUUUUUUUUUKIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
Naze anata wa anata no utsukushi-sa de watashi wo miryō suru no desu ka?
Eigo no `tsuki' to Supeingo no `Runa' kara
Taiyō no yō ni sono akaru-sa wa junsuidesu
— Impressionante. — Disse Sato.
— Ela é incrível, não é? — Indaguei.
— É sim. — O policial olha para mim e sorri.
TSUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUKIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
Desta vez, chegou a ecoar mais forte o canto de minha amiga, o que arrancou alguns aplausos e assobios.
Kono kurai yoru ni watashi tachi wo kesshite nokosanaide kudasai
Junsuina hikari de subete no hito o keihatsu suru
Watashitachi kara kanashimi to kurushimi o oidashimasu
TSUUUUUUUUUUUUUUUUUUUKIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
Hoshi to umi no tomo
Yoru no eisei wa dai saidan no ue ni arimasu
Watashi ga dore dake anata o sonkei shite iru no ka shitte ireba, anata wa wakuwaku suru deshou
Anata wa watashi no tomodachi, kono basho kara no watashi no hanashi desu
Algumas pessoas estavam chorando de emoção. Nossa, sério isso?
O pianista tocava mais devagar agora.
Watashi ga sutādattara
Watashi wa anata no chikaku ni itakatta
Sono utsukushi-sa o yori midjika ni kanshō suru
Soshite anata to issho ni kono kurai yoru o terashimasu
Watashi ga sutādattara
Watashi wa anata no chikaku ni itakatta
Sono utsukushi-sa o yori midjika ni kanshō suru
Soshite anata to issho ni kono kurai yoru o terashimasu
Watashi ga sutādattara
Watashi wa anata no chikaku ni itakatta
Sono utsukushi-sa o yori midjika ni kanshō suru
Soshite anata to issho ni kono kurai yoru o terashimasu
O pianista para de tocar.
TSUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUKIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!
Aika para de cantar e as pessoas se levantam e batem palmas para ela. Assobios eram ouvidos e as pessoas não paravam de aplaudi-la.
Confesso que até eu me arrepiei quando ela estava cantando desse jeito. Ela foi incrível, de fato, e isso me impressionou. Ela estava cada vez melhor na sua carreira. Tinha muito para crescer, de fato.
Estava aplaudindo, assim como o Policial Sato. Estávamos encantados com a sua performance.
Dia 3 de outubro de 2015
23h15
Aika Subarashi
Tudo bem, leitor? Nossa, estou cansada. Vocês não sabem como é puxado fazer um show de ópera.
Tenho vinte e três anos, mas eu consegui me aperfeiçoar de uma maneira incrível na minha carreira de cantora. Estava fazendo sucesso no Japão e o bom é que tinha o apoio de amigos e familiares.
Mas como toda pessoa tem o seu problema, eu tinha o meu, que era saber se Daisuke, o Der, gostava de mim ou não, mas em um sentido de me ver como mulher. Desde o primeiro dia que o vi, sempre tive desejos amorosos por ele, mas não sei se ele corresponderia da mesma forma.
Estávamos chegando na minha casa, que era uma casa não muito rica, era de classe média, por assim se dizer. O bom no Metal and Fire e em mim, é que não precisamos mostrar luxúria para dizer que ganhamos bem. Para quê isso? Todo mundo sabe que os artistas ganham bem. Mas é claro, com muito trabalho duro.
Der estava me acompanhando e ele para na porta:
— Pronto. Está entregue à sua casa sã e salva. — Ele disse sorrindo para mim.
Estava sorrindo para ele corada e olhava para a sua moto. Ele é tão simples. Não tem carro de luxo, usa essa moto desde que começou a estudar na faculdade.
— Obrigada por me trazer na sua moto. — Disse sorrindo. — Só espero que os paparazzi não nos vejam. Imagina se entramos na manchete de uma revista que temos um caso.
Der começa a rir e responde:
— Se fizerem isso, eu processo eles e ainda exijo uma multa maior do que a receita deles.
Comecei a rir. Ele também riu um pouco e assim, nos despedimos. Mas eu queria fazer algo por ele. Der tinha um vizinho muito barulhento. Seu nome era Isao Sasaki. Ele tem um estilo parecido com o da NTR, mas ele toca muito rap americano, daqueles bem malandros. Confesso que não gosto disso. Até respeito o trabalho da NTR, porque ela pelo menos dá uma motivação para os seus fãs.
— Não quer passar a noite comigo? — Indaguei quando ele estava quase saindo com a moto.
Ele toma sua atenção para mim e responde:
— Não será necessário. Eu dou um jeito naquele vizinho.
Sorri para ele respondo:
— Der.
— Sim?
— Tenha uma boa noite. Amanhã vou na sua casa para lhe fazer companhia. Quero passar o domingo com você.
Der sorri. Eu costumo passar o fim de semana com ele, já que ele não tinha ninguém para interagir. Seus companheiros de banda tinham suas vidas e problemas pessoais, não tinham como ficar com ele. Logo, eu fazia isso e ele gostava da minha presença. Vemos televisão, jogamos algum jogo de cartas ou de tabuleiro e também conversamos sobre nossas carreiras, até ensaiamos algumas músicas que misturam rock com música erudita. É uma coisa bem maluca mesmo, confesso.
— Eu passo aqui para lhe buscar? — Indaga Der.
— Não. Pode deixar que eu chamo um carro. — Respondi.
— Está bem. Boa noite, Akia.
— Boa noite, Daisuke.
Ele buzina e acelera sua moto. Acompanhei ele saindo, até que saiu totalmente de minha vista.
Coitado do Daisuke. Por que ele tem que ter uma vida tão solitária? Ele sempre dizia que gostava disso, mas eu tinha minhas dúvidas. Não era possível que alguém gostasse de viver sozinho, sem ter ninguém para interagir. Sei que o leitor deve pensar por que eu não me declaro para ele logo, mas a questão é que eu tenho medo. E se ele não quiser mais minha amizade? Morro de medo por isso e ele passa a vida toda sozinho. Como será resolvida essa situação?
Sua banda é o seu refúgio. Eu tento de todas as formas arrumar um ingresso para ele me ver para que não fique sozinho. O bom é que sempre dá certo, mas e se não der? Como lidar com essa situação se caso acontecer?
Eu espero um dia ter forças para me declarar para ele, mas eu tenho que ter forças logo, senão quem vai se dar mal será eu, por me preocupar tanto com Daisuke.
Deixei meus pensamentos saírem de minha cabeça e entrei na minha casa.
Dia 4 de outubro de 2015
Meia-noite
Daisuke Etsuko (Der)
Chegando no meu apartamento, eu escuto música de rap tocar na porta ao lado. Tinha que ser esse filho da puta desse meu vizinho. O pior é que ele ameaçou todos os vizinhos de não falarem com o síndico. Ele tem um jeito de ser bandido mesmo. Anda sempre de boné, tinha uma corrente de ouro, usava roupas como regata, camiseta, canguru, enfim, roupas que normalmente os rappers usam. Mas o incrível que pareça, é que mesmo ele tendo essas atitudes de malandro ou de bandido, ele me tratava bem. Não sei a causa, mas ele fazia isso. Eu não consegui dormir na última noite porque ele não parava de tocar as músicas dele, mas hoje isso não vai ficar assim. Ontem eu estava muito preocupado com a banda, tanto que nem ligava muito. O problema é que isso custou o meu sono.
Bati na porta dele e sai aquele homenzarrão. Tinha um metro e noventa, usava um boné preto, canguru azul marinho com o capuz posto na cabeça. Usava uma calça quase caindo na cintura e tinha tênis de marca. Nossa, ele anda ouvindo muitos desses rappers mesmo.
— Posso ajudá-lo? — Indaga o homem, chamado Isao Sasaki.
— Sim. É que eu queria saber se você não poderia desligar suas músicas por hoje. Só isso. Não consegui dormir muito bem e…
Isao limpa a garganta. Que filho da puta.
— Desculpe, amigo. Eu vou desligar minhas músicas para que possa dormir. Você tem show amanhã?
— Eu tive ontem.
— Oh sim, desculpe. É que eu não escuto muito bem e…
A velha desculpa. Mas eu me faço de sonso para não gerar briga. Vai que esse cara seja um bandido.
— Sim, sim, eu entendo. Eu posso lhe emprestar meus fones se quiser.
— O que está querendo dizer com isso? — Ele indaga em um tom ameaçador, mas eu mantive a calma.
— É que de vez em quando, você toca essas músicas e eu perco o sono. Então recomendei que você…
Isao ri como um louco e eu tive vontade de dar um soco na fuça desse cara. Mas eu falei:
— Olha aqui, seu idiota. Eu já suportei demais você. Se você tocar essas músicas altas de novo, eu vou chamar a polícia para você e pode fazer o que quiser, para me desafiar!
Fechei a porta com raiva na cara dele. Em seguida eu tranquei. Estava pedindo para morrer. Mas era isso ou viraria um palhaço para esse cara.
Pelo menos, ele desligou a música. Acho que foi só falar em polícia para ele que de quebra ele se comporta. Vou usar isso mais vezes, mas eu não hesito em chamar o Policial Sato para ter conhecimento disso. Há muito tempo que queria fazer isso e não fiz por medo ou receio.
As coisas não iam para frente, mas agora vão, começando por quem manda aqui.
Fui dormir logo depois de um banho. Estava exausto. De imediato, acabei pegando no sono. Coisa boa!