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A canção favorita de Luza

Dia 3 de outubro de 2015

8h30

Ling-Oh (Luza)

Bom dia, leitor, tudo bem com você? Bem, eu já tinha falado um pouco de mim anteriormente, mas não custa nada repetir. Meu nome é Ling-Oh, mais conhecida como Luza, em nome artístico, tenho vinte e dois anos e sou guitarrista e segunda voz da banda Metal and Fire. 

Como podem ver, pelo nome, sou chinesa e sim, eu tenho uma família que veio da China para cá. No entanto, eu fiquei orfã aos quinze anos, junto com o meu irmãozinho, Ling-Yan. Ele era recém-nascido ainda e o meu relacionamento com os meus pais não foi muito bom. Eu já apresentava, quando criança, indícios de ser cantora, mas eu queria aprender a tocar guitarra. Lembro da primeira vez quando vi um guitarrista tocando em um show. O som agudo do instrumento, o modo como aquele guitarrista acompanhava o som da guitarra, nossa, aquilo mexe comigo até hoje, eu me arrepio toda quando me lembro daquele momento. 

Quando meus pais foram mortos em simultâneo por uma epidemia que deu em uma cidadezinha na China, no interior, eu jurei que iria cuidar de Ling-Yan. Ele veio a nascer uma semana antes do ocorrido. Foi difícil para mim, ter que cuidar de Ling-Yan em um bairro desconhecido. Eu acabei morando nas ruas porque para onde eu ia, tinha gente querendo se aproveitar de mim. Mas eu sempre acreditei que os meus pais estavam me protegendo. Mesmo que não tenhamos nos dado bem, eles sempre estiveram zelando por mim, porque eu era a única família de Ling-Yan no momento. 

Tive que abandonar a escola na China, na época, mas foi quando eu vi que tinha um concurso de cantores calouros que quem ganhasse, iria ganhar uma bela quantia em dinheiro e uma viagem ao Japão. Ganhei o concurso e a viagem ao país, foi quando eu conheci Der, Edrev e Wolley. 

Esse ocorrido de ter que ficar nas ruas, durou seis meses. Os outros seis, fiquei estudando com os rapazes, mas tive que fazer um reforço porque eu perdi muito tempo de aula. Foi uma briga para me aceitarem na escola, mas no final, deu tudo certo. 

Consegui concluir o Ensino Médio com muito esforço, até tinha entrado no clube de música, junto com os rapazes e montamos a nossa banda. 

Quem diria que com muita correria e muito esforço, estaria onde estaria. Busquei dar uma vida agradável para Ling-Yan, eu me esforçava para que ele tivesse uma vida tranquila, não deixava nada faltar para ele. Se ele quisesse uma bicicleta, eu comprava. Se ele queria visitar um amigo, eu ia com ele. Enfim, eu faço o possível para agradá-lo e acho que ele sente isso. Sabe que eu o amo e que sempre me esforcei para dar tudo que ele precisava. 

Mesmo assim, eu me sinto mal, porque eu não sou muito presente. Somente nos fins de semana, feriados e nas férias que fico com ele e às vezes, porque ele sempre tem compromisso com a escola e tudo mais. 

Mas leitor, não pense que eu o deixo sozinho na minha casa, bem pelo contrário. Eu contratei uma empregada para cuidar da casa, já que eu não tinha tempo nem para limpá-la. Ling-Yan poderia fazer isso, mas achava melhor não. Ele poderia se machucar e eu acabaria sentindo um peso no coração. A minha empregada se chama Mayumi Akagi. Ela tem trinta e três anos, é uma mulher de cabelos loiros, pele branca e sempre está com a roupa equivalente à sua função. Adoro a comida dela e confesso que eu vejo minha mãe nela. Parece que é a própria que está cozinhando para mim e para o meu irmãozinho. 

Ling-Yan, o que dizer dele? Ele gosta muito de mim! Diz que adora me ouvir cantar e tocar guitarra, além de ser fã do Metal and Fire. Acreditam que ele pintou o cabelo de azul por minha causa? Tive que pagar multa na escola por causa disso, mas tudo bem. Ele tem a pele um pouco mais bronzeada que a minha, os olhos são azuis claros, para combinar com o cabelo e ele está sempre usando roupas da escola. 

Ling-Yan é muito aplicado e muito inteligente. Ele disse que gosta de matemática e de artesanato. Eu não duvido que ele venha a se tornar um grande artesão um dia. É claro que também vou me esforçar para ajudá-lo. 

Nossa casa é bem grande, quase uma mansão. Ela tem as paredes brancas e os móveis têm cada qual uma cor diferente. Um tapete na sala vermelho, sofá bege, cadeiras e mesas marrons, alguns quadros de pinturas artísticas ou então do logotipo do Metal and Fire e também tinha algumas fotos minhas com Ling-Yan. 

Hoje, dia três de outubro, eu me levantei cedo. Enquanto os meus companheiros dormiam até o meio-dia nesse fim de semana, eu me levantei cedo, porque eu iria acompanhar o ensaio de um amigo meu que é um pianista. Seu nome é Akira Kurashiku. Ele é um pianista de sucesso e tem músicas suas nas plataformas desse ramo. Eu o conheço desde o Ensino Médio e de vez em quando ele vem me visitar, mas sempre gosta de brincar com Ling-Yan. Era notável a inocência daquela criança. Ele sempre está a ouvir Akira tocar piano, que comprei um especialmente para ele tocar ou então quer que eu toque guitarra. 

Naquela manhã, estava tomando café no comedor, enquanto assistia televisão. Passava um documentário sobre a vida no mar. Aquilo me interessava de alguma forma, não sei como. 

Foi quando eu vi Ling-Yan correndo até mim e a empregada logo atrás. 

— Bom dia, irmã mais velha! — Disse o garoto, com um sorriso no rosto. 

Olhei sorrindo para ele e o abracei também. 

— Dormiu bem, pequeno? — Indaguei. 

— Sim. E ainda bem que hoje é sábado. 

— Mesmo? Por quê? 

— Porque eu posso passar mais tempo com você. 

Sorri para ele e voltei a abraçá-lo. Depois eu o larguei e tomei um gole do meu café. 

— Já comeu alguma coisa? — Indaguei. 

— Não. Ainda vou comer. Mas antes, eu posso falar uma coisa?

Aquilo me pegou de surpresa. Dei um último gole do meu café e voltei minha atenção para ele. 

— O que foi? 

A empregada foi à cozinha fazer o café dele. Ling-Yan sentou na cadeira que fica à minha frente.

— É que… Ultimamente, eu ando sonhando com uma pessoa. 

— Que pessoa é essa? — Indaguei curiosa. 

— Ela tem os cabelos negros e me lembra muito você, só que… Parecia mais jovem, acho que adolescente. 

Fiquei impressionada com o que ele disse, mas ao mesmo tempo, uma vontade de chorar me domina. 

— Ela dizia algo como "está tudo bem, eu vou proteger você, não importa de quem. Ninguém… "

— Vai lhe fazer mal. — Eu falo em um tom choroso. 

Isso assustou Ling-Yan e ele indaga:

— Irmã mais velha. Aquela garota com quem eu sonho, é você? 

Eu já estava com lágrimas nos olhos e a boca tremendo. Eu seco as lágrimas e confirmo com a cabeça. 

— Sim, Ling-Yan. Era eu. Você sabe que os nossos pais estão mortos, não é? 

— Sim, eu sei. — Ele responde em voz triste. 

— Sabe também que eu sempre cuidei de você como se fosse meu. Eu queria bancar o papel de pai, de mãe e de irmã. Eu faço de tudo até hoje para que não falte nada para você. Eu sempre corria perigo de ser assaltada ou de ser morta ou até mesmo algo pior por sua causa. Eu sempre falava para você que tudo estava bem, que ninguém iria lhe fazer nenhum mal porque eu não iria deixar. Mas o problema… É que eu não tinha ninguém para falar isso para mim. Eu sempre… — Parei de falar e comecei a chorar. 

Ling-Yan olhava para mim e parecia entender o que eu estava dizendo com tudo aquilo. Eu sempre me sacrifiquei por ele, mas eu também me sinto culpada por não estar perto dele. Como eu queria vê-lo crescer mais perto de mim, mas eu não consigo. É muito bom ser cantora, guitarrista, fazer sucesso, mas eu também sinto a falta de Ling-Yan, que é tudo para mim. 

— Irmã mais velha… — Ling-Yan parecia surpreso, porque nunca me viu chorar. Sempre me via uma mulher forte que encarava até mesmo a pior das pessoas existentes no mundo. Acho que ele me via como uma deusa, talvez, mas quando me viu chorar, pareceu estar surpreso, porque não era de meu costume chorar perto dele. 

Olhei para os olhos brilhantes dele, que começou a falar:

— Obrigado por ter se esforçado tanto por minha causa. Saiba que eu gosto muito de você e prometo fazer o mesmo pelo o que você fez por mim. E não se preocupe em estar tão ausente, porque eu sei que você está comigo quando está no show, encarando um monte de pessoas. 

Eu sorri como boba. Eu amei as palavras e nesse momento, eu falo:

— Vem cá. 

Ele pula da cadeira e me dá um abraço. Cantei uma das músicas da banda para ele em um tom suave. Queria aproveitar aquele momento com Ling-Yan um pouco. Akira poderia esperar, não tinha problema. 

Ling-Yan é a minha família e realmente, ouvindo que ele irá cuidar de mim da mesma forma que eu cuido dele, isso me deixa muito feliz. 

Dia 3 de outubro de 2015

9h00

Akira Kurashiku

Olá, leitor. Sou Akira Kurashiku, pianista, vinte e um anos. Sou amigo de Ling-Oh, conhecida por ser Luza, integrante do Metal and Fire. Ela sempre foi minha amiga no Ensino Médio. Costumava ajudá-la em seus estudos e quem diria que ela teria se tornado uma grande guitarrista do Japão. 

Os fãs dela dizem que Luza é "a musa do Japão" ou a "deusa do rock", porque ela atraiu muito o público em geral.

Admiro muito o trabalho do Metal and Fire, dou-me bem com todos eles, mas a Luza, ela me trata de um jeito que me faz sentir especial. Está sempre me acompanhando nos meus ensaios e na medida do possível, está sempre me assistindo nos consertos. Ela e o irmão dela são muito bacanas comigo. Gosto muito deles, de fato. 

Estou usando uma camisa social e calça do mesmo feitio. Estou usando um sapato de bico e o meu terno está jogado sobre o piano. Tenho os cabelos curtos, bem aparados, a pele branca e os olhos castanhos. As pessoas me dizem que eu pareço ser do século XVIII, por conta de lembrar muito o pessoal de lá, de me vestir do mesmo tipo deles, além de que nem aparento ser jovem, ou melhor, dizem que sou um "velho em um corpo de jovem", por conta do meu perfil. Sempre fui uma pessoa conservadora e nunca gostei de extravagâncias. Mas o Metal and Fire é o único que consegue me fazer quebrar esse tabu. 

Nesse momento, estou sentado em frente ao piano no palanque. Estou no local onde vai sair o conserto daqui a alguns dias, mas estou sozinho ensaiando. Sempre vou aos lugares onde farei meu show para ensaiar. Luza sempre vem me ver. Irei tocar uma música que ela gosta de ouvir e que sempre pede para eu tocar. Essa música clássica é originária da China, terra de origem de Luza. 

Quando ia começar a tocar, ela aparece no palanque. Quando a vi, fui abraçá-la. Usava uma camiseta da banda dela, calça jeans rasgada e tênis da All Stars, creio que é o nome. 

— Bem-vinda, Luza. — Disse, enquanto segurava suas mãos. 

Ela estava corada e sorria tímida para mim. Achava engraçado esse jeito dela e ela indaga:

— Atrasei-me? 

— Não, claro que não. Se você não estivesse aqui, não iria tocar, porque eu gosto quando fica aqui me vendo. Não sabe como isso me dá forças. 

Ao dizer isso, ela fica mais tímida. Acho engraçado esse jeito dela. Luza sempre foi assim, desde o primeiro dia que falei com ela. Suspeito que ela me veja mais além de um amigo. Tento induzí-la para que se declare, mas estou quase desistindo. Ela não se manifesta. Será que é paranoia minha? 

Sentei-me em frente ao piano e comecei a tocar. Luza ficou me olhando. 

Tocava tecla por tecla, de forma crescente e em seguida, eu apertava um pouco mais demorada outras teclas e depois voltava a repetir o processo de antes. O som fino e agudo das teclas do piano ecoava no palco e Luza parecia admirada pela música que eu tocava. Parecia saber a música que eu estava tocando. Sim, minha amiga, é essa mesma. Aquela que você gosta de ouvi-la. Sempre gostei de tocar músicas de artistas renomados como Beethoven, mas eu também tenho as minhas próprias, como a que eu criei, chamada de Flor de Inverno. Luza adora essa música também. Sei que ela gosta. 

Dia 3 de outubro de 2015

9h05

Ling-Oh (Luza) 

Estava encantada. Ele tocou a música que eu mais gosto! Dentre a Flor de Inverno e essa música que ele tocou há pouco, eu prefiro esta. 

Depois que Akira terminou, ele se levantou e vestiu seu terno em mim. Estava com um pouco de frio, mas como ele sabia? Quando ele fez isso, fiquei corada. 

— Sabe qual a música que eu toquei, não é? 

— Sim. Ela é chinesa. 

— Isso mesmo. Jasmine. Eu sei que você ama essa música e irei encerrar com ela no conserto. Antes, tinha usado a Flor de Inverno, mas agora, será Jasmine. 

Abracei ele. Adorava ouvi-lo tocar piano. Se eu pudesse, passaria a minha toda ouvir ele tocar o piano, mas eu duvido que ele me queira mais além do que uma simples amiga. Sei que eu não tenho chances com ele, já que ele é conservador demais em perfil e em música. 

Quem sabe um dia aconteça dele me dizer que me quer como mulher. 

Mas até lá, acho que seria melhor esperar. 

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