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Ataque duplo

Dia 1 de julho de 2008

Detetive Lupa 

   Depois de ter conversado com os meus companheiros, fui ao encontro desta pessoa que queria falar comigo. Chegando na recepção, encontrei um homem magro, com orelhas grandes e sardas em seu rosto. Seus cabelos eram castanhos claros, sua pele era bronzeada e ele tinha mais ou menos a minha altura. Usava um terno marrom acinzentado e estava de pé, fazendo companhia ao policial que estava na recepção. 

   — Boa tarde, Detetive Lupa, tudo bem? — Ele indaga para mim. 

   Por um momento pensei que eu já o tinha visto antes e sim, já o vi. Seu nome era Expedito Ferreira. Ficou conhecido em Colina Verde por ter problemas de depressão e ansiedade. Ele foi humilhado por sua esposa que se aproveitava dele que era uma pessoa totalmente inofensiva e baixava a cabeça até para uma criança. Resumindo, era uma pessoa de pouca atitude e que deixava todo mundo pisar em cima dele até hoje. No entanto ele era bem carismático, isso não podia ser negado. Fiquei surpreso que ele quisesse falar comigo sobre algum assunto. Mal posso esperar para saber o que ele quer. 

   — Detetive, eu soube que o senhor está investigando o caso do Ladrão das Mulheres. — Disse Expedito. 

   — Sim, sim. E pelo visto Márcia Leal deve ter lhe contado. 

   Ele se espantou com a minha dedução. 

   — Como o senhor soube? Pelo visto sua intuição anda cada vez mais aguçada. — Ele disse. 

   Abri um sorriso e respondi, abrindo uma embalagem de chocolate:

   — Bem, meu caro Expedito, o que é mais forte que pode até mesmo combater minha inteligência, é a minha intuição. E é notável que a Dona Márcia tenha lhe contado sobre a investigação que abri, até porque… — Decidi fazer uma pausa. Não queria contar muito sobre a causa de que eu abri tal investigação. 

   Expedito Ferreira começa a rir e nisso, fomos nos sentar nas cadeiras, já que não tinha ninguém. 

   — Detetive Lupa, eu andei alguns dias fora de Colina Verde e voltei hoje mesmo. 

   — Isso é bom. — Respondi. 

   — Bem, eu queria lhe dar esta caixa de bombons. Sei que o senhor adora chocolate. — Ele tinha uma mala consigo e tirou de dentro uma caixa de bombons. 

   Fiquei impressionado. Engoli o último pedaço do chocolate que estava comendo e já peguei a caixa que ganhei e a abri. Peguei um bombom e dei outro para ele. 

   — É muita gentileza, Senhor Expedito. — Disse para ele. 

   O policial ficou apenas nos observando e fui dar um chocolate para ele. Estava muito feliz que tinha ganho um presente como este e nisso indaguei para Expedito Ferreira:

   — O senhor só veio me dar este presente? 

   — Não, senhor. Claro que não. — Ele respondeu. — Outro motivo da minha visita é que eu queria dizer para o senhor tomar cuidado com esse Ladrão das Mulheres. Ele há pouco quase me matou e pelo visto ele parece mais violento do que antes.  

   Olhei para ele que apresentava uma emoção assustada. Não era de menos que ele se deixasse ser pisado por todos. 

   — Não se preocupe, Senhor Expedito. — Disse para ele com um tom gracioso. — Lembre-se que eu estudei várias artes marciais. 

   Ele começou a rir e responde:

   — Sim, sim, já era de se esperar do grande Detetive Lupa. 

   — Mas é claro. — Disse sorrindo. 

   — Bem, Senhor Detetive, desejo boa sorte para o senhor nas investigações. Preciso voltar para casa e me preparar para viajar em seguida para Triunfo. Minha esposa faleceu naquela cidade. 

   — Oh, sinto muito. Por que não quis enterrá-la aqui? — Indaguei. 

   — É porque era o sonho dela ser enterrada de onde nasceu. Lembra que ela é triunfense? — Indagou Expedito Ferreira. 

   — Oh, sim. Tinha esquecido. 

   Expedito Ferreira deu mais uma risada, só que menos efetiva. 

   — Já vou indo. Até mais, Senhor Detetive. 

   — Claro, até mais, meu amigo Expedito. 

   Para o leitor entender, já defendi Expedito Ferreira várias vezes de diversas situações que às vezes chegava a lhe ameaçar a vida. Ganhei o respeito dele e o meu amigo sempre buscava me agradar da melhor forma possível. Não desmereço suas boas intenções, mas mesmo que eu não o considere como amigo e sim como uma pessoa que me admira e que me respeita, ainda sou grato pelo presente, ainda mais sendo chocolate (risos).

   

                                ×××

Dia 1 de julho de 2008

Alice Lopes

   Estava fazendo uma planilha com as anotações que o Lupa deixou para mim, quando vejo ele chegar com uma caixa de bombom aberta. 

   — Peguem, mas apenas um. O resto é meu. — Ele disse e todos gritaram "Ah", porque tínhamos conhecimento do clássico vício dele de chocolate. 

   Levantei-me para pegar um bombom da caixa que estava sobre a mesa de Lupa, aberta para nós, enquanto ele trabalhava. Eduardo Mendes e Ketlin Mahoney foram os próximos. Em seguida, Bruno Jalkh e Jane Marple. 

   Depois de ter comido o bombom, voltei ao trabalho. Já eram quase quatro horas e Lupa chamou Eduardo Mendes e eu para irmos à mesa dele. Fomos até lá e ele vira a caixa de bombom para si, pegando um. Ele abre e começa a comer o doce. 

   Após algumas mastigadas, ele indaga:

   — O que vocês têm a dizer de nossas testemunhas? O que acham que o Ladrão das Mulheres está planejando fazer? 

   — Bem… — Comecei a me manifestar. — Confesso que uma coisa me surpreendeu, é que ele atacava as mulheres pela manhã, mesmo que estivessem acompanhadas dos homens. 

   Ele engole o chocolate que estava mastigando e depois responde:

   — Eu vou ser sincero com vocês. Eu não acredito no depoimento delas. 

   — Já começou a viajar. — Responde Eduardo Mendes e eu dou uma cotovelada no braço dele. 

   Lupa olha feio para o parceiro e acrescenta:

   — O motivo pelo qual eu não acredito nas vítimas é porque fica muito sem sentido. Antes ele atacava pela manhã e depois ele muda pela noite, o que não tem muito sentido. 

   — Se parar para analisar, Lupa, ele fez isso para nos despistar. — Respondi. 

   — Sim, isso seria uma possibilidade, mas não creio que esse seja o caso. A observar pela Márcia Leal. Ela disse que foi comprar pão às cinco da manhã. Quem vai sair para ir ao mercado às cinco da manhã, sendo que nem nesse horário eles abrem? Os mercados de Colina Verde abrem às oito. Foi uma mentira mais que confirmada. Outra causa que Márcia Leal mentiu no depoimento foi que Ágata Estocolmo concordou com tudo o que eu disse sem se dar ao trabalho de analisar meus argumentos. 

   Franzi a testa e indaguei:

   — Aonde você quer chegar com isso, Lupa? 

   — O que quero dizer é que há duas possibilidades: A primeira é que elas podem ter sido ameaçadas pelo Ladrão das Mulheres de não revelar algo que possa entregá-lo para nós ou então elas devem estar sendo as cúmplices. 

   Eduardo Mendes e eu nos espantamos com o que ele disse. Mas não tinha como Márcia Leal e Ágata Estocolmo serem cúmplices. Eram mulheres decentes e não fariam mal a ninguém e acho que nem pediriam para que fizesse mal para as outras pessoas. 

   — Você ficou doido, Lupa? Elas cúmplices? — Indagou Eduardo Mendes. 

   — Bem, meu caro, amigo, lembre-se do ditado: As aparências enganam. Mas não dá para confirmar exatamente isso. Teria que investigarmos mais a fundo sobre isso e creio que seria perda de tempo. Por outro lado, Ana Nogueira. Lembram do depoimento dela? Foi atacada de madrugada pelo Ladrão das Mulheres e foi no período que eu estava de férias.

   — Pois é. — Respondi pensativa sobre o depoimento de Ana Nogueira. — Será que ele trocava de turno para atacar as mulheres? 

   — Isso seria possível. — Respondeu Eduardo Mendes. 

   — Bem, eu acho que não. Defendo a ideia de que o Ladrão das Mulheres só ataque à noite. Pelo dia ficaria nítido seus crimes e pelo visto é uma pessoa muito discreta. — Respondeu Lupa. 

   — Bem, o que devemos fazer para prosseguir agora? — Indaguei. 

   — Que horas são agora? — Questiona Lupa. 

   — São quatro e quinze. — Respondi, ao olhar para o meu relógio de pulso. 

   — Certo. Vamos dar um pulo na Praça do Pavão. Quem sabe não tenha uma pista lá, mas vamos fazer isso às cinco e quinze. Ficaremos alguns minutos aguardando por seu possível paradeiro e depois vamos embora. — Sugeriu Lupa. 

   — Está bem, porque eu não quero perder um filme que vai passar hoje. 

   — Vocês e suas indústrias de massa. Bem, estão dispensados. 

                                 ×××

Dia 1 de julho de 2008

Eduardo Mendes

   Como o chefe combinou, iríamos sair às cinco e quinze. Comunicamos a Jane Marple e assim foi feito. 

   Entramos no carro de Alice Lopes e fomos até a Praça do Pavão. 

   Chegando lá, estava bem movimentado. 

   — Incrível como as pessoas são irracionais. — Disse o Lupa. Lá vem, Senhor. — Sabem que a Praça do Pavão não é um lugar seguro no momento e ainda querem priorizar o lazer. É uma pouca vergonha mesmo. — Ele abre a porta do carona irritado e fecha, sem lacrar. 

   Alice Lopes e eu saímos em seguida. Estávamos nos dirigindo para a Praça do Pavão. 

   — Lupa, como vamos encontrar vestígios do Ladrão das Mulheres? — Indagou Alice Lopes. 

   — Bem, vamos até o local onde estava Relógio, Gabriela Asa e Emilia Marenguez. Segundo o que a Relógio disse ela estava em um local onde pudesse ver o pôr-do-sol. — Ele aponta para um banco que estava sendo coberto pelo sol. Minha nossa, deve estar bem quente ali. 

   Lupa foi até lá e nisso, ele fica olhando para o chão ao redor, com o intuito de procurar alguma pista.

   — Será que já não limparam? — Indagou Alice Lopes. 

   — Não. Os garis só limpam a praça nas sextas e hoje é terça. — Respondeu Lupa. Como esse esperto esse filho da mãe. — Achei. 

   Fomos até ele e encontramos uma bala perdida, um pingo seco de sangue e um pedaço de roupa rasgada. 

   — Minha nossa. — Comentei. 

   — Sim, meus amigos. — Lupa se agacha, pega a bala e a analisa. — Ela foi disparada ontem mesmo. Vai fazer quase um dia que ela está aqui. Foi um milagre ninguém ter notado essa bala. Está bem fria, por conta do tempo que está fazendo. Este sangue seco deve ser de Gabriela Asa. Daqui a três dias ele vai sumir por conta da terra, já que a praça é uma mistura de grama e chão batido. E também temos um pedaço da roupa que Gabriela Asa estava usando. Por conta do tiro que ela levou, sofreu o impacto. — Lupa se levanta e caminha mais para frente. De Repente ele para e se vira para nós. — Foi daqui que o Ladrão das Mulheres atirou em Gabriela Asa. — Ele saca a arma e aponta para nós. — BANG! — Começa a rir e fizemos cara de desgosto. — Desculpem. Não queria perder a graça, mas foi exatamente isso que aconteceu. 

   — Muito bem, Lupa. — Respondeu Alice Lopes. 

   De repente, ouvimos um tiroteio vindo do outro lado da praça. 

   — É o Ladrão das Mulheres. Vamos atrás dele. — Disse Lupa. 

   Assim fizemos. Começamos a correr onde ouvimos o tiro e várias pessoas corriam em nossa direção para fugir daquele homem. Foi quando apareceu o Ladrão das Mulheres. Sério que ele usa essa fantasia de Morte? Coisa mais brega! 

   — Fim da linha, Ladrão. — Disse Lupa, mostrando coragem. 

   — Mesmo? — Indaga o Ladrão das Mulheres, que forçava uma voz para que não reconhecêssemos quem era. O mesmo pega sua arma e aponta para nós. 

   Lupa também aponta sua arma para ele, ficando à nossa frente. 

   — Está maluco, detetive? Não se importa em morrer? — Indaga o Ladrão das Mulheres. 

   O detetive dá um sorriso e atira nele, mas pega na roupa, em uma parte que não tinha contato com o seu corpo. 

   — Errou. Agora é minha vez. — Ele ia atirar, mas antes disso, Lupa chuta o barro, jogando-o para cima e dando vários tiros. O Ladrão das Mulheres acabou correndo, fugindo com medo. 

   Íamos atrás dele, mas Lupa nos impediu. 

   — Por quê, Lupa? Ele está fugindo! — Disse Alice Lopes, desesperada. 

   — Não se preocupe, Alice. Seria bom que ele fugisse para tirar minhas dúvidas. Uma delas é quem é ele. 

   — Mas se nós o pegássemos, iríamos saber quem ele era. — Ela disse. 

   — Sim, de fato, mas temos alguns pontos também a esclarecer. Um deles era por que Márcia Leal e Ágata Estocolmo estavam mentindo. E eu também já tenho uma estratégia para pegá-lo, não se preocupem. 

   — Vamos confiar em você, mané. Mas e se ele agredir mais alguém? — Indaga Eduardo Mendes. 

   — Não se preocupem. Eu tenho tudo planejado. Confiem em mim. Eu vou pedir para a Guarda Municipal ficar de olho na Praça do Pavão, já que ele ganha a vida aqui atacando os outros. 

   Ficamos mais aliviados. Agora basta que nós avaliássemos quem seria o Ladrão das Mulheres, o que ainda era uma grande dúvida para nós. 

   — Vocês trouxeram luvas de cirurgia? — Indaga Lupa, que se agacha, mirando no trapo que ele tinha arrancado ao atirar no Ladrão das Mulheres. 

   — Bem, nós não pegamos. — Respondeu Alice Lopes. 

   — Sem problemas. — Lupa pega com a ponta dos dedos em uma região do trapo para não colocar 100% suas digitais. — Vamos levar este trapo para o Bruno Jalkh. Precisamos verificar quem é o dono deste traje. 

   — Está bem. — Alice Lopes destranca o carro e entramos no mesmo. 

                                ×××

Dia 1 de julho de 2008

Detetive Lupa

   Chegando no laboratório, fui até Bruno Jalkh e disse:

   — Acabamos de chegar da Praça do Pavão e queria que você investigasse amanhã quem seria o dono dessa fantasia de Morte. 

   — Oh, sim. Parece que confrontaram ele, não estou errado? — Indaga Bruno Jalkh. 

   Sorri para ele apenas assenti que sim. 

   — Sim, meu caro amigo, acertou. Como faltam cinco minutos para encerrarmos o expediente, vamos terminar os trabalhos amanhã, afinal a pressa é inimiga da perfeição. 

   — Certamente. Vamos lá então. — Responde Bruno Jalkh, que pega o trapo de minha mão com suas luvas e a deixa em um canto para avaliá-la amanhã. 

   Saí da sala e Bruno Jalkh arruma tudo, apaga a luz, fecha a porta e íamos saindo, afinal tinham mais cinco minutos e ainda tínhamos que arrumar nossas coisas para sair. 

 

                                 ×××

Dia 1 de julho de 2008

Alice Lopes

   Já era noite. O céu noturno estava assumindo o controle agora. Estava tão linda a noite, mesmo que não fosse totalmente estrelada. Seria possível ver as estrelas, mas elas não estavam em grande vigor como de costume de Colina Verde. A lua brilhava forte e parecia maior, o vento gélido ventilava a cidade de uma forma que fosse a níveis baixíssimos. 

   Estava em minha casa com o aquecedor ligado. Fazia muito frio lá fora. Minha gata, Marie estava dormindo em sua caminha que fiz para ela. Fui até a cozinha preparar o jantar, mas antes ia pegar a ração da minha gata para servi-la. Assim eu fiz. Abri a última porta do armário para pegar o pote que tinha a ração, mas quando fui verificar, não tinha mais. 

   — Droga! — Comentei comigo mesma. — Não acredito que vou ter que sair nesse frio. — Olhei rapidamente para o relógio para ver que horas são. Dei sorte. Ainda eram sete e meia. Os mercados de Colina Verde fechavam às oito. 

   Nisso, saí correndo para o meu quarto me vestir e peguei um casaco xadrez, um blusão preto, um cachecol colorido, calça jeans e botas e me vesti. Em seguida, olhei para a minha gata que estava dormindo ainda e dei um sorriso para a mesma. 

   — A mamãe já volta. — Disse para ela. 

   Nisso, saí de casa. 

                                ×××

   Sim, de fato era um perigo sair à noite, ainda mais que eu era o alvo de alguém como o Ladrão das Mulheres. Mas eu sou policial e detetive. Sei me cuidar. Eram esses os pensamentos que eu tinha, quando coloquei a mão na testa. 

   — Droga. Esqueci a minha arma. — Comentei. 

   Estava indo a pé para o mercado. Meu carro tinha quebrado quando ia para casa. Lupa e Eduardo Mendes me ajudaram a levá-lo para uma oficina. O mecânico disse que até o final da semana ele estará novo em folha. Até lá tenho que esperar. 

   Quando ia dar meia-volta, sinto algo me cutucar e antes que me virasse, a pessoa fala:

   — Se você se virar, vai levar um tiro nas costas. 

   Nesse momento fiquei um pouco assustada, mas eu tinha que revidar. Por que eu fui esquecer aquela maldita arma? 

   — Como você quer ser agredida? Morte? Roubo? Estupro? — Ele indaga e nisso eu já entendi do que se tratava. Era o Ladrão das Mulheres. Ele era bem esperto quando via uma andando por aí sozinha. 

   — Você é valente com as mulheres, não é? — Indaguei. 

   — É melhor ficar quieta se não quer morrer. Agora escolha. Como quer ser assaltada? 

   — Tome.

   — O que disse? 

   — Tome isso! — Girei meu corpo e chutei a cabeça dele, que cai no chão. 

   Fui tentar imobilizá-lo, mas ele me empurra com os dois pés para o chão. Ele se senta em cima de mim e eu tentei me desprender dele. Vi que o Ladrão das Mulheres não era tão forte fisicamente, mas quando eu continuava, ele bate com a arma na minha cabeça e sinto que acabo desmaiando. 

 

                                  ×××

Dia 1 de julho de 2008

Doutora Relógio 

   Estava andando por aí de carro na cidade fumando meu cigarro. Não tinha nada para fazer no meu apartamento e decidi dar uma volta na cidade. Condomínios não são muito populares nesta cidade, mas ainda tinha um que gostava bastante de morar ali. 

   Dando uma baforada no meu cigarro diante da janela, vi que um homem estava em cima de uma mulher desmaiada. Mas o que significa isso? Fiquei espantada ao ver aquilo e ao conseguir identificar a mulher, mesmo na noite, mas graças à iluminação da cidade que não era nada exagerada, vi que era a Alice Lopes que estava sendo refém do Ladrão das Mulheres. Tinha que fazer algo. Imagina só o terror que seria se a imprensa divulgasse que ele matou uma policial. Colina Verde perderia sua paz. 

   Parei o carro, virando a esquina e saí rapidamente dele, trancando-o. Deve ser loucura o que estou fazendo. Eu odeio humanos, mas eu nunca disse quais tipos. Alice Lopes, pela aparência, é uma pessoa gentil e dócil com o próximo. Não merecia morrer, não agora. 

   Meus saltos poderiam fazer barulho se eu corresse para parar aquele homem, então o que eu fiz foi o seguinte. Peguei meu isqueiro e fiz o gás sair por completo. Nisso, liguei a parte do fogo e saiu uma chama enorme. O homem se assustou ao sentir um calor vindo das costas dele e se virou. Ao me ver, ele aponta a arma para mim, desesperado. Sei por que ele está assim. É por causa que já nos topamos antes. Sim, de fato eu estava lidando com o Ladrão das Mulheres. 

   — Você vai me perseguir agora? — Ele indaga, nervoso. 

   Nisso, Alice Lopes acorda e se chacoalha o mais forte possível. Ela consegue sair debaixo dele e tenta pegar sua arma, onde o Ladrão das Mulheres não deixava. No entanto, Alice Lopes consegue pegar e aponta para o mesmo. 

   — Quem é você?! — Ela indaga. 

   No entanto, o Ladrão das Mulheres, que tinha o rosto coberto por uma máscara de V de Vingança, apenas ria. Ele se joga para cima de Alice Lopes na frente e nisso estava rolando no chão. 

   Um carro estava vindo na direção deles. Começava a buzinar ao ver os dois brigando e o Ladrão das Mulheres dá um soco no rosto de Alice Lopes, fazendo ela recuar e o carro passar por cima dele, que ainda estava deitado. Quando o carro saiu de nossas vistas, ele não estava mais lá. 

   Vi Alice Lopes deitada no chão com a mão em seu rosto. Ele teria atingido sua bochecha e, nisso, fui ajudá-la. 

   — Você está bem? — Indaguei. 

   Ela olha sorrindo para mim, ainda tonta com a luta que teve com o Ladrão das Mulheres. 

   — Você me salvou, Relógio. Por quê? 

   — Bem… Você precisava de ajuda, não? — Respondi. 

   Ela volta a sorrir para mim e dá mais uma resposta:

   — Eu sabia que você era gentil. 

   — Não é nada disso, menina. Você é amiga do meu rival. E… 

   — Isso não é desculpa. Por qual motivo me ajudou? 

   Coloquei minhas duas mãos no bolso traseiro da minha calça e peguei um cigarro e o acendi. 

   — Minha nossa, como você fuma. — Ela disse. 

   — Eu gosto de fumar. — Respondi, após uma baforada. — Eu ajudei você porque de alguma forma você tem aquilo que os humanos não têm. 

   — O quê? 

   — Generosidade. É bem difícil de encontrar uma pessoa generosa. 

   — É verdade. — Ela responde um pouco sem jeito. 

   — O que está fazendo no meio da noite, menina? Está frio e é muito perigoso com um louco como aquele à solta. — Dei mais uma tragada em meu cigarro. 

   — Estava indo para o mercado comprar ração para a minha gata. 

   — Ah. — Dei mais uma tragada e depois assoprei a fumaça. — Você não tem carro? 

   — Ele está na oficina. Só no final da semana que posso pegá-lo. 

   — Que merda. — Respondi e, nisso, dei mais uma tragada e joguei o cigarro na calçada. — Quer que eu lhe dê uma carona? Está bem perigoso andar na rua. 

   — Bem, você não está ocupada? 

   — Não estou fazendo nada além de matar meus pulmões. — Dou uma risada e sinalizo com a mão para me seguir. 

   — Eu ainda esqueci minha arma. — Ela disse. 

   — Não tem problema. Aliás, foi até bom. Você e o Lupa estão investigando quem pode ser aquele cara, não é? — Destranquei o carro e abri a porta do motorista, enquanto Alice Lopes abre a porta do carona. 

   — Sim, ainda estamos investigando. 

   — Bem, e o que tirou disso tudo? — Liguei o carro e estava quase arrancando. 

   — Que ele não é bom em um combate corpo a corpo. 

   — Posso ver isso. — Começo a arrancar e ir para o mercado. — Aliás, onde fica. 

   — Segue reto. — Ela responde. 

   Comecei a dirigir até o mercado e quando chegamos, após dois minutos, ela me fala:

   — Quer jantar comigo? Não sei se…

   — Sim. Pode deixar que o jantar seja por minha conta. — Respondi, sorrindo. 

   Sim, eu gostava da Alice Lopes. É uma pessoa bem gente fina. Deve ser por isso que o Lupa se dá tão bem com ela. 

   Saímos do meu carro e fomos até o mercado. 

                                  ×××

Dia 1 de julho de 2008

Alice Lopes

   Eu queria convidá-la para jantar comigo porque era uma maneira de mostrar que estava feliz que ela tenha me ajudado a deter aquele monstro do Ladrão das Mulheres. Ainda era um mistério para saber quem era, mas eu sei que vamos desvendar mais uma vez esse mistério. 

   Entramos na minha casa, Relógio e eu e começamos a separar as compras. Peguei o pacote de ração, coloquei na tigelinha da minha gata e o resto coloquei no pote onde eu deixo sempre. Relógio pegou uma pizza congelada e a deixou sobre a mesa. 

   — Deixe que eu coloco no forno depois. Pode se sentar, Relógio. Eu assumo a cozinha. — Disse para ela. 

   A advogada sorriu e foi até a sala. 

   Estava arrumando as coisas para a minha gata e fui levar a comida dela para ela. Deixei em sua frente, que estava bem à vontade em sua caminha. Relógio sorri ao ver Marie e indaga:

   — Qual o nome dela? 

   — Marie. Ela já é adulta. — Respondi com as mãos entrelaçadas na frente. 

   Relógio parecia feliz ao ver Marie. Notei isso, porque ela estava louca para fumar e ver a minha gata comendo sua ração. 

   — Se quiser fumar, pode ficar lá na frente. — Sugeri. 

   — Não, está tudo bem. É que eu adoro animais e crianças porque são o símbolo da inocência. — Ela respondi. 

   — Você tem razão. — Respondi, sorrindo também. 

   Depois de ficarmos observando Marie comer, eu falei:

   — Vou esquentar nosso jantar. 

   — Está bem. — Respondeu Relógio. 

                                 ×××

02/07/2008

Detetive Lupa

   Já era de dia. Escuto o despertador berrar, parecendo aquelas cigarras das manhãs de verão. Desligo ele e me levanto. Estava com muito sono, mas disposto a colocar o Ladrão das Mulheres no xadrez. Ele foi o responsável por acabar com a paz que habita esta cidade e como detetive e policial, tenho a obrigação de acabar com essa farra dele. 

   Fui tomar meu café ao som de Mozart, meu compositor favorito. As pessoas costumam ouvir essas músicas de funk que irritam meus ouvidos ou aqueles rock malucos. Ou para quem é mais tradicional, escuta pagode e música sertaneja. Eu não gosto muito desses ritmos. Sou mais de música clássica, instrumental e ópera. Desde criança sempre gostei de ouvir esse tipo de música. 

   Depois de ter me arrumado, fui sair nesta manhã de quarta-feira, que estava com um tempo nublado. Não dava indícios de chuva, mas quem sabe amanhã. 

   Quando ia começar a andar de bicicleta, estando eu perante a calçada na frente de minha casa, vejo Expedito Ferreira caminhando na minha direção. Vi que ele estava mancando. 

   — Bom dia, detetive. — Ele disse. 

   — Olá, Senhor Expedito. — Respondi, segurando minha bicicleta. — O que aconteceu? Parece estar mancando. 

   — Ah, sim. — Ele riu. — Acordei de mau jeito. 

   — A ponto de mancar? 

   — Eu tenho um problema ósseo neste tornozelo, o que faz com que eu fique mancando, caso eu durma de mau jeito. 

   — Mesmo? Porque das últimas vezes nunca vi o senhor assim. É recente? 

   — Sim, senhor detetive. Desde que voltei para Colina Verde apresentei esse problema. 

   Comecei a fazer uma breve análise e nisso respondi:

   — Bem, o senhor precisa se cuidar. 

   — Aliás, senhor detetive, antes que o senhor vá, queria saber como andam as investigações. 

   — Por qual motivo? — Indaguei curioso pelo seu interesse. 

   — Bem, senhor detetive. Imagina só a situação dessas mulheres. Não podem ficar um determinado período do dia nas ruas porque tem um maníaco que age assim. 

   Abri um sorriso e respondi:

   — Bem, Senhor Expedito, não posso lhe revelar nada a respeito das investigações, mas posso lhe garantir apenas que está tudo dentro do planejado. 

   — Oh… Sim… Sim. Certo, entendi. Bom trabalho, detetive. Preciso comprar algumas coisas no mercado. — Ele disse e saiu do meu ponto de vista. 

   Achei estranho esse jeito dele. O que me chamou atenção foi a causa dele ter demonstrado interesse em minhas investigações. Não tinha nada a ver com ele e que eu saiba ele não tinha compromisso nenhum. 

   Fiquei pensando mais sobre isso, enquanto estava pilotando minha bicicleta. 

                                ×××

02/07/2008

Bruno Jalkh

   Eu prometi ao Lupa que iria verificar quem seria o dono desse pedaço de roupa. Fui um dos primeiros a chegar. Estavam Eduardo Mendes e Ketlin Mahoney mexendo em seus computadores. Jane Marple, Alice Lopes e Lupa não chegaram ainda, mas eu acho que daqui a pouco estão vindo. 

   Depois de ter batido meu ponto, indaguei Ketlin Mahoney:

   — Vai usar o laboratório agora? 

   — Bom dia. — Chegava o Lupa, comendo seu chocolate. Que homem mais chocólatra esse Lupa. Minha Nossa Senhora! 

   — Oi, seu merda. — Responde Eduardo Mendes. Deus, por que eles agem assim? 

   Lupa foi bater seu ponto, ainda comendo seu chocolate e depois que ele se sentou, fui falar com ele, mas antes, Ketlin Mahoney disse:

   — Pode usar o laboratório. 

   — Certo. — Respondi. 

   Fui até Lupa e disse:

   — Vou começar os exames daquele trapo. Talvez agora pela manhã o autor do Ladrão das Mulheres saia algemado. 

   Lupa abre um sorriso e responde:

   — Sabia que podia contar com o senhor, Bruno. 

   — Claro que sim! Sem problemas! Estou indo para o laboratório. 

   — Certo. — Ele respondeu. 

   

                                 ×××

02/07/2008

Alice Lopes

   Jane Marple e eu chegamos juntas. Demos bom dia a todos que estavam na sala e fomos às nossas escrivaninhas. Bati meu ponto e nisso, Lupa me chama. 

   — Vamos ver quem é esse Ladrão das Mulheres. Venha até o laboratório. 

   Todos olharam para ele. 

   — Minha nossa. Eu nunca vi você resolver um caso tão rápido. — Disse Jane Marple. 

   — Como diz o ditado, Dona Jane. A raposa perde o pêlo, mas não perde a experiência. 

   Ela começou a rir e fez sinal positivo com o polegar, mostrando que gostou do seu dito. 

   Fomos até o laboratório e Bruno Jalkh estava analisando o trapo com o nosso Detector de Digitais. 

   — Está identificando. — Ele disse, quando chegamos perto. 

   Quando íamos olhar para a tela para ver quem era o Ladrão das Mulheres, aconteceu um apagão. 

   — FILHA DA PUTA! — Foi o Eduardo Mendes quem gritou, provavelmente. 

   — Minha nossa, justo agora. — Disse Lupa, decepcionado. 

   — Pois é. Estávamos tão perto. E parece que vai demorar. — Disse Bruno Jalkh. — Essas faltas de luz demoram horas para voltarem aqui em Colina Verde. 

   — Bem, não podemos ficar rezando para que a luz volte. Vamos trabalhar. 

   — Como, Lupa? 

   — Eu quero falar com a Dona Márcia. Confirmar as minhas teorias a respeito de seu depoimento. Avise Eduardo Mendes para comandar uma tropa de policiais para monitorarmos a cidade. 

   — Certo. — Respondi e fui correndo até a sala. 

   — Obrigado, Bruno. Vamos segurar as pontas, enquanto não volta a luz. 

   — Claro, meu amigo, claro. Boa sorte na sua investigação.

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