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Capítulo 2

A própria Zaya teria parado para admirar aqueles olhos, se não fosse por dois fatores importantes. O primeiro e mais importante, ele havia a acusado de trapaça. Isso nunca havia acontecido antes. Seus movimentos eram perfeitos e ninguém nunca a descobria. E em segundo, ele estava segurando seu pulso rudemente. 

A Ivanski sequer precisou se virar para saber que seu irmão estava com a mão nas espadas. Ela puxou de leve o pulso, o que fez o rapaz apertar ainda mais seu pulso. Zaya estreitou os olhos, antes de afrouxar o puxão e o chutar no abdômen ao mesmo tempo. 

O golpe o fez cambalear. Uma pessoa normal teria caído, mas ele apenas cambaleou de leve, antes de encará-la com ainda mais irritação. O rapaz era alto, talvez mais alto que seu irmão gêmeo. Possuía uma pele morena, bronzeada como as de qualquer garoto de Aljanub, as maçãs de seu rosto eram levemente salientes. Ele não era feio… muito pelo contrário. 

Suas vestes, apesar de inferiores às dos príncipes que Zaya viu pelo Palácio, eram vestes palacianas. A túnica esverdeada e as calças largas e pretas de algodão, estavam limpas demais para que ele fosse um serviçal comum. Além disso, ele usava botas pesadas e os cortes na lateral da túnica, não escondiam as lâminas que carregava. Um soldado, talvez, dado aos cabelos escuros estarem raspados. As orelhas com alguns brincos e piercings. 

As narinas da fêmea se dilataram, ela sentiu o cheiro amadeirado que parecia se misturar com o cheiro de maresia e um pouco mais ao fundo... brasas. Junto com as orelhas levemente pontudas e os caninos um pouco mais longos do que as de um feérico… Zaya deu um sorriso viperiano. Era a primeira vez que ela via um drakin pessoalmente. 

  

— É falta de educação atrapalhar uma partida. Mais falta de educação ainda acusar uma dama inocente de trapaça. 

Ele estreitou os olhos com irritação. 

— Você não me parece uma dama inocente. Apenas uma feérica sem caráter. 

Os homens, que antes jogavam na mesa, agora pareciam desviar os olhos do rapaz. Como se o temessem. Alguns até mesmo saíram rapidamente de perto dali. Aquilo intrigou Zaya, principalmente pelo fato do drakin parecer ter um pouco mais de vinte anos. 

— É mesmo? - A feérica apoiou o queixo na mão, com um minúsculo sorriso. - Talvez você pudesse me dizer o que eu fiz, então.

Ele cruzou os braços, a encarando. 

— Você trocou as cartas. 

Zaya franziu o cenho. Aquilo era diferente, para dizer o mínimo. 

— Você tem alguma prova?

Ela perguntou com um sorriso de canto, em um tom inocente. Aquilo pareceu irritar ainda mais o estranho. Ele estreitou os olhos.

— Eu vi. 

Ele falou com confiança, fazendo Zaya arquear uma sobrancelha. 

— Você viu? 

Ele a encarou, os olhos parecendo brilhar com aquela irritação. 

— Devolva o dinheiro e a deixarei ir. 

Ele respondeu. A verdade é que Zaya iria deixar o dinheiro quando saísse, já que ela não precisava daquilo. Mas o rapaz a irritou. "A deixarei ir."? Quem ele pensava que era?

Zaya sorriu friamente e apontou para a cadeira à sua frente. 

— Façamos o seguinte. - Ela falou, se levantando lentamente. - Você pode jogar contra mim. Já que eu estou trapaceando e você viu, então certamente sabe o que aconteceu. Não que tenha acontecido algo. - Zaya sentiu os lábios se repuxarem ainda mais para cima. - Mas se você perder, vou pegar a coisa mais preciosa que tiver. 

O rapaz a encarou por alguns segundos, como se estivesse a examinando. E então, se sentou.  

— Uma partida, ladrazinha. E vou saber se trapacear. 

Zaya sorriu e o meseiro começou a distribuir as cartas.

— Gostaria de saber quem é você.

Ela falou, como quem não queria nada. O rapaz a encarou, os lábios se contraindo levemente. Ele olhou ao redor, onde as pessoas agora os observavam, e todos imediatamente encontraram alguma outra coisa para fazer. Até mesmo o meseiro parecia disposto a sair dali.

— Acredito que você já tenha reunido informações o suficiente para saber o que precisa sobre mim.

Os lábios de Zaya se curvaram de forma irônica e ela se recostou na cadeira, pegando as cartas. Se conseguisse trocar o nove de paus por um ás de ouro, estaria feita naquela partida. 

— Justo. Mas como devo chamar meu digníssimo adversário? 

Ele a encarou, o piercing de argola no canto direito do lábio inferior do macho pareceu brilhar quando os lábios se curvaram em um sorriso frio. 

— Aziz. 

E de alguma forma, Zaya sabia que ele havia mentido. 

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