5. TENTANDO APROVEITAR A NOITE

Aquela noite no rodeio havia tomado um rumo que Linda jamais esperava. O encontro intenso com Júlio e a sensação esmagadora de culpa que a tomava ainda pairavam no ar, como um eco de algo mal resolvido. Enquanto ela via Júlio e sua irmã desaparecendo na multidão, um profundo suspiro escapou de seus lábios. Mal percebeu que Bernardo, seu amigo de infância, estava ao seu lado. Ele também soltou um suspiro, quebrando o silêncio, e comentou com um misto de admiração e surpresa:

— Que homem, não é?

Linda se virou rapidamente para Bernardo, ainda perturbada pelo desenrolar daquela cena, e respondeu com um tom decepcionado e um pouco amargo:

— Que homem? Isso mesmo. Que homem mal-educado, convencido e bruto. Ele deveria me agradecer, não me tratar daquela maneira!

Bernardo, intrigado com a veemência nas palavras de Linda, levantou uma sobrancelha e perguntou, curioso:

— O que exatamente aconteceu aqui?

Linda balançou a cabeça, tentando organizar seus pensamentos. Ainda estava frustrada, mas sabia que precisava explicar. Com a voz baixa, tentando esconder a mágoa, ela contou:

— Eu encontrei aquela garotinha perdida, ela parecia tão confusa, tão vulnerável... e de repente ele apareceu, arrancou a menina de mim e foi embora sem sequer um 'obrigado'. Foi rude, Bernardo. Muito rude.

Diante da confissão dela, Bernardo soltou uma gargalhada espontânea, como se não conseguisse conter o humor que encontrava na situação. Ignorando o tom irritado de Linda, ele passou o braço em torno dos ombros dela e começou a guiá-la em direção ao estacionamento, onde Arthur já os aguardava.

— Linda, Linda... — disse Bernardo, ainda rindo. — Você sabe como transformar qualquer encontro em um drama intenso. Mas olha só, talvez esse homem não seja tão bruto quanto você pensa. Quem sabe o que se passa na cabeça dele?

Linda lançou um olhar de censura para o amigo, mas, no fundo, sabia que ele estava tentando aliviar o clima pesado. Aquele sorriso travesso no rosto de Bernardo a fez relaxar um pouco, e, mesmo contrariada, ela não pôde deixar de sorrir levemente.

— Você nunca muda, Bernardo. Sempre fazendo piada de tudo — murmurou, com um toque de afeto na voz.

Enquanto eles caminhavam para fora do rodeio, Linda ainda tentava processar tudo o que tinha acontecido. O encontro com Júlio tinha mexido com ela de uma forma que não conseguia entender completamente. Havia algo naquele homem — algo no olhar dele, na sua intensidade — que a deixava inquieta. Mas antes que pudesse pensar mais nisso, a presença de Arthur e a chegada de um novo personagem mudaram completamente o clima.

Um jovem extremamente elegante apareceu do nada, caminhando com confiança em direção a Arthur. Ele sorriu de maneira descontraída e disse:

— Arthur, eu e meu irmão estamos indo a uma festa de colônia logo ali. Muita música boa, mulheres bonitas e bebida. Esse rodeio já deu o que tinha que dar, que tal?

Arthur, sempre animado com a ideia de diversão, bateu palmas e gritou com entusiasmo:

— Urrar! Agora estamos falando! Deixa-me te apresentar a minha prima, Linda, e o Bernardo.

Com um charme desarmante, o jovem se aproximou de Linda, pegou sua mão de forma elegante e lhe deu um beijo no rosto. O gesto inesperado fez Linda corar, mas ela retribuiu com um sorriso, ainda surpresa com a ousadia dele.

— Gael Zimmer, prazer — disse o jovem, com um sorriso confiante. — Linda no nome e em tudo.

Linda riu, balançando a cabeça de leve, enquanto Bernardo observava a cena com uma expressão de quem não sabia se ria ou ficava impressionado. Gael, por sua vez, virou-se para Bernardo e apertou sua mão com força, em um gesto que demonstrava a mesma presença marcante que ele exalava.

A atmosfera da noite mudou instantaneamente. O peso do rodeio, das emoções turbulentas e do encontro com Júlio parecia estar ficando para trás.

Linda, Bernardo e Arthur seguiram Gael até o outro lado do estacionamento onde seu irmão mais velho estava.