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6

Ela hesitou por um instante, então acabou concordando:

-Certo. É só o tempo de pegar minha bolsa.

Anthony praguejou baixinho. Era justo isto que desejava evitar. Não queria ninguém especulando sobre seu relacionamento com Ollie, simplesmente porque nunca tivera a menor intenção de ter qualquer relacionamento com ela. Em seu plano simples e descomplicado, planejara dar-lhe o endereço da Clínica de Reprodução, depois só voltariam a ter contato quando Ollie o avisasse que a tentativa fora um sucesso e que estava mesmo grávida. Certamente, jamais lhe ocorrera ficar parado na soleira da porta, propiciando diversão e assunto extra para os vizinhos curiosos.

Por sorte, Ollie não demorou e, depois de certificar-se de que a porta estava trancada, ela declarou:

-Estou pronta, podemos ir quando quiser. –Então, como se soubesse exatamente o que estava fazendo, voltou-se para os vizinhos e sorriu: -Olá, Hilda, Leroy, Emma. Este é Anthony Augustin. Estou abrindo outra loja nos hotéis da Augustin Crown. Não é maravilhoso?

Os três concordaram, suas suspeitas visivelmente dissipadas pelo comentário inteligente de Ollie.

Anthony fez o que pôde para sair dali o mais rápido possível, mesmo assim ainda precisou ficar ouvindo os elogios que todos tinham a fazer a respeito de ter sido muito inteligente ao aceitar que Ollie abrisse outra loja em um de seus hotéis.

Minutos depois, quando saíam do prédio de três andares, ele comentou:

-Esta é a última vez que isto acontece.

-O quê?

-Nos encontrarmos em seu apartamento. Essas coisas podem gerar muitas especulações. Se não formos cuidadosos, poderemos ficar no meio de um grande escândalo. –Ao terminar de falar, abriu a porta do carro para Ollie entrar, mas ela não o fez.

-Por acaso isto significa que ainda nos veremos muitas vezes? Vai concordar com meus termos?

Que mulher insistente! Por que nunca antes havia notado o quão insistente Ollie Son poderia ser? Esperteza era uma coisa, insistência era outra bem diferente. Assim. Achou melhor usar um tom neutro ao responder:

-Vamos ver. –E praticamente a empurrou para o banco do passageiro antes de fechar a porta e assumir seu lugar à direção.

-Não temos muito o que ver, Anthony. Não gosto nada da ideia de me submeter a um procedimento clínico e ponto final. Agora se você não consegue nem pensar na simples hipótese de me tocar como mulher, então não temos nada a conversar.

Ele fechou os dedos em torno do volante do Audi. Não conseguir nem pensar em toca-a?! repetiu em pensamentos. Céus, era o que mais queria fazer neste exato momento. Sentia uma estranha compulsão por descobrir os segredos da boca carnuda e rosada e de inalar o suave perfume de rosas que exalava do corpo sensual. Mas um toque levaria a outro, e a outro, outro...

-Anthony?

-Por que não me faz um favor, Ollie? Que tal ficar em silêncio até sairmos da cidade e podermos parar em algum lugar tranquilo para discutir seus, hã, termos?

-Tudo bem. –Parecia tão cordata e submissa que chegou a surpreende-lo, então durante cinco minutos deu-lhe tempo para se recompor e controlar sua libido exaltada. Mas isto foi tudo. –Já considerou a possibilidade de eu não engravidar, Anthony? – bombardeou-o novamente. –Afinal, não há nenhuma garantia d que vá funcionar, quero dizer, que eu seja um terreno fértil para você plantar sua semente. Quanto tempo pretende dedicar ao projeto filho?

Terreno fértil? Plantar semente? Projeto filho? Os cinco minutos de calma de Anthony foram para o espaço. Por que termos tão ridículos e antiquados pareciam mais sexy do que o mais erótico dos sussurros que já tinha ouvido?

Talvez fosse porque nunca antes tivesse existido uma mulher que estava prestes a carregar um filho dele no ventre e esta também deveria ser a razão pela qual tudo o que vinha de Ollie o excitava tanto a ponto de quase doer.

Anthony pigarreou e manteve o olhar fixo na estrada.

-O médico me avisou que seria preciso várias tentativas para que a inseminação desse certo.

-E se o fizermos pelo método natural, quanto tempo precisaremos? Ele pestanejou, confuso.

-Não sei, nunca perguntei isso ao médico.

-Talvez devesse faze-lo agora, meu caro.

Anthony respirou fundo e nada disse. Impulsivamente, conduziu o carro para uma estradinha secundária e sem saída, onde ele e seu irmão John costumavam levar as garotas quando eram adolescentes. Por certo que a situação era bem diferente agora, mas o objetivo era o mesmo: privacidade e isolamento.

Era uma noite fria de novembro e ele resolveu deixar o ar quente ligado embora tivesse preferido apagar as luzes do interior do Audi. Encheu-se de coragem, pensando em todos os argumentos que poderia usar para convence-la a mudar de ideia, mas ao voltar-se para encara-la, as palavras morreram em sua garganta.

Os raios prateados do luar iluminavam os cabelos castanho avermelhados, a orelha delicada e as sobrancelhas levemente arqueadas. Por alguma estranha razão, Ollie parecia diferente, ou melhor, vulnerável.

Não era algo a que Anthony estivesse acostumado e quando a viu erguer os olhos para encontrar os dele, foi assolado por uma frustração intensa.

Bem, não que ela fosse bonita, mas era, de longe, a mulher mais elegante que já conhecera, embora não tivesse uma beleza clássica.

Sim, do alto de seus quase trinta e cinco anos, Anthony tinha saído com muitas garotas mais atraentes, fizera amor com modelos famosas, porém, Ollie Son era a única cuja personalidade, inteligência e disposição o atraíram a ponto de leva-lo a pedir que gerasse seu filho.

-Sei que meus termos podem lhe parecer absurdos –soou a voz melodiosa, trazendo-o de volta à realidade. –Afinal, você pode ter qualquer mulher que desejar, e depois de nos conhecermos há tanto tempo é óbvio que não deseja a mim –acrescentou com o arremedo de um sorriso. –Mas tudo bem, porque até ter me falado de seus planos eu também jamais o imaginei como um possível amante – mentiu.

Anthony continuou a fitá-la aturdido.

-Sabe, fiz de minhas lojas o epicentro de minha vida –Ollie prosseguiu, apertando as mãos nervosamente. –E, como você também, não desejo me envolver com ninguém. É por isso que a ideia me pareceu perfeita. Não tenho tempo para me relacionar com os homens, muito menos a um nível íntimo e, nos dias de hoje, somente um idiota se sujeitaria a fazer sexo casual. Portanto, nós dois poderemos aproveitar a oportunidade para conseguirmos o que queremos.

Anthony franziu o cenho. Certamente Ollie não tinha sugerido o que ele estava pensando, tinha?!

-Eu quero um filho. E você, Ollie, o que quer? –interpelou-a com ar sério.

Ela virou o rosto para a janela. Depois sussurrou num estranho tom de voz:

-Quero ter um affair intenso, apaixonante e, claro, inesquecível. Isto durante duas semanas. Se neste tempo eu engravidar, o bebê será seu e nós passaremos a agir de acordo com seus planos. Já se eu não engravidar, seguirei meu caminho e você procurará outra mulher para ajuda-lo. Não ficará me devendo nada, pois me considerarei muito bem paga por seus, digamos, cuidados.

-Bem paga?! –esbravejou Anthony. –Está falando como uma...

-Como uma mulher desesperada? Suponho que eu seja mesmo. – Finalmente encontrou os olhos verdes. –Quero muito saber como é fazer amor com um homem de verdade. E tem de ser com alguém que eu confie tanto em relação a minha segurança quanto em relação a minha saúde. Acho que você é perfeito para o papel.

Anthony a encarava incrédulo.

-Ollie, você não é virgem, é?

-Não, mas sou quase. –confessou.

-O que quer dizer? Já fez sexo com homens diferentes?

-Não, fiz sexo duas vezes em minha vida e foi com o mesmo homem, ou melhor, com o mesmo garoto. A primeira vez não foi boa e a segunda também não se mostrou nada de especial. Aliás, nem sei porque continuei tentando, talvez estivesse esperando que ele melhorasse.

Anthony se descobriu sorrindo. Ollie queria fazer sexo com ele e isto era bom demais para ser verdade.

-O que o garoto fez que foi tão ruim? –surpreendeu-se perguntando.

-Não sei bem, pois não tenho experiência para dizer. Mas éramos os dois jovens e estávamos praticamente vestidos, empoleirados no banco de trás de um carro velho.

-Bem.. –Anthony esforçou-se para não rir. –Acho que posso melhorar essa performance.

-Espero mesmo que possa.

E desta vez Anthony não conseguiu mais conter o riso diante do tom sério que ela usava.

-Ora, ninguém nunca reclamou antes. Só se você for mais exigente do que todas. –caçoou.

-Desculpe se lhe dei a impressão errada. Não pretendia ridicularizar aquele garoto com quem saí. Estávamos no último ano do colégio e ele era do time de futebol. Provavelmente a culpa foi minha por ter escolhido os músculos sem levar em conta o cérebro. Mas agora que você se apresentou para mim em uma bandeja de prata, espero que os resultados sejam bem mais animadores. Afinal, você tem uma reputação que, se verdadeira, preencherá todas as minhas expectativas, sr. Augustin. –acrescentou num tom espirituoso.

Reputação? Não pretendia entrar naquele assunto com Ollie. Se ela tivesse dado ouvido às fofocas...

-Não sei não, Ollie. Pode não ser uma boa ideia. Como nos negócios, Ollie não desistia com facilidade.

-Está com medo de eu priva-lo de sua liberdade, meu caro? Teme que depois de conhecer sua técnica maravilhosa possa cair de amores por você e passe a exigir que se case comigo?

Para ser honesto, ela estava bem perto da verdade. Não que acreditasse que sua técnica fosse tão infalível e perfeita assim, mas porque sabia que, com uma frequência assustadora, as mulheres associavam bom sexo com amor. Precisava deixar claro que...

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