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5

Naquela noite, Ollie estirou-se na cama recriminando a si mesma por sua atitude inconsequente. Ela era uma fraude, sim uma fraude e a pior espécie de manipuladora que poderia existir. Anthony não tinha a menor ideia do tipo de pessoa com quem estava lidando. Afinal, desde os dezesseis anos, Ollie sabia que jamais poderia ter filhos. Havia uma impossibilidade física de gerar e reproduzir que a impedia de realizar o sonho de toda mulher.

No hospital, há dez anos, sua mãe havia lhe explicado o que acontecera com seu ovário e como isto a afetaria no futuro.

Dali em diante, Ollie não se considerou mais uma mulher completa, pois ter um filho era tão difícil para ela quanto para o próprio Anthony. Por essa razão fizera do trabalho sua vida. Aliás, esta era também a única vida que conhecia.

Com um nó na garganta, sentiu as lágrimas escorrerem por suas faces ao se lembrar da garota que fora ao hospital sentindo cólicas terríveis e sangrando muito. Tinha sido horrível ser examinada por um médico, em vez de uma médica, e ficara mortificada ao ter de se expor aos olhos alheios pela primeira vez. Depois vieram os longos dias de internação. Era por isso que odiava tanto hospitais e que, em sua vida adulta, jamais procurava um médico, a não ser que fosse absolutamente necessário, e isto ainda não tinha acontecido.

Em sua ingenuidade, acreditara que tinha conseguido esquecer essa dor do passado, mas agora, depois da proposta inesperada de Anthony era como se estivesse revivendo tudo outra vez. Ela queria ser amada, ter filhos, ser desejada por um homem maravilhoso que a visse como uma mulher sensual.

Verdade que não poderia fazer nada para realizar os dois primeiros desejos, mas havia uma possibilidade quanto ao terceiro.

Corria aos sete ventos que Anthony era um amante excepcional e Ollie não podia negar que tal comentário havia dado asas a algumas de suas fantasias sexuais. Afinal, apesar de tudo, era uma mulher e também tinha desejos e anseios. Claro que intimidade era uma coisa que nunca lhe ocorrera ter com Anthony, mas isto fora antes de ele tê-la bombardeado com aquela história de ser mãe de seu bebê.

Agora a proposta do belo sr. Augustin era tudo em que conseguia pensar. Certamente, Anthony a admirava e isto lhe dava um orgulho imenso. Não era amor, mas também não podia dizer que seus sentimentos estavam totalmente desvinculados de um interesse sexual, e o fato de ele a querer como mãe de seu filho, de repente, lhe parecia o maior dos cumprimentos.

E depois, Anthony não precisava saber que era incapaz de conceber uma criança. Sim, poderia muito bem insistir em fazer as coisas pelo método “natural” durante algumas semanas, depois dizer-lhe que não tinham sido bem sucedidos. Anthony desistiria e iria ao encontro de outra mulher que, por certo, seria capaz de lhe dar o filho tão desejado. E Ollie não tinha a menor dúvida de que ele conseguiria seu intento, pois havia um número infindável de mulheres que ficariam lisonjeadas em ajuda-lo.

Mas ela fora a escolhida para tal missão e, por mais que quisesse, sabia que não teria forças para repeli-lo.

Sim, quando o ouvira falar sobre seu esperma com tanta naturalidade, sentira uma estranha excitação apoderar-se de todo o seu ser. De súbito, os sentimentos adormecidos tinham acordado sem seu consentimento e ao imagina-lo durante o processo necessário para colher a preciosa seiva da vida que deveria ser colocada em seu útero, sentiu um forte desejo, ao mesmo tempo que uma grande ternura invadia-lhe o coração. Juntos os dois sentimentos havia conspirado contra as chances que Ollie tinha de se recusar a participar de tal projeto, mesmo sabendo que jamais poderia engravidar.

Ela era uma fraude, mas, no fundo, não estaria ferindo a ninguém, a não ser a si mesma, se aceitasse passar momentos de prazer nos braços musculosos de Anthony Augustin. E isso seria maravilhoso.

Como Ollie já esperava, a noite foi longa e o dia seguinte pior ainda. Por volta das sete horas, estava tão nervosa que seu coração parecia querer saltar para fora do peito.

Quando o telefone tocou, uns três minutos depois da sete, ela levantou-se de um salto, mas forçou-se a esperar pelo quarto toque antes de atender, sentindo-se como uma adolescente ansiosa que tenta disfarçar suas emoções.

-Alô.

-Ollie? É Anthony.

Apenas a frase simples, nem mais uma palavra. Ela pigarreou levemente, limpando a garganta.

-Olá. –Sua voz fraquejou, mas nem ousou desligar. Podia fazer isto, repetiu para si mesma como se fosse uma espécie de mantra. Claro que podia. Iria agarrar a oportunidade com todas as suas forças. Mas, lógico, não aceitaria nada além da loja que Anthony já concordara em abrir. A única coisa que queria era um pouco do calor e da sensualidade do corpo moreno, e isto por um breve intervalo de tempo.

-Então, já chegou a uma decisão? –soou a pergunta derradeira. Ollie mordeu o lábio, depois respirou fundo.

-Sim, mas tem algumas condições que gostaria de discutir. Ouviu-o dar um longo suspiro.

-Isto significa que vai aceitar?

-Sim, mas sob certas condições.

-Já entendi. Mas o que quer que seja, aceitarei sem pestanejar.

Era impossível ignorar a alegria dele. Anthony estava eufórico diante do que acreditava ser o grande passo para conseguir ter o filho que tanto desejava.

Ollie sufocou o misto de remorso e culpa que a assolou com uma pungência inclemente.

-Ora, é melhor que saiba o que desejo antes de concordar –lembrou-

-Não vou lhe recusar nada. Afinal, sei que não é uma mulher fútil e interesseira e que seu pedido não irá me levar à bancarrota.

-Bem, o que quero é esquecer os procedimentos clínicos –foi logo ao ponto, falando sem fazer pausa para respirar, do contrário, não teria coragem de faze-lo.

Silêncio mortal do outro lado da linha.

-O que disse? –Anthony driblou a surpresa inicial, mas ainda não parecia totalmente refeito.

Ollie sabia que tinha sido muito rápida, mas preferiu que tivesse sido assim.

-Que não quero ir a uma clínica de reprodução e sim deixar que as coisas aconteçam naturalmente –tornou a explicar.

Pelo som abafado que ecoou através do aparelho, dava para notar que ele ficara estupefato diante da novidade.

-Naturalmente?

-Claro, você e eu somos adultos e podemos seguir o curso natural dos acontecimentos –frisou Ollie, demonstrando uma calma que estava longe de sentir.

Nenhuma palavra do outro lado da linha.

-Anthony, você ainda está aí?

-Sim.

Ollie esperou. Por mais estranho que pudesse parecer, aguardava que Anthony tentasse digerir a novidade enquanto ela própria dava o máximo de si para controlar as batidas de seu coração.

Finalmente, ele disse:

-Se importa de me explicar o porquê desta decisão?

Ollie meneou a cabeça de um lado para outro, depois sentiu-se tola, pois Anthony não poderia vê-la.

-Claro que não me importo. Só quero que...

-Não. Espere. Esta não é uma conversa para se ter ao telefone. Você está ocupada?

-Agora?

-Sim. Agora. Acredite, não quero dormir sem ter a certeza de que entendi perfeitamente seu ponto de vista.

-Tudo bem. –Ollie olhou em torno de seu apartamento a procura de inspiração. –Posso encontra-lo onde quiser.

-Não, prefiro passar para apanha-la. Sei onde mora. Estava no...

-No relatório que o detetive fez a meu respeito –completou por ele, sem o menor ressentimento.

-Isto mesmo, estarei aí o mais rápido possível.

De repente, o telefone ficou mudo e Ollie sentiu-se em meio a um verdadeiro turbilhão de emoções. Bem, mas era tarde demais para desistir. Então, como não tivesse a mínima idéia sobre a que distância que Anthony se encontrava dali, correu até o quarto a fim de escolher algo mais adequado para usar.

Ao abrir o armário, parou, sentindo-se ridícula. O que no mundo poderia ser considerado adequado para vestir na ocasião em que você iria dizer a um homem que aceitava ter um filho dele, mas que em troca queria que lhe proporcionasse momentos inesquecíveis de prazer?

Era uma questão difícil, especialmente por Ollie saber que o estava trapaceando. Oferecera algo a Anthony que jamais poderia lhe dar: um bebê. Mesmo assim, queria que o maravilhoso sr. Augustin fizesse amor com ela a ponto de fazer seu corpo explodir de tanto prazer. Seria uma troca justa?

Anthony parou em frente à porta do apartamento de Ollie e fez menção de bater, mas acabou desistindo. Maldição, por que as mulheres nunca faziam as coisas da maneira mais simples?, perguntou-se irritado. Tinha oferecido um acordo honesto e justo, mas Ollie simplesmente o rejeitara. Não que as modificações que ela queria fazer fossem ruins, pelo contrário, mas o fato era que Anthony não pretendia se envolver. Fizera planos e não gostaria de modifica-los.

No entanto, Ollie Son, uma profissional experiente, sagaz e ... sensual, queria que fizessem amor.

Quem teria imaginado que ela iria pedir tal coisa? Mas Ollie sempre fora um enigma, um misto de estilo e personalidade e as mudanças

que ela sugerira para o acordo tinham mexido profundamente com Anthony.

Muitas vezes ao visitar a loja de lingerie que ela mantinha em seus hotéis, Anthony havia se perguntado se Ollie usaria as peças sensuais que vendia. Será que costumava enfeitar o corpo elegante com sedas e rendas para agradar algum possível namorado? Não conseguia evitar de pensar.

Ela o confundia ao mesmo tempo que o atraía como um imã gigantesco. Sempre achara que tinha feito a escolha perfeita para a mãe de seu filho, mas agora estava aturdido com as mudanças que Ollie queria inserir no acordo. O problema é que o tempo estava se esgotando. Não poderia simplesmente escolher outra mulher para ajuda-lo. Se não se apressasse, teria bem mais de trinta e cinco anos quando trouxesse seu filho para casa.

Não. Tinha escolhido Ollie, e não desistiria sem ouvir tudo o que ela tinha a dizer, decidiu, correndo o dedo por entre os cabelos escuros, então bateu com os punhos cerrados na porta de madeira talhada.

Imediatamente, três portas se abriram no corredor. Ollie e dois de seus vizinhos o encararam sendo que os últimos exibiam uma expressão de franca curiosidade. Ah, era tudo que ele precisava naquele momento, uma audiência atenta.

Ollie tentou sorrir, mas não foi bem sucedida.

-Entre –convidou com polidez.

-Não. _Anthony meneou a cabeça, observando os vizinhos pelo canto dos olhos.

Um casal de idade estava parado em uma das portas e na outra havia uma mulher com os cabelos cheios de bobs, todos continuavam a encara-lo como se não tivessem nada melhor para fazer.

Anthony voltou a olhar para Ollie.

-É melhor darmos uma volta do que ficarmos em seu apartamento – sugeriu.

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