7
Acompanhada de Murilo, eu chego à delegacia de homicídios, Pietro está na frente nos esperando.
— Olá — ele fala me abraçando.
— Oi — eu falo para ele. — Eu ainda não consigo entender o porquê estamos sendo tratados como suspeitos.
— É normal — Murilo fala — Daqui a pouco eles vão descartar, porque vão ver que vocês não têm nada a ver com a morte dele, mas até começar as investigações, são procedimentos normais.
— Você tem consciência de algum inimigo que ele poderia ter? — Pietro fala me olhando.
— Eu não consigo pensar em nada — eu falo para ele. — Naquela manhã, ele tinha sumido para resolver algo e voltou com um carro de presente para Pedro.
— O negócio era o carro? — ele pergunta, porque naquele dia eu tinha ligado para ele para saber se ele sabia de Paulo.
— Só pode ser — eu falo para ele. — Não consigo imaginar nada que Paulo possa ter feito para alguém, ele era um homem transparente e você sabe como era seu irmão. — olho para ele.
— Eu sei — ele fala me olhando. — Agora a polícia irá investigar e até achar quem é o verdadeiro culpado pela morte do Paulo, seremos investigados eu, você e Marília.
— Que besteira, sermos investigados pela morte do Paulo? — falo para ele. — A gente não faria isso.
— Nós sabemos disso, mas a polícia não — ele fala me olhando. — Você sabe que daqui para frente será uma investigação cansativa e você vai ter que se lembrar, qualquer evidência que possa ajudar a polícia a saber quem era o verdadeiro culpado.
— Eu irei tentar lembrar tudo — eu falo e me levanto. — Mas me diz, quem teria algum motivo para matar Paulo?
— Funcionário? Alguma briga entre amigos? Desavença do passado? — ele pergunta.
— Nesses quase 20 anos, nunca teve nada — eu falo para ele. — Eu não consigo imaginar ninguém que poderia ter motivos para matar ele, atirar nele no dia do aniversário do nosso lho.
— Vem vamos, já está na hora — Murilo fala colocando a mão por trás de mim e me guiando até a sala na delegacia.
— Espero vocês aqui — Pietro fala.
— Tudo bem— digo e entramos na sala.
— Boa tarde — um homem que está de pé fala nos olhando — Meu nome é Vitor e eu sou o investigador que está conduzindo a investigação da morte do senhor Paulo Barbosa, por favor, sentem-se — ele diz apontando para as cadeiras.
— Boa tarde — Murilo fala para ele. — Já nos conhecemos nos outros depoimentos.
— Sim, a senhora é Bárbara, a esposa da vítima, certo? — ele fala me olhando.
— Sim, fui chamada depois de todo mundo por quê? — falo.
—Calma Bárbara — Murilo fala me olhando. —Isso é só uma conversa.
—Porque a senhora, assim como seu cunhado Pietro, e sua cunhada Marília são suspeitos do crime por serem os únicos presentes na cena do crime, quando as luzes acenderam — ele fala me olhando. —Meu nome é detetive Felipe Soares e vou comandar a investigação da morte do seu marido.
— Eu não posso ser tratada como suspeita — eu falo para ele. — Ele era meu marido, pai do meu lho, a gente criou uma vida junto, uma empresa, negócios, realizamos sonhos, eu não posso ser suspeita.
— Por esses motivos que a senhora é suspeita — ele fala me olhando e eu encaro aquele policial, Murilo coloca a mão sobre meu ombro e eu encaro Murilo.
— Responda tudo com calma — Murilo fala me olhando e eu assinto para ele.
Eu sempre imaginei que a gente iria morrer de velhice, sabe aquelas histórias que a gente vê e não acredita, casal morre aos 90 e poucos anos com diferença de horas? Era isso que eu queria para nós dois, nada diferente disso. Eu imaginava a gente morando na beira da praia em uma casa simples, em um sítio poderia ser também, nosso lho comandando a nossa empresa e a gente colhendo os frutos que plantamos a vida toda.
— Você e a vítima são casados há bastante tempo, construíram uma empresa juntos e tem um lho, certo? — o investigador pergunta.
— Sim, somos casados a 17 anos, estamos juntos a 20 e o nosso lho Pedro tem 15 anos, construímos nossa empresa juntos do zero — eu respondo.
— A empresa está no nome dos dois? — ele pergunta.
— Somos sócios, 50% para cada — eu respondo. — Paulo acreditava que a gente deveria fazer assim desde o começo, eu não me importaria se tivesse no nome dele ou no meu, eu con ava nele e sabia que jamais desampararíamos um ao outro. Trabalhamos nesse ramo em empresas diferentes, quando nos conhecemos, ambos tinham o mesmo sonho de abrir algo próprio e trabalhar com o que amavam.
— Então a empresa era dirigida por vocês dois? — ele pergunta.
— Sim, trabalhávamos juntos em tudo — eu respondo para ele. —A gente se dava muito bem no que fazíamos, tanto na vida pro ssional como na vida pessoal.
— E como era a relação de vocês dois? — ele pergunta.
— A nossa relação era muito boa, a gente se dava bem em tudo — ele me encara e faz sinal para que o escrivão escreva o que eu vou dizer. — A gente era um casal normal como qualquer outro, mas não existiam tantas brigas, algumas discussões normais por algo simples ou banais.
— No dia da morte da vítima, antes da festa de aniversário do lho de vocês. — ele fala me olhando. — Onde ele foi morto? — eu engulo seco quando ele diz a palavra morto — Você e ele foram vistos em sua casa à tarde discutindo por causa do sumiço dele durante o dia, isso é verdade? — encaro Murilo que assente com a cabeça.
— Sim — eu respondo. — Era aniversário do nosso lho e mesmo que não fosse, Paulo nunca saia sem me avisar e naquela manhã, ele deixou um bilhete e saiu às 7h da manhã em um carro desconhecido.
— Um carro desconhecido? — ele pergunta.
— Segundo a minha funcionária, um carro azul — eu respondo.
— E você não o questionou sobre esse carro? — ele pergunta.
— Sim, mas ele não me deu explicação.
— Quais as chances do seu marido ter uma amante? — ele pergunta.
—Uma amante? — eu refaço a pergunta dele — Uma amante? — eu questionei confusa. — Meu marido não tem amante.
— E como a senhora pode ter certeza disso? — ele pergunta.
— Eu tenho — eu respondo. — Paulo era um homem íntegro, com caráter e apaixonado pela sua família, ele não faria isso.
— Mas ele não disse para você, o que ele foi fazer naquela manhã — ele fala. — Ou ele te disse com todas as letras o que ele foi fazer?
—Não — eu respondo. — Ele apenas chegou com o carro e disse que tinha resolvido todos os problemas, que a gente poderia ter futuramente.
— E que problemas eram esses? — ele pergunta.
—Eu não sei — eu respondo.
— Você não consegue imaginar nada? — ele pergunta — Você acabou de me dizer que vocês eram perfeitos um para o outro, se completavam, eram super parceiros, e Paulo não te disse o que foi fazer aquela amanhã? E você deixou por isso mesmo sem questionar ele? — ele pergunta me deixando nervosa.
— Já estava próximo da hora do jantar de aniversário do nosso lho, quando a gente estava conversando… — ele me interrompe.
— Conversando ou discutindo? — ele pergunta.
— Discutindo na escada de casa — eu respondo. — Chegou o bu et e a minha funcionária me chamou, então eu fui resolver o problema.
— E qual era o problema? — ele perguntou.
— O bu et foi para o endereço errado — eu falo. — Era para ir para empresa e foi para minha casa, depois disso encontrei apenas Paulo para ir ao jantar.
— Eu vou te dizer o que Paulo fez no dia do crime — ele fala e eu o encaro — Uma das coisas, porque o tempo que ele levou para isso foi bem pequeno, mas encontramos um registro no cartório sobre a mudança em seu testamento e por ordem judicial, conseguimos ter acesso ao antigo e no novo testamento.
— Não estou entendendo — eu falo — Você está me dizendo que meu marido foi mudar o testamento naquela manhã?
— O registro aconteceu às 14:16 da tarde — ele fala. — O advogado não foi o senhor Murilo — eu olho para Murilo que balança a cabeça sem entender nada — Você sabe o que tinha no antigo testamento, para quem ele deixava?
— Não — eu falo.
— Você sabia da mudança? — ele perguntou.
—Não — eu falo.
— Você diz que eram um casal que se davam muito bem, mas está agora me dizendo que não sabia de nada que o seu marido fez naquele dia — Eu o encaro.
— Você está insinuando que eu tenho algo a ver com a morte do meu marido? Eu não estou mentindo em nada — eu falo olhando para ele — Estou sendo sincera, eu e Paulo sempre fomos parceiros, o que aconteceu naquela manhã foi algo atípico. —ele sorri.
— Bem no dia do crime ele resolveu não te contar nada, estranho — ele estreita os olhos me olhando — Resolveu tirar os bene ciários antigos do testamento que era seu irmão, seus sobrinhos e seu advogado que tinha um porcentagem de sua herança e da empresa, colocar apenas você e o lho como herdeiros total da sua fortuna, sendo que vocês dois são casados com divisão dos bens e cada um tem a sua fortuna, mesmo que são casados , você não teria direito a herança dele e muito menos aos 50% da empresa no testamento antigo, mas no novo testamento… — ele bate a caneta na mesa. — Seu lho que é menor de idade e caria com 25% já que a outra é sua e você é responsável legal por ele, acabaria cando com tudo, o mais estranho nessa história toda senhorita Bárbara — ele olha em meus olhos e eu olho para ele — É ele morrer horas depois de mudar o testamento, bene ciando apenas a senhora, e a única pessoa que estava presente quando acendeu as luzes era você, até porque as câmeras de segurança quando a energia voltou, gravou a senhora já ali e seus cunhados chegando depois. Me diz, é estranho, não é? — olho para ele cando tonta com tantas suposições.
— Eu não matei meu marido! — eu falo para ele. — Eu não matei o meu marido — eu digo exaltada e gritando dentro daquela sala. — Eu não matei o meu marido! — eu falo nervosa e chorando, Murilo tenta me acalmar.