8
Eu estou tão nervosa que eu era capaz de pular nesse policial de tanta raiva, eu não vou admitir que ninguém suspeite de mim, que ninguém me diga que eu posso ter matado Paulo, só eu sei o quanto estou sofrendo com a sua morte, que estou me sentindo morta por dentro.
— Calma — Murilo fala me olhando — Você precisa se manter calma.
— Como vou me manter calma, se esse senhor está me acusando de algo que eu não z? — eu falo olhando para o policial — Eu jamais mataria Paulo, ele é pai do meu lho, o que ele decidiu ou não fazer com a sua parte da herança, é problema dele, ele tinha a liberdade para fazer o que ele quisesse — eu suspiro nervosa — Se ele decidiu dar uma parte das suas ações para seu irmão, sobrinhos, advogado, é porque ele sabia que era o certo a se fazer.
— Você só está dizendo isso agora, porque sabe que ele mudou o seu testamento — ele fala.
—Por favor… — Murilo fala — O fato da mudança do testamento, não faz da minha cliente a assassina. As suas perguntas estão muito invasivas e está deixando minha cliente nervosa, sendo que faz poucos dias que ela perdeu seu marido.
— Eu não matei meu marido — eu falo para ele — Você pode entrar na minha casa, investigar, pegar tudo, nossos computadores, celulares, documentos, o que vocês quiserem e a única coisa que você vai ver, é que eu e Paulos nos amávamos demais e até na sua morte, eu achava que não existia segredos entre nós dois.
— Então agora existem segredos? — ele pergunta.
—Barbara — Murilo fala — Por favor investigador Vitor, vamos encerrar esse depoimento aqui, minha cliente está muito nervosa.
—Não — eu falo olhando para ele — Eu não sei, eu não sei de mais nada. A única coisa que eu sei, é que eu amo Paulo e amei a minha vida toda e estou sofrendo demais com a sua morte, eu não mereço passar por isso, ser culpada por sua morte, eu não mereço isso!— eu falo chorando.
—Por favor, imprima o depoimento dela e dê para ela ler e assinar — O investigador fala um pouco sem paciência. O escrivão entrega o papel para o para ele que está sentado na minha frente — Fique à vontade para ler e assinar — eu pego o papel.
— Lê com cuidado —Murilo fala.
Eu e ele olhamos os papéis do depoimento e depois dele dizer que está tudo certo, eu assino o papel e entrego para ele.
— É de extrema importância que não seja mexido em nada que era de Paulo, tanto no seu escritório pessoal como na empresa — O policial fala — Todos os seus eletrônicos, assim como agendas e documentos pessoais, será preciso ser entregue para a polícia.
—Já sabe quando será feita a perícia e a retirada dos eletrônicos, dos documentos pessoais da empresa e da casa? — Murilo pergunta.
—Iremos entrar em contato — ele fala —Mas será o mais rápido possível — eu encaro — A senhora precisa car à disposição para qualquer esclarecimento que a gente precise.
—Claro — eu respondo.
— Estão liberados, uma boa tarde — Ele fala.
—Obrigado, boa tarde para o senhor também — Murilo responde.
Eu saio da sala anestesiada com tudo que tinha acontecido e com tantas informações que eu fui metralhada em poucas horas, Pietro esperava a gente do lado de fora.
—Como foi? — ele pergunta para nós e eu e Murilo nos encaramos.
—Murilo te conta — eu falo para ele.
— Aonde você vai? — ele pergunta
— Não sei, eu preciso tomar um ar — eu falo para eles.
Eu saio andando da delegacia totalmente sem rumo, as lágrimas desciam pelo meu rosto. Em um momento assim, onde eu me sinto totalmente frágil, quem iria me dar a mão para levantar seria Paulo, ele cuidaria de mim, contaria uma piada para me fazer rir ou contaria algum momento difícil que passamos juntos para que eu me sentisse mais forte. Contudo, agora eu não tinha mais ele, não tinha seu abraço, seu toque, eu não tinha nada.
E eu só conseguia pensar nas coisas que ele me disse naquele dia, as suas palavras vêm e vão na minha cabeça o tempo todo, eu não conseguia dormir porque toda vez que eu me deitava com a cabeça no travesseiro, eu me lembro dele dizendo que talvez quando Pedro completasse 18 anos, ele não estaria vivo para dar o carro de presente para ele.
Parece que ele sabia que sua hora iria chegar e preparou tudo nos mínimos detalhes, a nossa última dança, agora vejo que era uma despedida, as suas palavras, seu toque, seu carinho. Eu não sei se foi proposital ou foi Deus que fez com que a gente se despedisse naquela dança, naquela noite, era uma dor imensa, uma dor horrível que eu não desejava para ninguém.
A delegacia não era longe de casa e eu vim andando, quando chego na esquina vejo de longe um carro azul parado na entrada do portão. Seria o mesmo carro que pegou Paulo aqui? Eu saio correndo, mas vejo que o carro começa dar ré para sair da frente de casa.
— Espera — eu grito — Espera! — eu ainda estava longe e saio correndo — Espera, por favor — eu grito o mais forte que consigo, mas não tinha chegado nem na metade quando o carro sai pela direção ao contrário que eu estava. — Não! — grito desesperada, a pessoa que dirige esse carro era a resposta de todo o mistério daquele dia.
Eu chego na frente do portão e olho para o porteiro que trabalha em nossa casa.
—Quem era? — eu pergunto para ele.
—Não se identi cou — Ele fala.
—Como não identi cou? — eu pergunto — O que ele queria? Alguma coisa ele veio fazer aqui.
— Ela queria falar com o senhor Paulo — ele fala — Quando eu disse que ele tinha falecido, ela entrou dentro do carro nervosa e saiu sem falar nada.
— Ela? — eu pergunto — Ela? — eu pergunto novamente.
— Sim, ela — ele responde — Era uma mulher.
— Você já viu essa mulher antes? — eu pergunto.
—Nunca! — ele fala.
—Anotou a placa do carro? — eu pergunto.
—Também não — ele responde.
— O senhor tem certeza de que era uma mulher? — eu pergunto para ele novamente.
— Sim — ele fala — tenho certeza.
—Uma mulher? — eu pergunto para mim mesmo.
— Uma mulher dirigia aquele carro azul. Meu Deus, Paulo, o que você fez naquela manhã — eu falo fechando os olhos e me encostando no muro. — Meu Deus, porque você não está aqui comigo — eu falo me sentando na calçada mesmo.
Por que Paulo sairia com uma mulher naquela manhã e não me falaria nada?