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6

Era mais uma noite em claro e acho que iria demorar muito para conseguir ter uma noite tranquila. Eu tinha falado com Pedro agora pouco e ele não estava nada bem também, eu sei que eu iria ter que ser o alicerce para ele e a força de nós dois, por isso quis car sozinha aqui hoje e talvez amanhã também, para que Pedro não me veja fraca.

Eu passo a mão pela maçaneta da porta do seu escritório e entro, vendo que está tudo conforme ele tinha deixado, os papéis em cima da mesa, seu notebook, suas canetas preferidas. Tanta coisa que a gente viveu aqui dentro, tantas reuniões juntos, tantas coisas resolvemos e decidimos aqui, tantos momentos descontraídos, eu puxo a cadeira e me sento, abrindo as gavetas e vendo as suas coisas organizadas por data, Paulo era o homem mais organizado que eu havia conhecido, enquanto eu era a bagunceira em pessoa, mas essa nossa diferença nunca nos atrapalhou em nada, a gente se completa em tudo.

Eu me levanto e ando até a estante da biblioteca tocando nos seus livros preferidos, eu fecho os olhos e sinto ele do meu lado, quando abro os olhos não o vejo ali, fechava e abria os olhos diversas vezes com a esperança que ele aparecia na minha frente, mas agora ele só existe em meu coração e nas lembranças.

Eu me sento de volta na cadeira e abro o notebook para ver nossos vídeos e fotos juntos, Paulo sempre gostou de editar vídeos, então vivia gravando a gente, a nossa família, nossos momentos juntos. Quando eu ia abrir um vídeo, o celular toca e era Pietro.

— Oi — eu falo.

— Como você está? — ele pergunta.

— Sobrevivendo — eu respondo para ele. — Eu estou aqui no escritório de Paulo e parece que a qualquer momento eu vou ver ele sentado na sua cadeira, mexendo nas suas coisas e dizendo o quanto eu bagunço tudo que ele arruma.

— Eu sei o quanto está sendo difícil — ele diz. — Está sendo para todos nós, mas eu acabei de receber a ligação do Murilo. — Para depor? — eu pergunto.

— Não — ele fala. — Pedindo que você não mexa em nada que é do Paulo no escritório, porque eles vão fazer uma perícia, em tudo, no notebook dele, no escritório todo.

— Eu não acredito — eu falo. — Além deles não terem me deixado car com meu marido quando ele ainda estava com seu corpo quente, eles não querem que eu que aqui no escritório? Que eu toque nas suas coisas? Eu sinto Paulo mais perto de mim aqui.

— Eu entendo Bárbara, mas são procedimentos da polícia — ele fala. —Eu sinto muito.

— Procedimentos da polícia?! — eu falo indignada. Depois de Pietro tentar me acalmar, ele desliga a chamada.

Eu encosto a minha cabeça na mesa sobre os meus braços, e olho para a tela do notebook e vejo uma foto de nós três em uma das nossas viagens — A gente era tão feliz com você Paulo.

A porta se abre e Liliane entra, eu olho para ela.

— Senhora — ela diz se aproximando de mim.

— Oi — eu falo olhando para ela.

— Eu fui até a delegacia prestar meu depoimento — ela fala.

— Você precisou ir? — eu pergunto para ela.

— Si… Sim — ela responde um pouco trêmula — Sim, seu Murilo disse que eu precisava ir.

— E como foi? — pergunto.

— Seu Murilo disse que está tudo certo — ela fala.

— Não achei que você iria precisar ir — eu falo para ela.

— Todos vão ter que ir — ela fala.

— Eu preciso falar com Murilo sobre isso — Eu olho para ela — Por favor, tire o dia de folga.

— Mas… — ela fala me olhando. — E a senhora?

— Eu vou car bem — eu falo para ela. — Fica tranquila, eu vou car bem.

Ela me encara com um ar triste e preocupado no rosto, eu olho para um quadro atrás dela que ca na frente do cofre e me levanto.

—Liliane — eu falo. — Você sabe se alguém entrou no escritório depois que Paulo morreu?

— Não — ela fala e eu me aproximo do quadro tirando ele da frente e vendo que a porta está apenas encostada — Apenas seu Paulo entrou aqui antes de ir falar com o garçom do bu et, depois disso ele mesmo fechou a porta.

Eu abro o cofre vendo-o todo revirado.

— Estranho — eu falo. — Paulo nunca deixaria o cofre encostado.

— Ele estava nervoso para falar com o pessoal do bu et — ela diz — Ele saiu às pressas do escritório, até mesmo deixando a porta entre aberta.

— Obrigada — Eu falo para ela e ela assente com a cabeça.

Eu olho para o cofre revirado e me vem na cabeça, por que Paulo pagou o bu et em dinheiro daquela forma? E por que usou o dinheiro do cofre, que era para emergência?

Um dinheiro que estava ali há anos sem ninguém mexer?

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