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4. CAMINHOS CRUZADOS

Enquanto Linda e Emma continuavam a conversar, rindo levemente de suas histórias sobre bichinhos de estimação, um homem de olhar intenso apareceu diante delas. Era Júlio, com sua expressão marcada pela preocupação e uma presença que não podia ser ignorada. Assim que seus olhos se cruzaram com os de Linda, ela o reconheceu de imediato como o homem com quem havia esbarrado mais cedo naquela noite. Um arrepio percorreu sua pele, e o contraste entre a força de Júlio e a gentileza com que ela estava lidando com Emma foi palpável. Por um breve instante, parecia que o tempo havia parado.

Os olhares de Júlio e Linda se conectaram em uma troca silenciosa de sentimentos e sensações. Aquele momento durou apenas alguns segundos, mas parecia se alongar em uma eternidade de tensão e curiosidade mútua. No entanto, a magia daquele encontro visual foi abruptamente quebrada quando Emma, percebendo a presença de seu irmão, soltou a mão de Linda e correu em direção a ele com um sorriso animado.

— Júlio! — gritou Emma, lançando-se nos braços de seu irmão, que a envolveu em um abraço protetor.

Linda observava a cena com uma mistura de alívio e confusão. Embora estivesse feliz por Emma ter encontrado o irmão, algo na reação de Júlio a fez sentir uma onda de incerteza. Ela se aproximou um pouco mais, ainda processando o que estava acontecendo, e perguntou com uma voz hesitante:

— Você a conhece? Eu estava procurando os pais dela, ela parecia perdida na multidão — disse Linda, sua voz suave, mas ainda carregada de surpresa.

Júlio, segurando Emma com firmeza, olhou novamente para Linda, seus olhos carregados de algo que ela não conseguia decifrar completamente. Mesmo assim, a intensidade daquele olhar a atingiu com força. A conexão entre eles, que havia sido momentaneamente interrompida, ainda parecia estar ali, pairando no ar. Mas, antes que Linda pudesse dizer mais alguma coisa, o semblante de Júlio, que inicialmente tinha uma suavidade ao abraçar a irmã, se tornou frio, quase defensivo.

— Ela é minha irmã. Obrigado por encontrá-la — respondeu ele com uma seriedade inesperada, a voz baixa, mas firme.

Linda piscou, surpresa com a revelação. Não esperava aquela resposta e, instintivamente, deixou escapar:

— Sua irmã? Como assim?

Aquela simples pergunta, dita mais pela surpresa do que por qualquer outra coisa, fez com que a expressão de Júlio mudasse completamente. Sua postura se tornou rígida, e ele franziu a testa, visivelmente aborrecido. A tensão no ar ficou ainda mais densa, e ele não demorou a responder, sua voz agora carregada de frustração:

— Sim, minha irmã. Por que ela não pode ser? — Ele pausou por um momento, olhando diretamente para Linda, e sua voz ficou mais afiada. — É porque eu sou negro e ela é branca? É isso?

Aquelas palavras caíram sobre Linda como um peso que ela não esperava. A surpresa e a dor no rosto de Júlio eram evidentes, e Linda sentiu uma pontada de culpa instantânea. Sua intenção nunca foi questionar o vínculo deles dessa forma, mas a interpretação que Júlio havia dado a sua pergunta a deixou completamente sem palavras.

Por um momento, Linda tentou articular uma resposta, mas as palavras simplesmente não vinham. A culpa por ter causado esse mal-entendido misturava-se com a sensação de decepção que ela via nos olhos de Júlio. Sentiu-se paralisada, como se todos os argumentos lógicos e bem articulados que ela normalmente teria estivessem fora de seu alcance naquele instante.

— Eu... — começou Linda, a voz baixa e incerta, tentando encontrar uma maneira de desfazer aquele mal-entendido, mas sua mente estava em branco. No entanto, antes que pudesse continuar, ela foi interrompida de forma brusca por Júlio, que desabafou de maneira incisiva:

- Vocês são todos iguais, preconceituosos.

Júlio, ainda segurando Emma com firmeza, olhou para ela uma última vez, antes de soltar um suspiro pesado. Ele não esperou por uma resposta. Sem mais palavras, virou-se e começou a caminhar com Emma em direção à saída, deixando Linda para trás, sozinha com seus pensamentos confusos e seu arrependimento crescente.

Linda ficou ali por alguns segundos, imóvel, sentindo o frio da noite e o peso daquela troca. Tudo o que queria era ajudar, mas agora, encarava o resultado inesperado de uma situação que a deixou desnorteada. Tentou abrir a boca novamente, mas sabia que qualquer coisa dita naquele momento soaria vazia.

Ela suspirou, sentindo-se culpada e, ao mesmo tempo, incapaz de mudar o que havia acontecido.

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